24 fevereiro 2010

O empolamento do exemplo de Cantona e o que fica por contar

Se o "mal do adepto", como anteontem retomei esse conceito que irónica e animadamente criei, é péssimo quando passa para os jornalistas que escarrapacham o seu azedume na Imprensa, como vem sucedendo no Record face a Carvalhal, a desinformação diz tudo da ausência de valor intrínseco numa notícia e descredibiliza um texto de opinião. Com a má premissa, um péssimo leitor, acéfalo como o escriba, o resultado é catastrófico.

Foi o que notei ontem ao ver, já com o programa a meio, o Trio d'Ataque. (Hábito que há muito vim perdendo, como tenho confessado, mas o Braga-Porto - de que falarei noutro post a seguir, e a presença de Marcelo Rebelo de Sousa tomaram a minha atenção). Não assisti à triste discussão dos "stewards" e as razões que os rodeia por ser já inútil. E, sem querer e sem crer, apanhei o cineasta benfiquista APV a citar um texto de um jornalista. Um gajo qualquer do Record teria escrito algo sobre Cantona para justificar a suspensão de Hulk e Sapunaru.
Primeiro, não foram nove meses de suspensão, como terá sido escrito segundo o cineasta. Foram oito. Está tudo documentado. Dos oito meses de suspensão, três foram em... ausência de competição. Logo, cinco meses na prática. O malfadado jogo foi a 25 de Janeiro de 1995, um Crystal Palace-M. United, numa época inglesa que termina em meados de Maio e recomeça em finais de Agosto. O próprio M. United assumiu uma punição interna de quatro meses, mas para atenuar a justiça desportiva inglesa e começar por dar o exemplo. Também lhe tirou duas semanas de ordenado...
Mas o caso de Cantona, no golpe de kung-fu sobre um adepto, não pode ser atirado para o ar a não ser por um estúpido, jornalista que o escreva ou cineasta que retome o exemplo sem saber o que se passou.
Primeiro, Cantona acabara de ser expulso desse jogo. Saiu pela linha lateral, com o roupeiro do clube, e por causa de um adepto que desceu da sua cadeira até ao fundo da bancada para insultar o jogador, o francês atirou-se a ele num golpe de kung-fu. Cantona, que saiu da área de jogo que lhe cabe e saltou para a bancada, agravou a punição desportiva. Não foi o caso de Hulk nem de Sapunaru.
Segundo, havia uma dimensão criminal. Cantona passou a noite na prisão. Foi, depois, condenado a 7 dias de cadeia, transformados em recurso em 120 dias de trabalho comunitário.
Terceiro, a questão criminal também reverteu sobre o espectador. Matthew Simmons apanhou também cadeia, até por ter antecedentes criminais. E pagou multa.
Mas, para esse ousado espectador, ainda resultou uma punição desportiva: multa e proibição de assistir a jogos em Inglaterra e Gales, por um ano! Está tudo descrito na internet, o inglês técnico de alguns é que se torna deficiente e selectivo, não é só com o sinistro Primeiro-Ministro...
Cantona estava já suspenso pelo seu clube de jogar os menos de 4 meses em falta até ao fim da época. Mas a Federação inglesa ainda lhe estendeu a suspensão até final de Setembro. Aí, o clube explodiu, com surpresa e em fúria, mas teve de cumprir a justiça desportiva e o jogador perdeu pouco mais de um mês na época mas teve todo o tempo para recuperar e foi campeão e ganhou a Taça em 1996 com o próprio Cantona a marcar ao Liverpool na final, como marcara ao mesmo adversário no primeiro jogo após a suspensão, a 1/10/1995.
Já a suspensão auto-infligida pelo clube ditou, precisamente, a perda da Liga para o Blackburn e a derrota com o Everton em Wembley, em 94-95...
Não tem nada a ver com o caso Hulk/Sapunaru, que foram assediados no túnel de acesso aos balneários por gente que não devia estar ali a proteger jogadores uns dos outros, até por portistas e benfiquistas terem voltado aos balneários na boa e até misturados, sem quezílias entrre eles, antes cumprimentando-se como se viu dos vídeos postos a circular.
Mas, além de escaparem à alçada disciplinar da Liga onde não cabem para esse efeito, não se sabe que suspensão levaram os "stewards", se pagaram multa, se lhes descontaram nos ordenados e se voltarão a assumir funções. Enquanto o Crystal Palace foi ilibado, apesar de uma falha de segurança dos "stewards" face aos espectadores locais, na tribuna principal do Selhurst Park, o Benfica pagou uma multa de 1500 euros...
Isto basta para contentar o estúpido cineasta, e outros da sua laia, que voltou a exibir toda a sua imbecilidade estribado num ignaro jornalista que acedeu da "Nova Gente" à Direcção do Record.
De resto, a merda da discussão é tão inútil sobre se os "stewards" são o que o Bosta da Liga acha que são e o caquético cineasta subscreve reproduzindo informação jurídica do Benfica.
Para descanso de consciências tão pesadas quanto espúrias, o Vasconcelos diz que se houver erro ou má interpretação o CJ da FPF o dirá em fase de recurso. Só que, até lá, cumprem-se uns inacreditáveis 23 jogos de castigo para Hulk e mais ainda para Sapunaru.
Tudo porque se julgou não se sabe bem em que matéria factual e de prova, até pelo exemplo triste e contrário do julgamento do túnel de Braga em que foram invertidos os factos para sustentar uma acusação que penalizou o Braga e absolveu o Benfica. E o Bosta da Liga faz-se de anjo protector alegando brandura de tratamento e brancura de carácter como a sua esfíngica e seráfica cara de bardamerdas, além de célere na investigação, a aplicar a lei que, na sua ambiguidade, ele podia ter aproveitado para desacreditá-la não seguindo o ínvio caminho que quis tomar e o único que penalizava mesmo o FC Porto.
Isto tudo sem atenuantes da sua excelsa imagem de "Pavão" espalhafatoso perante as câmaras que não só não chamou para divulgar o caso de Braga como remeteu a decisão de 6ª feira nesse exemplo para a 2ª feira seguinte divulgar já com o mercado convenientemente fechado para os minhotos colmatarem a baixa de Vandinho.
É claro que, sem estes factos presentes e devidamente sopesados, um sem génio Queirós, por sinal também do Record, é capaz de elaborar os mesmos dislates, de ignorante e pérfido, em prol da bondade da Comixão Xixiplinar da Liga que tresanda a mau cheiro que só os que chafurdam na merda não sentem. Jornalistas em primeiro plano, aliás, que além de não olharem por si abaixo tão mal e enviesadamente informam. Para mentecaptos adeptos como o APV, sempre com um papel orientador para dizer o que lhe dizem, isto é leite tirado da pedra, porque são calhaus a rolar na ribeira represada da desinformação e intoxicação. Aí sim, são profissionais. Os outros, como os colegas de programa, mais uma vez sabem tanto quanto ele, independentemente da leitura do caso que divulguem.

7 comentários:

  1. touché, Zé. quando ouvia ontem o agora renomeado APV pelo sempre seguidor Carlos Daniel a mencionar o exemplo de Cantona, fiquei surpreso. lembro-me perfeitamente do caso e a comparação (a somar à pseudo-interpretação da lei orientada pelo departamento jurídico do SLB, subrepticiamente introduzindo "agentes de segurança privada" na opinião legal como quem não a coisa) é no mínimo absurda.
    e o trio de ataque continua a ser o melhor de todos os programas opinativos, nem imagino isto na boca do Seara...

    um abraço,
    Jorge (Porta19)

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  2. Ganda Zé Luis.
    Excelente mais uma vez.

    São tão atrasados mentais que acham que os outros andam a dormir na forma.

    O melhor é a liga fechar as portas porque o que vão ter que indemnizar nem a venda do quarteto maravilha, chega para pagar esta pouca vergonha.

    Quanto à TV, ao fim de 10 minutos desliguei para bem da minha sanidade mental.

    Então o famoso cineasta de filmes de 4ª categoria que ninguém vê, é o expoente máximo da falta de inteligência reinante neste programa.

    Parecem aqueles tipos que não sabiam qual era a sua mão direita e o sargento lá tinha que lhes amarrar uma pedra à mão para o saberem, e mesmo assim enganavam-se.
    E eu a pensar que já tinham acabado esses tempos…O marialva não pensa pela sua cabeça e tem que trazer a pedra na mão que são os papéis que aqueles dois badochas da tv encornada apresentam na discussão do curral.
    Coitados.

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  3. Ainda há uma pequena (enorme) diferença: O regulamento em Portugal prevê expressamente a situação em que um jogador agride um espectador! Com uma moldura sancionatória de (imaginem) 1 a 4 jogos (e não meses)!

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  4. Faísca, a questão é que não se pode explicar o injustificável. E, fora da curvatura do tempo (e da espinha de alguns), já Einstein explicava, sem fórmulas mágicas, que nãi há pior do que a estupidez humana.

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  5. Aquele cineasta-dependente-de-subsídios, e burro, e ainda ninguém lhe disse, dizia a besta quadrada, que o FCP, devia de castigar o Hulk, com MU, faz ao Cantona, ora a besta por que não diz, que o seu Clube, devia de expulsar de sócio, uma besta como ele, que entrou dento da banheira e agrediu um fiscal de linha, ora pimenta no cu dos outros e refesco..

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  6. Caro Zé Luís ainda bem que trouxe este texto à nossa Blogosfera.

    Já andava há muito para fazer este tipo de investigação, mas não tenho tido tempo.

    Só uma pequena correcção: Quem começou com esta estapafúrdia comparação entre o caso Cantona e o de Hulk/Sapunaru foi a a "Virgem Santíssima" dos Benfiquistas de nome Leonor Pinhão...

    O meu caro nem imagina o quanto me ri com esta Crónica da autoria de tão "iluminada" personagem e como facilmnete a derrubei em público.

    O Vasconcelos não tem "arte nem engenho" para fazer tal investigação. Alías este vai para o Trio de Ataque com a papa feita por alguém...

    Cumprimentos e saudações Portistas!!!

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  7. Ah, Blue One, então a origem do mal está, de novo, identificada.

    A vara come toda da mesma gamela.

    Até um director de outro jornal.

    Isto pega-se. Especialmente nos animais.

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