13 julho 2014

Alemanha, claro!

Repetiu-se o 1-0 de 1990 em Roma, quando o penálti de Brehme decidiu a final com uma Argentina focada só em defender como nas eliminatórias que foi passando por penáltis. E como em 2010, decisão no prolongamento, agora foi Goetze em vez de Iniesta e a Alemanha voltou a vencer a Argentina, esta sim digna vencida e uma equipa de primeiro plano ainda que com tracção atrás mas com umas variantes de ataque e de atacantes do mais rico e da mais pura classe que se viu no Mundial do Brasil, acabando até Messi eleito o melhor da competição - o que é discutível mas lança-o já para o FIFA Player of the Year onde poderá nem figurar o chorão CR7 porque Bale e di Maria foram melhores no Real Madrid e Robben fez um Mundial fantástico depois de uma época triunfante no Bayern de Munique.
 
E foi o Bayern, ou a sua base, como há quatro anos o Barça igualmente de Guardiola a inspirar a Espanha na África do Sul, a consolidar o poder do futebol alemão que não triunfou na Europa mas por questões aleatórias e meramente futebolísticas em que os pormenores decidem.
 
Goetze marcou o golo da diferença e, tal como a Holanda em Joanesburgo, a Argentina até podia ter saído vencedora pelas ocasiões criadas e a última do jogo a seu favor, por Palácio, tal como Robben em 2010 ante Casillas. Mas foi assim e, no final, além do insípido "ganham sempre os alemães", acabou premiada a melhor equipa do torneio e que conseguiu os resultados mais espectaculares: 4-0 a Portugal e 7-1 ao Brasil. A Argentina fez talvez o melhor jogo neste Mundial mas pessoalmente não gostaria que uma equipa fosse campeã mundial após dois jogos com 0-0. E foi assim que a Argentina passou a Holanda num jogo insosso e no jogo em que a falta de aventureirismo ´dos laranjas lhe retiraram arte e engenho para vencerem - cabendo a Robben, de novo, a última oportunidade da semifinal.
 
Felizmente houve Goetze tal como felizmente não foi o básico Paulo Sérgio a relatar na RTP ou chamar-lhe-ia Gótze, o que diz da sua impreparação e incapacidade de locutor mesmo que seja chefe de uma merda qualquer na sub-informação televisiva e radiofónica do caseiro serviço público. E ainda bem que Rui Costa, ponderado e sabedor, fez o comentário digno de uma final e não o parolo Tadeia, conquanto Bruno Prata e em especial Nuno Dias tenham estado muito bem nos jogos que lhes ouvi a sapiência.
 
E houve Goetze, como houve Schuerrle, dois jogadores saídos do banco para fabricarem o golo de uma Alemanha supercompleta e um treinador sem opções de ponta-de-lança para além de Klose já com 36 anos e que foi bem gerido e saiu goleador de todos os Mundiais. Low ganhou o jogo e foi finalmente coroado, como foi coroada a eterna renovação da equipa alemã relançada em 2006 era Low adjunto de Klinsmann. Em 2008 e 2012 foi 2º no Europeu, em 2010 foi 3º no Mundial só superado pela Espanha. A Alemanha sempre lá no alto e um treinador não inibido apesar de perder sempre nas pontas finais.
 
Em 2006 era Lahm um desconhecido lateral-esquerdo apesar de abrir o Mundial na Alemanha com um golo portentoso ao Equador, fletindo da lateral para um disparo com o pé direito, cruzado, ao ângulo mais distante. Agora foi Lahm a levantar a Taça do Mundo e com ele eram 5 jogadores resistentes dessa equipa criada por Klinsmann... E vários jogadores campeões europeus nas camadas jovens - isto sim é formação de primeira água.
 
É a confirmação, ainda, da supremacia do futebol europeu, tal como em 2010. A Holanda no pódio, depois de 3-0 ao Brasil básico do bazaroco Scolari e nova humilhação do Brasil cada vez mais ultrapassado pelas potências mundiais. A Holanda que pecou apenas por alguma timidez com a Argentina, o que me surpreendeu, mas acaba no pódio e o Brasil de novo fora dele como esteve, estupidamente, fora do Maracanã onde em 1950 fez todos os jogos com os recordes de assistência dos Mundiais de 150 mil espectadores para cima.
 
Não só os europeus já ganham noutros continentes, como marcam vincada supremacia. Em 2010 foi Espanha, Holanda, Alemanha, Uruguai; agora Alemanha, Argentina, Holanda, Brasil. O equilíbrio continental Europa-América do Sul vai-se desfazendo porque o trabalho, a ordem e o progresso continuam marcas europeias indeléveis.

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