e as banalidades debitadas na televisão
A propósito das meias-finais da Champions e dos clássicos no Dragão, um repto aos adeptos e aos portistas que criticaram a sua equipa
Não resisto a repetir o título do post que fiz posterior ao Porto-Benfica de Fevereiro e que, basicamente, foi um jogo decalcado na visita seguinte do Sporting ao Dragão. A mim não me repugna nada que as equipas joguem à defesa: até me lembro que o Artur Jorge fez um jogo retranqueiro para o FC Porto eliminar o Ajax de Cruijff na Taça dos Campeões em 1985, com 2-0 nas Antas e um jogo defensivo que exasperou os holandeses. Como sabem, não sou de modas, nem em qualificar os jogos, os seus intervenientes e as tácticas, nem sou de modas sobre as ditas. As equipas têm legitimidade para aplicar as suas estratégias e tácticas. Quem está de fora deve apenas apontar se gostou ou não e qualificar o que viu sem subterfúgios, figuras de retórica, expressões politicamente correctas ou um léxico mais vulgar de frases feitas com que não se quer ferir susceptibilidades mas no fim de contas mete nojo. Pode-se interpretar e explicar porque se jogou à defesa, mas não incensar o facto, quando o futebol é um jogo de ataque que pode ser, pontualmente, sacrificado à necessidade de se obter um resultado apropriado para uma ocasião. Custa muito admitir isso?
Isto a propósito do Barcelona-Chelsea, que desiludiu muita gente mas eu, sem deixar de repudiar o jogo “italiano” dos ingleses, aceito como “normal”. O repúdio por esta atitude não o calo, independentemente dos valores, incontestáveis, em presença. É claro que tentar ganhar serve-se de muitas maneiras e se Drogba tem aproveitado o erro de Piqué num atraso mal medido e a dupla oportunidade de bater Valdez, o Chelsea teria ganho. Devo acrescentar, ainda, que se acho Capello o melhor treinador de todos, Hiddink não lhe fica atrás e Guardiola, se confirmar os títulos, virá logo a seguir.
Parece que muita gente, as virgens ofendidas do costume, se indignaram com o autocarro inglês. Até num blog político, que aprecio, mereceu um post e a alusão ao autocarro, com o emblema do Chelsea.
Eu gostava é que muita gente se indignasse de cada vez que uma equipa jogue à retranca. Não é consequente com críticas posteriores que se façam mesmo se tal equipa passe a jogar ao ataque outra vez. Como digo, uma estratégia defensiva para um jogo é aceitável, não é uma tendência.
E sei o que a Imprensa Desportiva do “porreiro, pá” nacional escreveria se o autocarro fosse, por exemplo, azul-e-branco. Sabe-se como o FC Porto foi “humilhado” pelo Arsenal em Londres (4-0), mas o Sporting não nos dois jogos com o Bayern. Ainda agora percebi pelo Dragão Vila Pouca que JM Delgado falou em “humilhação” o FC Porto perder 2-1 na Reboleira, num jogo que merecia ter ganho mas não impediu a sua qualificação para o Jamor.
A este jornalismo de sarjeta junta-se o comodismo palavroso dos comentaristas na tv. Tal como reduzo substancialmente o som da tv durante os jogos, tenho resistido imenso a pessoalizar as questões, apesar de volta e meia ler por aí o que se diz e escreve de tipos como António Tadeia e Luís Freitas Lobo, implicados nos jogos transmitidos em directo. O primeiro tenta perceber um jogo sem conseguir transmitir a ideia correcta sobre ele e ainda há dias ouvi de um puto de 12 anos, no Portugal Profundo aldeão, que Tadeia não percebe um corno de futebol, o que também acho e o moço nem sequer lê as contradições no discurso escrito dele; o segundo não só percebe o jogo - até parece o único que o decidiria por si próprio e debita em excesso um palavreado que roça o idiotismo, o Gabriel Alves moderno, com mais léxico e primor linguístico fruto de uma frequência académica não concluída (advocacia, contam-me).
LFL acabou praticamente o Barça-Chelsea a dizer que a boa organização defensiva dos ingleses, que não lhe repugnará o modo mas sim o termo “autocarro” a utilizar, impediu o Barça de jogar e ganhar. Foi-o, de facto, em 95% do tempo de jogo, mas o Barça quase podia ter goleado se aproveitasse três jogadas nos minutos finais. O que seria prémio justo para a sua perseverança, em vão, e castigaria a velha táctica de jogar para o empate.
Este LFL foi aquele que usou a expressão “personalidade” para “defender” a versão utilitária e cínica do Benfica no Dragão. Eu chamei-lhe “autocarro” e parece que, no Portugal de 35 anos pós-Abril, há medo de criticar instituições: vende-se uma ilusão como se vendem marcas procurando atingir uma faixa de mercado.
Sei, portanto, o que a generalidade dos demenciais jornalistas e críticos de futebol cá da parvónia escreveram ou escreveriam consoante a cor do “autocarro”.
Mas lembrando-me das críticas, algumas ferozes, de adeptos portistas à sua equipa, incapaz de ganhar a Benfica e Sporting em casa face à postura defensiva dos visitantes, gostaria de saber como interpretaram:
Serve isto para “dizer mal” de quem já mostrou categoria ímpar? Não, constata-se o facto e passa-se à frente. Mas deve dizer-se mal, fundamentadamente, sobre atitudes persistentes e negativas face ao jogo, sob pena de, pela via da qualidade do espectáculo, desagradar aos adeptos, conhecedores de a tendência ser esta e extensiva a muitas equipas mas, não sendo a nossa, sem terem a exigência de “pedir” mais e melhor futebol dos seus intérpretes: treinadores e jogadores.
Achei exageradas e mal dirigidas as críticas da bancada ao FC Porto porque não conseguiu superar o defensivismo de Benfica e Sporting no Dragão. Serviu para dizer mal dos jogadores, penalizando quem tentou atacar e atenuando as responsabilidades de quem só quis defender o pontito. Aliás, toquei no ponto outra vez a propósito do Académica-FC Porto, pela condescendência com os academistas.
Agora digam mal de Messi e de Henry, como disseram de Hulk e de Lucho.
p.s. – É irónico que nas meias da Champions, para já, valeu o golo de O’Shea, que não é dotado tecnicamente mas é muito utilizado, e em várias posições, no M. United. O O’Shea, precisamente, que foi massacrado pelo iluminado Lobo na eliminatória com o FC Porto, como se não seja um pilar defensivo dos red devils e o criador, aliás, do golo de Scholes no famoso 1-1 de 2004, pois foi de O’Shea o cruzamento da direita.
A propósito das meias-finais da Champions e dos clássicos no Dragão, um repto aos adeptos e aos portistas que criticaram a sua equipa
Não resisto a repetir o título do post que fiz posterior ao Porto-Benfica de Fevereiro e que, basicamente, foi um jogo decalcado na visita seguinte do Sporting ao Dragão. A mim não me repugna nada que as equipas joguem à defesa: até me lembro que o Artur Jorge fez um jogo retranqueiro para o FC Porto eliminar o Ajax de Cruijff na Taça dos Campeões em 1985, com 2-0 nas Antas e um jogo defensivo que exasperou os holandeses. Como sabem, não sou de modas, nem em qualificar os jogos, os seus intervenientes e as tácticas, nem sou de modas sobre as ditas. As equipas têm legitimidade para aplicar as suas estratégias e tácticas. Quem está de fora deve apenas apontar se gostou ou não e qualificar o que viu sem subterfúgios, figuras de retórica, expressões politicamente correctas ou um léxico mais vulgar de frases feitas com que não se quer ferir susceptibilidades mas no fim de contas mete nojo. Pode-se interpretar e explicar porque se jogou à defesa, mas não incensar o facto, quando o futebol é um jogo de ataque que pode ser, pontualmente, sacrificado à necessidade de se obter um resultado apropriado para uma ocasião. Custa muito admitir isso?
Isto a propósito do Barcelona-Chelsea, que desiludiu muita gente mas eu, sem deixar de repudiar o jogo “italiano” dos ingleses, aceito como “normal”. O repúdio por esta atitude não o calo, independentemente dos valores, incontestáveis, em presença. É claro que tentar ganhar serve-se de muitas maneiras e se Drogba tem aproveitado o erro de Piqué num atraso mal medido e a dupla oportunidade de bater Valdez, o Chelsea teria ganho. Devo acrescentar, ainda, que se acho Capello o melhor treinador de todos, Hiddink não lhe fica atrás e Guardiola, se confirmar os títulos, virá logo a seguir.
Parece que muita gente, as virgens ofendidas do costume, se indignaram com o autocarro inglês. Até num blog político, que aprecio, mereceu um post e a alusão ao autocarro, com o emblema do Chelsea.
Eu gostava é que muita gente se indignasse de cada vez que uma equipa jogue à retranca. Não é consequente com críticas posteriores que se façam mesmo se tal equipa passe a jogar ao ataque outra vez. Como digo, uma estratégia defensiva para um jogo é aceitável, não é uma tendência.
E sei o que a Imprensa Desportiva do “porreiro, pá” nacional escreveria se o autocarro fosse, por exemplo, azul-e-branco. Sabe-se como o FC Porto foi “humilhado” pelo Arsenal em Londres (4-0), mas o Sporting não nos dois jogos com o Bayern. Ainda agora percebi pelo Dragão Vila Pouca que JM Delgado falou em “humilhação” o FC Porto perder 2-1 na Reboleira, num jogo que merecia ter ganho mas não impediu a sua qualificação para o Jamor.
A este jornalismo de sarjeta junta-se o comodismo palavroso dos comentaristas na tv. Tal como reduzo substancialmente o som da tv durante os jogos, tenho resistido imenso a pessoalizar as questões, apesar de volta e meia ler por aí o que se diz e escreve de tipos como António Tadeia e Luís Freitas Lobo, implicados nos jogos transmitidos em directo. O primeiro tenta perceber um jogo sem conseguir transmitir a ideia correcta sobre ele e ainda há dias ouvi de um puto de 12 anos, no Portugal Profundo aldeão, que Tadeia não percebe um corno de futebol, o que também acho e o moço nem sequer lê as contradições no discurso escrito dele; o segundo não só percebe o jogo - até parece o único que o decidiria por si próprio e debita em excesso um palavreado que roça o idiotismo, o Gabriel Alves moderno, com mais léxico e primor linguístico fruto de uma frequência académica não concluída (advocacia, contam-me).
LFL acabou praticamente o Barça-Chelsea a dizer que a boa organização defensiva dos ingleses, que não lhe repugnará o modo mas sim o termo “autocarro” a utilizar, impediu o Barça de jogar e ganhar. Foi-o, de facto, em 95% do tempo de jogo, mas o Barça quase podia ter goleado se aproveitasse três jogadas nos minutos finais. O que seria prémio justo para a sua perseverança, em vão, e castigaria a velha táctica de jogar para o empate.
Este LFL foi aquele que usou a expressão “personalidade” para “defender” a versão utilitária e cínica do Benfica no Dragão. Eu chamei-lhe “autocarro” e parece que, no Portugal de 35 anos pós-Abril, há medo de criticar instituições: vende-se uma ilusão como se vendem marcas procurando atingir uma faixa de mercado.
Sei, portanto, o que a generalidade dos demenciais jornalistas e críticos de futebol cá da parvónia escreveram ou escreveriam consoante a cor do “autocarro”.
Mas lembrando-me das críticas, algumas ferozes, de adeptos portistas à sua equipa, incapaz de ganhar a Benfica e Sporting em casa face à postura defensiva dos visitantes, gostaria de saber como interpretaram:
- a atitude do ChelseaPorque o que o jogo mostrou, sem ser cópia para o futuro mas apenas um modelo pontual face à estratégia de 180 minutos necessários para aceder à final europeia mais desejada, foi que mesmo os melhores do mundo bloquearam face ao muro, Messi e Henry mal tiveram ocasião de rematar, mesmo Drogba isolou-se e não marcou em duas tentativas na mesma jogada e Eto’o ainda furou mas também falhou.
- a “incapacidade” do Barcelona.
Serve isto para “dizer mal” de quem já mostrou categoria ímpar? Não, constata-se o facto e passa-se à frente. Mas deve dizer-se mal, fundamentadamente, sobre atitudes persistentes e negativas face ao jogo, sob pena de, pela via da qualidade do espectáculo, desagradar aos adeptos, conhecedores de a tendência ser esta e extensiva a muitas equipas mas, não sendo a nossa, sem terem a exigência de “pedir” mais e melhor futebol dos seus intérpretes: treinadores e jogadores.
Achei exageradas e mal dirigidas as críticas da bancada ao FC Porto porque não conseguiu superar o defensivismo de Benfica e Sporting no Dragão. Serviu para dizer mal dos jogadores, penalizando quem tentou atacar e atenuando as responsabilidades de quem só quis defender o pontito. Aliás, toquei no ponto outra vez a propósito do Académica-FC Porto, pela condescendência com os academistas.
Agora digam mal de Messi e de Henry, como disseram de Hulk e de Lucho.
p.s. – É irónico que nas meias da Champions, para já, valeu o golo de O’Shea, que não é dotado tecnicamente mas é muito utilizado, e em várias posições, no M. United. O O’Shea, precisamente, que foi massacrado pelo iluminado Lobo na eliminatória com o FC Porto, como se não seja um pilar defensivo dos red devils e o criador, aliás, do golo de Scholes no famoso 1-1 de 2004, pois foi de O’Shea o cruzamento da direita.