21 junho 2010

Goleada de elogios sem o mérito do estatuto


Uma das maiores goleadas da história dos Mundiais (depois de 10-1 da Hungria a El Salvador em 1982, 9-0 da Hungria à Coreia do Sul em 1954 e 8-0 da Alemanha à Arábia Saudita em 2002) deixa Portugal praticamente qualificado por diferença de golos em último recurso, se perder com o Brasil, depois dos 7-0 de hoje à Coreia do Norte.
Eusébio ficou confortavelmente instalado na bancada e só Tiago bisou, mas também Simão marcou a dar a tranquilidade necessária após a abertura da contagem pelo inevitável Raul Meireles que lançou para o golo o mais internacional (83) dos jogadores do presente da Selecção. No fim, mesmo em posição duvidosa, Ronaldo também fez o gosto ao pé e os elogios podem multiplicar-se mas tudo assenta na estratégia e definição de princípios de Carlos Queiroz. Uma goleada de alterações no onze de início, onde o estatuto não pesou com Deco (lesionado) e Liedson de fora, tal como Danny, três jogadores pouco presentes no jogo de abertura com a Costa do Marfim.
Fosse respeitado o estatuto dos jogadores, tido como o mais influente na história da Selecção Nacional ao longo dos tempos, mais antigos e mais recentes, e talvez tantas alterações não tivessem ocorrido e, decerto aplicadas sem miasmas nem contemplações, também sem surpresas, e o reencontro da Selecção consigo própria poderia não ter chegado para o 7-0 final que é dos mais notáveis resultados e o recorde em fases finais para Portugal.
Aos habituais verrinosos críticos de Carlos Queiroz tanto poderá ocorrer desvalorizar o 7-0 com o argumento do adversário tão fraco (entregou-se depois de 3-0) que soube resistir ao Brasil e amenizar o resultado (2-1), como esquecer que só escolhas estapafúrdias, sectarismos doentios que tais comentadores perfilhavam na base clubística e más opções em hora de gerir resultados e jogadores foram subalternizadas no período em que alguns ainda teimam insistir comparar com o "modelo" Scolari, já superado nos modos e em resultados úteis do início do seu polémico reinado.

Viu-se, aliás, ainda a meio do jogo com a C. Marfim que as opções iniciais por Deco e Danny não resultaram, do que se ressentiu Ronaldo e, diante dele, Liedson. Mesmo quando entraram Tiago e Simão nesse jogo se percebeu logo a diferença. Queiroz não pensou duas vezes e naturalmente Tiago e Simão tinham de ser titulares, Ronaldo voltou a jogar só no último terço do campo e o ponta-de-lança, agora Hugo Almeida por causa do piso, da chuva e dos combativos norte-coreanos, teve mais serviço com o contributo de tanta gente.

Mas os jogos de abertura são assim, com nervoso miudinho e os dedos para fazer figas quanto ao acerto das primeiras escolhas de titulares num Mundial de onde nunca se sabe muito bem o que vai sair. Razão não para voltar a falar do que foi o jogo anterior, mas para perceber o que se percebeu para mudar o necessário. Sem olhar a nomes e estatuto mais antigo (Deco) ou mais recente (Liedson).

Já a questão de trocar Paulo Ferreira, melhor defesa, por Miguel, mais vocacionado para atacar, é relativa face a opositor sem atrevimento ofensivo persistente e que pouco usa as alas, optando mais por movimentos interiores e diagonais para a área. Mesmo assim, em dia de elogios merecidos para todos, pareceram exagerados aqueles dirigidos na transmissão da RTP a Miguel, muito longe da produção do excelente Coentrão na esquerda. Mas o elogio maior, acima dos jogadores, é devido a quem montou a equipa com os "melhores" e não com os de maior renome ou de preferências pessoais deste ou daquele seleccionador. Duvido que esse destaque seja dado merecidamente a quem o justifica.

Para a frente, contando com um Brasil sem as primeiras escolhas e a gerir as reservas, e Portugal pelo menos a precisar de um ponto para se apurar, discutir a vitória na 6ª feira não é só procurar a primazia do grupo e, porventura, "fugir" da Espanha como provável 2º classificado do grupo H com quem haverá cruzamento de apurados na fase seguinte. Há, ainda, um 2-6 de Brasília que constituiu a última e dolorosa derrota da era Carlos Queiroz com um amigável agendado de forma imprópria, em tempo desajustado e imbecis condições, destinado ao fracasso e cuja força telúrica ameaçou derrubar a Selecção e o seu responsável que continua a não cair no goto dos invejosos e de quem está contra por questões pessoais senão mesmo porque sim.

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