O grande responsável de todas as selecções nacionais continua a primar pela ausência. Entretanto, toda a gente se esquece do péssimo contributo que, pelo segundo ano consecutivo, Scolari deu aos sub-21 portugueses…
Portugal tem uma final inesperada pela frente e na Itália um obstáculo tremendo para aceder ao Torneio Olímpico de futebol de 2008, na China. As duas grandes desilusões do Europeu de sub-21 do ano passado, no nosso País, são as meias desilusões da categoria, ou falta dela, na Holanda. Mas têm direito a disputar um bilhete extra para os Jogos Olímpicos (1), algo que serviu a ambas para Atlanta-96 (2) embora os “azzurrini” tenham levado vantagem final de forma a ganhar o título continental desse ano, dois anos após a verdadeira final do Europeu em Montpellier (3) que disputaram.
Em devido tempo, aqui, enumerei as perplexidades sobre as convocatórias das selecções com jogos fundamentais em Junho. Agora, com Portugal afastado do Europeu de sub-21 (o jogo de apuramento a fazer não é da competição), depois de ver nas bancadas holandesas vários seleccionadores principais, como van Basten, McClaren, Donadoni, e constatar mais uma vez a ausência de Scolari, e consumada mais uma fraca participação portuguesa a que acredito ir juntar-se a eliminação pré-olímpica por me parecer mais forte a “Under” italiana, pergunto se ninguém tem alguma coisa mais a apontar ao que se auto-apelidou de “chéfi” há precisamente um ano?
Excessos das Arábias
Já me pareceu mal Scolari levar com os A alguns sub-21 que precisavam descansar e preparar bem o respectivo Europeu. Citei Moutinho, Hugo Almeida, Nani como exemplos maiores que deviam estar na Holanda e não ir à Bélgica. Compreende-se que, ali onde Simão, Nuno Gomes, Cristiano Ronaldo estavam ausentes por castigo ou lesões, fossem chamados alguns sub-21 a que se juntou, depois, Antunes que não está habituado às andanças de uma selecção menor, muito menos a pensar em três selecções num mês só, incluindo os sub-20 que vão ao Mundial do Canadá.
Mas Nani era dispensável de ir ao Kuwait, pela viagem, o calor, os exames médicos depois em Manchester e chegar à Holanda a dois dias do primeiro jogo dos sub-21 com a Bélgica. Moutinho nem foi titular em Bruxelas e seguiu para a Holanda. Antunes foi mais do que um preciosismo de Scolari no Kuwait: foi reflexo da estupidez que ninguém perdoaria a outro seleccionador nacional mas que Scolari insiste em exibir sem o mínimo desagravo.
Portugal esteve mal na Holanda: em campo, em forma física de alguns como… Nani; em comportamento; em atitude; em dignidade institucional a que não faltou a bacoca colaboração do palhaço do regime, Gilberto Madail a dar-se ao luxo de comentar cá, porque não teve tempo de ir à chatice que é a Holanda acima de Amesterdão, os desmandos dos tugas de serviço no país das tulipas.
Há um ano, Scolari deitou fora os sub-21 para ir ao Mundial. Alguns fizeram-lhe bem falta. Desta vez, deixou os sub-21 acumularem “milhas”, mas a viagem que contava, como ele confessou, era só a sua: “Pedi a Deus uma coisa, ganhar da Bélgica”.
Já agora, só para lembrar, da equipa que iniciou o Europeu-2006 (0-1 com a Frana), para a que empatou 0-0 com a Bélgica este ano, mantêm-se Nani, Moutinho, Manuel Fernandes e Hugo Almeida como titulares. No grupo, constam ainda Paulo Ribeiro, Vaz Tê, Semedo, Varela e Filipe Oliveira.
Este ano a culpa não é do Raul Meireles e, especialmente, do Quaresma. De quem será, então?
O “respeito” político
Quando se reclamou “Chéfi” de todas as selecções, inspirando o “respeito”, hoje politicamente em voga no desgoverno do País, em Agostinho Oliveira que ousou dizer não saber quem convocar nos sub-21 à falta de orientação do “Chéfi”, Scolari acabou a despedir o seleccionador mais antigo da FPF. Com Couceiro num cargo e uma ascensão que até o treinador do Atlético zombou (“Há quem desça equipas de divisão e tenha como prémio uma selecção nacional”, disse após ganhar no Dragão), Scolari tratou mal os mesmos sub-21 pelas convocatórias impregnadas do seu interesse exclusivo e arriscou a que Portugal perdesse o Europeu e, pior, o Torneio Olímpico.
Até hoje, passadas estas semanas, não li alguma linha sobre o assunto. Couceiro foi um treinador isolado, fora do contexto dos sub-21, e como Agostinho e, antes dele, José Romão em 2004, será o bode expiatório, apesar da culpa própria na estratégia e onze escolhidos frente à Holanda, de uma coisa que continua como sempre foi: as selecções sem rei nem roque, à vontade do freguês que no caso continua a ser Scolari. Sem muitos se darem conta disso, satisfeitos por meias vitórias e resultados avulso porque de títulos, até nos escalões de formação, continuamos mais afastados do que nos últimos 18 anos.
Riade-89 ajudou a projectar o futebol jovem português. Muitos se aproveitaram, na estrutura federativa, mas a Casa das Selecções há uma década que está para sair do papel. Agora, só os ilusórios resultados da selecção principal, e os milhões das fases finais ou dos passeios ao Kuwait, tapam tudo. E não se vêem mais responsáveis por nada. Sempre foi assim na FPF.
(1) - O Reino Unido (que compreende Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte) compete como equipa conjunta nos Jogos Olímpicos. Dada a independência das federações britânicas no futebol e assim protegidas nos Estatutos da FIFA, a vaga da Inglaterra não é ocupada por uma equipa “mista” de britânicos.
(2) - Portugal-Itália nos ¼ final do Euro-96, 1-0 na Luz e 0-2 em Bérgamo com bis de Vieri: só por ganhar uma mão, Portugal apurou-se para os Jogos de Atlanta onde terminou em 4º, sob o comando de Nelo Vingada.
(3) - Em França, um golo de ouro (104’) de Orlandini derrotou a equipa onde, em 1994, jogavam Figo e Rui Costa.