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23 fevereiro 2010

Händel celebrado no concerto do FC Porto

A propósito da qualidade técnica portista num futebol maravilhoso a evocação do grande músico saxão nascido a 23 de Fevereiro de 1685


O FC Porto fez uma exibição de sonho frente ao Braga. A bola correu de pé para pé, sublime, deslizando num tapete mágico, ordenada, obediente, certeira. Um concerto de bola, uma orquestra afinada e percutindo os instrumentos apropriados para uma ária de jogo alegre mas tocante, como se champanhe escorresse sem borbulhar em demasia, antes elevando o aroma e sustentando a finesse de tal formosura, onde os pontapés na bola passaram como carícias em veludo, humilhando o adversário mas com uma aura de intocável superioridade a amenizar o vexame futebolístico, tornando a noite e o festim tão natural como uma suave melodia, para mais banhada no final com chuva fina, certeira e também ela aprumada e caindo quase meticulosamente na perfeição sobre aquele esplendor na relva.


E porque hoje, 23 de Fevereiro, celebra-se o nascimento de George Frideric Händel, em Halle (Saxónia), em 1685, nada como associar esse magnífico jogo do FC Porto com a sumptuosidade do músico saxão que se celebrizou em Londres, para onde se transferiu em 1712 e viria a morrer, cego desde 1753, a 14 de Abril de 1759. Assumiu, entretanto, a direcção da Academia Real de Música em 1719 e adquiriu a nacionalidade britânica em 1726, bafejando os reis Jorge I e Jorge II com eloquentes melodias que tornaram Händel um dos mestres da música barroca*. Jorge I fora Princípe Eleitor de Hannover (Baixa Saxónia) e as suas raízes germânicas cruzaram-se com as do virtuoso músico que, na corte britânica, soube inspirar obras da mais melodiosa sinfonia. O ambiente real inspirou-o para obras solenes e comemorativas, como os "Reais Fogos de Artifício". Mas a "Música Aquática" é a que pode aplicar-se ao concerto de bola do FC Porto no Dragão, um palco deslumbrante para tal harmonia.


A "Música Aquática", precisamente, escrita em suite em 1717, acompanhava um cortejo de Jorge I no rio Tamisa, em que os músicos tocavam, sentados num barco, atrás do Rei*. Jorge I, agradado e embevecido, ordenou que fosse tocada três vezes. Foi como o FC Porto na 1ª parte. Depois, a ária delicada da 2ª parte completou a obra.


Esta suite nº 2 em Ré chamada "Alla Hornpipe", sintetiza nos sentidos mais profundos de cada apreciador o que os olhos, deslumbrados, acompanharam no jogo do FC Porto, como um cisne flamejante na água calma mas de corrente firme e determinada. Daí ficar a música a par do resumo da beleza técnica no tapete mágico do Dragão.






Um regalo para os olhos do público que gosta do jogo, ainda que muitos aziagos da blogosfera não lhe tenham dado o merecido relevo e alguns, os mais aziagos que pensam que calar é esquecer ou menosprezar, nem cumprem o seu alegado preceito de comentarem o futebol em geral num sempre estapafúrdio processo de isenção que não deixa de esconder as tenebrosas intenções de amesquinhar os êxitos dos dragões. Alguns daqueles recessos, apesar de muito bem vistos e na moda, até colocaram a questão ao contrário, não pelo mérito portista mas pelo demérito bracarense, o que releva como tais recalcamentos fazem remoer as entranhas e apressar a morte. Paz à sua alma.


Celebre-se Händel e o FC Porto. A honra ao mérito. Da grandiosidade.


* - dados extraídos da colectânea "Os Grandes Mestres da Música Clássica", que em boa hora reuni.

31 janeiro 2010

Explosivo enquanto dá...


Explosivo. Extra! Extra! (actualizado à 2ª feira, 17.54h)






Esta imagem é elucidativa. Uma entrada a "matar". Quem é? Quem é?
Nesse jogo não foi só essa. Além de Carlos Martins, também Nuno Gomes foi brutal ante Sapunaru, a vítima em dois lances do Benfica-Porto de 2008, sem que os agressores tenham sido expulsos. A imagem aqui é, precisamente, de Carlos Martins sobre Sapunaru.
Sábado, ante o V. Guimarães, Carlos Martins teve uma entrada "assassina" sobre Nuno Assis. Daquelas que os benfiquistas gostam de adjectivar em Bruno Alves, sem que se tenha visto algo assim, de pé em riste, pitons à vista, directo à perna do adversário, estilo karaté-dói. Mas o Elmano só deu amarelo. Depois, Carlos Martins ainda foi marcar dois golos antes de ser expulso por segundo amarelo por mão na bola. Normal.
Normal que a impunidade prossiga nos jogadores do Benfica, que são elogiados por tudo e por nada são apontados como "mergulhadores" e caceteiros.
Outro exemplo, e que exemplo!, de Javi Garcia, a dar uma patada, um coice autêntico em Valdomiro. Na área do Benfica. Mais uma expulsão poupada ao Benfica, mais um penálti negado a um adversário.
O árbitro não terá visto, o auxiliar também não, que o futebol do Benfica desvia todas as atenções das irregularidades cometidas, na vertigem do seu jogo rápido, com inusitada conivência dos árbitros.
Javi Garcia é um Petit em ponto maior. Por isso, às jogadas "rasteiras" habituais do português, empresta um vigor físico que alguns só contestam em Bruno Alves... O espanhol já foi apanhado em muitos frames, mas as imagens televisivas acabam num limbo, retiradas da circulação não vá a sua persistente repetição acicatar o justicialismo da (des)atenta CD da Liga, pois um sumaríssimo a este rapaz espanhol de perna em riste e cotovelos activos está por aplicar há muito.
Nas trovas do tempo que passa, a lei é só lei quando:
- "apagando" imagens de tropelias de benfiquistas não se dá azo a discussões;
- um Benfica goleador do "melhor futebol" por norma passa por cima de algum golo irregular entretanto obtido e da expulsão por decreto de algum adversário, como tantas vezes se repetiu, ficando apenas o merecimento da vitória;
- um FC Porto goleador com expulsão de um adversário pode ter sempre um pequeno ajuste de contas a trazer à liça, como os habituais comentadores se habituaram, enquanto o mérito da vitória ou outros erros de arbitragem (vide golos anulados a Falcao) em prejuízo dos campeões são menorizados.
Pode ter sido por o Benfica ganhar a jogar com 10 os minutos finais; e o Porto ganhar a jogar contra 10 por mais de uma hora, como tantas vezes ganhou o Benfica, que suscita uma discussão desabrida sobre a "contabilidade da arbitragem". Mas a Luz continua a ser o antro da impunidade e do proteccionismo não só de árbitros, mas de toda a Liga. Será da bebida?
E, contudo, apesar de chamarem "explosivo" a Carlos Martins mas não pelas piores razões que deviam ser apontadas, reponho aqui o que contabilizei a 19 de Janeiro, a estatística até à 16ª jornada, inclusive, sobre o deve-haver nestas matérias da superioridade numérica em campo. Já sabemos que os "profissionais" da comunicação não ligam a isto, os paineleiros são distraídos e estas coisas são chatas de apresentar, mas é assim:

BENFICA

TOTAL – 56ca, 4dca, 7cv -------- 8gpc , 1gpf ------- adversários com 10 por 133’, com 9 por 83’ No Olhanense, acabou 10 contra 9 nos 2’ finais, pelo que conta a superioridade numérica do Benfica como se fosse 11 contra 10.


FC PORTO
TOTAL – 43ca, 4dca, 2cv ------ 4gpc, 1gpf ------ adversários com 10 em 62’, com 9 em 26’

FC Porto em inferioridade por 35’

SPORTING

TOTAL – 49ca, 4dca, 1cv ---- 2gpc, 1gpf ---- adversários com 10 por 66’, com 9 por 1’


Sporting em inferioridade por 26’

Entretanto, até passou despercebido, a "uns" e a "outros", que João "Pode vir o João" Ferreira mostrou amarelos a Carriço, Veloso e Saleiro por entradas ao homem que por lei deviam ser vermelho directo, no jogo de Braga. Pois...

15 janeiro 2010

O mal do adepto

Já ouviram falar do “mal da montanha” que, em altas altitudes como nos Himalaias, provoca dores de cabeça, náuseas, vómitos, cansaço evidente, stress extremo e até risco de morte. O futebol tem-nos mostrado o “mal do adepto”. O que é isso? É aquele sentimento de dizer mal de tudo quando as coisas não correm bem. É as finanças, são os reforços, obviamente os árbitros, cada vez mais o treinador e nenhuma exibição os contenta.


Tem-se passado isso com os adeptos portistas. Desconfiados sempre, só se a equipa engatar umas 15 jornadas sem perder, mas tendo de ganhar na maioria das vezes, os adeptos sossegam. Não é exclusivo dos portistas, é antes do mais uma maleita congénita nos portugueses. Aliás, na vida política e nas coisas públicas, que tocam a todos independentemente de partidarite ou clubite, os tugas votam à carneirada, seguem o rebanho, elegem os mesmos, não compreendem as opções políticas e temos o resultado de um cadáver adiado que parece ser Portugal.


No Sporting, a entrada de Carvalhal demonstrou que o inconformismo leonino da exasperante era Paulo “ventoinha” Bento fez baixar a auto-estima a níveis nunca vistos, transferindo para o novo treinador a senda de fracassos que nunca poderia ser-lhe imputada, na gestão dos recursos financeiros e nas opções do técnico antecessor.


No FC Porto, que acabou a 1ª volta com mais um ponto do que em igual momento da época passada, as coisas já deram para o torto no sentido de os adeptos torturarem-se, arrastando a equipa para essa autoflagelação, mesmo quando no campo os jogadores se soltam, marcam, superam os erros do árbitro e vencem, como sucedeu com a U. Leiria no domingo.


Porém, as incidências do jogo adulteraram, como vinagre, o que ele transmitiu: uma equipa segura, que fez 5 golos e sofreu dois indevidamente por lapsos (relapsos) dos árbitros, correu o risco de empatar 3-3. Uma exibição muito agradável do FC Porto merecia outra tranquilidade em vez de alusão a sorte na defesa final de Helton para assegurar os três pontos.


Não vou insistir nas incidências arbitrais de mais uma miserável demonstração de parcialidade, imbecilidade e incapacidade de Elmano Santos, na esteira de tantos e praticamente todos os árbitros portugueses.


O “mal do adepto” instalou-se nos mais “nervosos”, aqueles dispostos a prender alguém por ter ou não ter cão. Perdendo-se a noção das coisas, cai-se no exagero. Rui Moreira, por exemplo, falou das substituições de Jesualdo Ferreira como o mal da equipa nesse jogo. O grave nem é a sua interpretação, é ter dito que o fez a 15 minutos do fim. Não é verdade, como se comprova. A ganhar por 3-2, contra 10, em casa, após uma boa exibição, o FC Porto estava a 5 ou 6 minutos apenas de obter uma vitória suada, que se tornou difícil mas era digna de melhor diferença de golos.


Jesualdo tinha tirado um defesa para lançar um avançado: Miguel Lopes por Farías. Chegou ao 3-2. Tentou ampliar. Teve (mais) um golo mal anulado. E, entretanto, ficou a jogar contra 10. No futebol, como provou o penálti falhado de Ronny, nunca se sabe o que acontece. Se 11 contra 10, a ganharem a 5 minutos do fim, insistem na busca de mais um golo, pode-se sofrer o empate num lance imprevisto.


Adiantaria arriscar? Naquelas circunstâncias? Jesualdo meteu Mariano e Tomás Costa, repondo gente atrás e reforçando o meio-campo. Era segura esta opção. Normal nos termos em que foi assumida. Mas o futebol atraiçoa-nos sempre, mas não pode beliscar sempre as opções que se tomam. Saiu o imprevisto do penálti de Fernando, que fez um excelente jogo e em escassos minutos acabou expulso por acumulação de amarelos. O Leiria, entretanto, arriscando no desespero, lançou mais uma torre para a frente, meteu dois homens altos e fortes na área e buscou o jogo directo. Mais uma razão para o FC Porto se prevenir. Mas no futebol nada é certo, não é? Excepto os benefícios permanentes e gritantes dos árbitros em favor do Benfica até ao momento, tudo está em causa.


Pode-se discutir a qualidade de Tomás Costa e até de Mariano. Mas não a utilidade e o acerto de serem lançados para “acabarem” com o jogo no domingo passado. Era preciso gerir melhor a bola e Tomás Costa comprovou não saber fazê-lo. Mas isso é outra questão, não tem a ver com a opção de meter alguém de pendor mais defensivo, a 5’ do fim e a ganhar 3-2. A discussão, num jogo que a mereceu tanto por outros factores e com alvo principal na arbitragem hedionda que Elmano nos brindou de novo, não pode ser criticar porque se “defendeu” um resultado. Quantas equipas não o fazem em circunstâncias similares? Nem todas o conseguem, mas também nem todas assumem essa atitude mais prudente e depois pagam-no caro.


Mas quando o desassossego e desconfiança são grandes o “mal do adepto” vem sempre ao de cima.


Para já não se passa com os benfiquistas, que acreditam “no melhor futebol” da sua equipa mas recusam ver que só tem ganho com erros de arbitragem, alguns bem graves e chocantemente evidentes, a seu favor. Não é o “melhor futebol” que ganha campeonatos, embora possa ajudar. E quando esse “melhor futebol” dá mais golos de bola parada do que em jogo corrido, o “mal do adepto”, assimilado na Crítica em geral, funciona ao contrário: não vê que algo não está bem e, claro, muito menos enxerga que os árbitros ajudam mais do que o “melhor futebol”.


Crónica semanal do blog Portistas de Bancada para o Futebol "O desporto rei"

11 novembro 2009

O revisionismo histérico


O "Tetra" do FC Porto comparado com os últimos quatro troféus domésticos do Benfica. As conversas com árbitros e um árbitro britânico cheio de letra e não só miúdas em Lisboa. Depois da negação do caso Calabote, prò ano um golo fradulento de Vata será transformada em remate com o pé mais à mão para comemorar os 10 anos de uma ida a uma final europeia?


A propósito de isto, que o Corta-Fitas anunciou por antecipação à publicação deste artigo de panfleto de clube de caserna, alguns portistas deram-se ao luxo de publicar tal lixo como vinha apresentado em vez de, higienicamente, fazerem meramente o link para a "notícia" no site oficial da agremiação do Alto dos Moinhos.


Tive, então, três atitudes: denunciar, transpondo a coisa integralmente de onde a vira, para alguma divulgação do absurdo sem os pormenores do original; escolher uma foto adequada, ao caso em causa, no contexto de uma discussão de dedos em riste por sinal em voga naquela altura por questão de má educação e mau carácter nem de propósito com origem no mesmo clube também de maus costumes em Portugal; e, obviamente, comentar no bem apresentado e até humorado post do blog em causa que muito gosto de ler.


O meu comentário, então, resumiu-se a dois aspectos:


- ao contrário do que se apregoa(m), o Benfica preocupa-se mais com o FC Porto ("É o nosso grande rival") do que o inverso, dando relevo aos muitos títulos conquistados que já ombreiam (64-63) com o rol de honras do clube da Luz;


- e que, com este sinal, um dia chegaria em que até o golo de Vata com a mão, ainda que insuficiente, mesmo que por pouco, para ganhar uma Taça dos Campeões Europeus, seria negado como Pedro negou, por três vezes, Cristo.


Outros assuntos e falta de tempo e espaço só agora me permitem voltar ao tema, como desejava, com a adenda histórica da celebração (dos 20 anos) da queda do muro de Berlim.


Uma perspectiva idiosincrática muito portuguesa, com a nossa arbitragem de trazer por casa, já a deixei esta semana. Prometi abordar a questão histórica inerente ao antigamente.


No "paraíso" socialista, com o farol de luz da então URSS, era norma - depois de o sanguinolento estalinismo ter enterrado, antes de milhões de vítimas perseguidas de forma vil e despida de qualquer conceito humano, os ideais marxistas - modificar a História. Na alvorada do paraíso terrestre por obra e graça de princípios doutrinários, criaram-se conceitos e linguagens que até os mais reputados génios da Literatura e Pensamento ocidentais aceitaram e difundiram, salvo raras excepções. Ao revisionismo histórico, adulterando factos, chegou-se ao ponto de se apagarem figuras de relevo que nem a espuma dos tempos levaria até ao desconhecido. Mas isso não se fazia só por se eliminarem registos escritos, ou por simples degredo siberiano nos Gulags da praxe, mas até apagando pessoas das fotos e poses oficiais. Há muitos exemplos de prática dos primórdios do photoshop em "postais" de Estaline: não era só pela encenação, com crianças cujos pais foram engolidos pelo aparelho repressivo e sanguinário, ao pé do grande líder; era mesmo fazer desaparecer figuras das fotografias. Há imensa bibliografia destas coisas e programas televisivos.

Agora, com tiques de proselitismo e reaccionarismo de outros tempos, dignos de outros regimes, a coberto da liberdade de expressão vão-se dizendo a fazendo umas asneiras no Benfica a quem a história contemporânea não tem favorecido.


Por estes tempos, já tivemos:

- profusa documentação sobre os 50 anos do campeonato do Calabote que não sorriu ao clube do regime e com o Benfica, e múltiplos acólitos estrategicamente colocados em fóruns televisivos e colunas de jornal, a querer reinventar a história que se conta com factos descritos na Imprensa da época;

- os exemplos degradantes do seu último campeonato ganho (com a APAF em força); da sua última Taça de Portugal ganha (graças ao costumeiro SLB no Jamor); da sua última Supertaça ganha (ajuda preciosa do Olarápio); e ainda há meses da sua última Taça da Liga ganha (de novo com o SLB porreiro, pá).


A monstruosa encenação mediática, com o peso institucional das rédeas manobráveis da República corrupta e moribunda, que foi o Apito Dourado, esvaziado no Pífio Final em vias de sofrer a última expiação pública e jurídica dos seus pecados capitais, tem agora o Apito Continuado a favor do clube do regime.


Dos tentáculos dessa teia imensa, pelo visto ainda sobram (?) umas gravações que nunca foram publicadas e é legítimo duvidar-se que existam mesmo. Mas nos escombros dessa ruína de tráfico processual e litigância de má-fé sob a capa da legalidade vigente, alguém ainda quer vender algo como se fossem pedaços do odioso muro de Berlim que virou, como é norma no mercadejar no frenesim actual, peça de museu, artigo de colecção e modelo de ostentação pessoal, esquecendo a origem e o significado que o muro representava em si mesmo, tal como o processo maquiavélico do Apito Dourado.


Passamos, da prática originada na URSS, ao revisionismo histérico da facção benfiquista. O golo de Vata há-de ser alvo de uma limpeza profiláctica para ser apresentado em 2010, 20 anos após a trapaça que afastou o Marselha da final europeia de 1990, como um golpe de asa da águia negra, vide um remate com o pé mais à mão.

E, como é bom de ver, as extensas explanações de Howard King e as suas aventuras sexuais em Lisboa, contadas num jornal inglês, serão tidas, definitivamente, como heréticas, enquanto se garante, urbi et orbi, que nem sequer há putedo na capital portuguesa onde os gangs armados e as redes de corrupção estão desalojados como os habitantes das barracas transferidos para condomínios de luxo pelas benesses sociais do Rendimento Social de Inserção.


Aliás, o facto de, por aqueles lados, ainda se "sentirem campeões nacionais de juniores" diz bem do estado mental e de total negação de quem, desabituado de ter justiça à perna, depois dos casos de doping, resiste, apesar da "falência técnica", apenas com alucinogénios.


O problema, de facto, é o FC Porto ganhar. Aos últimos 4 títulos nacionais consecutivos dos dragões, fora outras minudências mais laureadas pelos lados de Alvalade, vale a pena contrapor os quatro derradeiros troféus domésticos que o Benfica conquistou?

10 novembro 2009

O muro de Berlim caiu ou está de pé?





O que tem a ver Lucílio Baptista com o "die Mauer"? E a separação física de duas realidades com a linha de fora-de-jogo não observada a Mariano? Reviravoltas pela história.



Um muro é uma realidade física que pode adornar, se bem formatado a jeito, uma propriedade ou separar dois mundos. Pode ser da moda, como terá sido há 10 anos e como poderá ser daqui a 5 anos pelas Bodas de Prata da data; pode ser mania, é alvo de recordação ainda hoje na capital alemã. Pode ser chocante, pode ser fruto apenas de ideologia. Quando não uma raíz mental no subconsciente. Não é que me alicie falar disto, porque há 10 anos devem ter sido ditas as mesmas coisas pelas mesmas pessoas que conheceram aquilo. A diferença é que o show-off é com outros, a Clinton, a Merkl, até o Sócrates lá estavam. Talvez em 2014 sejam outros, mas as histórias locais sempre iguais.

Para mim, a queda do muro de Berlim diz algo; também algo distante porque não lá estava, mas por ter sido a alguma distância que pressenti, como todo o mundo, que iam acontecer coisas. Depois da abertura flagrante em Budapeste nesse Verão, com gente a passar de lá para cá no que foi a brecha simbólica no "muro" que dividia a Europa dita "rica" daquela onde localizavam o "paraíso", encontrava-me em Praga nesse Outubro de 1989 e conheci a agitação junto às embaixadas de países ocidentais, pessoas aos magotes que procuravam ou saltar os portões ou esperar, ameaçados, por um visto no seu passaporte, na rua, à mercê da polícia local que nestas coisas nunca era discreta.
Hoje ainda mais difundido mundialmente, com pedaços levados pelos coleccionadores a todos os cantos do planeta, o muro ainda marca diferenças: colorido pelos grafitis no lado ocidental, cinzento (depois de inicialmente pintado a branco) no lado oriental; separava o mundo abastado da terra conformada com a penúria; era tão alto e impenetrável que a sociedade de consumo, a democracia, as drogas, os punks e os homossexuais - hoje massificados globalmente - não via nem era vista desde a zona da "normalização" social, da aparente igualdade de classes, das lojas desguarnecidas de bens alimentares abundantes no outro lado, do Estado policial, de partido e pensamento únicos.

Passados 10 anos sobre a última "cerimónia", não me ocorria evocar isto, apesar do gosto por temas históricos, sociais e ao de leve políticos, não fosse a triste realidade portuguesa que diariamente nos esmaga. E ajudou o futebol que, ontem à noite, fechou a jornada. Aos 20 anos da queda do verdadeiro e odioso muro de Berlim aludiu-se, também, o muro defensivo da Naval que o Benfica acabou por derrubar na data histórica.

Fiquei curioso, à falta de ver o directo, mas os resumos, todos os resumos de todos os canais, foram como se fossem um só resumo num só canal. O que não admira. Se a proliferação de televisões e jornais fosse sinónimo de democracia, liberdade de expressão e de informação, ninguém se poderia queixar no Irão ou na China. Portugal, de forma desapercebida, é que caiu do 15º para o 31º lugar à beira de ícones da liberdade de imprensa como o Mali, escassos meses depois de sair mais um diário para as bancas e decorrerem negociações para haver um 5º canal de televisão ainda que envolto em polémica e excessiva mas estranha "legalização" no país do Simplex e empresas na hora dignos do grande líder e do partido albanês.
Aos "amanhãs que cantam" prodigalizados por cá a uma avalancha de futebol do Benfica, ainda assim, consegui ver com a Naval, nesses resumos apenas de jogadas a finalizar, mais de metade dos lances ocorridos só de bolas paradas. Cantos e livres, que desta vez os mergulhos foram todos fora da área como se não confiassem no Lucílio artista de apitar por dedução. Mas a informação pode ser sacada do nada, se subsistirem dúvidas, e um amarelo a Godeméche, por Saviola ter ido de encontro ao francês, fez-me soar o alarme.

Já pela noite dentro - naquelas horas mortas onde se fazem por vezes revoluções e para as quais o documento oficial de Gunter Schabowski estava previsto (às 4h) ser publicado para abrir formalmente a passagem do Leste para o Oeste já a 10 de Novembro de 1989 mas que ele, descuidadamente a simbolizar a fragilidade de todo o regime que assolava a Europa Oriental, antecipou para o fim de tarde, de voz própria, numa conferência de Imprensa, imagine-se, a responder a jornalistas - a RTP deu um resumo alargado do Benfica-Naval.
Foi o único momento em que pude ver se a falta da qual saiu o livre para o Benfica marcar existiu. Não existiu. Di Maria, abençoado para as quedas, quis passar entre dois opositores, andou no habitual tem-te-não caias e o amigo SLB, o afamado Senhor Lucílio Baptista, marcou falta.

Nada de novo, de resto: o João "Pode vir o João" Ferreira também inventou uma frente à Naval, na Figueira, na época passada, um livre em que o mesmo di Maria pediu mão de um adversário quando este recebeu a bola no peito, falta da qual Katsouranis, de cabeça, ditaria a vitória (2-1) lá para Março ou Abril passado.
O muro da Naval caiu, para pesadelo daqueles que aplaudem os "autocarros" da Académica e do Belenenses no Dragão. Mas um outro muro se levantou. O muro que paira nas cabeças de muitos tugas mal formados que acham dever obediência cega e respeitinho congénito ao líder, ao regime, à bandeira do país. Aquilo que subconscientemente árbitros como Lucílio Baptista fazem, apitando em favor do mais forte. Viu di Maria no chão e marcou falta. Por acaso deu golo, o que é um acaso na história, tanto que não faz levantar dúvidas e tão irrelevante que nenhuma tv voltou a mostrar, nos seus resumos fastidiosos, a origem do livre.

O SLB ajudou o SLB, mas a Imprensa do regime, mesmo diversificada em títulos na profusão da Imprensa que existe em Teerão ou Pequim, não tem dúvidas. O regime é assim e muita gente vive enclausurada, mentalmente, neste círculo vicioso.

Esta profusão de gente de uma Imprensa diversificada e alegadamente livre enquanto se remete às forças do mercado para levar a vidinha, é capaz de fechar os olhos a outras coisas. Ou ter um vislumbre de marosca caso a coisa tenha outras cores.

De cretino em cretino, de Baptista em Baptista, um parco resumo respigado do Marítimo-Porto, posto descuidadamente no ar com a mesma falta de "sentido de Estado" de Schabowski na tarde de 9/11/1989 em Berlim-Leste, demonstra que Mariano está em jogo e podia tabelar com Farias ambos isolados ante Peçanha.

O auxiliar Luís Salgado, aquele a quem faltou dar o cachaço por não ter alegadamente visto um eventual golo de Petit que jamais alguma imagem comprovou, marcou fora-de-jogo. Por sinal, era uma situação para ter dúvidas, pois Mariano, ali à sua frente, retirava-lhe a visão de espaço necessária para apreender toda a linha fictícia do fora-de-jogo e, assim, não via que João Guilherme, no meio do campo, punha Mariano em posição legal.

Desta vez, nenhuma luminária como as mais raras existentes no Rascord, pediu a linha amarela do fora-de-jogo que a tv não mostrou. A SportTV, no directo, mal repetiu o lance. Sei que há um problema de liberdade de acção na Madeira, extensivo ao continente e que é propalado como se existisse um muro que protege A.J. Jardim, cuja dialética ideológica não chega para convencer o "Terreiro do Paço" de que há pior na "Metrópole". Os jogos são filmados mal e porcamente. Mas, vendo a repetição, Mariano estava em jogo e, apesar de tudo o que justamente se disse do mau jogo do FC Porto, podia dar empate naquele lance até pela superioridade numérica com Farias face a Peçanha.

O terceiro golo portista à Académica, precisamente por Farias e na linha do fora-de-jogo, mais imaginária ou real consoante as cabecinhas ocas do regime, foi alvo de reparo em editorial de Farinha do mesmo saco de vesgos, aquele que não viu, em nome do pensamento único e do partido ou clube único, os dois golos academistas precedidos de mão na bola.

Há, obviamente, uma lógica única nisto. O Baptista que dá amarelo a um jogador da Naval por Saviola ter ido de encontro a ele parecia o Baptista que marcava faltas a Bruno Alves por saltar mais alto e os adversários madeirenses virem contra ele. É o pensamento único. O clube único, na antiga RDA, era o Dínamo de Berlim, campeão 10 anos consecutivos... Coisas bizarras hoje em dia e que soam tão mal como o muro dedicado a quem o ergueu, Walter Ulbricht então líder da Alemanha que sonhava viver ao sol mesmo à sombra do urso soviético.

Da próxima, pegando na História, abordarei as consequências de permanecer de pé esse muro irreal que esmaga consciências e, à boa maneira da "política de blocos" de há 20 anos, apaga retratos e tomba no "revisionismo histórico".




13 agosto 2009

Puseram o (ladrão) relapso Xistra a guardar a jóia Hulk

Os cancros visíveis em Portugal: arbitragem e justiça/disciplina. Do reino da impunidade ao reino do faz-de-conta. O que tem Pinto Monteiro, mais dado a leituras de cordel, a ver com o futebol e a saúde, negligenciando a sua função de PGR?

Uma vez mais vou usar um exemplo do futebol para falar do País e as suas idiosincrasias. E vice-versa, com os defeitos tugas em ambos os casos. O que tem a ver o caso da denúncia de um ministro quanto a comportamento antissociais e crimes públicos que a autoridade competente devia averiguar com o futebol da treta deste País de brandos costumes e brincadeiras sérias que não são tomadas em conta?

Há coincidência entre Carlos Xistra e Pinto Monteiro? Há. São produtos da mediocridade reinante em Portugal, eleitos para funções, cargos ou estatutos por favores de alguém e sob manto de traficância de influências, tão ao gosto da opacidade que mascara tudo o que é elegível neste Pais da treta onde nada parece ser levado a sério.

A nomeação de Carlos Xistra para o Paços-Porto de domingo é mais um atentado ao bom senso por parte do nomeador Vítor Pereira, da Comissão de Arbitragem da Liga. O árbitro deixou que os vimaranenses perseguissem selvaticamente Hulk, há uns meses. Isto na época passada em que o responsável pela arbitragem profissional começou por defender que a prioridade era salvaguardar os artistas da bola. Esta época, o inefável e invisível Pereira ainda nada disse, mas já mostrou que aos costumes diz nada. Ou tudo. Por omissão. Acções para melhoria da arbitragem é que não se vêem.

O Carlos Xistra que permitiu todas as agressões a Hulk no V. Guimarães-FC Porto, em Abril, foi o mesmo que dias antes concedeu generosamente dois penáltis ao Sporting frente aos dragões na famigerada semifinal da Taça da Liga em Alvalade, por supostos toques penalizadores de defensores portistas na sua área. Critério curto e largo, consoante as circunstâncias penalizassem ou favorecessem o FC Porto.

Temos mais, já esta época. Na grande abertura oficial com a Supertaça em 2009-2010, o árbitro portuense Jorge Sousa protagonizou o proverbial duplo sentido da sua arbitragem, típica dos apitos lusitanos de trazer por casa. Até o miserável Rascord notou que dois pacenses deviam ter sido expulsos por entradas violentas, uma delas sobre Hulk da forma mais grosseira que se viu antes em Guimarães. É de notar que o imbecil que notou estas falhas da arbitragem conseguiu dar-lhe nota 4, como se a sarrafada tenha curso tão livre como as pedradas para interromper e por fim decidir sobre uma "final" do campeonato de juniores.

O mesmo Jorge Sousa que permitiu a licenciosidade pacense em Aveiro é aquele que em Agosto de 2008 obrigava cada canto do FC Porto, uns 6 ou 7 no jogo todo, a um interminável processo de aviso aos defesas benfiquistas no clássico da Luz, por agarrarem sistematicamente - e num caso até com Luisão a agredir Sapunaru - os jogadores portistas. Não havia canto que demorasse 4 ou 5 minutos a marcar e, com a quebra de concentração, tornando-os ineficazes na perspectiva da equipa atacante, o FC Porto.

Pois, então, põem o ladrão relapso Carlos Xistra a vigiar a jóia Hulk que supostamente, salvo a opinião desencontrada com o bom senso de Paulo Bento, devia ser preservada para bem do espectáculo em Portugal. Hulk que foi negligentemente protegido em Guimarães é a galinha dos ovos de ouro a quem deixaram a raposa a vigiar a capoeira.

Virando a página nesta caricata imagem de facilitismo em Portugal, não bastava a ridícula justiça/disciplina do futebol português - afundada na indiferença geral e internacional do pífio Apito Final que sofre tratos de polé em qualquer instância independente e suprapares - e temos a Justiça no seu pior como garante do regime democrático no País a saldo e alvo de todas as manigâncias.

A denúncia da ministra da Saúde, única no Governo a merecer nota positiva, sobre os contágios deliberados atribuídos a alguns cidadãos e sob pena de crime e prisão até 8 anos, foi mandada para canto por outro inefável e invisível detentor de cargo público: o sonso e serrano Pinto Monteiro diz que alguém denuncie com caso concreto para o seu Ministério Público actuar.

Oa bem, o MP que Pinto Monteiro diz ser coutada de "duques, barões e marqueses" em que ele certamente será o bastião-mor, esse instrumento de investigação criminal, e defensor da legalidade supostamente instituída num Estado de Direito, nada faz ainda que a Lei, que devia salvaguardar e defender como no futebol é pedido a árbitros mesmo da estirpe reles de Carlos Xistra, obrigue o MP a intervir, sem necessidade de denúncia como manda o crime público que é o que está em causa.

Haja um cidadão que publique um livro, chame-se Carolina para dizer mal de Pinto da Costa ou um Carolino para dizer mal de Pinto da Costa como agora está de novo a suceder por causa do novo casamento do presidente portista, e o MP actuará. Basta uma literatura de cordel que a Morgado da justiça entrará em campo. O MP não cumpre o seu papel, preferindo fazer de palhaço nos tribunais onde chega com acusações cheias de nada e condenadas ao insucesso, mas se algum caso pessoal lhe chegar às mãos haverá perseguição individual tolerada, e amplificada nos altifalantes do regime, por um árbitro que devia ser isento e actuante em nome da legalidade mas que nada faz e fecha os olhos à mais simples arbitrariedade.

É um país de mafiosos, pois, por isso perigoso. Só Figo achará que o País assim, entregue a um charlatão licenciado a um domingo e com quatro cadeiras feitas pelo mesmo professor com prova de exame enviada por fax, está bem e recomenda-se. Donde se prova que nem as gentes do futebol dão sinais de integridade e clarividência. E o futebol e o País estão como estão.

p.s. - a Liga já informa com mais antecedência as alterações à próxima jornada: na terça-feira, em vez da sexta-feira, já se sabia os horários da 2ª ronda. Mas a problemáutica da arbitragem é que continua sem solucionáutica, como diria o saudoso Raul Solnado.

12 agosto 2009

63, 64, e a contar...

A nova época começa na senda em que acabou a última, com um troféu oficial. Aí vão 64 triunfos em provas oficiais. Não contabilizamos, nunca, os torneios de preparação ou mesmo de ganhar dinheiro. E só contam o que antigamente se chamavam "de primeira categoria", escalão sénior, profissional, pelo que não vamos tão longe como o confrade Portogal, que inclui o êxito na Liga Intercalar mas é uma espécie de "prova Primavera" no sentido equivalente aos sub-21 e utilizando prioritariamente os juniores ou em transição para a primeira equipa.


Os 64 triunfos da máxima categoria do futebol profissional foram referidos numa certa abundância mas a explicitação do número só faz sentido, porém quase sem o mencionarem, como aproximação aos 65 títulos que o Benfica arrecadou no total. Restam assim, apesar de envergonhadamente essa evidência ser omitida nos vários OCS, alguns troféus esta época para o FC Porto ser a equipa de futebol mais vitoriosa em Portugal. A próxima taça em disputa é a da Liga que o FC Porto desta vez pretende vencer. E talvez o Penta vá coroar, esta época, a famosa ultrapassagem que os adeptos rivais tanto temem pois pouco mais terão para argumentar no sentido de serem "os mais grandes"...


O historial do FC Porto é, então, o seguinte:

I Liga/I Divisão: 24 triunfos em 1935, 1939, 1940, 1956, 1959, 1978, 1979, 1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009.

Taça de Portugal: 14 triunfos em 1956, 1958, 1968, 1977, 1984, 1988, 1991, 1994, 1998, 2000, 2001, 2003, 2006, 2009

Supertaça: 16 triunfos em 1982, 1984, 1985, 1987, 1991, 1992, 1994, 1995, 1997, 1999, 2000, 2002, 2004, 2005, 2007, 2009.

Campeonato de Portugal: 4 triunfos em 1922, 1925, 1932, 1937.

Taça/Liga dos Campeões: 2 triunfos em 1987 e 2004

Taça UEFA: 1 triunfo em 2003.

Supertaça da Europa: 1 triunfo em 1988

Taça Intercontinental: 2 triunfos em 1988 e 2004

20 julho 2009

Muito bem dito mas muito por dizer

Farpas ao Benfica, despreocupação com o passivo que será corrigido, presume-se, na próxima época e realismo no imprevisível mercado do futebol na entrevista de Fernando Gomes

Não é extensa e apesar de muitas apreciações fundamentadas ficou muito por dizer na entrevista de Fernando Gomes hoje a O Jogo. Basicamente, o administrador para a área financeira relata o aspecto geral do mercado do futebol em termos que já deviam ser familiares para muitos portistas, mas alguns persistem em não entender o fenómeno e a partir para extrapolações ridículas e até acusações não fundamentadas.

A entrevista pode ser lida aqui, mas realço os seguintes aspectos que ficam, pela sua importância no contexto da actualidade financeira e desportiva do FC Porto, à apreciação dos adeptos de bancada.

Primeiro que tudo, o temor quanto ao passivo:
"A questão do passivo apaixona os críticos, mas não deve ser vista de uma forma estática. Para já, as vendas realizadas significam que o FC Porto conseguiu equilibrar as contas da última época, cumprindo as previsões do orçamento que tinha sido traçado e conseguindo até ir mais além do que estava previsto. Contudo, os últimos movimentos do mercado não vão ser evidentes na próxima apresentação de contas que se refere ao período que terminou a 30 de Junho, pelo que não será perceptível aí um corte significativo no passivo. No entanto, o período de Julho e Agosto já vai registar uma melhoria considerável. De resto, sempre dissemos que, mais do que o passivo, aquilo que nos deve preocupar é a capacidade que o clube tem para cumprir os seus compromissos. E o FC Porto tem demonstrado reiteradamente ter capacidade para fazer face a todos os seus compromissos"
Ora, esta resposta relativamente curta mas incisiva, própria de um gestor objectivo e racional, obriga a levantar algumas questões e a prever outras situações, pois daqui dá pano para mangas:
1- Primeiro, a "forma estática" aludida a quem vê, e eu sempre critiquei isso, as coisas da maneira mais simplória possível quanto ao passivo. É verdade e alguns agitadores inflamam facilmente o discurso contra a gestão financeira e económica da SAD.

2- Mas se esta matéria "apaixona os críticos", seria bom dissecá-la e isso está longe de ser válido, subsistindo algumas dúvidas no tema, permitindo intepretações várias e divagações que raiam o doentio.

3- Para a época finda contará apenas a venda de Lucho, entrando na data limite para o fecho das contas (30 de Junho). O efeito que terá, a juntar aos 12 milhões arrecadados na Champions e a mais 5 ou 6 de bilheteira e exploração comercial na Europa, pagará o orçamento na ordem dos 40 ME e isso chama-se, como é observado, cumprir a estratégia que inclui previsão de despesas e de receitas, pelo que a gestão é meritória senão excelente, mas muitos esquecem isso.

4- Há a promessa de cortar no passivo nas contas da próxima época, fruto das vendas mais recentes (Julho): veremos o montante desse valor no R&C do final da época. Mas já ficou a ideia de poder diminuir algo ao passivo já em 2008-2009.
Vender e comprar: risco associado
O FC Porto vende, respeita o orçamento e cumpre-o, mas precisa de comprar, tudo numa espiral vendas-aquisições que desagrada aos adeptos e afasta a quimera (?) da estabilidade da equipa. Mas se alguma equipa é estável (Barcelona, talvez o melhor exemplo e porventura único), é um oásis de calma da volatilidade do mercado, ainda que mais moderado este Verão.

Ora, para comprar é preciso saber, tal como saber mostrar para vender (e render) bem. Também aqui a satisfação deve ser plena, mesmo a custo da sincronia da equipa por mais de um/dois anos. Reparem na palavra "risco", associada à reconstrução da equipa, mas também à previsão de vendas. Planificação, em suma.
"O reequilíbrio do plantel foi assegurado atempadamente. Procurámos, com uma dose de risco devidamente calculado, preparar as alternativas para aquelas que eram as movimentações de mercado previsíveis e que se acabaram por confirmar. Neste momento, temos um plantel devidamente equilibrado no sentido daquilo que são os objectivos do FC Porto: lutar pela vitória em todas as frentes".
Fica uma alfinetada ao Benfica, onde o homólogo de Fernando Gomes (Domingos Soares Oliveira), há um ano saiu-se com a ideia de a Champions não ser fundamental para um clube viver. O curioso é que alguns gurus da área económica, amiúde citados, sustentaram o facto e até, alarves, disseram que na Taça UEFA será quase possível obter as mesmas receitas... E críticos acéfalos, além de permitirem uma série de mentiras pelo meio destes discursos "porreiro, pá!", andaram a dar de beber a esta dor antes de caírem na real. E isto vai pelo segundo ano de mais gastos no plantel e poucas receitas para o equilíbrio. Fica a alusão de Fernando Gomes ao Benfica:
"Não percebemos como alguém com responsabilidades na gestão de qualquer clube com aspirações pode dizer que a Liga dos Campeões não é fundamental".
Golpe falhado na Europa
O fracasso do Benfica, mitigado na CS do regime, sem criar ondas nos actos eleitorais e sem que nele se fale ao longo da época tanto como alguns afamados críticos gostam de falar no FC Porto, remete-nos, já agora, para as vivências do Verão passado e o golpe maquiavélico engendrado para afastar o FC Porto da Europa - com a derrota em toda a linha que se conhece, que se celebrou mas este ano passou esquecido salvo algumas evocações que eu aqui trouxe.
"É quase impossível fazer uma avaliação dos custos que teria tido essa ausência, porque estamos a falar de efeitos directos e indirectos. Em termos de efeitos directos, entre receitas de bilheteiras, direitos e prémios de performance, estaremos a falar de qualquer coisa como 15 a 18 milhões de euros. Depois teríamos os efeitos indirectos que se reflectem na valorização dos jogadores. Se pensarmos que o Cissokho, por exemplo, nunca teria jogado em Madrid e em Manchester, se considerássemos que o Lisandro e o Lucho também não teriam essas montras ao seu dispor, estamos a falar de um efeito que podia facilmente atingir as dezenas de milhões de euros".
Questões (colocadas?) sem resposta
Para finalizar, além de abordar o passivo - cujo descontrolo foi monstruoso a seguir ao penta e com uma má fornada de aquisições (Pizzi, Esnaider, Maric, Pavlin e tantos outros que me assustaram quando cheguei de férias do estrangeiro nesse ano) e cujos custos ainda devem estar a pagar-se agora no incremento do passivo, sem retorno financeiro evidente e desportivamente com épocas pouco abonatórias -, o responsável da área financeira da SAD podia explicar, se lho perguntassem:
  • a) a diferença entre ter direito a 20% de uma futura venda de Cissokho pelo Lyon e ficar com 20% do passe do jogador, "nomenclatura" diferente mas apresentada como aparentemente a mesma coisa.
  • b) a questão dos direitos televisivos na Liga portuguesa e o valor de mercado dos nossos jogos.
  • c) o novo acordo com a SuperBock
  • d) a questão dos lugares anuais (sem evolução anual significativa).
  • e) o custo do estádio, transferência de dinheiro da SAD para o clube (500 mil contos à altura da constituição da SAD, salvo erro)
  • f) até que ponto esta Liga de Clubes, no aspecto comercial e de marketing, tem feito melhor, tão incensada, do que anteriores gestões de Valentim Loureiro.
Isto só assim a pensar num ápice. Fica, portanto, a saber a pouco, sobrando aspectos gerais que são do conhecimento de público mais atento e ponderado.

17 julho 2009

Falcao, sem til nem o saco de caramelos…

O Lyon levou Cissokho pela verba que o Milan quis repensar: exemplos da pobreza dos barões de antigamente e da riqueza de palavra que poucos honram actualmente

Não sei se Falcao é bom ou não, mas pelo menos não se vendeu por um saco de caramelos, que é a versão oficial reconfirmada mas antes não difundida que marca a triste história do Benfica alegadamente moderno.

Como este o Vieira não foi buscar, cruzando o Atlântico como fez com Moretto, nem pelo qual montou guarda no aeroporto com o primo do empresário a distribuir estalos, lá ficou o Rui a fazer figura de coitadinho sem o dizer muito alto nem merecer a compaixão devida pelos basbaques das suas operações de marketing e acção executiva própria do seu alto cargo.

Falcao será apresentado amanhã no Dragão, a par de Valeri que o FC Porto privilegiou, pelo visto sem ter o temido interesse no Buonanotte alegadamente desejado pelo Benfica – ainda à cata de um Perdigueiro qualquer nas Pampas - e também aparentemente cobiçado pelos dragões.

O “saco de caramelos” foi a imagem utilizada por Toni para falar do seu fracasso como director-desportivo do Benfica, há uns 12/13 anos, num cargo em que foi entronizado com meses de antecedência enquanto se contratava o Jorge Jesus brasileiro que até foi campeão sul-americano, Paulo Autuori. Tudo assente no papel desde Janeiro, mas o final de 1996 não passou, além do afastamento precoce do título, sem contratações de vulto por falta de dinheiro, assumidamente, nem os habituais ataques ao “sistema” que o treinador louro do Brasil protagonizou.

Ao anunciar desistir de contratar Falcao, e sem entrar aqui a discussão da qualidade do jogador ou o merecimento de tal disputa por dois clubes rivais, Rui Costa quase chorou tal a impotência, balbuciando como um menino a quem tiraram a bola para jogar que o Benfica qualquer coisa em relação a jogadores que interessavam ao FC Porto... Enfim, uma lastimável atitude, de resto alicerçada no pasquim regimental que titulava serem as pretensões de Falcao coisa de garoto, abrindo demais a boca. O jornal a fazer a voz do dono.

Entre esse exemplo da falta de grandeza, polvilhada com casos de contratações fracassadas alegadamente por “culpa” do FC Porto e interesses não confirmados em jogadores por quem o FC Porto não mexeu uma palha (Buonanotte foi o mais recente), ecoavam ainda a chacota de adeptos mal formados, envieirados e escarafunchosos de que os 15 ME da venda de Cissokho não tinham razão de ser pelo recuo do Milan que aparentemente ninguém censurou.

Mas se o Milan não teve dentes para levar Cissokho, querendo repensar a maquia a largar, como o Benfica (e o Sporting) não têm dinheiro para fazer cantar um cego, o Lyon apareceu, perguntou a Pinto da Costa se queria sempre os 15ME para levar o lateral francês e face à resposta afirmativa os dirigentes do clube francês não tiveram receio de a palavra dada ser incumprida. E Cissokho, para mal dos “avaliadores das vendas” dentro e fora do FC Porto, lá foi para o Lyon, por muito dinheiro e porventura mais do que valerá mesmo, mas acima de tudo por uma questão de palavra, de honradez e de estatuto dos clubes em causa.

Fora a questão da valia dos jogadores a comprovar em campo, seja Cissokho, Saviola ou Falcao, de nada disto podem gabar-se muitos fidalgos arruinados. Só com crédito bancário, muitos cheques passados e memórias distantes de um passado que hoje é glorigozo. Para piorar a imagem decadente destes antigos barões, há clubes que gastam menos e ganham muito mais. E toda a Europa conhece os pobres, os infelizes, os remendados, os desesperados.

Basta, aliás, não estarem um ano (Milan) na Champions. Imaginem não estar dois anos. Ou estarem dois anos fora da Europa, de todo. Estes ecos correm o mundo. Até à Roménia, onde o desconhecido Álvaro Pereira posou com uma camisola de clube mas assinou por outro em “quatro minutos”. E à Argentina, onde de “falar à Benfica” só por conhecer Saviola e Aimar que também jogaram no River Plate, o tal Falcao percebeu a diferença entre jogar num 3º classificado remetido para pré-eliminatórias da Liga Europa e num tetracampeão que faz boa figura na Liga dos Campeões e na mesa de negociações.

Isto de Falcao para não falar do saco de caramelos que lhe ofereceram, propondo-lhe salários inferiores aos que auferia no River Plate, de Buenos Aires, na margem do Rio da Prata e num clube onde falta “plata”, precisamente, para se ter bem a noção do dinheiro que muitos anunciam aos quatro ventos.

14 julho 2009

Empresta…dados

Justificar completamente
A lógica dos emprestados, custos e dividendos para o FC Porto. Quem pode, pode, além de ser legal mas também alvo de uma campanha moralista algo… imoral. Porque todos fazem por esquecer a origem do que era uma solução de transição para os jogadores (equipas B aniquiladas pela… FPF) e acabou num problema

Qual a lógica sobre os emprestados, uma apreciável quantidade de jogadores que o FC Porto tem sob contrato, que lhe faz jeito negocial e custa ao orçamento (3,5 milhões em 2008) mas neste Verão já rendeu uns 10,5 milhões de euros em… vendas?

É um tema actual, até por o FC Porto estar hoje a “mexer” mais nele, vendendo activos, do que antes e por ser alvo de debate na Nação portista. Com e sem razão, mais do que com ou sem razão. Porque há vantagens e desvantagens, resta saber o que prevalece. Alguns amigos instaram, por estes dias, a lançar o tema, e já tinha isto preparado há algum tempo. Enquanto não vem Falcão (e Valeri), aí vai tudo o que acho sobre o assunto, incluindo a origem histórica do que era uma solução e passou a problema, algo que muitos nem lembram e outros nem sabiam.

Há-os para todos os gostos, de guarda-redes a avançados. E para todos os feitios que acedam a comentar a situação. Alguns não chegam a ser utilizados: comprados, vestiram a camisola para a fotografia e nunca calçaram no Dragão (e nas Antas, já vem desse tempo). Outros são emprestados, emprestados e sempre emprestados até “morrerem”, perdendo vínculo ao clube. Destes, uns foram comprados, mas outros “nasceram” emprestados depois de saírem das camadas de formação portista.

Todos os anos, com lista que parece nunca mais acabar e sujeita a interpretações sobre a bondade do seu vínculo ao clube, o debate era e é: para quê?, e mesmo porquê?

Não tenho resposta certa, se é que existirá algo de concreto, lógico e até “inteligente” a assumir esta “política”. Mas este Verão, eis que Ibson rende 5 milhões, Paulo Machado também uns razoáveis 3,5ME, Vieirinha e Bruno Gama também rescindiram. Nova política do clube? E, sem quantificar mas presumindo ter ido de borla, até o afamado Zequinha lá acabou no Olhanense um ano e meio depois, desgraçado em Penafiel por mais uma arruaça com um suplente adversário no banco deste, de aterrar no Gondomar a dizer que queria ser “o futuro avançado do FC Porto”.

Porém, estes proventos que triplicam o custo anual do lote, agora parece passarem despercebidos, tal a teima em criticar o rol extenso dos ditos assalariados inúteis, para muitos. Um valor “mastodôntico” que, afinal, é menos de 10% do presumido orçamento para cada época (cerca de 40ME). Mas quem pode, pode, e o FC Porto há muito usa os meios legais para montar a sua própria estrutura e ter regras de comportamento internas e no âmbito das cedências a certos clubes com melhores relações com os dragões.

Solução e… problema: questões legais
É claro que se a Liga decidir acabar com o que muitos consideram uma “pouca-vergonha” e questionam, com argumentário falacioso, se tal não adultera a verdade desportiva – que pode ter uma cor por fora e outra por dentro, conforme a faca que a esventre… -, o FC Porto terá de adequar-se e “extinguir” essa secção que funciona como um braço do plantel que veste de dragão ao peito.

Uma coisa é concordarmos, ou não, se “isto” devia acabar. Outra é especular-se se chega para, cedendo jogadores a outros clubes na mesma divisão (e se for diferente o escalão mas obrigando ao reencontro nas provas de taça?), desvirtuar as competições. É um exagero, um absurdo e uma imoralidade de quem prega tal moral.

O que muitos, convenientemente, esquecem é que este sistema esteve ao alcance de todos os clubes e foi usado por muitos. Aqueles com meios para sustentar uma segunda (ou mais) equipa. Porque esta aludida “praga” começou há uns 10 anos, quando existiam as equipas B, multiplicaram-se loas ao projecto que esteve em discussão na Liga e foi aprovado. Posteriormente, até por pressão da FPF que deu mais um exemplo de como castrar as etapas intermédias da formação/transição dos jogadores para o escalão sénior, as equipas B acabaram. E os clubes, que podiam ter esta despesa extra, lá foram extinguindo os seus excedentes. Por não ter razão plena para formarem uma equipa B – ou clubes-satélites que o Braga teve no Maximinense e o Sporting no Lourinhanense, por exemplo – ou escassearem os meios financeiros.

Ora, o FC Porto não só teve sempre meios para sustentar tal plantel “extra”, como foi obtendo dividendos pelos empréstimos: com o objectivo de rodar jogadores para poder aproveitá-los se possível. No passado, Jorge Couto, Folha, Fernando Couto (mesmo campeão nacional em 1988 com Ivic), Mariano, Morgado, Paulo Alves, Rui Barros até e muitos outros jogadores rodaram e o FC Porto aproveitou-os plenamente. É claro que num processo destes muitos se perdem pelo caminho, às vezes não por falta de jeito ou talento mas porque, simplesmente, não apareceu a ocasião certa na hora melhor.

Há vantagens patrimonais e não-patrimoniais, de pura estratégia desportiva em vários níveis (relacionamento com clubes, aposta num jogador devidamente acompanhado para ver se é possível inseri-lo no FC Porto). E não foi por causa disso (aliás, era de 1,5 milhões o orçamento para este lote em 2007) que o passivo do FC Porto aumentou nos últimos anos, ao contrário do que muitos catastrofistas vêm defendendo.

Ilusões, desilusões e opiniões como melões
São ilusões que se apagam cedo, mas a grande maioria destes jogadores não sentirá propriamente um desconforto: podem penar em divisões inferiores, mas normalmente não assumiram por si a ruptura do vínculo por sentirem alguma “protecção” e ajuda enquanto ligados ao FC Porto, quanto mais não fosse por obterem mais fácil colocação… como emprestados.

Enquanto dura, enquanto o clube pode e na perspectiva de alguma vantagem, patrimonial ou simplesmente estratégica, trazer ao FC Porto, esta política é passível de crítica, mas não pode ser leviana, ainda que suscite muitas dúvidas em casos que custa entender de renovar com jogadores, como o defesa-esquerdo Leandro, que comprovadamente nunca se viu como encaixaria na equipa do FC Porto. Pitbul é um caso recente em equação e sempre debatido, enquanto a resolução do caso Ibson apaga uma má relação do jogador com o modus operandi actual ditado pelo timoneiro da equipa e desfaz por fim as aspirações de uns quantos adeptos que viam nele algo que uma maioria, e eu que me incluo nela, não vislumbrava: ser titular no FC Porto.

Ironicamente, Ibson sai a valer tanto como saiu o mais consagrado Diego por quem muitos suspiram mas não entenderam que, em qualquer caso, não tanto a qualidade do jogador mas mais a utilidade e necessidade para a equipa, não “coabitavam” e a equipa passou bem sem eles. São coisas do mercado, de oportunidade, de valorização ou desvalorização pontuais, de urgência em eliminar um foco de problemas (Diego) ou adiá-lo (Ibson). Sem menosprezo do seu valor intrínseco e sem que as vozes sempre estranhas à corrente filosofia do clube tenham vencido e nem sequer terão acabado convencidas de que assim é e o FC Porto actuou da melhor maneira.

Confesso que me prendo pouco a discussões de preços de jogadores, muito menos o seu potencial valor de mercado, preferindo avaliar no campo e seguir a ideia de que o barato sai caro, amiúde, e um jogador que renda pode sair barato custe o que custar.

E nem gosto de entrar em palpites sobre que jogador encaixa ou seria recuperável para a equipa principal. Ainda nestes dias teima-se em lançar nomes que podiam ser úteis. Mas ninguém tem a ciência exacta e só o treinador avalia as qualidades que cada um pode dar que a equipa necessite. Falou-se muito, por exemplo, no Paulo Machado, até em comparação com Guarín. O português é limitado, o colombiano terá mais um ano para provar que melhora e é útil para o futuro, sob pena de deixar de interessar.

Eu gostei da época de Diogo Valente no Leixões, especialmente a última, e ele acaba por rescindir e vai para o Braga fazer uma dupla de flanqueadores com Alan, que eu defendi aqui mas foi escarnecido no Dragão pelos experts de bancada que depois o elogiaram na Pedreira. São, evidentemente, opiniões, mais ou menos válidas mas que se repetem amiúde e a que ligo pouco, digo: evitando dar a minha opinião, desde que tive de avaliar se, há quatro anos, o miúdo Ivanildo mostrou algo e aproveitou as inúmeras titularidades, comprovadamente excessivas e que chegaram a exasperar-me, no tempo de Adriaanse.

Alguns blogs de consócios dissecam estas questões, com sarcasmo escusado apesar da tentativa de humor, e no caso do “souportistacomorgulho” actualizam o quadro de excedentários e as “marés” da sua vivência, como repetiram há dias (ver aqui). Tem utilidade, o quadro para adepto ver, decerto mais do que muitos terão, daquele quadro, para o FC Porto. Mas é da quantidade que sai a qualidade e quem paga pode, tem legitimidade e oportunidade, conquanto alguns exemplos sejam tão enigmáticos quanto inelutavelmente inúteis.

O debate pode avançar, com mais dados do problema desde a sua génese e de quem - a incrível FPF - não se esperaria a letal facada nas costas. Também aqui o FC Porto sobrevive à táctica da “terra queimada”e acaba por ser, involuntariamente de início e estrategicamente agora, dentro da legalidade vigente, um bom empregador ainda que olhado de soslaio pelos seus adeptos. Com razão ou sem ela.

Salvo as devidas proporções e distâncias, esta não é, para consumo interno, uma discussão muito profícua; e para o exterior, os maldizentes, serve a exaltação da identificação dos (tantos) males do futebol português mas não colhe.

13 julho 2009

Sol na eira, chuva no nabal


Ser competitivo custa dinheiro e pelo visto a sobrevivência custa os olhos da cara: mais uma explicação pública de Pinto da Costa e outra de Beckenbauer. Ou a posição em que se situa o Sporting, no meridiano do Benfica e nos antípodas do FC Porto


O FC Porto continua a ensinar aos adeptos em geral como é estar e triunfar no futebol. Os relapsos têm de ser sempre lembrados das verdades mais actuais, contra o “romantismo” de outras eras. O curioso é que mesmo os adeptos portistas que deviam conhecer a “cartilha” azul e branca são, muitas vezes, os mais distraídos e (alegadamente) críticos. Pinto da Costa acaba de dar mais uma lição à concorrência nacional e Beckenbauer uma alfinetada em Florentino Perez.

Leio hoje em O Jogo:
"Pela parte do FC Porto posso informar o doutor Bettencourt de que não gastamos em compras sequer 50 por cento daquilo que recebemos com as vendas de jogadores como Lucho, Paulo Machado, Lisandro ou Paulo Assunção, entre outros", palavras de Pinto da Costa por um remoque do homólogo leonino. E finaliza: "Achava [Bettencourt] que não havia dinheiro, mas pelos vistos há"

Confrontado com a questão de saber se esta seria uma gestão de risco, Pinto da Costa rejeitou a ideia e enfatizou o sucesso desportivo: "Não, não é uma gestão de risco e é a única possível para os clubes portugueses que queiram jogar ao mais alto nível" [negrito meu]. E acrescentou um exemplo: "O FC Porto recebe cerca de vinte vezes menos que o Milan em direitos televisivos e esta diferença de receitas só pode ser colmatada em termos de competitividade com a capacidade de comprar e vender criando mais-valias resultantes da valorização que temos feito dos jogadores".

Questionado sobre se esta diferença de realidades resulta da dimensão dos mercados ou de falta de capacidade negocial, Pinto da Costa declarou: "Evidentemente que parte dessa diferença resulta da dimensão relativa dos mercados, mas uma outra parte resulta do facto de os clubes não se unirem, a começar pelos maiores".
Pode discordar-se, mas não negar a realidade. Pode argumentar-se, mas ninguém tem a verdade absoluta, logo a “outra versão” não é comprovadamente melhor e subsiste sempre a dúvida entre o gastar para ganhar ou o poupar para não ganhar. Pode pedir-se sol na eira, mas é difícil conciliar a chuva no nabal. É um equilíbrio precário manter a equipa tetracampeã e ganhar dinheiro. O último classificado da Liga inglesa recebe mais do que o campeão europeu de clubes, garantidamente acima de 22/25 milhões de euros anuais. E só precisa de estar lá, não necessita vencer algum jogo, basta participar. Em Inglaterra é assim. Mas o FC Porto joga em Portugal onde, como em Itália e Espanha, os clubes negoceiam os direitos televisivos isoladamente, ao contrário de França, Alemanha (o Bayern também queria estar só mas teve de alinhar com todos) e, claro, além-Mancha.

Ora, os clubes grandes deviam reunir-se em torno de um objectivo comum e, assim, obteriam mais dinheiro sob pena de as tv’s não terem acesso aos jogos. Sabemos como vale por cá a política de capelinha, o que é ridículo sabendo da residual dimensão do nosso mercado e de a Liga não ser “exportável” para outros países, via tv. Ora, esta Liga, também aqui, não trouxe nada de novo, aliás não há uma ideia genuína e válida que mereça ser discutida, mas o “sistema” vê virtudes onde não há centelha de imaginação e iniciativa e fica-se por aplaudir o folclore e escrevinhar banalidades da acção política e executiva da Liga de Clubes que nada resolve.

A este respeito, é interessante um paralelo que li ontem num jornal espanhol sobre Beckenbauer. O eterno “kaiser” que dirige o Bayern de Munique manda uma alfinetada em Florentino Perez, considerando “de loucos atirar dinheiro”, sobre a política de mercado do Real Madrid. E isto acontece com dois dos maiores clubes mundiais, sendo o Bayern a presidir à Associação Europeia de Clubes (AEC) e o Real, como o Bayern e o FC Porto, um dos integrantes do antigo e já extinto G-14, mesmo do tempo de Florentino na presidência merengue. Beckenbauer também diz que “teria remorsos se gastasse 60 milhões num jogador”, aludindo a uma pretensa oferta dos merengues por Ribéry. Já para não falar, como é normal num alemão que não anda alheado da realidade, na crise financeira mundial e as dificuldades de emprego.

Temos, portanto, três planos:
- o pobre do Sporting, sem dinheiro e capaz de recusar 15 milhões (em Janeiro) do Bolton por Miguel Veloso, entretanto reduzidos a 10… E, como já foi observado anteriormente, abdicou da sua política de compras, depois de ruinoso projecto imobiliário a que foi conduzido por um daqueles “gurus” modernos mesmo com nome antigo e de visconde, em favor de uma atenção maior à Academia, por necessidade e não estratégia, só por não poder fazer cantar um cego….

- o pobre-rico do Benfica que, como o Real Madrid, disfarça o estatuto decadente com empréstimos bancários, a subsidiar os seus fracassos desportivos, crédito mais acessível que nunca ao comum mortal mas com o risco hipotecário inerente, prova de que pode não se ter dinheiro sem deixar de ter vícios. O recurso à banca está difundido por todos os clubes, incluindo o FC Porto, mas há limites perigosos para ultrapassar.

- o desenrascado como o FC Porto, que aposta na marca da sua imagem e garantia de competitividade nos grandes palcos internacionais, valoriza jogadores e obtém mais-valias que deviam ser um orgulho nacional mas vai passando despercebido. Ou porque se acha, em contas de merceeiro, que o passivo nem devia existir, ou pelo folclore de Verão e as cigarras a cantar tomar o espaço circense necessário às agendas mediáticas e programações televisivas.

Anda muita gente preocupada com o facto de Jesualdo ter de refazer a equipa em cada época. É legítima essa questão, desde que não descambe para a tendência de criticar porque sim, sem atender à realidade financeira em que os clubes vivem. É a urgência do passo em frente. Rumo ao abismo? Talvez. Mas não há outro caminho, só o tal precário equilíbrio para não cair, precisamente se os clubes não estabelecerem regras que os protejam da ganância de alguns.

O Real Madrid deveria ser criticado por isso, pois rompe todo o protocolo com a ideia de ser “o mais grande” e fazer o que quer só porque pode. Aos poucos crescem os alertas para esta política de terra queimada onde se faz constar que só em direitos televisivos num ano o RM paga a transferência de Ronaldo, como se este fosse, também, o único jogador a pagar e os outros vivessem à borla.

Se Bettencourt, numa das pobres “generalidades” em que os portugueses se habituaram a conviver para não ferir susceptibilidades do vizinho, não sabe as diferenças entre Benfica e FC Porto, na gestão, no mercado e na verdade competitiva, então confirma que o Sporting gostaria de fazer como o Benfica, mas tem medo desse passo e não tem, reconhecidamente, legião de adeptos para satisfazer como no circo.

10 julho 2009

Psicótico, no mínimo…


De Jardel a Lisandro, de Robinho a Tomasson, de Leo a Reyes, de Cebola a Falcão, o passado, o presente e o futuro

Falcão não chegou, mas deve ser ironia do destino. Anunciado pelos pombos-correio do costume, a contratação falhada do Benfica traz a ameaça de um desvio de rota para o FC Porto. Comportamento psicótico que Pinto da Costa fez questão de sublinhar ontem, onde já não se questionou (como há um ano) a sua presença na AR apesar dos processos em tribunal, não se contestou a sua ironia que muitos diziam estar em desuso, nem se beliscou as suas bicadas oportunas no coração da cidade onde bate o centralismo futebolístico subjugado pelo poderio portista emanado da província.

Os desmiolados do costume não tinham o hábito de associar ao FC Porto, como complexo pavloviano, jogadores rejeitados pelo Benfica, apesar de anunciados em parangonas e alguns vestidos a rigor com o novo emblema onde os pasquins paroquianos os foram desencantar para uma “première” sem luz ao fundo do túnel.

Lembro Jardel, por exemplo, que o senhor “Gastar Vamos” fez de snob… Ou Lisandro, alegadamente seguro por 5 anos mas que, ao tempo, ninguém quis atravessar o Atlântico para equipar de vermelho e a 1ª página apareceu com Licha no equipamento do Racing, azul e branco.

Esses, posteriormente, acabaram no FC Porto. Manobras de diversão não associaram a ideia de perfídia e máfia, conotando logo o FC Porto com as renúncias a esses jogadores.

Mas no Verão do passado recente onde o populista presidente agora em vias de voltar à cadeia não era o plebiscitado líder do Benfica, houve muitos Robinho, Tomasson, Sávio, Munitis, Júnior, Hierro e tutti quanti por quem o FC Porto não se interessou.

Júnior, se se lembram, por exemplo, um lateral-esquerdo baixinho mas rápido e bom de bola, andou perseguido pela feroz Imprensa porreiro, pá que por 15 dias rondou Parma para o levar para a Luz. Nada. Para o FC Porto? Nada.

Outro? Atouba, um gigante africano defesa-direito: jogava no Basileia e também estava garantido. Nada. Relação com o FC Porto? Só quando jogou pelo Hamburgo na Champions e não via por onde lhe fugia Quaresma, acabando substituído e saindo sob assobios dos seus adeptos no jogo da Alemanha. Por sinal, um jogador livre, agora, mas que o Benfica não quis pegar… depois do “forcing” junto dessa potência futebol helvético…

Na época passada foi Cristian Rodriguez. Benfica não convenceu o jogador a prolongar contrato de empréstimo. “Em 5 minutos” assinou pelo FC Porto. Alguém falou em “roubar”, como se fala levianamente em “querer ser campeão”.

Parece que, depois de Álvaro Pereira que algures na Roménia “falou à Benfica” e acabou no FC Porto para continuar a jogar na Champions onde acedeu pelo modesto Cluj na época passada, poderá vir Falcão. Que também “falou à Benfica”, mas percebeu o que era mesmo e fez-se caro.

Já não há apelo como antigamente. Por exemplo, monstros do futebol internacional como o holandês Peter Lovenkrands, confrontado com a possibilidade de ir para a Luz disse que “prefiro ficar no Rangers”. Pagou, aí sim, o FC Porto, a quem marcou o 1-0 no malfadado confronto de Ibrox (3-2)…

Mas há apelos doentios: o último por Reyes. O penúltimo tinha sido o Leo, outro lateral-esquerdo baixinho brasileiro e ressabiado contra o FC Porto que me parecia mancar em campo… As “fatwa” dos ayatollahs da mouraria eram decretadas pela Imprensa do regime e a capital não dormiu. Com medo da própria sombra, esta semana li um bacoco director-qualquer coisa do Rascord afirmar que não se confirmava a “notícia” dos blogs sobre a passagem de Reyes para o Dragão. “Caga nisso” (nome de uma amadora banda rockeira por onde também podem passar uns acordes trauliteiros dos rabos de cavalo que acabam na Imprensa do regime), pá! E proclamava que, afinal, os blogs não são fiáveis, falham… “notícias”. É só rir, mas já mete pena.

E logo Reyes, a estrela maior da constelação cadente da Luz onde muitas lâmpadas se fundem. Jogador de qualidade técnica e fotogénica, que se habituou a brindar na passagem de ano o título de campeão para as 1ªas páginas desportivas, um homem que não deu continuidade à sua carreira de forma fluida, porque o seu jogo vê-se a espaços e é demasiado intermitente no rendimento de uma época inteira para ser considerado fundamental numa equipa de alta competição como o Arsenal, Real Madrid e Atlético (não o de Alcântara…).

A ironia do destino é que aqueles ressabiados que para darem vivas à partida de Lisandro do Dragão lembraram o penálti forjado contra o Benfica, nem lembraram que Reyes no FC Porto poderia ser sinónimo de não se lhe marcarem penáltis por faltas sobre Lucho.

Mas o mercado é malandro e ainda bem que a anunciada resolução da renovação de Liedson, feita após a eleição de Bettencourt a presidente e antes de o jogador ir de férias, só se consumou agora, parece que verdadinha mesmo, não por culpa de Pinto da Costa. Às vezes é preciso um “empurrão” benfazejo de fora para aclarar situações negociais/contratuais e terá chegado de Sevilha, onde quiseram fazer o ninho nas costas do leão e o presidente del Nido quereria o Levezinho para substituir Luís Fabiano de possível saída para o Milan.

Ah, o Milan, o mercado, as certezas. Bom mesmo é o Galliani, o homem que telefonou a Rui Costa na despedida de jogador da Luz e mostra ao ex-rossonero o que é ser director-desportivo e actuar em nome do presidente. Bons exemplos. Belo mercado.