para que um jogador de Madrid fosse preponderante em vez de um de Barcelona. É como se Maradona não marcásse à Inglaterra e atirásse ao poste...
A edição das imagens televisivas, nos jogos em directo e nos resumos posteriores, tem estado na ordem do dia em consequência da irresponsabilidade (inimputabilidade?) dos seus responsáveis. Quanto mais jogos, mais broncas: não chegam os comentários distorcidos e falaciosos, há sonegação de imagens, branqueamento de acções com relatos a contradizer o que se vê e, com tantos meios técnicos, não faltará quem suspeite que muitas imagens são adulteradas. As televisões fazem orelhas moucas, mas não evitam o achincalhamento do seu trabalho jornalístico.
Pense-se agora o que é o tratamento da informação, e das imagens, num regime ditatorial. Temos o exemplo do salazarismo e há aquele sentimento de protecção do antigo regime ao clube preferencial, aquele de quem se transmitia mais jogos entre os raros visualizados em directo.
A Espanha não tem medo do passado. A transferência de di Stéfano, desviado do Barcelona rumo a Chamartin, não tem mais dogmas, nem brumas. Por decreto, o maior jogador de sempre, segundo alguns, reforçou o Real Madrid projectando-o para o colosso que é ainda hoje.
Mas no país vizinho foi-se mais longe. A provar como o regime protegia o Real Madrid, um simples cruzamento para o golo vitorioso de Marcelino na final com a URSS no Europeu-64, no então Santiago Bernabéu, está devidamente actualizado: não foi o madridista Amâncio, mas o culé Pereda a cruzar para o 2-1 final no prolongamento.
Basta respigar o que o site Maisfutebol escreveu ontem para se perceber a história e a vergonha que o esclarecimento actual não apagará nunca!
«O golo que mudou 44 anos depois
O golo da vitória da Espanha na final do Euro-64 continha um erro histórico que foi agora finalmente corrigido pela TVE, 44 anos depois. O autor da assistência para o golo decisivo foi deturpado pelo montador, pelo que as imagens transmitidas pelo NO-DO, um noticiário documental do regime que era projectado no cinema antes do filme em si, foram manipuladas.
As imagens do golo de Marcelino, que valeu o título europeu à selecção espanhola, eram precedidas de uma assistência de Amancio, quando foi Chus Pereda a fazer o passe decisivo. Assim, e depois de o Canal + e a Tele 5 terem levantado a questão, a TVE admitiu o erro e acabou por revelar outras imagens da altura, em que é possível confirmar, de outro ângulo, que a assistência é de Pereda.
Antonio Garcia Valcárcel, o próprio montador do vídeo, prestou-se a explicar o que realmente se passou: «O golo de Marcelino tinha falhas. O operador que filmou o jogo não podia gravar todas as jogadas porque era impossível na altura. E o que se passou? Escolhemos uma jogada em que não se tinha passado nada de especial e colámos a imagem ao plano onde Marcelino marcava o golo.»
Um dado que pressupõe ainda a existência de um dedo do regime na história do golo mais importante de sempre do futebol espanhol é o facto de Amancio ser jogador do Real Madrid e de Pereda defender as cores do rival Barcelona. O jogador do Barça teria sido, desta forma, o grande herói da final, uma vez que fez o primeiro golo da Espanha e, afinal, assistiu Marcelino para o segundo golo.
Hoje, os dois envolvidos brincam com a situação. Pereda diz que já lhe tinham explicado por que tinha sido feita a confusão e não lhe dá muita importância. «O mérito não é de Amancio, nem meu. É de Marcelino, veja-se o cabeceamento. E o meu cruzamento foi uma lástima! Na verdade, o passe bom foi o falso, o de Amâncio», disse o antigo jogador, numa entrevista ao jornal As.»
In MaisFutebol
Assista ao vídeo que explica toda a confusão.