Com alguns resquícios, com e sem FC Porto envolvido (classificação dos árbitros por exemplo), em tribunal do famigerado Apito Dourado, a propósito de livros e escritoras e uns quantos arrufos mais, foi anunciado também o FIM do hediondo Apito Final a que falta só vergar a espinha gelatinosa do Costa da Liga e fazer a tasca do Hermínio - entretanto a modos de se pôr a andar de fininho, que as castanhas ainda vão estalar de quentes - pagar pela fantochada e devolver seis pontos subtraídos de forma infame com um parecer encomendado ao Freitaseiro do regime.
O que muitos portistas ñão se lembram é de há 25 anos o Benfica ter, também, tentado uma manobra vergonhosa de intoxicação da opinião pública, o que é motivo para recordar, a talhe de foice e para apimentar mais um clássico que não pode esconder o cheiro a pólvora que este clima de intimidação vermelha espalha pelo País através dos seus comissários políticos das paineleirices televisivas.
Passou-se em Dezembro de 1984, concretamente com a publicação no Record, de dia 4 uma terça-feira desse mês, de uma ignominiosa notícia claramente encomendada e que diz bem, quem a ler, do estilo e do carácter de quem a fez.
Alegadamente, Júlio Borges, responsável benfiquista do futebol, recebera uma carta. Não era anónima, como a de Luís Filipe 20 anos depois, nem foi para morada desconhecida, como a nova casa para onde se mudou o jagunço-mor da espelunca da Luz. Pois um tal Julião Rosa Quintas, que se dizia também ser de Abrantes, remetera para o Benfica uma carta em que denunciava favores de arbitragem ao FC Porto... de uns anos antes, em 78 e 79, quando o FC Porto quebrou o jejum e ganhou dois campeonatos consecutivos.
Um Fiat 127, uma oficina de bicicletas e uma "garrafeira monumental" era a descrição do suborno pago a um fiscal-de-linha, Baptista Fernandes, do árbitro leiriense Álder Dante.
Esta a denúncia e diria respeito a ajudas do tal "liner" nos jogos com o Benfica de 1977-78 e 78-79.
O bimbo que escreveu a notícia nem se incomodou, tal a capacidade receptora da informação, de verificar se os nomes diziam respeito àqueles jogos.
Mas a bomba foi lançada, em Dezembro de 1984 o FC Porto preparava-se para recuperar o título de campeão. Ao bicampeão Benfica - a melhor equipa dos encarnados desde então, em minha opinião ., sucederia o FC Porto bicampeão com Artur Jorge, em 85 e 86. E nessa época de 84-85 foi uma vantagem de oito pontos (dois por vitória) sobre o 2º classificado que até foi o Sporting...
"O fiscal-de-linha recebeu um Fiat 127 por ter anulado um golo a Nené nas Antas", contava a missiva, reportando-se a um jogo de 1979 e que seria decisivo para o FC Porto chegar a campeão.
Ora, depois de atirada lama pela ventoinha, o jornal foi então ouvir Álder Dante. Que contou tudo e explicou o "património" do seu colega de equipa.
"O Fiat 127 ele já tinha em 1977, a oficina de bicicletas abriu-a em 1976 e o meu primeiro jogo entre Benfica e Porto foi em 1978 e na Luz, não nas Antas. Houve um golo anulado a Nené, de facto, num Porto-Benfica comigo a apitar mas em 1980", explicou o antigo árbitro.
Nas épocas do bicampeonato depois de 19 anos de jejum, não foi muito bem acolhido o facto de o FC Porto chegar de novo ao trono. Pelo meio tinha ganho apenas a Taça em 1968, ao V. Setúbal. O campeonato do Calabote, de 1959, foi o último título e nas circunstâncias dramáticas e de tentativa de fraude perpretada no Benfica-CUF que ditou, depois, a irradiação do árbitro alentejano que apitara na Luz até o Benfica poder superar o FC Porto por diferença de golos com o 7-1 final, uns penáltis generosos e longos minutos de compensação para ver se dava mais um golito redentor.
A verdade é que, mesmo em nome do fair-play e da "democratização" do futebol depois da Revolução de 1974, não era bem vista, como nunca foi, a "descentralização". O FC Porto acabara de quebrar a hegemonia lisbonense e em particular do Benfica, quatro vezes tricampeão com títulos do Sporting a interromper cada série.
Mas o ressentimento benfiquista, ainda que pouco ruidoso e não muito reflectido na Imprensa desportiva lisbonense (que chegava ao Porto apenas ao fim do dia de publicação matinal na capital), já naquele tempo fazia as coisas por outro lado.
De facto, em 1977-78, o FC Porto empatou 0-0 e 1-1 com o Benfica. Ganharia o título por diferença de golos, com os encarnados sem perderem jogo algum mas subjugados por uma "bolabarage" (como então se dizia) esmagadora dos portistas que marcaram 81 golos em 30 jornadas.
Álder Dante apitou na Luz, a 15/1/78 e teve, de facto, Baptista Fernandes como auxiliar, então chamado também Fernandes Bento, além de Eduardo Faria.
No dramático 1-1 a 3 jornadas do fim, com o golo de Ademir a manter 1 ponto de avanço para o FC Porto depois de autogolo de Simões, a 28/5/78, apitou Manuel Vicente, de Vila Real, com Joaquim Fonseca e Carlos Teles auxiliares.
Em 78-79, 1-0 para o Porto nas Antas (golo de Costa), com António Garrido a apitar e Virgílio Alves e José Rosa de bandeirinhas. Na Luz, a 21/1/79, num jogo em que Toni partiu uma perna a Marco Aurélio com entrada violenta junto à linha lateral diante do Terceiro Anel, com golos de Alves e de Duda, o árbitro foi Porém Luís, com António Freitas e Jorge Fadrada.
Álder Dante voltou a apitar um Porto-Benfica: foi a 10/2/1980, Baptista Fernandes também actuou junto com Gama Henriques. E o Benfica teve um golo anulado a Nené, de facto. Ainda com 0-0, suscitou dúvidas mas o árbitro apitou fora-de-jogo antes do remate.
O FC Porto viria a ganhar 2-1. Rodolfo marcou um dos raros golos pelo FC Porto e Gomes deu a reviravolta no marcador. Nené tinha aberto o activo.
O FC Porto caminhava para o tri, mas perderia o título para o Sporting.
Em resumo:
- o "património" de Baptista Fernandes tinha sido adquirido muito antes do tal golo que anulou a Nené por fora-de-jogo.
- e esse lance, mais a vitória do FC Porto, não contribuiu para nenhum título, pois o bicampeão ficou em 2º lugar.
Mas não só.
Viria, por fim, a descobrir-se que o tal Julião Quintas não existia em lado algum.
Forjaram um escândalo, uma identidade falsa, uma alegada corrupção de uns anos antes e nada era verdade.
De há 25 anos para cá, com o FC Porto a vencer contra as calúnias, o ressabiamento benfiquista teve este baptismo...
Alguém lembrava desta história? Pois fica muito bem para coroar o pífio Apito Final. E espicaçar a raiva que existe mesmo entre Porto e Benfica. É que, entretanto, o FC Porto superou o Benfica em vitórias nos jogos entre si e prepara-se para ganhar esta época mais títulos.
p.s. - quando reatar o campeonato em Janeiro, voltarei à ética republicana que então dominava a FPF liderada à vez por Benfica-Sporting-Belenenses e ao proteccionismo de Estado que sempre amparou o Benfica. Será a golpada, parte II. Um mês apenas após o episódio descrito acima.