23 fevereiro 2010

Händel celebrado no concerto do FC Porto

A propósito da qualidade técnica portista num futebol maravilhoso a evocação do grande músico saxão nascido a 23 de Fevereiro de 1685


O FC Porto fez uma exibição de sonho frente ao Braga. A bola correu de pé para pé, sublime, deslizando num tapete mágico, ordenada, obediente, certeira. Um concerto de bola, uma orquestra afinada e percutindo os instrumentos apropriados para uma ária de jogo alegre mas tocante, como se champanhe escorresse sem borbulhar em demasia, antes elevando o aroma e sustentando a finesse de tal formosura, onde os pontapés na bola passaram como carícias em veludo, humilhando o adversário mas com uma aura de intocável superioridade a amenizar o vexame futebolístico, tornando a noite e o festim tão natural como uma suave melodia, para mais banhada no final com chuva fina, certeira e também ela aprumada e caindo quase meticulosamente na perfeição sobre aquele esplendor na relva.


E porque hoje, 23 de Fevereiro, celebra-se o nascimento de George Frideric Händel, em Halle (Saxónia), em 1685, nada como associar esse magnífico jogo do FC Porto com a sumptuosidade do músico saxão que se celebrizou em Londres, para onde se transferiu em 1712 e viria a morrer, cego desde 1753, a 14 de Abril de 1759. Assumiu, entretanto, a direcção da Academia Real de Música em 1719 e adquiriu a nacionalidade britânica em 1726, bafejando os reis Jorge I e Jorge II com eloquentes melodias que tornaram Händel um dos mestres da música barroca*. Jorge I fora Princípe Eleitor de Hannover (Baixa Saxónia) e as suas raízes germânicas cruzaram-se com as do virtuoso músico que, na corte britânica, soube inspirar obras da mais melodiosa sinfonia. O ambiente real inspirou-o para obras solenes e comemorativas, como os "Reais Fogos de Artifício". Mas a "Música Aquática" é a que pode aplicar-se ao concerto de bola do FC Porto no Dragão, um palco deslumbrante para tal harmonia.


A "Música Aquática", precisamente, escrita em suite em 1717, acompanhava um cortejo de Jorge I no rio Tamisa, em que os músicos tocavam, sentados num barco, atrás do Rei*. Jorge I, agradado e embevecido, ordenou que fosse tocada três vezes. Foi como o FC Porto na 1ª parte. Depois, a ária delicada da 2ª parte completou a obra.


Esta suite nº 2 em Ré chamada "Alla Hornpipe", sintetiza nos sentidos mais profundos de cada apreciador o que os olhos, deslumbrados, acompanharam no jogo do FC Porto, como um cisne flamejante na água calma mas de corrente firme e determinada. Daí ficar a música a par do resumo da beleza técnica no tapete mágico do Dragão.






Um regalo para os olhos do público que gosta do jogo, ainda que muitos aziagos da blogosfera não lhe tenham dado o merecido relevo e alguns, os mais aziagos que pensam que calar é esquecer ou menosprezar, nem cumprem o seu alegado preceito de comentarem o futebol em geral num sempre estapafúrdio processo de isenção que não deixa de esconder as tenebrosas intenções de amesquinhar os êxitos dos dragões. Alguns daqueles recessos, apesar de muito bem vistos e na moda, até colocaram a questão ao contrário, não pelo mérito portista mas pelo demérito bracarense, o que releva como tais recalcamentos fazem remoer as entranhas e apressar a morte. Paz à sua alma.


Celebre-se Händel e o FC Porto. A honra ao mérito. Da grandiosidade.


* - dados extraídos da colectânea "Os Grandes Mestres da Música Clássica", que em boa hora reuni.

3 comentários:

  1. Mais um excelente post Zé Luis, o meu obrigado, por assistir ao resumo com esta maravilhosa sinfonia

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  2. Contraponto cultural:

    http://www.miragens.abola.pt/videosdetalhe.aspx?id=8221

    min 0:28' "Conseguimos adiar o jogo com o Leiria..."

    min 1:14' "Porioridade do benfica vai ser o campeonato"

    min 2:18' "A equipa inglesa, o Evert"

    min 4:06/8' "Direi-vos o quê... direi-vos..."

    Aí Jesus! Que labrego vai no andor.

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  3. Carlos Daniel que hoje esta a apresentar o trio de ataque a rtpn esta sem duvidas a ter um protagonismo em demasia ao dar a sua opiniao sobre o tunelbol,quando deveria so intervir se necessario e apresentar o programa, pois nao esta la pra emitir opiniao e demonstra assim todo o seu benfiquismo, isto e o jornalismo desportivo com isençao e imparcialidade?
    Rui Moreira continua a representar e bem oficiosamente o PORTO neste programa.

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