30 novembro 2009

1º de Dezembro (a sério)







Temos por aí, hoje, os reis de Espanha. E todo o mundo da América Latina, hablando español. Quando o português está para capitular sob o Acordo Ortográfico que rejeitarei cumprir, ainda me lembro do patife Scolari. E os Migueis de Vasconcellos por atirar na varanda lisboeta à falta de patrioteiros. Daí, viram-se para Pinto da Costa...

Não me apetece falar do FC Porto. Também pouco adianta. Há uma série de frases feitas e preconceitos tão radicados sobre os problemas do FC Porto que alguns adeptos só os trocarão por goleadas à moda antiga como se fossem moeda corrente no futebol actual. Falar das diferenças de ter ou não Fucile - logo notada a ausência quando saiu lesionado aos 2' do jogo com a Académica e premonitoriamente admitida como crucial sendo então um dos jogadores mais em forma e cujo regresso deu amplitude ao jogo ofensivo; comentar a vivacidade que Varela desde a pré-época, surpreendentemente, emprestou ao ataque do tetracampeão e que também tanto se sentiu nos últimos tempos até ser um bálsamo decisivo frente ao Rio Ave; apontar que Rodriguez, já visto assim na época passada, é um maratonista e mais demorado a entrar no ritmo certo quanto pior sai de uma lesão que lhe tirou a pré-época - nada disto tem sentido face aos tão proclamados "exigentes" adeptos portistas que, de novo, se aprestam a tomar o lugar de Jesualdo Ferreira, na mesma senda de encontrar e enterrar novos nomes para o cargo, de Paulo Bento a Jorge Jesus, de Jorge Costa a André Villas-Boas...

Os adeptos portistas ou tornaram-se bestiais, com as suas famosas "exigências" sem darem um pontapé na bola ou uma prelecção no balneário, ou sem o saberem são umas bestas, tão atreitos à vulgaridade e irracionalidade como os outros, banais adeptos de clubes perdedores que não sabem o que é ganhar nem estimam a contínua luta e incessante canseira de vencer sempre.
Para os portistas extremistas capitalistas que resumem tudo ao poder do re$ultado, trinta remates não são sinónimo de jogo, mas de desperdício quando não se marcam mais de um ou dois golos. Um penálti por empurrão, mesmo que ligeiro, num homem que corre na área é mais simulacro do que os que vêem penáltis em cortes legítimos de bola bem antes de contacto físico com adversários. E três ou cinco pontos de atraso com apenas um terço de campeonato disputado são sinónimo de quem só gosta de estar na frente e é incapaz de perceber que a vida tem outras fintas e desfeitas ampliadas por 11 jogadores e 11 adversários correrem atrás de uma bola redonda num hectare de campo mais ou menos relvado consoante seja em Oliveira de Azeméis ou Alvalade.

É por isso, como rever Varela, Fucile e um Cebola a caminho do seu melhor, um suplemento de alma ouvir um adepto portista como Miguel Guedes, que pensa e fala bem na Antena Um e nem heresia se pode chamar-lhe o de, sem desfalecer, ter respondido um dia ao desafio de Gato Fedorento de cantar o hino do FC Porto em inglês - mais uma prova triunfante da internacionalização sobre a vulgaridade que os birrentos (esbilros?) de Lisboa tiveram de comer e calar...

Ao ouvir, como gosto à 2ª feira, o programa das 19 horas "Grandes Adeptos", apesar do maldoso e "faccioso" (como se intitula) Medeiros Ferreira (Benfica) e um descendente hierárquico dos sobas do regime republicano, pouco socialista e nada ético Alfredo Barroso (Sporting), sobrinho de Mário Soares e obviamente um laico e anti-regionalista convicto, segundo a cartilha familiar, lembrei-me de há tempos ter falado nos Migueis de Vasconcellos que há 369 anos atiraram de uma varanda em Lisboa para as ruas da amargura.

Evoquei-os por causa das "dores" espanholas e muito castelhanas dos que condenaram a posição da FPF em relação a Cristiano Ronaldo e o proteccionismo anti-regulamentar do Real Madrid a querer impedir o jogador de cumprir o estipulado em casos do género: um lesionado ir à sua selecção "dar uma satisfação" pessoal e, mesmo que apenas formalmente, comprovar a situação de lesionado de facto. Já se intuía, porém, que a recuperação de RC9 não iria demorar os propalados 30 dias mas ele estaria apto a defrontar o Barcelona. Fatalmente, CR9 em campo e uma derrota previsível do Real Madrid com tiques de galáctico metidos entre as pernas de regresso a Castela, sucedeu este domingo e os 270 ME de reforços merengues não superaram a identificação catalã espelhada nos sete homens da cantera de La Masía.

Hoje é o 1º de Dezembro e por cá temos os Reis de Espanha e todo o séquito latino-americano para mais um evento suposto vangloriar o regime sócretino. Até o basbaque presidente Cavaco resguardou 22 ou 23 quartos em Cascais para estar junto ao mundo espanhol e não ter de se levantar mais cedo e incomodar a Guarda Pessoal de afastar o trânsito para ir de Belém à Linha.

Está cá o Brasil, claro, mas o português que chegou aos quatro cantos do Mundo já capitulou sob um Acordo Ortográfico que é mais uma derrota da República resfolegante no seu último estertor.
Engana-se quem subverte, como Rui Valente no Renovar o Porto (Gaia), que o 1º de Dezembro é algo que os republicanos pensam que nos engrandece. Esta República está morta. A data, a evocação histórica de hoje é de quem sentia a Pátria de forma diferente no tempo monárquico em que Portugal era mesmo assim e não República Portuguesa (muitos nem saberão o nome oficial e verdadeiro actual deste pobre País) que vai na sua terceira versão qual delas a mais falhada e umas mais odiadas que outras, com a partidocracia triunfante a reinar sobre as nossas vidas como num país que julgávamos acabado de partido único...
Nem de propósito, mas só por coincidência, Pinto da Costa disse há dias em Amarante a mais pura das realidades vivas actuais desta sociedade em declínio em Portugal. "O FC Porto está a mais no país que temos". Os parolos do costume pegaram na frase pelo lado do rebaixamento e ressentimento, além de fora do contexto. Porque o complemento é que o FC Porto, concluiu o seu presidente, "é necessário para o país que queremos".
Tudo numa semana em que foi noticiado como o regime - pago com os impostos de todos e mesmo à custa dos juros que todos pagamos para "comprar" dinheiro, cada vez mais caro, no estrangeiro e os que se governam acharem que é só deles - se preparou para desviar para Lisboa a corrida de aviões que julgam, os pacóvios desta choldra com cheiro nauseabundo lisbonense, ter trazido fama ao Porto. Com as várias Galp, Ren e outros monopólios que fazem uns certos maganos pensarem como era bom o Império mesmo em 1580 e órfãos de D. Sebastião e do Grande Luís Vaz que fez mais pela honra de ser português que muitos com dois olhos.
O FC Porto é mesmo o único bastião contra o centralismo. Aquele que não capitulou mas muitos alegados adeptos radicados na capital, desconhecidos portistas há 30 anos, acham que isso é conversa de provincianismo. Quem melhor, já não digo o sebento Eugénio Queirós, do que o sobrinho de Mário Soares para o dizer, mais a fatal evocação de Alberto João Jardim, como "Grande Adepto" da anti-Regionalização, no tal programa radiofónico, ontem mesmo?
O Porto - e o seu espírito liberal em que D. Pedro se apoiou para derrotar o irmão absolutista Miguel (nome maldito no ser português) - é uma espinha encravada no coração de Lisboa a guinchar como o cíclope Polifemo cego, no seu olho único no meio da testa, pelo destemido e insubmisso Ulisses, astuto ao ponto de embebedar o monstro numa caverna das Cíclades.
Para complemento desta ideia de País sem noção do que é Nação, ouvi ainda ontem duas coisas: também na rádio, depois de ter por muitos anos perguntado a mim mesmo se o ideal de Democracia era ter um sindicato de bancários do Norte e outro "do Sul e Ilhas", fiquei a saber que existe, hoje, um sindicato de electricistas "do Sul e Ilhas"; e na tv, esse veículo democrático por excelência onde todos anseiam pelos seus 15 minutos de fama efémera e em que temos sempre algo a dizer como canta Rui Veloso, a Maria Cavaco a receber, numa excursão à baía de Cascais, as primeiras damas do mundo espanhol do outro lado do Atlântico ali mesmo rendidas ao simpático "Portugal é muito bonito".
Essa de Cascais ser uma varanda para Portugal fez-me lembrar aquele esforçado seleccionador Scolari, ali radicado como nababo a sorver o egocentrismo lisbonense até ser facilmente identificado como "um deles", que ocorreu ao Porto "uma dúzia de vezes" sem ninguém ter dado conta de tão magnânimo esforço.
As senhoras basbaques hablando español e capazes de reduzir Portugal a Cascais é uma ideia de "compreender" a coisa bem à maneira portuguesa dos que também se encantam com o socialismo cubano quando demandam as praias de Havana e gostam da decadência urbana do que restou do colonialismo hispânico nos edifícios e os carros sem manutenção dos anos 50 da América.

E fez 10 anos que o Porto recebeu a cimeira Ibero-Americana na Alfândega com um Fidel Castro para amostra. Hoje, nem o irmão Raul se dignou aparecer por Lisboa, muito menos o Hugo Chavez a quem Sótraques, na última cimeira em S. Salvador (salvo erro), foi apresentar, qual caixeiro-viajante, um Magalhães como produto genuíno da tecnologia lusa - aquele pc tuga, originalmente formatado na Índia, para menino poder derramar água em cima e até resistente à prova de arremesso para o chão como comprovou o ex-pugilista venezuelano.
Até que dá, um ano depois de el rey Juan Carlos, para lembrar: PORQUE NÃO SE CALAM?!...
(ACT.) A data do post atraiçoou-me, sinal de que não se pode confiar na tecnologia cegamente. Esperei pelas zero horas e, entretanto, surgiu isto, no Blasfémias, dito por um resistente aos tiranetes actuais, no País e no Porto:
"Último Primeiro de Dezembro
Publicado por PauloMorais em 1 Dezembro, 2009
Primeiro de Dezembro. Entra hoje em vigor o Tratado de Lisboa. No mesmo dia em que se comemora a Restauração da Independência Nacional, os governantes portugueses alienam o poder democrático de que estão mandatados em nome do povo português. Cedem-no a um directório em Bruxelas, que não dispõe de qualquer legitimidade democrática. Esta nova União Europeia não é mais do que uma adaptação pós moderna da ex União Soviética. E o Tratado de Lisboa está para Bruxelas como as cortes de Tomar, em 1581, estavam para Espanha: momentos históricos de subjugação e vergonha".

2 comentários:

  1. Sou dos que critico e exijo um futebol mais condizente com os pergaminhos do grande Clube que somos.

    Por isso entendo que as atenuantes que muito bem apontaste, não chegam para desculpar o futebol medíocre que a equipa nos tem oferecido.

    Recordo que o FC Porto tem há várias épocas consecutivas o maior orçamento entre as equipas profissionais do futebol português.

    Não está em causa o atraso pontual que nos separa, de momento, das equipas que nos precedem na classificação.

    A intolerância dos «exigentes» portistas tem mais a ver com dificuldades incompreensíveis e primárias, a começar pela simples troca de bola, passando pelo passe, curto ou longo, pela marcação de livres directos, enfim uma série de fundamentos básicos que nem às camadas jovens se perdoam, quando mal executados de forma sistemática.

    Recuso-me a embandeirar em arco pelas vitórias, que são no fundo o que consolidam a classificação, num exercício ao estilo dos propagandistas panfletários vermelhos.

    Quero ver o meu FC Porto vencer e convencer sem estar dependente do jogador A, B, ou C.

    Fizeram-se onze contratações, aparentemente para melhorar a equipa. É disso que se trata, dar o salto qualitativo que custa a evidenciar.

    Jamais farei como a avestruz. Não serei por isso mais ou menos portista que os outros.

    Um abraço

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  2. Dragão, tudo muito bem explicado.

    Mas a sintonia de ideias, para mim, reporta-se a uma semana atrás, ou mais, talvez um mês atrás.

    Agora, a exibição com o Rio Ave foi bem melhor, diria muito melhor do que se nos vinha oferecendo o delapidado plantel momentaneamente à disposição.

    O único resultado não condizente com a valia do plantel, em cada jogo disputado no último mês, foi o empate com o Belenenses. Por causa de um golo legal mal anulado e uma série de azares e aselhices (golo sofrido também) na finalização.

    A derrota no Marítimo foi merecida e, creio eu, o toque a rebate num plantel então esfrangalhado. Esses deviam ter feito muito mais, duvido é que estivessem em condições para o fazer. Daí a derrota que acabrunhou adeptos e, acredito, também jogadores e treinador.

    Mas depois de algumas recuperações de jogadores e algum entrosamento visto com o Chelsea, mais as melhoras notórias frente ao Rio Ave, parece-me que as críticas, além de mal colocadas no tempo, são desajustadas face ao que se viu em campo no domingo e que foi muito mais do que o resultado magro e sofrido.

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