03 setembro 2010

Relatório (Bo)Ronha (XV): as atenuantes de Queiroz e as agravantes de Amândio e Laurentino

Pronto, ficamos a saber pela excelentíssima ADoP, ou IDP ou, no escritório central ao fundo do corredor, a própria sec. Estado da Juventude e Desporto que tutela as primeiras, que invectivar com "foda-se" e "caralho" e mandar alguém para a "cona da mãe dele" é perturbar ou criar perturbação, mas também, incorrer no risco de provocar o erro de alguém sensível a português tão corrente em futebol como na política onde, no Parlamento, um ministro faz corninhos e o PM manda alguém "chatear a tua tia, pá".
Douta decisão que tanto nos esclarece e termina com as atenuantes para reduzir em 75% a pena mínima prevista de dois anos (4 semestres) de suspensão.
Para Queiroz continuar ainda, fora as ameaças do sec. Estado Laurentino Dias, dentro do seu vínculo contratual de dois anos, valeu-lhe estas deferências:
- apesar da tal "perturbação", o controlo antidoping foi feito e não houve necessidade de recolher a densidade urinária para registar o tal parâmetro em falta;
- nunca tinha sido punido por algo deste género na sensível luta contra o doping;
- tem uma folha de serviços relevante em clubes e selecções no estrangeiro, em cujo âmbito decerto assistiu a centenas de análises antidoping;
- prestou "relevantes serviços" ao Desporto português;
- foi agraciado com títulos pelo Governo português.
Então, comparemos:
- em 1989 Portugal sagrou-se campeão mundial de sub-19 (então assim designada a competição) em Riade;
- em 1991 Portugal revalidou o titulo na final de Lisboa, então pelos sub-20 (nova designação da competição).
- bem ou mal, muito ou pouco, não há registos de coisa semelhante, nem nos 90 anos anteriores nem nos 20 anos que já passam destas conquistas do futebol português que tiveram muito mais do que possa imaginar-se em frutos recolhidos desde então.
Pois, entre 1989 e 1991 passou-se alguma coisa de relevante no futebol português?
Passou, remonando a anterior Mundial disputado, a nível sénior, em 1986 foi a vergonha de Saltillo que se sabe, onde até chegar o presidente da FPF Silva Resende a selecção viveu amotinada, faltou a treinos, fez greves e conferências de Imprensa e, ainda, depois de ganhar à Inglaterra conseguiu perder com Polónia e Marrocos para ser eliminado, tudo com o dirigente federativo Amândio de Carvalho ao leme e hoje reinstalado no poder.
Por causa do "caso N'Dinga", com falsificação de inscrição de jogador na FPF e histórias rocambolescas que meteu crocodilos no Rio Zaire e carimbos forjados, a I Divisão passou de 16 para 20 equipas em 1987-88. Amândio de Carvalho ainda continuava a fazer parte do quadro dirigente da FPF, tal como voltou, depois de 1991, a fazer parte até chefiar uma comitiva em pré-Mundial e ao qual não foi dado sequer um "bom-dia, vimos fazer um controlo-surpresa" pelos médicos a ADoP e parece que nem esteve na Covilhã e que, como em Saltillo, tudo lhe passou ao lado e nem era tido nem achado como responsável máximo em plenas funções.
Mas tal não ficou inédito. Em 1990-91 a I Divisão voltou a ter 20 clubes, num alargamento à medida dos interesses instalados, porque um cambalacho num Famalicão-Macedo de Cavaleiros acabou por ditar a despromoção dos famalicenses, mesmo depois de terem iniciado o campeonato com 1-0 ao Ac. Viseu, para alargamento que contemplou, entre outros, o Desportivo de Fafe.
Nessa luta em que o Fafe subiu destacou-se um dirigente local, um tal Laurentino Dias que soube mexer os cordelinhos para a equipa da sua terra não ficar privada e uma benesse dos deuses da bola jogada nos bastidores.
Muitos anos depois, em 2007, Laurentino Dias como governante com a tutela do Desporto não consegue que a CNAD, hoje ADoP no sentido lato ainda que a própria CNAD exista para a servir, não conseguiu que uma análise antidoping positiva do jogador Nuno Assis desse para cumprir pena de suspensão mínima de seis meses. Foi preciso ir ao TAS de Lausana para fazer cumprir a lei que pune os verdadeiros infractores da luta contra o doping, já que nem Laurentino nem Luís Horta puderam ou quiseram impor as regras que deviam fazer respeitar cá dentro.
É ironia do destino, ou não, que agora tenha Queiroz de ir ao TAS de Lausana para revogar uma decisão da ADoP/CNAD em que foi juiz em causa própria porque há subjectividade no que significa ser "perturbar um controlo antidoping" que acabou por decorrer em plenitude?
Isto são factos e História, o resto é pouco mais do que irrelevantes caralhadas que gente aprumada julga não existir no português corrente e menos ainda no informalismo do futebolês que toda a gente entende e... pratica.

6 comentários:

  1. exactamente. Manter dinossauros nas estruturas dirigentes do futebol, conduz a estes cambalachos. Tristes, porcos, e maus

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  2. o pior disto tudo é que não se trata de gente aprumada; de aprumo não têm nada. São gente torta a quem a honestidade e trabalho correcto do seleccionador perturba muito...
    Além disso, se ficaram tão chocados com as palavras porque as repetem sem parar?...
    Vou gostar é de conhecer a tradução disto para inglês no processo que chegará ao TAS!...

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  3. Ze Luis,

    Acho que os teus posts sobre a materia deviam constar do processo do Carlos Queiros.

    Excelente

    Um abraço

    http://fcportonoticias-dodragao.blogspot.com/

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  4. Desconhecia completamente esta relação antiga do Laurentino Dias.Sempre o associei ao Boavista.Mas é mais um dado, mais uma peça que poderá ajudar a perceber, esta engrenagem.

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  5. Pois é, meireles, por isso eu dispus-me a falar disto, desta gente e dando dados. Para que se perceba.

    Não esquecer, ainda, que o Laurentino anda fulo com a FPF e o Madaíl, porque a FPF não consegue entrar no regime legal de uma Lei que as associações contestam e por isso vetam a aprovação e a mudança de estatutos para pôr a FPF em conformidade.

    Mas há ainda mais dados que continuarei a trazer aqui, o Relatorio (Bo)Ronha não acaba e dura enquanto durar tantos fdp que por aí andam.

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