01 fevereiro 2010

Mas que raio de Democracia é esta?


O JN, como antes a TVI, a RTP, o Diário Económico, o Público. Sobram os locutores do regime. Isto é mais às claras do que em túneis. Façam de conta que não sabem, mas não se admirem...

Enquanto se fala do Rui "ai, ai, ai" Santos e das suas atoardas, confusões e tergiversações, continuam a passar-se coisas inauditas na Comunicação Social portuguesa, dignas do tempo da outra senhora mas próprias do tempo do senhor de agora. O JN, aquele que pensam ser o baluarte do Norte na Imprensa, acaba a colaboração de Mário Crespo, dos mais brilhantes jornalistas e comunicadores da tv lusa. Outros títulos fizeram o mesmo, nos últimos anos, a personalidades mais ou menos conhecidas. Já se afastou o director do Público, José Manuel Fernandes. Já se extinguiu o único telejornal de investigação, o Jornal de 6ª e a Manuela Moura Guedes, já se foi liquidando uma série de vozes da televisão e colunistas na Imprensa escrita.
OK, podem não gostar deste ou daquele, por isto ou aquilo. Mas se preferem o panorama actual, pois fiquem bem com o "mas que raio de Democracia é esta".
Como nem só de futebol deve viver o povo, conquanto o "circo" afaste muita gente das preocupações reais que afligem a todos independentemente da cor clubística ou mesmo partidária, é importante aceder a outras leituras e, como sempre recomendei, acabo de descobrir isto de várias formas, mas transcrevendo a crónica subitamente, como aqueles acontecimentos estranhos e tão súbitos quão indecifráveis do túnel da Luz, censurada no Jornal de Notícias, sim o do "amigo Joaquim", irmão do jornal dos fretes Diário de Notícias e com voz na amenizada TSF que também já sofreu, antes das eleições legislativas, um corte numa editoria que era pelo visto um "problema".
Estas coisas não podem passar despercebidas e, daí, espaço para a divulgação, para bem da informação e da higienização deste podre país de pobres de espírito. A vergonha que faltava a emoldurar o início do centenário da República, ridiculamente trazida a comemoração do 31 de Janeiro ao Porto pelos republicanos regulares Cavaco e Sócrates, cada vez mais a pedir novo fato para novos e asseados actores políticos.
«Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.»
Para quem não lia as crónicas de Mário Crespo no JN à 2ª feira, não sabe o que perdeu. Fica o registo da última, que não saiu hoje (negritos meus). O JN porventura dará uma explicação para o sucedido. É escusado. Qualquer desculpa (parece que a crónica tinha matéria susceptível de investigação, alega o jornal, pelo que leio por aí) será esfarrapada e não colherá.
Pois fiquem com os monólogos, o Rui "ai, ai, ai" Santos acolhido na AR, as petições, as repetições, as omissões e as intervenções escolhidas a dedo. Mais o pendricalho dos presidentes de clube que regem esta ética republicana da treta.
Eu tenho (também) avisado para "isto". E é extensa a lista dos desalinhados.
(actualizado). O nojo não permite juntar todas as peças de mais um sórdido processo à portuguesa moderna e as coisas surgem-nos em jorros. É só para lembrar que, por muito que discutam "pacotes de publicidade paga do Estado" no grupo de média A ou B, a porcaria é a mesma. O CM, de quem o JN, o DN e O Jogo se queixaram, pelo patrão "o amigo Joaquim", de receber o dobro da pub estatal, a despeito de fazer mais ou menos fretes ao Governo, agora arranjou uma (outra) namorada a Sócrates. Perversamente, mas agora nem este escabroso PM tem culpa, o jornal pegou numa familiar de... Manuela Moura Guedes. O mesmo jornal, correio da manha, a despeito de uma notícia do Expresso de sábado que contava que o relatório da PSP sobre os incidentes no túnel da Luz corroborava a questão de provocações e empurrões a jogadores do FC Porto, no domingo afirmava que o responsável policial em serviço iria depor na Liga a pedido do Benfica. E o CM entendeu que, numa audição a pedido do Benfica, serviria para esse responsável da PSP dar uma versão favorável ou idêntica à dos encarnados neste tema. Ou seja, não só chamando burros aos leitores, mas chamando burro ao intendente que iria, por voz, contrariar na CD da Liga o que escreveu no relatório policial assinado pelo seu punho. Pulhices deste calibre só num país de doentes, de benfiquistas e de socialistas de pacotilha. Com jornalistas a condizer, tá-se a ver.

7 comentários:

  1. Não sabia!

    Lia regularmente as crónicas do Mário Crespo. Era frequente recebê-las e reenviá-las por email.

    Triste democraciazinha tuga...

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  2. Não me surpreende, mas não deixa de ser revoltante. Filhos da puta.

    Relembro as palavras escritas no poema de Manuel Alegre

    "Mesmo na noite mais triste
    em tempo de servidão
    há sempre alguém que resiste
    há sempre alguém que diz não."

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  3. Isto está a ficar pior que no tempo da ditadura. Partido único, clube único, cada vez mais Portugal é Lisboa e o resto é paisagem. E o Big Brother Pinócrates até é bem mais dado a tráficos de influências e a luvas que o ditador de Santa Comba Dão. Um país do terceiro mundo mental.

    PS Há males que vêm por bem. Aqui há uns 10 anos atrás, também veio para assinar pelo FCPorto, um avançado (um tal de Leandro), que era considerado uma das grandes promessas do futebol brasileiro e que à última hora, já no Porto, resolveu ir-se embora e assinar pela Fiorentina que dava mais. Afinal não era assim tão bom porque foi um flop total na Fiorentina e nos clubes brasileiros que se seguiram. O Kléber é bom jogador mas tem um péssimo feitio, e mesmo em clubes que não são perseguidos nos respectivos países, é expulso com regularidade, o que não seria no Porto, onde até um jogador que dizem que tem mau feitio mas que nunca ninguém viu a ter entradas violentas nem a agredir a pontapé ou a coice os adversários, está de quarentena à espera de um castigo que dizem que até pode ser de anos só porque parece que falhou um pontapé num segurança do clube do regime. O melhor é continuar o Farías e no final da época, com mais calma, contratar-se um bom avançado que o substitua, mais jovem e que seja capaz do autodomínio que o Ruben Micael já mostrou ter.

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  4. Mestre Alves

    mas já não estamos no tempo de

    Pergunto ao vento que passa
    notícias do meu país
    O vento cala a desgraça
    o vento nada me diz

    Temos obrigação de saber. E agir. Não reagir.

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  5. Apesar de eu - por princípio - não achar que se deva comentar política nestes blogs (somos todos do mesmo clube, não necessariamente com a mesma ideologia política) estou plenamente de acordo que escreva sobre esta palhaçada perigosa em que isto se está a transformar; mais, é insultuoso para a nossa inteligência que a montanha (do entretenimento) esteja a parir ratos (refiro-me ao túnel) havendo tantos assuntos muitíssimo mais importantes: como a nossa (má) economia ou o nosso (des)emprego a serem sistematicamente escondidos...
    Quanto ao Mário Crespo...as pessoas esquecem, mas foi ele de tanto chatear a secretária norte-americana com a mesma pergunta que definitivamente ajudou a colocar Timor na agenda americana...- deve mesmo ser um homem perigoso e desequilibrado, como pensa o Ali Alatas Sócrates...

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  6. Caro Zé Luís, pensei que era mais inteligente.

    A sua "partidirite" tolda-lhe a razão.

    Em termos de "esquemas" não há quem bata o PSD.

    Além da história do Crespo ser anedótica, aliás ao nível dos seus pensamentos, veja bem o que está para sair:

    Crónica de Crespo que JN não publicou dá origem a livro

    http://www.publico.clix.pt/Media/cronica-de-crespo-que-jn-nao-publicou-da-origem-a-livro_1420951?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PublicoRSS+%28Publico.pt%29

    Não há dúvida que estão muito à frente.

    Mas ainda há quem coma este tipo de circo.

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