24 agosto 2010

Relatório (Bo)Ronha (IV): Sócrates elogia luso-brasileiros, desconhece Liedson e tem saudades de Scolari

Passou despercebida a notícia do Correio da Manhã no sábado passado sobre o encontro, pouco entusiasmante e menos ainda motivador, de Sócrates e sua entourage com a Selecção Nacional na véspera da partida para a Áf. Sul. Dizia:
Queiroz critica mensagem de Sócrates
Seleccionador não gostou de ouvir primeiro-ministro a elogiar os bons serviços de Scolari na Selecção. Reagiu e ‘atirou-se’ ao chefe do Governo.
Por:Mário Pereira
Um discurso informal de José Sócrates, em vésperas da partida da Selecção Nacional para o Mundial da África do Sul, deixou Carlos Queiroz profundamente irritado, ao ponto de ter criticado as palavras do primeiro-ministro no jantar desse mesmo dia, quando estava na companhia do restante ‘staff' técnico e administrativo da equipa que representou o País no maior evento futebolístico do Mundo.
O caso aconteceu no Hotel Lagoas Park, no dia 3 de Junho. Sócrates deslocou-se àquela unidade hoteleira para desejar boa sorte à comitiva portuguesa, que dias depois iria partir para a África do Sul, e também para conviver um pouco com jogadores, técnicos e dirigentes. Inicialmente estava previsto que Sócrates iria jantar com a Selecção, mas dificuldades de agenda do líder político impediram o propósito e encurtaram a visita. Após falar circunstancialmente com alguns elementos, nomeadamente jogadores, como Miguel Veloso e Cristiano Ronaldo, Sócrates fez um breve e informal discurso, onde revelou ter estado dias antes com o presidente do Brasil, Lula da Silva, tendo ambos relevado as boas relações existentes entre os dois povos, expressas, também, no facto de a Selecção Nacional ter vários jogadores de origem brasileira, como Deco, Pepe e mais recentemente Liedson. No seguimento, Sócrates relembrou ainda a passagem de Luiz Felipe Scolari pelo comando da Selecção Nacional, com elogios ao treinador e aos bons serviços por ele prestados. Nesse momento houve alguns sorrisos amarelos na sala e discretas trocas de olhares.
Pouco depois, Sócrates terminou a visita de cortesia, foi-se embora e a comitiva foi jantar. Foi já na mesa de refeições que Carlos Queiroz, em termos jocosos e de alguma forma injuriosos, segundo nos revelaram, criticou as palavras elogiosas de Sócrates para o seu antecessor no cargo, precisamente Scolari, tomando-as como uma afronta pessoal. Os sorrisos amarelos e as trocas de olhares entre alguns dos presentes, no momento do discurso de Sócrates, ficavam explicados, tendo em conta que quem lida no dia-a-dia com Queiroz já antevia que ele reagisse mal aos elogios feitos a Scolari. Supostamente, disse a nossa fonte ao Correio Sport, "porque viu naquelas palavras uma crítica subliminar ao actual seleccionador".
SOCRÁTES TOMOU CONHECIMENTO
Segundo o ‘Correio Sport' conseguiu apurar, José Sócrates terá tomado conhecimento, mais tarde, do facto de Carlos Queiroz ter ficado irritado com o seu discurso informal na visita ao hotel da Selecção, em Junho deste ano, mas minimizou a situação para não criar polémicas".
Como o CM não se tem eximido a criticar Carlos Queiroz, não se imagina de onde terá sacado as informações quase factuais. Note-se, ainda, que o texto refere apenas a ira do seleccionador, alegadamente ofendido pela alusão ao antecessor no cargo. Mas não se percebe como os próprios 20 jogadores presentes, à parte Pepe, Deco e Liedson, teriam ficado com os elogios feitos aos três luso-brasileiros, o que é uma interpretação restritiva do jornalista decidido a focar a questão apenas no seleccionador.
Nem a Imprensa dita da especialidade, nem a de referência (tomada como da política), muito menos os bloggers que gostam de espetar facas com argumentos alheios fizeram alusão a este facto, bem documentado mas sem o picante da intervenção pateta e ridícula do primeiro-ministro José Sócrates. Como foi aberta a caixa de Pandora, e os assessores de S. Bento não replicaram à notícia, falta acrescentar o discurso de Sócrates e o vexame sentido por toda a comitiva nacional.

Sócrates desejou boa sorte à Selecção e referiu, de passagem, que o Portugal-Brasil do Mundial já tinha sido alvo de conversa dele mesmo com o presidente Lula na recente visita do PM ao Brasil.
Uma visita, de resto e para recordar, marcada pela "gaffe" tonta do alegado convite de Chico Buarque para Sócrates o visitar em sua casa, no Rio de Janeiro, o que foi gozado na Imprensa e, claro, rectificado pela assessoria do PM, pois fora este, de facto, a solicitar ao cantor uma conversa na casa dele. Um vexame de imagem e político muito glosado na Imprensa de cá e de lá.
Do Portugal-Brasil, Sócrates disse ter conversado com Lula da Silva e quer a ele quer à Selecção em vias de partir para o Mundial, o nosso PM foi muito elogioso em relação ao contributo dos três luso-brasileiros convocados por Carlos Queiroz. Sócrates até citou o nome de Pepe, de Deco e... engasgou-se, porque não sabia dizer o nome de Liedson. Um assessor ajudou-o a ultrapassar o embaraço.
Mas o enxovalho não ficou por aí. Sócrates lembrou-se do que falou com Lula também sobre Scolari e confessou-se "com muitas saudades do ex-seleccionador Scolari", elogiando os resultados obtidos com o brasileiro por Portugal.

Sem saber o nome de Liedson e "com muitas saudades de Scolari", Sócrates não ficou bem visto por ninguém na selecção. Ao jantar, já sem o PM como conta a notícia, o tema foi de facto o prato principal, tal a indignação geral. Decerto não poderia esperar-se que os jogadores portugueses, Tiago ou Simão, Eduardo ou Beto, Bruno Alves ou Hugo Almeida, não sentissem o toque. Não foi apenas Queiroz o vexado na história. E, claro, os dichotes ao PM marcaram o resto da ementa até alguém alvitrar que, pelos insucessos políticos desta nova legislatura, "o homem está mesmo pataroco", a expressão utilizada.
Agora, moral da história: quem, qual Judas à mesa da comitiva nacional, porventura ligado ao PS foi comentar lá fora o caso logo sabido pelos assessores do PM? Quem? O Cristiano Ronaldo? O roupeiro Gonçalves? O médico Henrique Jones? O chefe da comitiva Amândio de Carvalho?
Queiroz aludiu, no Expresso, que quanto ao seu processo, instado pelo jornalista sobre se "tem contornos políticos", que "se não há, cheira. Parece, é a sensação". Quer pela reacção de Laurentino Dias, sec. Estado do Desporto, quer por só muitas semanas depois do Mundial o incidente com a brigada antidoping na Covilhã ter vindo à baila - e, mesmo assim, com um dos médicos do ADoP a confessar-se, tardiamente, "perturbado" para justificar uma falha médica que só a ele diz respeito.
Um dado complementar que fazia antecipar borrasca: uma manchete de O Jogo no dia do regresso a Portugal. Não no avião da selecção, mas no avião particular que levou governantes (Pedro Silva Pereira, delfim de Sócrates, e Laurentino Dias, com a tutela do Desporto), dirigentes e empresários ao jogo com a Espanha. A notícia dizia que, nessa comitiva paralela, tinha havido muitas críticas a CQ. Agora some-se dois mais dois e fatalmente dá quatro.





Onde cabe a história do polvo?
Queiroz ao Expresso (14/8/2010): "De início, parecia haver uma acção concertada, que começava com o processo e conduziria ao meu despedimento. E Amândio de Carvalho decidiu pôr a sua cara na cabeça do polvo". Depois contou como o líder das selecções lhe disse que não acreditava nele como seleccionador.

Juntando peças do puzzle, temos, subitamente, António Boronha a contar que, além de Laurentino Dias como membro do Governo, o vice federativo Amândio de Carvalho é dirigente socialista no Montijo.

De repente, entre opinionistas vários, o polvo mostra mais caras em todos os tentáculos. Do assessor de Laurentino Dias, Francisco Trigo de Abreu, à ex-deputada socialista Marta Rebelo que se tornou, nem interessa porquê e para quê, colunista no Rascord e escreveu clichés tão usados contra Queiroz na 2ª feira seguida à derrota do seu Benfica com a Académica, que se percebe do que ela mesma não percebe.

Pelo meio, a inversão e até recuo de muitas notícias sobre os factos da Covilhã, a decisão da CD da FPF que puniu Queiroz pelos insultos mas deu como não provada a perturbação do trabalho do ADoP no estágio, tudo numa intoxicação infernal com notícias encomendadas e opinião publicada ou por pantomineiros do regime ou na página do DN do Desporto online patrocinada e tem no cabeçalho os logótipos do IDP e do ADoP que são tutelados pela sec. Estado da Juventude e Desporto.

Para rematar, deixada de lado a vaidade da ex-deputada que só conheci em pesquisa na net e por ter a mania do Facebook, e não por qualquer tarefa política mesmo de menor vulto, acabei de captar este retrato de FTA assessor de Laurentino. Vem assim no blog União de facto, escrito por Bernardo Pires de Lima: "Socialista, socrático e sportinguista. Ex-jornalista, ex-libertino e ex-bloggeador, trabalha na sec. Estado da Juv. e Desporto onde desempenha a maquiavélica função de assessor (desculpem, propagandista) de imprensa".

Os negritos são meus, e quanto ao ex-blogger não é assim tão inactivo porque fui encontrá-lo num sítio "Loja dos 300", onde a 2/2/2010 escreveu um post sobre "Calhandrices", um português rebuscado que outro ministro socialista, Jorge Lacão, encontrou para referir-se à denúncia de Mário Crespo sobre censura no JN por uma crónica sua não publicada nessa altura. Ah, e quanto ao ex-libertino Francisco Trigo de Abreu, consta que também (porque outros políticos passaram pelo mesmo) fez reabilitação toxicológica, mas sabemos como a gente da esquerda moderna usa os eufemismos, sejam mais ou menos fracturantes as causas em que se inserem.

O retrato do polvo é este, o que não admira atendendo aos antecedentes e em particular às incidências do início do ano, desde os casos Freeport ao Face Oculta "contornados" pelo aparelho judicial de topo sujeito ao jugo socialista; casos que minaram a autoridade do Governo e a imagem do PM, sucumbidos a uma avalanche de críticas e factos para os quais se desviou as atenções do essencial, desvalorizando gravações/interceptações telefónicas, criticando os juízes por uma barragem de ministros e opinionistas do regime e abafando com truques políticos e manipulações de informação com o preenchimento do espaço mediático de forma asfixiante. Tal e qual quis, mas não pode, esquivar-se ao saneamento político intentado e conseguido contra Manuela Moura Guedes na TVI.

Talvez António Boronha tenha ficado com outra ideia da maquinação política por detrás deste sórdido processo que Kafka não desdenharia reescrever na versão saloia portuguesa, em vez de apontar os intérpretes políticos do caso e depois rejeitar o intuito político que o enferma.

Talvez se Liedson marcar de novo ao Benfica Sócrates fique a saber melhor o seu nome.

Quanto a Queiroz, só tem de enfrentar o polvo. E os seus tentáculos.

3 comentários:

  1. Sócrates teve alta dos cuidados paliativos...medo...

    O grito de Abril seria o pronuncio do estado actual do país: "O Polvo unido jamais será vencido"

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