03 setembro 2010

Relatório (Bo)Ronha (XVI): Navegadores todos à vela e ninguém ao leme, só a fazer lama

A sequência do Mundial teve um Portugal tão diferente quanto disparatado, o suficiente para empatar 4-4 com Chipre, resultado impensável pelos números mas só para quem não viu as barracadas da defesa portuguesa. O que pelo menos não suscitará os comentários recorrentes do Mundial sobre o cinzentismo do futebol da Selecção Nacional, pois mais trepidante do que isto é difícil e sempre contenta mais aqueles que preferem um resultado assim do que 7-0 à Coreia do Norte.
Na senda dos Navegantes que chegaram cautelosos à África do Sul por causa do Adamastor chamado C. Marfim e replicado no Brasil, a nova equipa, decalcada da anterior na convocatória só alterada por lesões várias e renúncias previstas, revelou arrojo que Nani e Quaresma deram nos flancos, precisamente o que se notou estar em falta no Mundial. Não era, contudo, previsível que todos fossem dar ou puxar a vela para o barco navegar a todo o vento e ninguém estivesse ao leme. De facto, foi mandado para a bancada, mas a barracada fica por conta de quem?...
Numa altura em que muitos atulham de lama a Selecção, cujos responsáveis administrativos assobiam para o lado como sempre, sem que algum aparecesse nas imagens que as câmaras afanosamente procuravam na tribuna VIP despida dos costumeiros palhaços que só aparecem nas horas boas e intrigam o resto do tempo, o que se passou em campo é bem a imagem do que se passa actualmente: muitas bolas fora, muitos tiros nos pés.
Com laterais de vocação ofensiva e um ataque a 4 "todo maluco" virado para a frente, com Danny a 10 e Nani e Quaresma a alimentarem Hugo Almeida, o filtro do meio-campo foi meramente um passador e os centrais nem cobriram a sua zona nem defenderam as subidas dos laterais; pelo que o estudioso Chipre, que não tem os trambolhos amadores de antigamente e há muito é mais do que uma selecção de Malta ainda bombo de festa por essa Europa, explorou muito bem todas as abertas e as abébias defensivas de Portugal.
Mas foram inúmeros golos desperdiçados, alguns por má finalização e outros por manifesta infelicidade como duas bolas nos ferros e outra defendida casualmente sobre a linha de golo, mais as paradas do guarda-redes, a marcar a partida que teve 2-2 ao intervalo e Portugal incapaz de segurar o 3-2 e o 4-3 a que chegou na 2ª parte.
Como se não bastasse o atrevimento ofensivo descarado e até pornográfico, as substituições foram só a ênfase na tónica da estratégia muito aventureira e demasiado libertina para o costume, com trocas directas e pouco cuidado na protecção do meio-campo: Danny por Liedson, M. Fernandes por J. Moutinho e Hugo Almeida por Djaló é coisa para equipa a perder, não para quem teve tanto trabalho, depois de tantas baldas defensivas, em dar a volta ao marcador após inúmeras ofertas ao adversário que não se fez rogado e se mostrou esperto e eficaz no aproveitamento.
Depois temos a sobranceria e desconhecimento de sempre, julgando poder ganhar a Chipre só por ser Chipre, como dantes, mas esquecendo que o seu último jogo oficial, de qualificação para o Mundial-2010, foi perder em Itália por 3-2 mas a ganhar 2-0 até 10 minutos do fim. E este grupo, ao contrário do que se pinta, não é nem mais nem menos acessível do que na qualificação anterior e também os resultados serão praticamente todos pela margem mínima: e assim a Noruega foi ganhar 2-1 na Islândia.
Não sei se Portugal, como equipa e incluindo a equipa técnica com Queiroz na bancada, queria provar algo a alguém ou a si mesmo, mas o que o futebol nos revela sempre é que é necessária prudência e organização, coisa que faltou a um meio-campo espaçoso e caído em embaraços desnecessários, de resto transfigurado com Manuel Fernandes de volta e Raul Meireles a trinco mas muito expostos pelo adiantamento de Danny que era mais avançado do que médio.
Ouvi na rádio (mas vi na tv o jogo), nos intervalos, que isto quase fazia lembrar o 0-0 com a Albânia, de Braga, mas lembrou-me mais o Portugal-Dinamarca de tanto futebol e tantos falhanços numa derrota cruel (2-3) em Alvalade que nos fez penar por todo o apuramento. Portugal voltou a jogar muito, mas esbanjou e, ao mesmo tempo, cumpriu a sina de tudo piorar quando parece já estar mau demais, oferecendo golos aos cipriotas e perdendo dois pontos após tanto correr e batalhar mas tão abandonado pela sorte como por um guia que tem de ser mais do que um piloto/navegador automático.
Porque no futebol não há milagres, as asneiras pagam-se caro apesar de muitos responsáveis não aparecerem, ainda que eu tenha ouvido, num centro comercial, incentivos a Luís Horta e Laurentino Dias por cada golo cipriota que nos deixava sempre com cara de idiota. Isto é, aqueles que tenham cara, seja de polvo, do carvalho ou a dias.
Como sempre, serão jogadores e técnicos a fazerem tudo para Portugal ir a mais uma fase final e, antes dela começar, depois lá aturam uns políticos estúpidos que arrotam postas de pescada com "saudades de picanha e Chimarrão".
Dentro de dois anos, se desgraçadamente este Governo ainda existir para mal de Portugal, um Primeiro-Ministro parvo e um adjunto para o Desporto feito para cortar fitas e sujar o guardanapo irá desejar boa sorte para a fase final. Até lá, seguramente, a Imprensa colorida ou desportiva deve começar a ensaiar o "Adeus, África" de há tempos, pronunciando "Na Zvedenia" ou algo similar em ucraniano que para mim é como o polaco e o Portugal-Chipre: não percebo puto mas vou a tempo de aprender, que já não há segredos nas coisas da bola.

12 comentários:

  1. A partir do momento em que não temos melhor que Djaló, é caso para repensarmos a nossa selecção e as nossas possibilidades de progressão...

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  2. Olhe, estava a ver o jogo e ao fim de dez minutos, só pensava que o Quieroz devia estar a pensar: "E, o burro sou eu?"...
    Para além da equipe estar nitidamente sem comandante, nem dentro nem fora do relvado, o Agostinho Oliveira pareceu estar-se nas tintas, o Miguel está com 20kg a mais, o Meireles com 20kg a menos, o Dani como sempre com speed a mais... desde o minuto inicial a equipe aos tropeções pontapé para a frente, e show das vedetas...
    quanto ao Bruno Alves...o que dizer?...

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  3. Zé Luís:
    O jogo até foi entusiasmante pela incerteza no marcador, mas também, pela entrega de todos os jogadores...Gostei de Chipre, boa hipótese de ver o José Mourinho a levar o Chipre a Campeão da Europa!...
    O que me pareceu terem sido demais, foram os erros da defesa.Ninguém se salva naquela barafunda de generosidade...Depois na frente tivemos dois extremos muito voluntariosos e um avançado a mostrar tudo o que é, um poço de energia, de entrega, mas com uma falta de sorte ou de sentido de oportunidade enorme...Liedson atrapalhou a estratégia.Eduardo viu todas as bolas passarem...
    E surgiu-me a constatação: -fora do Porto, alguns jogadores perdem o Norte.

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  4. Regras impostas pela fpf:
    De manhã bem cedo, URINAR.
    À noite, DEFECAR.

    Ordens cumpridas, tudo como previsto. Siga para a Noruega e trazer de antemão o bacalhauzinho a baixo preço, para o Natal que se aproxima.

    Senhor engenheiro sócrates, por favor decrete o fim da época de incêndios, para não continuar a queimar mato, pinheiros e Queirós...

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  5. Escárnio, é o que é, há o que há.

    Nestes momentos, precisamente, é que é preciso tomar nota do que há e do que náo há.

    Primeiro, é preciso lembrar que alguns só chegam aqui porque outros, por isto ou por aquilo, não puderam estar. Sem C. Ronaldo e Varela, houve que chamar outros flanqueadores. Assim chega Djaló. E joga. O problema é que ele só pode entrar, já que está apto, ou se estamos a perder ou se estamos a ganhar folgado e permite-se uma experiência.

    Depois, há que ter a consciência de faltar muita coisa aos nossos jogadores. A muita coisa que faltou a outros jogadores que como estes entram sem rodagem e experiência mas que, com o tempo, esses jogadores conseguiram obter e acabaram consagrados.

    É dar tempo ao tempo e não julgar, porque o erro é esse, que somos os melhores do mundo e ganhamos sem precisar de jogar.

    Constatação: há imenso trabalho a fazer. Segunda constatação: a falta do Nani no Mundial comprovada até ao limite do absurdo; mais, ainda, o Quaresma fogoso e de antes quebrar que torcer também nos fez falta, mas não jogava e não podia ir ao Mundial. Assim, cada vez mais fragilizada, a selecção chegou ao Mundial com as potencialidades reduzidas ao mínimo e que, no máximo, não eram muitas ou de molde a chegar muito longe, muito menos de superar a Espanha, tendo feito já bastante bem em passar no grupo da C. Marfim e sem perder com o Brasil.

    Há quem veja isto, há os parvos que fingem saber ver mais do que os outros e os críticos pela arrogância nunca têm a decência e a humildade de o reconhecerem.

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  6. reine margot, o Raul Meireles realmente não estava em condições óptimas de jogar, mas o peso a mais do Miguel já vem desde 2008.

    O Miguel fez um Mundial-2006 excelente e chegou pesadíssimo e muito gordo até à vista ao Europeu-2008. Ninguém perguntou a Scolari porquê, mesmo que Miguel tivesse sido levado à Suíça por favor e pelos serviços prestados antes, pois a titularidade era indiscutivelmente do Bosingwa.

    Não tenho acompanhado o Valência para saber o que Miguel vinha jogando ou não, mas a verdade é que sem P. Ferreira e sem Bosingwa, com Ricardo Costa castigado, só havia que chamar Miguel, pela sua experiência na selecção, e lá veio ainda Sílvio, porque até Ruben Amorim estava lesionado.

    Eu não li jornais neste período e segui pouco a preparação da selecção, marcada que estava pelo ocorrido fora dela com Queiroz, mas tenho dúvidas, ou praticamente certezas, de que ninguém se questionou sobre a dificuldade de fazer esta convocatória, de novo num momento particularmente difícil de início de época em que vários jogadores mudaram de clube e quase todos para o estrangeiro, o que causa dificuldades a qualquer um.

    Eu sei que muita gente não pensa em todas as condicionantes e não gosto de gastar latim em coisas que pelo menos uma maioria de comentadores encartados devia saber se fosse ponderado, esperto, lúcido e minimamente conhecedor.

    A verdade é que, olhando para a convocatória, para as dispensas posteriores, creio que poucos pensaram sobre ela e a dificuldade de arranjar um grupo forte, agora, para estes jogos.

    E na Noruega não sei como se vai arranjar torres, nomeadamente a trinco, para suster os pinheiros da Escandinávia e não me admiraria que NAC jogasse a trinco.

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  7. meirelesportuense, Bruno Alves e Raul Meireles cometeram erros que não são normais mas são provocados pela adaptação a outra vida que tiveram de orientar nas últimas semanas.

    Este meu comentário serve para complementar o que venho dizendo atrás em resposta a outras justas observsações que aqui fazem.

    Os erros apareceram pelo lado que menos se esperava, de jogadores experientes e pilares da Selecção actual. Mas é tudo consequência do momento presente. No caso deles, implicou uma pré-época menos bem sucedida pelos motivos que sabemos. Sim, perderam momentaneamente o norte, mas é normal que a agulha se tenha "perturbado" mesmo que tenhamn rumado a paragens boreais.

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  8. Zé Luis, não tenho dúvida que foi muito difícil montar uma equipe, como da mesma forma jogamos no mundial com o que havia, e o Queiroz, honra como "preparador" lhe seja feita, levou essa a equipe longe...quanto a mim já o disse, poderíamos e deveríamos ter ganho ao Brasil, pois jogámos melhor; e de todas as equipes que vi jogar contra a Espanha, não vi nenhuma da qual pensasse que poderia pelo menos ter empatado, que não Portugal!...
    O que eu queria sublinhar era exactamente que todos criticaram o Queiroz quando pôs o Ricardo Costa a jogar em vez do Miguel e para quem antes não queria ver, viu agora porquê!..
    MAs isso não pode desculpar o peso do Miguel...ou não haver soluções para o lado direito da defesa... mas isso já são outras reflexões!

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  9. reine margot, concordo inteiramente com essa observãção do jogo com a Espanha, ainda que o Paraguai tenha feito o seu melhor jogo contra a Espanha e dado a sensação de poder ganhá-lo.

    Também acho que a opção por Ricardo Costa era boa. Enquanto os que preconizavam a utilização de Miguel eram os que enfatizavam, antes, a sua capacidade ofensiva, em matéria defensiva o RC era melhor e creio que a opção por ele residiu aí, ainda que não lhe tenha corrido bem e tenha dado muito espaço ao Villa para driblar, deambular, receber a bola e cavalgar.

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  10. Pois é verdade, foram os jogadores mais experientes que falharam, estou a falar de toda a defesa -porventura a excepção foi Coentrão, mais ofensivo- e dos médios mais defensivos...Depois a equipa cipriota surpreendeu-me, sobretudo pela rapidez a acutilância com que aproveitou os erros portugueses.
    Mas repito, o jogo não deixou de ser agradável, muito pela alternância constante no marcador.E gostei do avançado centro do Chipre, é um pinheiro razoável...

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  11. Só para quem não acompanha todas as equipas do panorama europeu pode ser surpreendido por Chipre. Lá já não se ganha com facilidade e viu-se até na Champions com o Porto e o APOEL.

    Chipre tem feito resultados bons para o que era a sua história. Continua a ser do 3º escalão europeu, mas não é a equipa de amadores de outros tempos.

    Este Michalis KOnstantinou sempre foi um grande jogador, defrontou o Porto pelo Panathinaikos na Taça UEFA e ainda joga muito à bola, apesar dos seus 30 e tal anos. Igual o Ioannis Okkas, que fez uma década de alto nível no futebol grego e cipriota e marca que se farta na selecção.

    Chipre há muito deixou de ser como Malta e Luxemburgo, já marcou 6 golos à Bulgária e em casa é muito duro de roer até para Itália e Espanha.

    As pessoas amiúde comentam iludidas pelo que conheceram do passado de certas equipas a quem não acompanham na evolução.

    Eu sigo todos os jogos e obtenho as fichas de todas as selecções europeias há 30 anos. Sei o que era Chipre em 1974 e o que é em 2010. O que não desculpa o 4-4, claro, mas diz algo, para além dos erros defensivos de Meireles e Bruno Alves e de um Miguel sem pernas e sem posição na linha defensiva como um infantil.

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  12. Zé Luís:
    Eu não acompanho muito o futebol Europeu.Vejo muitos -alguns- jogos dos Campeonatos Inglês e Espanhol, são transmitidos pela Televisão, dos restantes Campeonatos não...Hoje por exemplo, estive a ver um jogo do Campeonato Argentino, Boca Juniores-San Lorenzo, terminou com a vitória do San Lorenzo de Almagro e vi o Benitez fazer uma razoável partida.

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