13 agosto 2013

Supertraças

Não é que tenha visto bem, com qualidade de imagem e tempo de observação, a Supertaça e felizmente que o Licá chegou rápido à bola para abrir o marcador antes de eu me posicionar diante do televisor, mas pareceu-me uma boa exibição, acima de tudo e tanto assim que, sem os ver por estes dias, imagino a quantidade de elogios da Bola até ao ponto de ver hoje o Guerra a falar bem, passado estes dias todos, de alguma coisa no título porque o resto nem leio.
 
Ora, imagino que a Bola, apesar de tudo, se mostrou recatada para não embandeirar em arco como se fosse o Benfica a fazer uma exibição assim, noutros tempos. Claro que há política nisto, porque sabe-se como Guerra e Cª fizeram guerra ao Jesus, que os deixou às portas do Inferno em Maio, e tão relevante sacrilégio impõe um jejum que nos leva, no fim, a engolir tudo e a vomitar o que não se quer. Portanto, tendo também entreaberta uma porta no Olival, onde já assiste aos treinos que lhe eram vedados nos últimos anos, a Bola sabe que para já tem de rolar bem na direcção certa, o benfas está em queda e o Porto a somar títulos como lembrou o Paulo Fonseca... É que, do outro lado, o Record parece caído em desgraça para os lados das Antas e isto é sempre um jogo de duas metades...
 
Mas a exibição portista, que mesmo aos soluços vi ser estável e agressivamente saudável, parece que não foi de molde a entusiasmar os adeptos que escrevem como tal em blogues. Basta, como é curial nesta fase do mercado, um jogador ou dois mijar fora do penico e há mijo por todo o lado, não há jogador santo que não passe a sacripanta, que o diga Rolando que ainda há dois anos marcou os dois golos ao Guimarães para ganhar uma Supertaça. No futebol há mentalidades e sensibilidades, hoje em dia temos as dos comentadeiros e dos bloguers, sempre tão objectivamente fora do sítio e a só verem o que está à frente do nariz.
 
Não só a exibição passou para segundo plano, como os fundamentos da exibição mal foram dissecados. Como não vi muito bem não posso alongar-me, mas parece-me, como há um mês estava ainda a coisa para começar, ser cedo para leituras definitivas, tipo o 4x2x3x1 ou 4x2x1x3 ou... O plano e o desenho dependem do adversário e o Vitória foi dócil, no campeonato será mais duro apesar de tratar-se de uma prova oficial no passado sábado mas todas as equipas estão ainda em rodagem.
 
Paulo Fonseca não inventou, nem sequer inventou Licá. A surpresa, que uns quantos já vinham denegrindo alarvemente, mostrou-se como segundo ponta-de-lança que era no Estoril, um ponta-de-lança lateral como dizem os italianos, correndo do flanco para o centro. Se PF advogava que o jogo interior fosse forte, mais do que o figurino assim ou assado, pois tivemos bastas vezes a prova a toda a prova. Lembremos que Varela também marca assim mas desta vez os extremos têm mesmo ordem para ir à linha e não, como com VP, para parar, esperar um apoio e entrar na área em tabelas. A surpresa e o lado letal dos cruzamentos nascem da espontaneidade, marcou-se assim e criaram-se muitas situações de golo, é bom sinal. É menos um Porto à Barcelona do que era com VP. Há quem chame verticalização, algo que até hoje vejo no Barça falarem em relação a Pep e Tito, mas depois vamos ver porque de intenções boas...
 
O treinador foi até conservador, meteu todos os que eram titulares e só Licá destoou, mas pouco, pois foi fazer o lugar de um extremo que podia ser Hulk, há um ano, enquanto Lucho fez mais de James, pareceu-me. Continuo sem ver o duplo pivot, há um mais descentrado e, assim, a leitura pode ser como quisermos e o modelo é para ir aperfeiçoando, mais do que o figurino ou sistema de jogo.
 
Deve ser por isso que, ao passar hoje os olhos pelo Record num café, o Rui Dias escreveu as banalidades do costume que dizem tudo e um par de botas, desta ou daquela equipa, sem tocar sequer no sistema, no modelo ou no que quisermos, foi redondo e vago, como sempre, prova de que viu o jogo ainda menos do que eu para não ter uma ideia concreta do jogo do FC Porto que se mudou um pouco com o novo treinador. Vá lá, lembrou-se dos predicados, de livro, e não há melhor do que repisar o que se sabe em vez de tentar acompanhar o que se vê para descrever assertivamente. Muitos jornalistas transformaram-se em guionistas, marcam um roteiro para toda a época, alguns para toda a vida.
 
Mas para aqueles que endeusam os dirigentes e esquecem que são os jogadores os protagonistas sempre, dentro e fora do campo, é claro que nem os dirigentes os sossegam quando os jogadores mandam uns bitaites do tempo, como as cerejas.
 
O FC Porto ganhou a Supertaça de forma brilhante, pelo que pude ver, mas a semana é passada com supertraças que cortam a eito e falham o ponto. Ainda bem que a equipa funciona.

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