Não vou puxar a brasa à minha sardinha, tocando na tecla mais incómoda que poucos afloram, mas apenas aprofundar o que quis dizer com "equipa experimental" no texto abaixo e que me parece ser a chave da situação actual, e pontual, do FC Porto. Às vezes não quero prolongar os textos em demasia, como amiúde sucede, com diversas considerações sobre um jogo. Li-as, porém, de diverso tipo, embora a maioria incidindo num ponto, o mais fácil, de bater no treinador. O Carlos Teixeira acrescentou algumas num último comentário aí atrás. Com calma, mesmo que o 0-0 de domingo não me tenha chateado por aí além quando percebi que a equipa não dava mais, vamos lá esclarecer algumas questões.
Vítor Pereira fez a gestão do plantel. Tivesse ganho, com um penálti ou uma bola da barra para lá da linha, e todos elogiariam. Escalou o onze que achava e podia e devia ganhar o jogo. Era suficiente. Perdeu-se foi tempo. A 1ª parte. Os jogadores não perceberam que deviam jogar forte desde o primeiro minuto. O treinador poderá não ter exercitado esse ponto. No fim, criticaram que fez alterações a mais. Num jogo contra uma equipa que subiu de divisão, até jogava em casa emprestada, o FC Porto com uma dinâmica de vitória. Para Vítor Pereira, foi uma espécie de Taça da Liga. André Villas-Boas meteu o Kiesczek frente ao Nacional quando não devia, o estatuto do adversário não lho permitia e o polaco deu um frango, acabámos por perder sem o Nacional saber ler nem escrever e perdeu-se o único troféu não ganho na época passada. Uma má aposta pode ser decisiva. Vítor Pereira, com um cenário algo "fácil" em teoria, mudou meia equipa e não teve os mais preponderantes Hulk e Álvaro Pereira.
Ora, com Hulk e Álvaro Pereira, há dois anos, o FC Porto também emperrava. Dava-se até conta de ficar a perder e o forcing final só dava para empatar. Lembro de repente jogos com o Belenenses (1-1) e P. Ferreira (1-1) ambos no Dragão.
Frente ao Feirense, a meio do jogo, o treinador tira o avançado-centro. Não mete o outro que tem no banco. É estranho, acaba por queimar ambos. Foi o aspecto fulcral que apontei e não dá azo a confiança para o futuro, nem nos jogadores nem nos adeptos. Como em jogos que se revelaram complicados na época passada, como frente ao Portimonense e o V. Setúbal em casa após o Cincazero, o Feirense apresentou-se a jogar em profundidade. Isto é: linhas juntas e próximas da sua área, longe de Helton mas compactos a defender o seu guarda-redes. Ocasionalmente, como fizeram algarvios e sadinos na época passada, esticões de gajos rápidos criaram muitos problemas. Ciente disso, Vítor Pereira devia antecipar a coisa e forçar a nota da disponibilidade física e de pressão constante sobre o Feirense. Mas uma coisa é pensar e outra executar. O Feirense saiu pior do que a encomenda. Bem posicionado, metido lá atrás e esticando o jogo com bola controlada em vez de pontapé para a frente como o V. Guimarães, falhou o posicionamento dos médios portistas. Com os vitorianos, as bolas longas podiam lá chegar uma vez ou outra, a maioria eram ganhas com alguma facilidade. Desta vez, o Feirense mostrou saber tratar a bola, mais um mérito seu, e dificultou os médios portistas.
Face a uma equipa muito recuada, a outra fica estendida no campo, avançados muito à frente, defesa muito atrás, médios com enorme espaço para cobrir. Com tanto espaço e um adversário a ocupar bem os espaços com o recuo dos alas (Rabiola ficava muito isolado), o FC Porto começou por errar muitos passes. Mais do que é habitual. Porque optou, mas também foi levado a isso, por insistir em passes largos que eram interceptados. O fuebol portista perdeu fluidez, foi curtocircuitado. A toada do jogo era estranha, porque assim se revelou. O 11 escalado não percebeu, com Belluschi e Guarín só virados para a frente e Moutinho atrás sem poder acorrer a todos os focos de incêndio.
Já se leram as mais diversas opiniões sobre Sapunaru, bem para uns, mal para outros, mal para mim, não foi à linha e destapou a sua. Num jogo assim, o lateral ou tem influência ou é um jogador a menos. Fucile, a alternar nas laterais, não cria rotina e confiança. Faltando Álvaro, James não tem um apoio fundamental na esquerda. Faltava, ainda, Hulk a concentrar as atenções na direita. Mas essa foi uma opção consciente do treinador. Com riscos, mas ponderados. James foi o primeiro a acusar a pressão de ter de ser o desequilibrador. Esteve quase sempre mal. O adversário fechou-o. Belluschi não foi esclarecido, Guarín emperrou e o jogo não saiu.
Tudo está relativizado, condicionado, pelas incidências do jogo e o acerto do Feirense, controlador da partida. Mas há um ponto de valor absoluto. Com Falcao a coisa resolvia-se, pela sua movimentação, astúcia, faro do golo. Não se dá à marcação, todo o contrário de Kléber. Se está entre os centrais dá-lhes luta e vence mais do que perde, tudo o contrário de Kléber que é muito mais fixo. Se se tentava uma tabelinha, Kléber dominava mal, passava mal, a bola era perdida e se não ele já não se desmarcava. O vazio. Esse, para mim, continua a ser o ponto fundamental ainda não esclarecido. Os poucos golos de Kléber foram fáceis. Dados, oferecidos, obrigando-o a marcar.
Quando começou, há um ano e tal, a falar-se de Kléber, disse aqui que não o conhecia. Um Porto-Marítimo (acho que 4-1) em que marcou um golo e Falcao fez uma bicicleta, não pude ver. Depois terei falhado outro jogo. E não tive uma ideia de Kléber. Não sabia se valia a pena o "barulho" por ele com o guardanapo da Madeira, o tipo que quis vender o que não era dele, da mesma forma que o Governo regional faz obra com dinheiro alheio que agora pede para todos pagarmos. A Ma.Madeira a funcionar. Kléber, confesso, mal vi. Agora, fico a ver e não sai nada dali. Como vários blogues apontaram, e eu também, ao contrários de outros habituais do "efe-erre-á" e da infalibilidade dogmática da SAD, muitos estranhámos não haver alternativa a Kléber. Walter ficou enterrado de vez, importa pouco se foi pelo peso ou um alegado drama familiar que pode ocorrer a qualquer um. Um jogador só perde tempo a fazer um jogo, com a concentração no hotel de véspera. Na semana, treina uma hora e meia e fica livre, não tem as preocupações de um vulgar cidadão e operário. Nenhumas.
Kléber é, até, agora, o fracasso. É o ponto absoluto neste enquadramento. Se vai progredir, se é jovem e melhorará, não sei, admito que sim, com o benefício da dúvida para ele e deixo à margem a fé da SAD. Mas não será um Falcao. Chorámos Lisandro, mas cedo percebemos que tínhamos um craque a substitui-lo. Agora, eventualmente, há uma fé, nem sequer uma promessa, mas uma fé e não partilhada ou consensual.
Veio a 2ª parte. Nas condições tácticas do jogo, Kléber poderia ser importante. Mas sem a bola lá chegar, e para sua atenuante ela não chegava lá em condições, não adianta ter um meco na área. Vítor Pereira reforçou o meio-campo, para ter a bola, ganhar ascendente no miolo e, nessa base, sustentada, algo que não tinha havido, partir ao assalto. Foi mais consistente, como frente ao V. Setúbal mas aí tívemos de meter Hulk e Moutinho. Percebem a diferença? O teinador sadino disse-o logo: obrigámos o FC Porto a meter Hulk e Moutinho. No domingo faltou o Hulk.
Em Aveiro, Varela alargou o campo, perdemos a referência, inútil, na área, mas ganhou-se largura. Depois, com Defour, mais bola ganha mais à frente, apesar da exposição atrás nos riscos habituais num jogo. Varela falhou golo de baliza aberta. A uma jornada de receber o Benfica, Varela inventou um golo na piscina de Coimbra, um pontapé de moinho, e acrobático, de costas para a baliza, que deu a vitória e manteve a diferença para o Benfica, depois ampliada com os Cincazero. Varela pressionou na direita como fazia Rodriguez na esquerda. James jogava no meio, fora da área, à Messi, procurando romper e com Belluschi e Guarín aptos a rematar de fora, com mais espaço, por acaso até foi Moutinho a acertar na trave. Os defesas e médios do Feirense preenchiam a área. O FC Porto encostou o Feirense à baliza. Só por milagre a bola não entrou. Acontece. Sucede, às vezes, um ou outro contra-ataque. O Feirense teve mérito e médios que levavam a bola. A defesa subiu à linha de meio-campo. Não acho que não era uma partida para estrear Mangala. Acho é que o jogo tornou-se difícil, quando se pensava ser calmo para uma estreia. O FC Porto estava mais exposto atrás, não era de mais arriscar tudo na frente, era uma questão de a bola entrar, ou não. Sucede que nem sempre sobra a lucidez e ela faltou, mas a equipa quis asfixiar o adversário e, naquelas condições, o treinador viu bem.
Não é preciso ser ou tirar um curso de jornalista para "perguntar" ao treinador porque tirou um avançado e... não meteu outro igual na área. Leu-se muito disso no periodismo atávico, a mesmice que tudo iguala e nada distingue nos relatos dos pasquins. Qual o adepto comum que não tira a mesma conclusão. A ideia é perceber se era exequível sem a bola lá chegar. Vítor Pereira tratou de fazer a máquina funcionar desde a base, à falta dos melhores mecânicos para pôr a coisa a funcionar mais eficientemente. Hulk e Álvaro, riscos assumidos, não estavam lá desde o início, a falta de um ponta-de-lança credenciado e que faça jus à valia dos médios que o sustentam é a pedra na biqueira do sapato portista, ignorem-no ou minimizem-no. O busílis.
Não vou, por isso, bater no treinador. Percebo-o. Este jogo foi um "one-off". Perdeu-se apenas dois pontos, como amiúde sucede quando menos se espera. A lição é, só, saber que nenhum jogo está ganho por antecipação. Meia equipa titular e meia de reservas e reforços deve chegar, mas nem sempre. Afinal, o FC Porto só empatou com uma equipa que subiu de divisão, tal qual o Benfica frente ao Gil Vicente. Nada de mais. E se tivesse ganho, perder a seguir com o Benfica significaria perder sempre a liderança. Não há razão para pessimismo e, como escrevi para o jogo, as bases para o clássico são outras. Não havia razão para a capa de O Jogo, claramente forçada, ainda que faça sentido mas parece que caiu o mundo e, afinal, a ordem na tabela está igual ao que estava.
Relativize-se o que tem de ser e aponte-se o que tem mais valor. Duscutível é, como venho dizendo, Kléber, ou pior, a opção de não se ter comprado um avançado. Gastar 60ME no Verão, 6 ou 7 com Kléber, e não ter uma alternativa melhor do que Walter, antes já negligenciado, é diminuir o potencial da equipa.
Há medios para trocas posicionais e movimento em futebol de toque, sim, não é o Barça insuperável, mas há condições, meios e qualidade. Foi o que se tentou fazer. O Barça insuperável já encravou aqui e ali. Mas nunca perdeu o tino nem deixou de ser o que é. E se na frente acaba por fazer a diferença é por não ter Kléber. Por exemplo, comprou, estupidamente, Keirrison, um fracasso que nem no Benfica se alterou e hoje ainda perdido pelo Brasil e quase incógnito. O FC Porto tem esse equivalente, que não dá resultado, e não tem melhores opções agora. O tal busílis.
Decerto voltarei a falar disto e do que já escrevi por aí há uns dias atrás. Sobre o treinador, para contrariar os ataques que já lhe dirigem. Aí tudo deve ser relativizado. E confrontado com outros valores.
Com o Benfica é só ganhar, com Hulk e Álvaro, Fucile à direita, Fernando no meio e talvez Defour, insisto, em vez de Guarín com Moutinho, mas o colombiano pode entrar pela experiência que tem já dos clássicos. Varela por James ou Rodriguez é a maior dúvida. Otamendi, claro, com Rolando. Continuo a achar o FC Porto melhor do que o Benfica. Apesar de Kléber não ser Falcao
ATENÇÃO: o Sharu faz considerações pertinentes e alargadas nos comentários, entrados com atraso que não me responsabiliza, do post abaixo. O que escrevo aqui vai em parte ao encontro do que ele diz, embora haja alguma divergência. A crítica de Sharu ao Vítor Pereira não é por ter tirado o Kléber, inútil face ao jogo que não lhe chegava. Merece reflexão
EXPERIÊNCIA. Como digo, não é preciso ser "profissional" para escrever nos pasquins as banalidades correntes e dizer que o treinador não trocou um avançado por outro igual. Isso é para certos Alfredos do periodismo atávico, repito. Eu já vi Dick Advocaat tirar um avançado-centro e meter um central e recuperar de 0-2 para 2-2 em Wembley num Inglaterra-Holanda. E já vi José Romão, em Portugal, fazer o mesmo e com sucesso creio que pelo Tirsense. Uma questão de perspectiva e não de precipitação, de conhecimento e não de vulgaridade, ajuda sempre. Os pasquins são o que são. Partilhando alguma experiência pode ajudar os mais imprecisos
CLÁSSICOS. Falam por aí de falhanço do século de Fernando Torres, fintando De Gea para errar o remate com a baliza deserta. João V. Pinto fez o mesmo num Porto-Benfica há uns anos. Mas há quem veja futebol como quem come tremoços e esqueça rapidamente o ingrediente principal. É por isso que tenho a boa memória que muitos me elogiam.