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12 maio 2008

Antigamente era assim


"Há horas em que as palavras não saem, por isso prefiro recordar aqui pelas palavras do
Dr. Sardoeira Pinto, registadas na História Oficial do FC Porto - Alfredo Barbosa - Edição O Comércio do Porto, um episódio que vivendo-o na infância sempre me deixou orgulhoso do FC Porto e das suas cúpulas. Este episódio, foi para mim um exemplo para a vida, de luta pelos ideais, de perseverança. Hoje sinto-me atraiçoado.

Corria o já mais ou menos longínquo ano de 1983. Ainda soprando com força os ventos de da Revolução de Abril de 1974, a Federação Portuguesa de Futebol, ao tempo presidida pelo Dr. Silva Resende, deliberara no princípio da época, atendendo à então existente plena igualdade dos cidadãos, deve ser a Final da Taça de Portugal disputada no Estádio das Antas, de modo a poder ser a Festa do Futebol levada às gentes do Porto, como prémio à sua dedicação e ao seu entusiasmo pela modalidade.

Foi-se desenrolando a época, sucederam-se as eliminatórias e surgiram como finalistas o F.C. Porto e o Benfica. Rebentou então a bomba! Na verdade, dando o dito por não dito, a Federação passou a entender dever ser a Final disputada no Estádio de Oeiras e não no do F.C. Porto, alegando como argumento essencial ter aquele um aspecto helénico, uma beleza olímpica e constituir o melhor ambiente para a realização do jogo. Pasme-se!

Entrou, como naturalmente seria de esperar, em ebulição a gente portista, justamente indignada por tamanha injustiça constituir mesmo uma espoliação! Como era sua competência, a Direcção, com Jorge Nuno Pinto da Costa à frente, protestou contra a arbitrariedade e após muitas palavras ditas, litros e litros de tinta gastos nos jornais e variadas intervenções levadas a cabo na Rádio e na Televisão, a Federação, reconsiderando, tomou uma nova posição: a Final seria disputada em Coimbra, sensivelmente a meio caminho entre as cidades dos dois finalistas... e encerrar-se-ia o assunto!

Não se convenceu o F.C. Porto e, sem desfalecer, insistiu na defesa do por si considerado seu direito absoluto e natural. Manteve o órgão de cúpula do futebol a sua posição e, para saber o pensamento dos sócios, pediu-me a Direcção para convocar uma Assembleia Geral Extraordinária.

Em noite memorável, realizou-se ela no agora inexistente Pavilhão Dr. Américo de Sá e tal foi a afluência que me cheguei mesmo a arrepender de não a ter feito em pleno estádio. Foi a maior de sempre até hoje na História do Clube e a Nação Portista compareceu em peso para, honrando o Poeta Manuel Alegre, dizer como ele "haver sempre alguém que diz não" à prepotência, à ditadura, a tudo que é tirania!...

Era extremamente delicada a situação pois cominavam os Regulamentos Federativos - e cominam! - que uma falta de comparência implicaria a descida da equipa de futebol à 3ª Divisão... e era intenção portista não ir à Final se esta não fosse realizada na nossa sacrossanta casa! Não ficou um lugar vago no Pavilhão e milhares de associados quedaram-se no exterior ansiosos por conhecer o desfecho da Assembleia. Vários oradores falaram durante horas e depois, por unanimidade e aclamação, foi votado que ou a Final se realizava como fora inicialmente deliberado ou a equipa do F.C. Porto não comparecia, sucedendo o que sucedesse!

No final da Assembleia, o abraço público que com Jorge Nuno Pinto da Costa troquei mostrou urbi et orbi ser total a unidade existente entre os corpos gerentes e a massa associativa, a mais devotada, a mais querida, a mais interessada e a mais fiel de todas.

Alguns dias depois, mais uma vez a Federação retrocedeu e, voltando novamente com a palavra atrás, remarcou a Final para o nosso estádio.

Final, diga-se em abono da verdade, que o F.C. Porto, perdeu nas quatro linhas porque nesse jogo o adversário se superiorizou. Todavia, o facto em si mesmo constitui, a meu ver, uma das maiores vitórias de sempre do Clube. Acordado pouco tempo antes de um sono de décadas, o F.C. Porto, qual guerreiro despero, espreguiçou-se, exibiu a sua força e obrigou os outros, todos eles, a mostrar-lhe o respeito que lhe é devido inteiramente. Penso mesmo que, ao contrário do que alguns, poucos, por aí vão dizendo, o grande Clube azul e branco não se portando como um mito, assumiu-se como enorme, transcendente e incomensurável realidade desportiva realidade regional, nacional e mundial como os tempos ulteriores vieram a confirmar inteiramente!

Dos entre os muitos grandes momentos vividos nas Antas durante estes 50 anos passados considero, com inteira justiça, creio, este um dos maiores..."

João Saraiva in Reflexão Portista

Sei que os tempos mudaram muito desde o ocorrido neste relato e que demonstrava a força de um monstro chamado Dragão em grande crescimento, mas como não acredito que Pinto da Costa tenha mudado assim tanto, acredito piamente que a decisão tomada de não lutar até às últimas consequências contra a sentença imposta pelo CD da Liga foi completamente contra a vontade do presidente, já que, como o próprio disse em entrevista há uns dias atrás à revista Visão, no futebol manda ele, mas na SAD tem de responder por toda a administração e não apenas por ele próprio, tendo ficado então atado de pés e mãos.

Por isto me virei e continuarei sempre a virar contra os SADicos administradores que rodearam o presidente naquela conferência de imprensa de triste memória e que pouco ou nada se preocupam com os sentimentos dos adeptos, com a honra ou com a dignidade do clube, olhando apenas e sempre para os seus interesses financeiros. Por isso aquele Pinto da Costa da conferência de imprensa, triste, quase sem reacção perante as injustiças a correrem-lhe à frente, não é o Pinto da Costa combativo que todos conhecemos e aprendemos a respeitar. Por isso, apenas ele na sua pessoa, irá recorrer.

Há quem confunda a vontade de Pinto da Costa com a esta decisão da SAD e esses são precisamente aqueles que parecem não conhecer o presidente que elevou o clube ao que ele é hoje, porque quem o conhece bem sabe que nunca aceitaria de ânimo leve uma sentença que tanto põe em causa o bom nome do FCPorto. Assim, concordar com esta tomada de posição da SAD é precisamente estar contra o Pinto da Costa que conhecemos e contra os valores que ele sempre defendeu e continua a defender para o nosso clube, aliás, ele próprio deu isso a entender ao afirmar que colocava os interesses do FCPorto acima dos seus.

Mas é o novo mundo do futebol, um mundo sem dúvida mais triste para os adeptos e para o próprio Pinto da Costa. A mim, depois de muito reflectir e que mais poderei fazer, resta-me ter de aceitar esta triste decisão, embora muito desiludido e ferido no orgulho, mas não peçam nunca para me conformar.

Agora é olhar para a frente, já que no próximo fim de semana temos mais uma troféu para conquistar, mostrando mais uma vez a este país invejoso que ganhamos, simplesmente porque somos os melhores.

06 maio 2008

F.C. Porto: troféu com taça inesquecível!

Numa altura em que o Futebol Clube do Porto enfrenta mais um clube para cumprir calendário da 1ª liga, vale bem a pena recordar um troféu com taça muito especial, guardada no museu dos grandes dragões.

Ele (o troféu) chama a atenção pela sua imponência e invulgar qualidade artística: o troféu com taça comemorativa da vitória por 3-2, em 1948, sobre o Arsenal, de Londres.

É um autêntico monumento a esses grandes dragões de 1948. É a celebração de uma das grandes vitórias do F. C. Porto, mas é antes de tudo a celebração do espírito apaixonado de um imenso conjunto de portuenses (portistas) sedentos de glória para o clube de cores azul e branco.

A vitória sobre o Arsenal ocorreu a 6 de Maio de 1948, numa altura em que os ingleses assumiam um domínio absoluto na prática do futebol. Vinham ainda com a fama de terem sido os inventores do futebol, e entre as suas equipas encontravam-se alguns dos melhores praticantes a nível mundial. Por isso, quando no ano de 1948 se anunciou a realização do jogo, no Estádio do Lima, entre o F. C. Porto e aquela que era então o mais mítico dos clubes ingleses, o Arsenal, cresceu uma expectativa desmesurada na cidade do Porto e um pouco por todo o país. Os ingleses chegavam ao Porto no seguimento de uma digressão vitoriosa pelo continente europeu, o que, se por um lado incutia mais receio, por outro lado fazia aumentar a apetência pelo jogo. Assim foi. O público esgotou o estádio do Lima e assistiu a um espectáculo fabuloso.

Com uma exibição para recordar a letras de ouro, o F. C. Porto venceu por 3-2, com dois golos de Correia Dias e um de Araújo (pois... o F. C. Porto já então era um grande clube europeu).

O jogo era particular e não estava nenhuma taça em disputa. Só que a alegria foi tanta, o orgulho foi de tal ordem, que um conjunto de portuenses (portistas) decidiu que haveria de haver uma taça a assinalar este feito.

Uma comissão de sócios e admiradores do F. C. Porto tratou de angariar fundos e encomendou a taça à Ourivesaria Aliança. Os artesões da Aliança materializaram magistralmente o projecto de João Antunes e a concepção escultórica de Marinho Brito e Albano França.

A 21 de Outubro de 1949, mais de um ano depois do jogo, o troféu era entregue à Direcção do F. C. Porto, na sede social do clube, então na Avenida dos Aliados.

O espanto foi generalizado, perante tamanha beleza. Não era uma taça nos moldes tradicionais. Compõe-se de duas partes distintas, mas ligadas pelo significado: uma "taça da vitória e um escrínio". No interior do escrínio, com dois metros e oitenta centímetros de altura, fica guardada e exposta uma taça com 90 centímetros de altura.

Para a concepção de tão bela obra de arte, foram utilizados vários materiais, como, por exemplo, ouro, prata, esmalte, cristal, madeira fina e veludo. O peso total de tão belo troféu é de 300 quilos e inclui 130 quilos de prata.

É, afinal, uma grande obra de arte, para assinalar uma vitória do "outro mundo"!

Texto de Mário Sousa chegado por email através de um amigo.

Hoje assinalam-se precisamente 60 anos desde a data desta vitória histórica e como adenda a este texto atente-se a algumas curiosidades históricas:

- O Arsenal em 1948 era campeão inglês acabado de coroar quando cá jogou, com 7 pontos à frente do M. United. Eram outros tempos em que muitos dos clubes hoje em voga não apareciam na tabela: o Burnley foi 3º, Derby 4º, Wolverhampton 5º, Liverpool 11º, Chelsea 18º e ainda clubes como Huddersfield e Grimsby no último lugar.

- Nesse mesmo ano o M. United (2º classificado atrás do Arsenal) ganhou a Taça (FA Cup) na única ocasião em que um vencedor da prova eliminou só equipas da I Divisão até bater o Blackpool por 4-2 na final.

-Em Janeiro de 1948, 83.260 pessoas assistiram ao M. United-Arsenal. É ainda hoje o recorde de público para um jogo da Liga inglesa ao mais alto nível e, com Old Trafford a reerguer-se das cinzas pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial, o jogo que é recorde do M. United foi realizado no Maine Road, hoje inexistente e que era campo do Manchester City.

Foi há 60 anos.

18 abril 2008

8-0 ao Benfica e delegado agredido

Os benfiquistas estagiaram em Vizela. Em tarde de sonho, os portistas, que tinham ido para a Quinta da Vinha, conseguiram resultado histórico. Pior sucederia nas cabinas

Os sinais exteriores de riqueza sempre consolaram. Mágoa de quase todos os portistas era, em plena década de 30, terem sede pobrezinha, pouco melhor do que a que, não muito antes, se instalara num barracão da Rua da Constituição. Os adversários, sobretudo os do Académico e do Progresso, não calavam, a propósito, murmurejos para denegrir essa imagem de clube com «palmarès», que não conseguia, sequer, sede condigna com a grandeza. Nem sequer seria preciso viver com sibaritas, na luxúria do luxo espaventoso. Mas assim também não...

Em Março de 1933 o F. C. Porto deu mais um passo em frente, inaugurando sumptuosa sede, na Praça do Município, ao cimo da Avenida dos Aliados. Um espaço, enfim, à medida da grandeza do clube. Vastas salas mobiladas e decoradas a rigor, que impressionavam esplendidamente. Sala de troféus, índice do esforço e do valor dos seus atletas, repleta de taças e troféus. Ginásio amplo e moderno. Sala de espera — e dependência destinada a perpetuar a memória de dois dos maiores jogadores portistas do passado: Tavares Bastos (que, dois anos antes, morrera de tuberculose) e Velez Carneiro — e a contrastar, fazendo pendent, a figura viva, apaixonante, de Norman HalI, com a mesma expressão que ele mostrava ao natural, sempre sorridente, sempre de sorriso posto. E um grande salão de bilhares, luz esfuziante e bem disposta, apelando à diversão, apelando ao convívio, entre sócios, entre portistas.

Empolgados e orgulhosos viviam, pois, os adeptos do F. C. Porto. No desfrute doce do seu prestígio. Sentimentos que mais se aqueceram, que mais se exaltaram quando, em Maio de 1933, o F. C. Porto humilhou o Benfica, que acabara de se sagrar campeão de Lisboa, nos quartos-de-final do Campeonato de Portugal.

Sabendo que os lisboetas estavam em estágio em Vizela, havia três dias, na antevéspera do jogo os futebolistas do F. C. Porto foram colocados em clausura para repouso na Quinta da Vinha, nos arredores da cidade, onde se instalara já o Lar dos Jogadores, que albergava todos aqueles que não eram portuenses.
Regresso de Szabo aos... 8-0 os insultos, as agressões e a fuga.

Porque Castro, lesionado, não pôde alinhar, jogou... Joseph Szabo, o treinador, a médio. E como se fosse boa sina, repetiuse o resultado da sua estreia de azul e branco vestido: vitória por 8-0! O árbitro fora o espanhol Pedro Escartin, que, alguns anos depois, se tornaria cronista de «A Bola».

Dentro de campo, aparentemente, tudo bem. Contestação ao árbitro também não se notou. O alvoroço e as cizânias rebentariam depois do apito final de Escartin. Laurindo Grijó, director da FPF e delegado ao jogo, dirigiu-se à cabina do Benfica, onde o ambiente era, naturalmente, de cortar à faca, envolvendo-se em polémica verbal com Manuel da Conceição Afonso, o presidente-operário do Benfica. Trocaram-se insultos, Grijó apequenou o Benfica e ofendeu o presidente, um dos jogadores suplentes agrediu-o. Grijó tentou a fuga para o campo, mas as agressões multiplicaram-se. A FPF, reunida em Coimbra, resolveu suspender até ao Congresso os jogadores Eugénio Salvador (esse mesmo, o actor), Ralf Bailão e Miguel de Oliveira, preparando-lhes a irradiação, pura e simples, para então.

Reagiu o Benfica, denunciando o nome do agressor, António Guedes Gonçalves, anunciando, também, que decidira já suspendê-lo de toda a actividade. A começar, precisamente, no dia do jogo da segunda «mão», com o F. C. Porto.

Como Eugénio Salvador se salvou da irradiação.

Espanhol seria, também, o juiz da partida nas Amoreiras: Ramon Melcón. Desta feita a vitória coube ao Benfica, por 4-2, mas a desvantagem trazida do Ameal era, naturalmente, fatal. E mais que a suave consolação dos benfiquistas, a partida ficaria marcada por incidentes vários.

Respigo da crónica de Júlio d'Almeida, na «Stadium»: «O F. C. Porto é uma equipa digna de se ver jogar. Mais uma vez a sua classe se afirmou de maneira insofismável. Viu-se privada quase de início do seu «capitão», Valdemar, que teve de sair do campo depois de carregado deslealmente por Pedro Silva. Censurável o procedimento deste jogador, que levou todo o primeiro tempo na preocupação do jogo violento e caça ao homem. O mesmo devemos dizer de Vítor Silva, capitão do Benfica, que por vezes, abandonando a sua grande classe, se entregava ao jogo incorrecto. Melcón, que desde o início vinha fazendo reparos ao jogo de Vito, resolveu expulsá-lo, quando este carregou Siska.» Gasolina nas labaredas! Os adeptos benfiquistas protestaram a decisão de Melcón, o capitão recusou abandonar o campo, o árbitro pediu ajuda policial, nervos sentiam-se à flor da pele, valeu, na circunstância, o poder magnético e o fair play de António Ribeiro dos Reis que, como Vítor Silva insistindo em não acatar a decisão de MeIcón de abalar para as cabinas, se abeirou do jogador, exigindo-lhe que saísse. Pegou-lhe no braço, acompanhou-o na caminhada, dandolhe azeda lição de moral.

Entretanto, a FPF reconsiderou e decidiu ilibar Eugénio Salvador, Ralf Bailão e Miguel de Oliveira. O F. C. Porto contraatacou, cortando relações com o Benfica. Pelo que acontecera no Ameal e pelo que acontecera nas Amoreiras. Os dirigentes do Benfica, em comunicado, lamentaram que se quebrasse assim o óptimo relacionamento de longos anos, crivando «a actuação apaixonadamente hostil e cega de uma parte aguerrida da imprensa do Norte, que não pode, por isso, ver os telhados de vidro que por ali proliferam, alimentando possivelmente uma política de conveniências de ocasião e que criou um péssimo ambiente, a que não se puderam eximir os dirigentes do F. C. Porto».

In «abola»

Texto copiado do Forum do Portal dos Dragões

PS: Em comentário coloquei a crónica de hoje
do Rui Moreira no jornal A Bola.