10 outubro 2011

Alberto João e Jorge Nuno na mesma cruzada

Vou fazer mais uma investida, ao de leve, nos meandros da política, do que é Portugal, da Imprensa sectária e de uma forma de ser e de estar que não é aconselhável mas não há forma de erradicar. A vitória de Alberto João Jardim na Madeira é o mesmo que as vitórias do FC Porto em Portugal (e já nem falo das conquistas europeias, que tanto engrandecem como amesquinham certos tenores e outras aves cantantes dos púlpitos capitolinos).




Pela 1ª vez desde 1978 o PSD-M teve menos de metade dos votos expressos (48%), mas não deixou de assegurar a maioria absoluta para AJJ continuar a reinar. É o termo, trata-se do reino da Madeira, ainda que subsidiado pelo reino do Continente, simbolizado, como é cariz das monarquias inamovíveis, na sua capital, Lisboa. Apesar de bombardeado desde sempre (in)directamente desde o Continente, agora com tropas resolutas a desembarcarem nas suas costas com microfones e esferográficas em punho, quais baionetas e lança-morteiros, num assédio da Imprnesa que alguém porventura designaria de "cheiro a sangue" e destituição iminente do soba madeirense, a verdade é que AJJ resiste. Bem ou mal, não vou aqui discutir. Mas nunca ninguém foi alvo de tanta artilharia, e da pesada, como o líder madeirense, com bons ou maus propósitos, por boas ou más razões.


Jardim focalizou sempre em Lisboa o mal da Madeira, pelo poder político, não pelas suas gentes radicadas na capital. A recente campanha eleitoral não foi muito diferente de outras em que, como em 2007 quando se demitiu para se fazer reeleger, protestando contra a Lei de Finanças Regionais que o PS só cretino usou como arma de arremesso à falta de astúcia política e virtude económica para resolver a situação, Jardim vociferou contra o Continente, sempre focalizado em Lisboa. Em Lisboa não gostam, nem de o ouvir nem de ver as suas vitórias. Por isso, ou não, por ser uma voz única no campo político da uniformidade de critério reduzido sempre, em último caso, à "visão de Lisboa" inclusivamente imposta a qualquer deputado eleito para a AR seja de Bragança ou Faro, do Funchal ou de S. Miguel, AJJ sabe que é na política o que é Pinto da Costa no futebol: odiado em Lisboa. AJJ e PdC dão-se bem, felicitam-se mutuamente, abraçam-se cordialmente e, por não terem pontos comuns na acção prática interdependente em que os seus interesses se cruzem, é o líder madeirense, uma vez mais para enfurecer Lisboa, o seu poder político e a magistratura mediática, a elogiar o presidente portista.




Pois nem o maior assalto mediático alguma vez visto contra um poder (democrático) instalado destituiu Alberto João, o Jorge Nuno da Madeira, o cruzado contra os infiéis. Goste-se ou não, tem a sua liderança e os seus escudeiros, defende o seu ponto de vista e o interesse que representa. Legitimamente. Ao invés, por meios amiúde ínvios, em Lisboa querem torpedear um e outro. Mas a Madeira nunca representou um mal para o Continente, ou não tivessem tantos PM e PR tido oportunidades para mudarem as coisas devidamente. O FC Porto sim, foi uma lança espetada em Lisboa, contra o domínio dos clubes da capital suportados pela Imprensa fiel e veículo de propaganda amiúde indecente.




Na Madeira, onde se criou um buraco descomunal nas Finanças pelo desenvolvimento notável da ilha que há 30 anos era um aglomerado de aldeias espalhadas pelas encostas verdejantes, há um caso para resolver mas não é o de AJJ. Vou seguir a trama no livro recentemente publicado (ao lado), que só folheei. Mas esse problema da Zona Franca da Madeira não pode ser senão o problema da insustentável leveza do poder político português que, em Lisboa, lhe deu cobro. Um maná que Jardim quer manter na ilha, artificialmente sobrevalorizando a riqueza (não) produzida na Madeira, sabendo que pode ir para outra ilha qualquer, das muitas que são paraísos fiscais, além de paraísos ecológicos, o Éden na Terra. Aliás, lapidar foi a frase de Sócrates, na sua campanha eleitoral, sobre o offshore da Madeira: ou se acaba em todo o mundo, ou deixa-se estar como está. Convém? Ao PS nem por isso, mas Sócrates não lhe mexeu. Ao contrário, pressupondo real a riqueza local adveniente de receitas milionárias que apenas passam pelo interposto da ZFM como é relatado neste livro, quis retirar-lhe receitas do Continente. Jardim protestou e aumentou para 64% o seu eleitorado em 2007, legitimado a gastar mais; descoberto o buraco em 2011, Jardim caiu para 48%, mas reina ainda porque no Continente de maior despesismo socialista não há tanta obra visível e os construtores e empreendedores adjacentes apoderaram-se das Finanças da República em vias de falência e, para já, de dolorosa distribuição de custos pelos contribuintes que pagam os desmandos de Lisboa muito mais do que os do Funchal. A súbita exclamação do buraco da Madeira é, sem ser desculpado nem eximido a exigir-se responsabilidade política e económica locais, tão patética quão ridículo foi o fechar de olhos ao socretismo impenitente que não melhorou o País e endividou a Nação.




O escândalo da ZFM não deve ser diferente do de outros offshore onde tantos escondem o dinheiro, de João V. Pinto e José Veiga por conta de uma transferência "a custo zero" em 2000, a bancos e empresários de toda a espécie. A Imprensa de Lisboa encaniça-se episodicamente, ou contra o enriquecimento ilícito (que o poder político de Lisboa não resolve, antes empata) ou contra os offshores que não pagam impostos mas absorvem lucros de empresas do Continente. Mas é o poder político em Lisboa, ao qual se submetem todos os deputados em nome da Nação una apesar de tão dividida regionalmente, que uma vez mais não resolver, tendo capacidade legislativa e poder executivo para exercer a soberania em todo o território, Madeira incluída.




No campo de jogo as coisas são de outra forma, muito mais às claras do que nos bastidores da política. Sendo tão clara a supremacia do FC Porto, de resto transmitida em cada semana pela tv, é surreal a forma rasteira como querem minar a sua hegemonia e a desvalorização transmitida aos seus feitos, na Imprensa de Lisboa de que todos os clubes acabam reféns. No jogo de poder, que para uns é legítimo mas em muitos casos vilipendiado, mesmo que legitimado nas urnas ou nos relvados, a Imprnesa tem o seu papel, mas é seguramente residual na Madeira o patrocínio de um jornal local pelo Governo Regional e ainda inconsequente a assumpção, pelo FC Porto, da Direcção do PortoCanal. Ou não tivesse PdC saído há dias a realçar a importância do que em fóruns televisivos de âmbito nacional se tece em relação ao FC Porto e de uma alegada crise de resultados e derivados em torno de Vítor Pereira. Para não ir mais longe e dizer que o que resta da Imprensa do Porto há muito capitulou face à identificação regional que era suposto subjazer à sua própria existência e que, como em muitos outros casos, tem o seu centro decisório, editorial e administrativo, transferido para a capital.




Em toda esta trama, Alberto João e Jorge Nuno continuam com todos os meios para se sentirem únicos e abraçados na mesma causa em terrenos diferentes. Um e outro contra Lisboa, há 35 anos, sendo em ambos os casos líderes de uma parte que é bem superior à do todo e toda a sua corte de invejas e mesquinhices.

Mas os leitores, como os adeptos portistas sempre em crescimento, não se deixam enganar. Sabem quem são os oportunistas e os que dão o dito por não dito. Por isso, na Madeira, os parrtidos políticos do Continente, salvo o CDS que triplicou a votação, caíram com fragor: os que se manifestam contra o endividamento (que fez a Madeira transitável e acessível que é hoje, além de mais bela ainda e definitivamente um jardim de postal, apesar da pobreza endémica que é o cancro regional mas não difere do fenómeno similar no Continente) mas encorajaram-no no Continente para TTT, NAL, TGV, tudo centrado na capital, claro. PCP, PS e BE (menos 40% de votos) perdem mais do que perdeu Jardim. Tomara no Continente se perceber e se seguir a mesma lógica. Mas a Imprensa de Lisboa enfatiza a quebra de AJJ como se fosse uma "derrota"... É como o FC Porto líder em crise...

4 comentários:

  1. Um triunfa graça aos seus méritos, o outro com dinheiro que vem de Lisboa.
    Um é frequentemente alvo de críticas internas e externas, o outro controla tudo o que é comunicação social da região (e muito cuidado deve ter quem procura emprego na região)
    Um tem a retrete penhorada, o outro gasta dinheiro que não tem, admite-o e nada lhe acontece.
    Um é conhecido por ser um homem de sucesso, outro pelas palhaçadas e discursos que pertencem a um ministro da propaganda.

    Não vejo semelhança em lado nenhum, Zé Luís. Mas já que está tudo bem na Madeira, imagino que não se importe de pagar a minha parte dos 6,5 mil milhões de euros.

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  2. Quanto à influência de cada um, a sua forma de estar, os favores que concede ou as zangas e arelias que provoca há bem mais semelhanças do que pretendes, nightwish. São iguaizinhos, podes crer.

    É tudo uma questão de proporção e do terreno onde se está.

    Quanto à parte de cada um, por mim não dou nenhum, nem para lá nem para cá, porque não contribuí para isso, apesar de saber que, como outro qualquer, vou ser esmifrado.


    Talvez queiras dar a tua parte para os 180 mil milhões de cá...

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  3. Se houvesse plano que não fosse dar dinheiro aos bancos e ficar a dever muito mais, enquanto se baixa salários na prática em 50%, até dava...

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