17 setembro 2010

Relatório (Bo)Ronha (XXVII): Laurentino "Kim Jong-il" Dias decreta em nome do regime

O que é que a Natação tem a ver com o Processo Q(ueiroz), as federações fora-da-lei de Vela e de Futebol e a ditadura do SEJD?

Bom, o senhor ao lado, Paulo Frischknecht, acaba de se demitir do COP, de cuja Comissão Executiva fazia parte desde 2005 e é presidente da FPN desde 2004.

Consagrado nadador do FC Porto, nadador olímpico em Montreal-76 e Moscovo-80, treinador de sete nadadores em Barcelona-92, Atlanta-96 e Sydney-2000, Paulo F. cansou-se... da intromissão de Laurentino Dias, hoje muito famoso por razões pouco abonatórias.


O REGIME DO RESPEITINHO






“Em Portugal havia um técnico português a quem se exigia o título mundial. Como não venceu, um membro do Governo, encarregado do Desporto, empenhou-se em afastar esse treinador. Os meus advogados consideram a possibilidade de apresentar queixa na FIFA por ter perdido o trabalho devido a uma intervenção exterior, saída de um departamento governamental que pode comparar-se a Kim Jong-il, que também mandou embora o treinador da Coreia [do Norte].” - Carlos Queiroz, em entrevista a Radio Marca respigada em Record online, esta semana.

O Kim Jong-il português tem papel preponderante em várias estações partidárias do PS, além de titular da secretaria de Estado da Juventude e Desporto (SEJD). Chama-se Laurentino Dias e, foi agora noticiado, será alvo de uma queixa-crime, de Carlos Queiroz, por eventual falsificação de documento relativo ao inquérito da ADoP, cujo presidente Luís Horta será igualmente demandado na mesma acção judicial, que acabou por revelar-se determinante para a FPF assumir o despedimento do ex-seleccionador nacional.
Como interfere um membro do Governo, com a tutela do Desporto, na vida associativa? Influenciando as federações desportivas, por exemplo, seja pela forma jurídica imposta de cima, na distribuição de verbas (de que o futebol é relativamente independente, mas não no caso das ajudas do Estado aos clubes secundários apoiados para as viagens a Madeira e Açores), na domesticação com a imposição de medidas. É isso que está em causa quanto à FPF instada pelo SEJD a "tomar medidas" (leia-se despedir) contra Carlos Queiroz depois do inquérito interno em que a ADoP foi queixosa e juíz em causa própria.
Foi só com a FPF? Não! A Federação Portuguesa de Vela foi, entretanto, sujeita aos ditâmes do... ditador Kim Jong-il da SEJD de Portugal. Tal como a FPF, a FPV ainda tinha os seus Estatutos não conformes com o Novo Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD) e, portanto, para o Governo estava fora da lei, logo perdeu, como a FPF, o Estatuto de Utilidade Pública Desportiva (UPD). Portugal foi ao Mundial na Áf. Sul como excepção, assim como o Estado ainda apoia os velajadores olímpicos que se preparam para Londres-2012, mas não paga aos restantes atletas, tudo em nome do País mas em que o "resto do Povo" é desprezado.
Em silêncio e na indiferença mediática, porém, a situação da FPV teve desenvolvimentos importantes, ainda não noticiados. Fora do futebol (FPF), as federações de praticamente todas as modalidades actuam sob a égide do Comité Olímpico de Portugal (COP), aquele organismo, o seu presidente Vicente de Moura (VdM), muitos atletas que representaram o País em Pequim e até o director de Imprensa nos Jogos Olímpicos de 2008, João Querido Manha, imagine-se, que fizeram a figurinha pacóvia que se sabe na última Olimpíada.
Só que, ao mostrar a sua tenaz de "controleira do regime" sobre a FPV, federações houve que, no seio do mesmo COP, do tal comandante VdM que disse que se demitia no pós-Pequim mas recandidatou-se e lá continua precisamente em nome do "regime" que o eterniza há dezenas de anos no poleiro, revoltaram-se. Uma delas foi a de Natação, cujo presidente e antigo nadador do FC Porto, Paulo Frischknecht, acaba de se demitir.
Paulo Frishcknecht já escrevera ao COP a denunciar a intromissão inadmissível do SEJD na vida associativa do organismo olímpico de Portugal, que é suposto ter a sua independência, como proclama o Governo, mas depende, no fundo, das verbas do... Governo. São os tais contratos-programa em que se distribuem milhões pelas federações para a preparação dos atletas olímpicos durante 4 anos até à grande prova. No caso da Vela, estão 255 mil euros em causa, desviados da FPV e geridos pelo COP que não deve mas lida directamente com treinadores e atletas em preparação para Londres-2012.
Como é que Laurentino "Kim Jong-il" Dias irritou a Vela e, por arrastamento, agitou as águas da Natação de forma que o seu presidente demitiu-se do COP em desacordo com a conivência mostrada pelo COP e o seu presidente VdM, sujeitando-se aos ditâmes do ditador luso de inspiração norte-coreana - na senda, de resto, do respeitinho devido pela cambada socialista ao Grande Líder Kim-il Sócrates?
Decretando isto (a fls 4 e 5 do seu despacho):
"Em conformidade com o exposto, determino que (negrito meu):
a. Enquanto se mantiver a suspensão do estatuto de utilidade pública desportiva da Federação Portuguesa de Vela, o Comité Olímpico de Portugal, proceda com base nos montantes reservados à Federação Portuguesa de Vela, relativos ao Projecto Olímpico Londres 2012 para apoio às actividades, à gestão directa daqueles apoios financeiros, garantindo a operacionalização das actividades de preparação, participação competitiva e enquadramento dos praticantes, treinadores, dirigentes e demais agentes envolvidos;
b. O COP proceda ao pagamento directo das bolsas aos treinadores que enquadram os praticantes integrados o Projecto Olímpico Londres 2012;
c. As medidas referidas nas alíneas anteriores produzem efeitos a partir de 01 de Junho de 2010;
d. O disposto no presente despacho será revisto de três em três meses, podendo ser alteradas as medidas agora decididas ou aditadas outras, sem prejuízo de, a qualquer tempo, poderem ser dadas por findas, a requerimento da FPV, com base no desaparecimento das circunstâncias que constituíram fundamento desta decisão.
3. Dê-se conhecimento ao Comité Olímpico de Portugal e à Federação Portuguesa de Vela, bem como aos praticantes e treinadores interessados.

Lisboa, 17 de Agosto de 2010.
O Secretário de Estado da Juventude e do Desporto
assinado Laurentino José Monteiro Castro Dias
A 2 de Setembro, alertado pelas notícias enquanto estava em férias, o presidente da Federação de Natação remetia por mail os seus temores à Comissão Executiva do COP que integrava... até ontem.
"Não considero adequado que uma 'determinação' de S. Exª o SEJD seja passível, e produza efeitos, sobre os procedimentos - e comportamentos - a adoptar pelo COP, ao arrepio de tudo que sempre nos habituámos a ouvir quanto à sua (do COP) independência e autonomia, relativamente ao poder político;
O grave precedente que a anuência a esta iniciativa constituíria, quer no panorama associativo (e respectivo relacionamento futuro das Federações Desportivas com o COP), quer na - aparente - subalternização 'política' (e institucional) do COP, de crescente submissão aos ditames do Governo da República.
Face ao exposto, e uma vez veiculado já o sentido do presente despacho governamental em diferentes orgãos de comunicação social (anunciando o que ora ainda se pondera), sou da opinião da necessidade incontornável de uma Reunião Extraordinária - com carácter de Urgência - para debater a formalização pública, e operacionalização prática, da matéria em apreço... sem prejuízo dos princípios éticos, jurídicos, e DESPORTIVOS a que estamos vinculados - e, moralmente, obrigados!
Esta Reunião Extraordinária teve lugar anteontem à noite e Paulo Frischknecht demitiu-se.
Laurentino "Kim Jong-il" Dias "obrigou" a FPF a demitir Queiroz, este já fez queixa à FIFA da intervenção governamental intolerada pelos regulamentos da FIFA nas questões desportivas, certamente com repercussões na candidatura ibérica ao Mundial-2018/2022, e segue uma queixa-crime, noticiada hoje, por motivos que aqui serão revelados em breve, dando seguimento ao Relatório (Bo)Ronha capaz de dar factos e não opiniões para se formar uma boa ideia do que se passou no sórdido Processo Q(ueiroz).
Madaíl pode tentar um último passe de magia ou ensaiar como encantador de serpentes e a plateia aplaudir com loas na Imprensa do regime, mas todas as histórias do Processo Q(ueiroz) continuarão a ser trazidas aqui para interessados que não se deixam intoxicar por opinião que lamentavelmente se publica.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo magnífico post. E por toda esta batalha pela verdade no que diz respeito a mais esta obra engendrada por ratos sem vergonha.

    Eles são desmascarados, mas lá continuam e continuarão, desejo que pelo menor espaço de tempo possível.

    Abraço

    http://fromporto.blogspot.com

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  2. Zé Luis:
    -Parece-me que há uma luta política muito forte em vários domínios, que se espelha também na área Desportiva...É difícil perceber bem os contornos.
    Admito que estando algumas Federações fora daquilo que é a assumpção em termos estatutários, do NRJFD, o Governo proceda transitóriamente ao apoio das representações Olímpicas de forma muito específica...É evidente que tudo isto é passível de jogadas menos transparentes.É também possível que o caso CQ, esteja aí inserido à pressão...Uma forma de tirar o tapete ao seleccionador, sem ter que o indemnizar devidamente.Depende muito de quem tem a responsabilidade financeira de o vir a fazer...A FPF, a SEJD ou ambas?...Mas continua a esclarecer-nos, é importante saber mais pormenores.

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  3. meireles,

    a questão da indemnização, de momento, não é aqui chamada nem tem a ver com isto.

    A manobra, política~no fundo, para afastar CQ não tinha em conta, ou como razão de ser, despedir sem indemnizar.

    Volto a repetir, agora, que tento evitar ao máximo dar opinião, privilegiando os factos.

    Ora, os factos, aqui, são um despacho do SEJD, os seus reflexos numa federação (FPV), as reacções de outros pares e, por fim, a demissão de Paulo F., opondo-se ao que se passa.

    A opinião, ao fim e ao cabo, é a dele, de Paulo F. e serve para alertar para o que se passa. Ele dá a pedrada no charco, não sou eu.

    Talvez por isto CQ tenha apelidado o SEJD de Kim Jong-il, não fui eu. EU apenas relaciono factos, nem os torturo como fizeram no inquérito da ADoP de forma vergonhosa mas não inédita, porque estou farto destes filmes.

    O inquérito da ADoP será aqui exposto com grandes pormenores, do processo e não meus. Trarei factos, mais uma vez, depois cada um faz a sua opinião da coisa.

    O caso CQ foi inserido à pressão depois do que aqui contei e que o CM trouxe à baila, na visita do Governo à Selecção e nos considerandos de Sócrates que os bufos do PS contaram ao Grande Líder. O caldo ficou estragado antes de ser servido.

    Espero que ainda ouviremos falar disso, também, mas a ordem do Governo nas federações tem sido respeitada, imposta de cima e há quem não concorde. Resta saber a divulgação pública disto tudo.

    Em política os partidos ainda nem se pronunciaram, mas já começam a sentir-se movimentações pelo desconforto disto tudo e a ditadura do dinheiro é tão pressionante e asfixiante sobre as federações como sobre os beneficiários de prestações sociais em que há metade da população, 5 milhões de portugueses noticiou há dias o JN, a depender do Estado.

    Bom, em Cuba são 85% de pessoas a viverem do Estado ainda que trabalhem para ele. Aqui vão em 50%, mas creio que na Coreia do Norte deve ser o pleno.

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  4. Zé Luis gostaria da sua opinião sobre o que se passa na Federação de Atletismo, a proibição de inscrever atletas estrangeiros, na linha dum país tipo Coreia do Norte.

    VIVA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO

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  5. paulop,

    gostaria de dá-la, infelizmente não sei o suficiente para fazê-lo.

    Gosto de falar do que sei, do que acompanho, do que conheço, do que vivi.

    Já li algumas notícias mas não conheço a questão a fundo. Não falo das coisas superficialmente. Não posso comentar. Mas não deixo de estranhar.

    Por exemplo, além do atletismo, temos um caso no básquete, o afastamento, voluntário, do Moncho Lopez da Selecção e queixando-se de pressões e de manobras nos bastidores.

    Moncho Lopez vai dedicar-se ao FC Porto e deixar de acumular com a Selecção. Mandou umas bocas, li nos jornais, não gosto do que vejo e leio, registo só o que se passa mas desconheço também esta questão a fundo.

    No fundo, por fundo, subsiste a incomodidade de o FC Porto ser uma instituição grande demais para o País pequeno, invejoso e improdutivo que temos.

    Parece-me ser a "moral da história" a extrair destes dois episódios com o mesmo denominador comum, ainda que possa haver razões diferentes para cada modalidade.

    Já confessei que comento pouco as modalidades por não acompanhar e de algumas não saber a fundo sequer as regras.

    Não sou tudólogo, ainda que perceba os contornos do que se passa e lamente o que se passa.

    São dois casos flagrantes.

    Ou três, se contarmos com o "nosso" Paulo F. que se manifestou contra a ingerência do Governo no COP que é o que é e tem o Madaíl que tem à sua frente, com o cortejo habitual de homens de regime e defensores públicos da causa como era o caso do JQ Manha talvez desconhecido nestas andanças para muitos dos que nos lêem.

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  6. paulop,

    partilho desta opinião e pela qual já entendi o que se passa no atletismo.

    Portugal não quer cá esses mangas dos Usains Bolts
    JOSÉ MANUEL RIBEIRO

    Se um clube português de atletismo quiser e puder contratar amanhã Usain Bolt, o homem mais rápido de sempre, não pode. Ou melhor, poder até pode, se for para varrer a pista ou servir ao balcão no bar, mais do que isso não, porque os novos regulamentos da FPA proíbem a utilização de atletas estrangeiros que tenham representado as suas selecções nos 12 meses anteriores. É marketing topo de gama. Estrangeiros em Portugal? Só os que não forem suficientemente bons para chegar a internacionais. Esses são bem-vindos. O objectivo declarado, e altamente desonesto, é "a defesa do atleta português", mas o atletismo não é uma modalidade ameaçada pela imigração, nem perto disso, e o normal, nas ligas desportivas que não são estúpidas, é querer o contrário. Até à época passada, era possível ver aqui mesmo, em Portugal, Naide Gomes competir com Ineta Radevica, que há dois meses lhe ganhou o título europeu em Barcelona. Agora, Radevica, campeã europeia, já não pode cumprir o contrato que mantém com o FC Porto nem contribuir para que Naide evolua defrontando as melhores mais vezes. É como se os espanhóis dissessem que não querem Messis nem Ronaldos, só Ricardos Costas, Ricardos e Nunes. Fica já aqui o "slogan" - um bocado longo, mas aberto a sugestões - para chamar espectadores aos próximos campeonatos femininos: "Veja Naide Gomes bater por dois metros de distância uma atleta de que não me lembro agora o nome, isto se Naide competir, porque agora talvez nem seja preciso (o Sporting já ganhou, e ela tem mais que fazer)." De que há quem lucre com esta mudança, não há dúvida. O atletismo (e os patrocinadores do atletismo, se houvesse disso) é que não se vê como.
    em O Jogo de hoje

    Para bom entendedor, meia palavra bastaria, mas creio estar tudo aqui.

    É sempre agradável partilhar as ideias e quanto melhores, melhor.

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