24 janeiro 2011

O regime é isto

O silenciamento, o encobrir da porcaria, a falta de coragem para destapar o que deve ser denunciado.

Em situação análoga, mesmo ao lusco-fusco dos túneis em que manobram com à-vontade e impunidade, sabe-se o estardalhaço que deu em primeiras páginas. Antecipou-se a sentença, avisou-se para outros prevaricadores até, alinhavou-se a coluna de expressão moral e supostamente indignada contra a barbárie.
O silenciamento que cobre os poderosos e os seus podres é o mesmo que encobre as tramóias políticas às vezes só trazidas à luz do dia por encomendas informativas senão directamente dos meios de contra-informação e intoxicação profissional internos ao menos de agências de comunicação a que também a Imprensa do regime se atrelou, vegetando para sobreviver.
O regime é isto mesmo.

Há, estúpidos e confusos, quem confunda conceitos mesmo sob idêntica capa significativa. Creio ter sido eu a começar a colar epítetos por aí a este e àquele, pelo menos a divulgá-los permanentemente de modo que hoje, por toda a bluegosfera, é assumido como natural e nem peço direitos de autor. O caso de "clube do regime" ou "Imprensa do regime" são exemplos típicos.
Os estúpidos e confusos são aqueles que sugerem, e da minha parte tal nunca aconteceu, a associação "clube do regime" a "Salazar", algo que historicamente nunca existiu porque o ditador marimbava-se para as coisas da bola. Não quer dizer que a Ditadura as ignorásse, porque gente em cargos de grande poder tudo fizeram para proteger os clubes da capital. Essa associação ao anterior regime político deve ser lida dessa forma, e como sempre a difundi, e não suscitar ridículos assomos de indignação dos que preferem acentuar que o Benfica dissociou-se do regime ditatorial, o que também não é verdade pela influência de muitos directores em cargos políticos e o proteccionismo dado ao clube: dos órgãos do futebol aos favores administrativos que, por exemplo, livravam da tropa a equipa-maravilha dos anos 60, ao contrário de outros clubes que viam os seus jogadores ingressarem no Exército e marcharem até para as colónias do Ultramar de onde vários até eram originários, Seninho e Lemos por exemplo, que foram bater os costados à Angola onde nasceram.
Há um ano, eram parangonas com imagens seleccionadas com uma única origem e erro de vício primário. Sabia-se todos os pormenores, mostravam-se todos os ângulos de abordagem informativa. Era a que também passei a chamar a Imprensa Destrutiva, anti-FC Porto.
Hoje, dá-se o benefício da dúvida, assume-se a verdade que o clube vermelho quer ver difundida pelos meios, seus e dos outros subjugados, ameniza-se com o sereno "não se esperam castigos". É a Imprensa Desportiva de sempre de apoio aos clubes lisbonenses, que afaga as suas mágoas e exalta os mais bacocos e seròdios êxitos. Ter dois clubes por quem torcer dá o jeitão que sempre deu. Se forem os dois, como em décadas a fio, tanto melhor e difunde-se para o País de parvos acríticos as bonomias benfazejas e algumas dores assumidas pelos cronistas também do regime, quer do "recreativo" quer do "desportivo", estes dois títulos que sempre atribui a um amigo especial.
O regime, partanto, é isto tudo. Sempre foi assim. Continua assim. E será assim. A Informação de novo condicionada e controlada, esmagada até quando aflora certos assuntos e questiona certas pessoas ou instituições, é a imagem do País: destroçado e sem moral. Por muitas eleições que se façam, por muita Democracia que apregoem, mesmo com todos os miasmas e atavismos crónicos que as marcam como neste recente acto eleitoral.
adenda: para culminar e não por acaso, mais um triste fracasso do "choque tecnológico" de um País à deriva apesar da aposta, tão cara a alguns e caríssima para todos os outros, das energias renováveis, até o Cavaco deitou fora o desaforo contra as maquinações da Comunicação Social. Os opinadeiros, paineleiros, comentadeiros, freteiros, de resto, quer na Política, como no Desporto e até na chamada e vulgarizada mas estapafúrdia Crónica Social onde o dito "glamour" encobre a miséria material como um perfume disfarça o odor de quem não se lava sequer, estão aqui descritos pela escrita simples e incisiva de João Carvalho no Delito de Opinião:
"Ora, convenhamos que a maior parte (se não a totalidade) de tais surpresas só existiram nos media, nos mesmos media que davam palpites como trigo-limpo-farinha-amparo. Jornalistas, opinadores, comentadores de opinadores, comentadores de comentadores e jornalistas de opinadores, que são, por norma, sempre os mesmos em círculo fechado, só podiam acabar entalados em surpresas. Fora desses círculos e para lá das reservas e expectativas naturais, só se surpreenderam os incautos, aqueles que se deixaram embalar pelos que passam a vida a soprar o que querem que seja e não aquilo que é. São os que vivem a soprar e para soprar. Não servem para produzir energia alternativa, porque o sopro deles não é limpo, mas não faz mal: só sopram entre si e só se surpreendem uns com os outros. Tornaram-se muito semelhantes a grande parte dos políticos: afugentam os cidadãos e ficam na deles.
Não sopram o que o país anónimo pensa e não pensam o que o país anónimo acha. Os sopranos também deviam ir a votos para ter lugar cativo nos media. Nos media e nas sondagens, já agora."

8 comentários:

  1. citando outro comentador de blogs: "nunca nenhuma pocilga foi limpa pelos próprios porcos!"

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  2. Boas,

    por aqui que li (JN), o jogador do Nacional é que está fodido. O castigo dele pode ir de 1 mês a 3 anos. O "mestre da táctica" safa-se com uma semana a 9 meses...

    um abraço

    PS: Questionado se o Benfica tem sido beneficiado pelas arbitragens, o treinador do F.C. Porto é bastante incisivo:

    «Parece-me claro, não é novo, é cultural que o Benfica seja beneficiado. O F.C. Porto agradece porque nos faz chegar ao sucesso. É apenas uma constatação», atirou.


    Carrega AVB. És um dos nossos!!!

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  3. Ainda AVB:

    A suposta agressão de Jorge Jesus a Luís Alberto, jogador do Nacional, não passou ao lado dos corredores do Dragão. André Villas-Boas foi viperino ao analisar o incidente que envolveu o treinador do Benfica no passado sábado.

    «Eu é que era o miúdo que não me sabia comportar, que não sabia lidar com a pressão e, afinal, o graúdo faz figuras piores», sublinhou o técnico do F.C. Porto. «Da nossa conta isso não é. Cada um é responsável pelos seus actos. Registo apenas com curiosidade a discrepância na análise destes actos relativamente àquilo que se passou nas minhas duas expulsões. É uma diferença brutal nas opiniões dadas.»

    Segundo foi possível apurar, o relatório do árbitro Rui Costa nada refere em relação ao momento de Jesus e Luís Alberto. Villas-Boas aproveita para lançar mais alguns argumentos quentes. «O que sei foi apenas o que vi nas imagens televisivas. Há proteccionismo evidente em determinado tipo de situações, por parte de alguma comunicação social. Não é novo, é cultural, e é isso que nos faz chegar ao sucesso. O F.C. Porto agradece.»


    Nota: Suposta a bold é meu. Retirado do maisfutebol. A ver onde as coisas chegam. Não baste ver para crer

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  4. O que o Donnie Darko revelou e que eu apreciei bastante, é sintomático do que deve ser a via a seguir para a denúncia destas questões. Deve ser o Clube a pôr cá fora estas denúncias, tem muito mais impacto e força...Sem evidentemente descurar o papel de todos nós, importante na corroboração destas denúncias

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  5. Temos dois novos representantes -de luxo- em programas televisivos, Pedro Baptista e Hernâni Gonçalves...Um e outro precisavam de ser apoiados no Dia Seguinte por -por exemplo- Manuel Serrão...

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  6. meireles, de luxo mas de outro tempo.

    Infelizmente, como na Política, editores e directores parecem só conhecer sempre os mesmos. Nada muda, nem as moscas.

    O Hernâni ainda vi ontem de raspão na tvi24. O Pedro Baptista, passado o arrufo do Partido do Norte, apareceu onde?

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  7. pura e simplesmente, não é verdade que Salazar não ligasse ao fenómeno futebolistico. Salazar chegou a dizer que se o Eusebio partisse uma perna seria um desastre nacional e isso diz tudo.
    nem é verdade que Salazar foi "equidistante" relativamente aos clubes.
    o Estádio Nacional foi construido por promessa de Salazar em 1933, para o Benfica e a pedido do Benfica.
    Estadio esse inaugurado cerca de 10 anos mais tarde, com a presença do Clube do Regime, como não podia deixar de ser, e do "segundo" na hierarquia, o Sporting.
    Salazar ofereceu também praticamente o velhinho Estadio da Luz ao Benfica (só em orçamento foi um terço do valor) e esteve presente na inauguração, onde leu a mensagem de felicitações (o mesmo não sucedeu com outros clubes, por exemplo, o Porto. cidade que Salazar visitou apenas 2 vezes na vida toda)
    o Benfica desde 1926 que nunca teve nenhum campo ou estádio que não fosse oferecido pelo antigo regime, incluindo o Jamor, onde treinou, jogou finais da Taça, jogos de Campeonato e provas Europeias (Taça Latina, p.ex.)
    fora as compensações, subsidios e terrenos oferecidos varias vezes (começou logo cerca de 1929 nas Bodas de Prata)

    foi tambem Salazar quem proibiu Eusebio de sair em 1964, apelidando-o de "patrimonio nacional" e chegou a escrever que queria manter o "apoio institucional" do Benfica.

    pelo Benfica passaram ilustres Salazaristas como Fezas Vital (filho de uma grande figura do Estado Novo), os irmãos Brito, donos de fortuna em Angola (nas minas e etc) com a qual financiaram o clube, o Governador Civil de Lisboa, Mario Madeira, etc, e outras figuras alinhadas com o regime (Borges Coutinho, etc)
    nos orgãos sociais do clube, esteve por exemplo o Cancela Abreu, figura do regime (cargo na U.Nacional) a presidir a AG, que esteve por detras da oferta dos terrenos da Luz ao Benfica, e ainda da chegada do Mauricio Vieira de Brito, o Magnata Angolano.
    no seio do clube, existia o Socio de Merito que chegou a vice-presidente, o Major Silva Pais, director da PIDE-DGS.
    outros membros da PIDE, eram frequentemente convidados dos orgãos sociais do clube, etc, etc, isto para alem dos ministros como o Rapazote com forte influencia na permanencia do Eusebio em Portugal.

    isto para terem uma pequena ideia de como as coisas se processavam nesse tempo.
    se ainda hoje são o clube do Regime, nesse tempo passavam das marcas do razoavel.

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  8. convem ainda dizer que praticamente todos os argumentos benfiquistas contra a tese do "clube do regime" são vergonhosamente falsos, como por exemplo, o das "eleiçoes democraticas", visto que vigorava (e ainda vigora!) o sistema imposto ao clube pelo Estado Novo, o da "democracia organica" que consiste na diferença de votos conforme a idade (20 para alguns, 1 para outros) ao contrario do Porto, por exemplo, que teve o sistema de 1 voto para todos.

    no Benfica so não vigorava o sistema corporativo, pela razão de que o Regime considerava o Benfica como "instituição de Portugal" e para manter as aparencias para o exterior, permitiu-lhe a excepção de eleger os presidentes em AG, mas sempre debaixo de olho da PIDE e outros, com candidatos previamente seleccionados a dedo.

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