Um problema entre muitos problemas

Tudo se centra neste homem, claro, e para o bem e para o mal há que aceitá-lo e não voltar à cantilena de ser jove, inexperiente, mal treinou uma equipa de "I Divisão", etc., mas Villas-Boas continuará sob escrutínio por muito tempo e quer as coisas corram bem ou não.

Mas o FC Porto, em Paris, não deu mostras de estar melhor. Ao contrário, o "novo-velho" FC Porto parece igual a si próprio. Por muito que o pintem de cor mais garrida, com essa inédita camisola amarela que desfigura mais do que identifica, ou pressão mais alta, o que não invalida a ideia de se ver sempre o copo meio cheio ou meio vazio. Sejam cronistas que não gostam de "entrar a matar", ou aqueles mais politicamente correctos que dizem haver muito trabalho pela frente, apanhando os outrora críticos adeptos do sistema 4x3x3, alegadamente desadequado para este plantel (ou o anterior) decerto sem saber o que dizer ou se dar corda ao relógio ou fazer as palavras cruzadas.

Depois de dois jogos de preparação na Alemanha que praticamente ninguém viu; depois de dois jogos no Dragão que só alguns viram; eis que dois jogos na tv em directo mostram que não há muito para mostrar. Com poucas virtudes encontradas só com algum esforço e maleitas ainda mais graves do que havia, os jogos com PSG e Bordéus não podem resumir-se ao "muito trabalho por fazer" nem ao "já há coisas a correr bem", quando não lamentar "as muitas oportunidades criadas e golos desperdiçados".

Não gostei de ver e não encontro algo de substancialmente novo, diferente, melhor em relação à tão criticada gestão de Jesualdo. Já não entro na listagem de prós&contras sobre o novo treinador, pois já não adianta apesar de já ter visto por aí alguém repisar o que não conta mais para o totobola. Não tenho pachorra para os situacionistas e os eternos optimistas que esperam "ver o trabalho dar frutos", como se soubessem o que é o "trabalho" para fazer uma equipa. E, não para fazer uma crítica tonta ou já a "ferir", por ser reconhecidamente cedo, limito-me a um ponto da situação. E, nesta altura, o FC Porto parece mal. Pelo que se vê em campo. E pelo que não se vê.

Se após os jogos "de apresentação" no Dragão pressenti, recorrendo a leituras diversas, que não havia nada de novo e muito menos de entusiasmante, de resto na esteira da indiferença que deixaram os "reforços" e o quase anonimato, ou de algum modo problemático como sucedeu com Walter e está pendente com Kléber, a que a marca FC Porto deixa os seus "activos", agora confirmo o que intuí. Não li outras opiniões, chego de fora, não tenho o radar ligado para pressentir reacções ao Torneio de Paris e fico-me por isto.

Será algum exagero dizer que há pouco futebol, porque a ênfase pessoal é que não há muito mais do que havia. Ataque improdutivo, de novo a começar sem saber que existe um ponta-de-lança para o qual o modelo não atribui uma importância desmesurada. Médios mais do mesmo, sem alguém que faça a diferença nem que mude o tal paradigma que o comunicado da SAD exarava na hora da destituição de Jesualdo. Defesa uma lástima e não só pelos golos sofridos em Paris, mas pelos tremeliques que roçam o patético como foi o desplante de Sereno na jogada que deu o livre para a derrota desta tarde.

Mas o pior, para mim, nem é isso. Friamente, porque a indiferença da situação actual permite raciocínio aberto e livre, o mal está tanto em campo como fora dele. Isto é, resume do que foi feito em aquisições como das que estão na lista para sair, ainda que o treinador reclame mais um ponta-de-lança e parece voltar o calvário de se saber em quantos reforços vamos ficar desta vez.

A uma semana da Supertaça, que não é um jogo do outro mundo nem pode marcar a época mas até pode ser que aconteça as duas coisas, pior do que não ver um futebol mais bonito, mais acutilante e muito menos mais produtivo no remate à baliza, é saber que não há um onze, não há uma equipa. Admito que Villas-Boas tenha recebido tempo e paciência da SAD sem lhe exigirem já um título para mais frente ao Benfica. Percebo a gestão de esforços e vontades e minutos para rodar jogadores. Mas para quem lamentava não haver um sistema alternativo antes, agora nem em ensaios se viu algum, pelo que vamos agarrar-nos a esta bóia e ver se dá para sair do Porto.

E não há equipa, sequer, porque é impensável ver um fim-de-semana de futebol e admitir que no próximo sábado, em Aveiro, não joguem Meireles e Bruno Alves. O que coloca outros problemas se jogarem. Álvaro Pereira e Fucile conseguiram chegar mais tarde das férias do que os dois mundialistas portugueses (já nem falo nos não utilizados Beto e Rolando, por exemplo). Mas já jogam e o primeiro sempre com a mecha toda. Meireles é suposto ser vendido, por não fazer ainda hoje sentido a contratação de Moutinho. Bruno Alves é propagandeado na iminência de vender. Se forem vendidos esta semana, pois já não há muito a pensar sobre a equipa para sábado. Se não forem, não fará sentido que não joguem frente ao Benfica.

Porque se puderem jogar, com menos preparação (e não se sabe porquê), terão de jogar até mancos. Se Bruno Alves, jogando e sendo vendido depois, sair por fim, o desastre defensivo do FC Porto é mais do que certo. Sereno não tinha nem tem estaleca para jogar no FC Porto e é daqueles portugueses que não tem nível para jogar melhor do que num V. Guimarães. Maicon não é decisivo na primeira bola e é lento e perde sempre a segunda, pelo que tirem daí a ideia de este ser o substituto natural de Bruno Alves e beneficiar de um ano já de estágio no Dragão, de resto tendo revelado lacunas e mesmo comprometido no pouco que jogou.

Sobre Meireles, que ainda vejo superior a Moutinho, se ficar foram 10ME perdidos para um jogador ex-leão da mesma "espécie", curto de pernas, baixo, bom para o entrejogo e nunca decisivo. Se Meireles sair, Moutinho substitui-o naturalmente, mas o FC Porto não ganha nada em termos de conclusão de jogo nem sequer uma chama diferente a alimentar o ataque.

E muito mais e por todos os sectores faria alongar-me neste apontamento que não evito tornar sintético na identificação dos problemas. Iria até à baliza, onde voltou a causar estupefacção, para quem raciocinar sobre isto e tentar entender as ideias do treinador que na sua apresentação definiu não ir dar entrevistas ao longo da época, o facto de o polaco ser titular no primeiro jogo, invertendo a hierarquia e decerto não por mero capricho ou até descuidada irrelevância, porque pressupõe ou alguma ideia fixa ou ausência total delas. E, logo ali, define a indefinição quanto ao onze titular em potência, o que na baliza não admite tibiezas e nem pode alegar-se ausência de atletas para trabalhar.

Sem querer bater já a tecla dos reforços que não são, à excepção de Moutinho que pega de estaca mas só, do meu ponto de visto, se Meireles é mesmo para vender, caso contrário não faria a troca, hoje, como ontem, verifiquei um problema de mentalidade e de sensibilidade para as circunstâncias do jogo e do adversário e o seu jogo ou estilo. Macieza nas disputas, ligeireza e muitas perdas nas divididas, hoje de forma mais flagrante frente a um agressivo Bordéus que ganhou muito jogo no 1x1. Um estilo pujante e mesmo rugoso muito à imagem do Benfica. E com um árbitro caseiro, que permitiu muitas entradas duras e até um golo irregular no 1-1 (empurrão claro a Sereno), eis que o cenário já visto na época passada e admissível para a nova época com a mesma complacência para o jogo mais duro e físico do Benfica é antecipado com vista à Supertaça.

O Benfica vai querer vincar que é superior e mostrar o estatuto de campeão, até o merecimento que quer justificar incluindo por aquela derrota no Dragão a fechar a época. E com um FC Porto macio a meio, lento atrás e de fogachos na frente, é previsível um jogo na esteira dos da época passada, nomeadamente na Luz e na Taça da Liga no Algarve.

Dos reforços, enfim, fica para depois, a maioria desconhecidos e até muito jovens, uma matéria a suscitar muitos comentários, pois para ver um puto James não se deve desfocar do amadurecido Castro que me agradou esta tarde. Ou pressentir o que podem valer Souza e Walter, dois ex-sub-20 brasileiros com estampa mas sem presença sentida em jogo, apesar de o primeiro ter substituído Fernando não muito bem e o segundo ter marcado em pontapé enrolado quando era de esperar um estouro à maneira de Hulk.

Da expectativa para a Supertaça não sobra muito nem devo tomá-la na semana. Esperar para ver só depois do jogo, onde é sensato aferir um prognóstico... para o resto da época. Ou não.