(* valor da aventura olímpica, dado pelo sec. Estado da Juventude e Desporto, na rádio a 15/8/2012)
A 14 de Agosto a tropa celebra o Dia da Infantaria. Sei-o porque bati com os costados na EPI (Mafra) há 30 anos, uma data que remete para Aljubarrota e todo o seu significado histórico, militar e de raça portuguesa com feitos que a nossa invejável História conta profusamente. O "meu brasão", de resto, vem da linhagem de D. Nuno Álvares Pereira e há uns anitos encontrei um na Feira Medieval de S.M. Feira que ainda no domingo visitei no encerramento.
Não vou meter aqui as cavalgaduras do Benfica tão em voga nesta temporada e na esteira, aliás, do rasto de violência e autismo em que aquela gente se dá feliz por ser e estar. Nem o panzer Luisão ou o calceteiro Garcia, o Maxi comediante digno de bobos da corte ou o João das Regras que asperge moralidade com a trivialidade das Carraças em lombo de pêlo ralo no rafeiro desamparado em tempo de crise.
Também não verto lágrimas pelos feitos do nosso Desporto, nem o Mourinho que a SIC foi (re)ouvir ou o Bentinho que o Mourinho sacraliza na Selecção para ter dispensas convenientes, à vez, dos seus rapazes da merengada que por cá manda e dispõe. Já devem ter reparado que, salvo as fases finais, os moços do Real Madrid nunca estão juntos nos entretantos sejam amigáveis ou qualificações, mas ninguém levanta o véu e expõe a coisa pois está tudo vendido ao regimento do Jorge Mendes como se este, mais do que os presidentes de clubes com os directores de jornais na mão, lhes desse umas cachas ocasionais mas a troco de umas entrevistas de trazer por casa como quaisquer opiniões expendidas pelos políticos da nossa praça.
Ora, importou-me pouco que a Telma e o moçoilo do peso que adormecia em Pequim-2008 não tenham ido longe nos Jogos. A Telma Monteiro pode estar descansada que não lhe exijo medalhas nem sei as que já ganhou. Desde que páre com o choradinho de o País eventualmente lhe dever alguma coisa ou algo dela esperar, por mim pode ir e vir que dou pouco por isso e a maioria dos portuguas, acredito, tanto como eu. O balanço é que dos 15 dias dos Jogos houve para alguns cinco de preparação in loco e competição fugaz e 10 dias na bancada senão em Hyde Park, Piccadilly Circus, Kensington e Westminster e, of course, Leicester Square e Covent Garden adjacente (onde passam os filmes da moda).
Foi, por isso, com surpresa, e grande como se tivese havido uma medalha para além da da dupla da canoagem, que soube ontem da chegada da comitiva oficial portuguesa a Lisboa. À cabeça, precisamente, a mocinha e o moçoilo derrotados logo nos primeiros dias dos Jogos. Nunca imaginaria que esta malta, talvez fazendo-se pagar pelos quatro anos de esforços que dizem ter tido desde Pequim, tivesse ficado de férias em Londres e arredores. Sinceramente, fiquei parvo ao ver que muita gente que cumpriu calendário nos Jogos fazendo um único combate ou lançando o peso apenas três vezes na eliminatória inicial chegou agora como se tivesse competido por medalhas e combatido, como eles se acham, por Portugal estes dias todos.
Constou-me que a apregoada "falta de sentido desportivo" da Nação de combatentes noutras lutas e noutras eras, há uns dias atrás muito eriçou os pêlos dos escribas ocasionais que acorreram também para cumprirem calendário nos Jogos fazendo valer os seus galões dentro da Redacção para se mostrarem de quatro em quatro anos seja em Mundiais ou Europeus de futebol. Também eles de volta ao remanso do lar e das calmas pasquinagens em que vegetam não devem chatear-se mais com o assunto e acharão normal, ou nem darão por isso, que a malta do Olimpismo tenha desfrutado de olimpics holidays em terras de Sua Majestade talvez com o olho na cerimónia pop do encerramento como se fossem os BAFTA Awards... Fosse em Wembley e diria tratar-se de mais um Live Aid!
Não quero meter os pés pelas mãos, mas julgo crer que o COP do vetusto comandante Moura, num contrasenso histórico mas condizente com a corte dos paquidermes que controlam os cordelinhos do regime, este COP que nos presenteou, noutro golpe de bastidores tão comum na praça, com um chefe de delegação desconhecido e jovem mas a falar como se fosse um veterano das Olimpíadas desde o berço, pagou a estadia da Telma do tipo do peso e de mais não sei quantos. Sim, porque isto não é como no futebol, onde muitos criticam mas a FPF sabe à partida que só por jogar uma fase final recebe milhões da UEFA ou FIFA, além de estas pagarem grande parte da estadia (e até diárias a jogadores e dirigentes) das selecções nas grandes provas que organizam - mas só até serem eliminados...
Não consta que o COI pague a estadia completa a todas as 204 delegações que vão aos Jogos, muito menos durante toda a competição mesmo quando os participantes são arrumados à primeira. A Aldeia Olímpica é um hotel temporário mas de porta giratória, para entradas e saídas constantes às quais os briosos atletas portugueses se mostraram tanto avessos a transpor como a superarem os respectivos adversários.
Entetanto, está para jogar, amanhã, a equipa de Portugal que chegou ao pódio mas veio sem medalha dos confins da Europa de Leste. O responsável da coisa, no gabinete e o do banco, tratou de proclamar na Ucrânia o imenso orgulho por terem perdido na semifinal com a Espanha com o brio de estenderem aos penáltis a dura peleja em que, para todos os efeitos, não houve feitos, leia-se golos.
É este tipo de orgulhosos que vamos tendo e também lendo ou ouvindo pelos epígonos do regime. E quanto mais o clamam alto, ainda que não sendo mais rápidos nem mais fortes como pede o lema olímpico, mais eu fujo da maralha aclamativa em que a família de algum medalhado consegue rodear-se de amigos e vizinhos e, também eles, ávidos do seu momento de televisão.
Tudo perene, fugaz e frugal, mas que deixa um sentimento de enchimento e satisfação que alguns confundem com orgulho e genufletem como antigos aios face a novos heróis de lendárias batalhas.
O paradoxo é que em Dia de Aljubarrota e da Infantaria (em quadrado ou tudo ao monte, conforme a lenda), chegou aclamada a dupla da canoagem que se banhou com uma medalha e se portou como gente (quase) de ouro. O ridículo é que o Sporting veio felicitar-se por um dos moços medalhados representar a agremiação que se sabe não ter uma canoa ao serviço nem saber com quantos paus se faz uma pagaiada, aparecendo o papagaio do presidente muito lesto para a fotografia e num assomo de brio desportivo pateta por algo para o qual não contribui para além de dar uma subvenção ao atleta que tão longe de Alvalade compete.
Não tarda temos a malta do futebol a pedir protagonismo outra vez, a nada ganhar e a ouvir Mourinho dizer que não descansará enquanto não chegar ao trono da selecção.
Há quem vá atrás desta tropa. A História de Portugal também nos ensina que a Nação foi e normalmente ficou sempre atrás de alguma coisa. Um mal genético que o vestusto comandante Moura do COP quer remeter para a "Mocidade Portuguesa". Valha-nos Deus!, mas a verdade é que o tempo da ginástica (quase em cuecas) colectiva, que já não apanhei apesar dos meus 50, poderia fazer-nos pensar se em mente sã o corpo é são com a dúvida de saber o que nasce primeiro. Creio que na nossa História, feita de muitos acasos e pouco planeamento salvo os Descobrimentos e o amealhar das riquezas de além-mar até à constituição das famílias que são hoje donas de Portugal, nunca soubemos o ponto de partida. E descortinar a chegada torna-se mais difícil, sendo de permeio o rumo aleatório.
Voltando à vaca fria: não era suposto muita gentinha já estar em casa há muito tempo? E à fria vaca das redacções: quem vai levantar a lebre e correr esta maratona de contar como é e porque foi assim?