08 janeiro 2010

A memória de há 25 anos de quem fazia as coisas por outro lado...

Um Varzim-Benfica que de 1-0 em jogo abandonado por garrafada em "liner" ficou em 0-1 no jogo repetido em que, dantes como agora, se mandavam às malvas os regulamentos de disciplina... e a Verdade Desportiva

Evoquei aqui, a 18 de Dezembro último, para aquecer o pré-clássico que ferveria com o Bacilo Baptista e entraria em ebulição na parte escura da Luz, uma golpada benfiquista de 25 anos antes, em Dezembro de 1984. Uma história macambúzia que o Record trazia na sua edição de 5/12/1984 sobre uma denúncia feita por alguém que não se provou existir, tal como era falsa a eventual corrupção de árbitros por causa dos títulos portistas de 78 e 79 e até o alegado roubo de igreja que quiseram transferir de Benfica para as Antas era relativo a um ano em que o Porto não foi campeão.

Pois dias antes desse "nu... tícia", a 2/12/84, o Varzim-Benfica foi interrompido com 1-0 para os poveiros, golo de Júlio Sérgio (salvo erro) que havia sido formado no FC Porto (e vi-o jogar nos juniores).

É claro que já houve muitos jogos interrompidos para o Benfica e repetidos depois. Por exemplo, aquele Belenenses-Benfica de 1959 que se jogou pela segunda vez mas acabou com o empate tal como o jogo (antes) protestado e cujo desfecho deixou, teimosamente, os encarnados em desvantagem face ao FC Porto à entrada da última jornada e do famoso Benfica-CUF do Calabote e o Torreense-Porto que deu o título por um golo aos indomáveis portistas.

Ainda há dias lembrei, a propósito de Pedroto, um Sanjoanense-Benfica, nos idos de 60, também ganho na repetição e com golo de penálti para ajudar à missa. "Eles" dizem, enfim, que não eram ajudados e tal, mas a gente sabe como é e a História não é reescrita a não ser por gente da tarimba estalinista.

Pois vou contar outra história, para não pensarem que é um caso ou outro isolado. A propósito da visita de sábado do Benfica e Vila do Conde, a 9/1/1985, cumprem-se (outros) 25 anos, e o Benfica teve direito a repetir o jogo na P. Varzim. E ganhou-o com golo de Diamantino.

Pedroto, esse, falecera no dia 7 de Janeiro e os poderes fátuos do futebol em Lisboa já tinham feito das suas, again and again.

Quando um fiscal-de-linha ou bandeirinha, como então se chamavam, levou com uma garrafa de cerveja de litro na tola, jorrando sangue abundantemente do crâneo do infeliz António Jorge, o 1-0 para o Varzim, pela meia hora de jogo, de nada valia.

Aparentemente, naquelas cruzadas pela Verdade Desportiva como o endurecimento de penas no Regulamento Disciplinar da FPF (então não havia Liga a organizar os campeonatos), uma coisa do género do que aconteceu na Póvoa estava assim tipificada no art. 106º:
- derrota
- suspensão (do campo do clube cujos adeptos fossem responsáveis pelos desacatos) de 6 a 12 jogos
- multa de 20 a 100 contos (100 a 500 euros hoje).

Era assim, mas não foi nada.

Entretanto, apurou-se logo no estádio que o "bêbado" era apenas um puto de 16 anos, guarda-redes nos juvenis do FC Foz. Tinha até jogado de manhã nesse domingo e foi ver o seu Benfica à Póvoa. Chamava-se Paulo Jorge e, claro, os papás garantiram que ele era incapaz de matar uma mosca e tal. Proteccionismo parental e proteccionismo federativo, não houve castigos e o Benfica lá voltou, há 25 anos, a ganhar um jogo que no momento da interrupção (32') estava perdido (desde os 23' com o golo de Júlio Sérgio).

Era assim nos anos 80 que diziam que o Porto controlava tudo mas os poderes, que Pedroto denunciava, estavam todos em Lisboa onde a tríade Benfica-Sporting-Belenenses se revezava na presidência da FPF.

Valeu que nessa época, falecido Pedroto e com o delfim Artur Jorge (e Futre...) a comandar, o Porto não deu hipóteses. Foi campeão com muita antecedência.

Curiosamente, a mostrar inegável compreensão para com a vítima António Jorge, a comissão que nomeava os trios de arbitragem nomeou-o, um mês depois, para um Porto-Portimonense. A curiosidade é que o jogo disputava-se... na Póvoa de Varzim. Tudo porque, além de uma suspensão nas Antas muito comum na época, o jogo tinha sido adiado em Dezembro porque 50 mil portistas acorreram à cidade poveira e o estádio rebentou pelas costuras.

A história do futebol português, no âmbito disciplinar, da moralidade, da Verdade Desportiva, foi sendo escrita assim. Vá lá que nem sempre se escreveu direito por linhas tortas.

Foi há 25 anos, faz amanhã, e até Pedroto devia ter dado voltas na campa.

4 comentários:

  1. Zé Luís,

    é disto que eu gosto de ler, aqui.

    Ferramentas para o combate.

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  2. Olhando para as botícias de hoje não posso deixar de ficar perplexo. Tanto a Liga como a Bola estão a esticar a corda ao limite e o objectivo é sem sombra de dúvidas haver mais portistas a perderem a cabeça.

    E se o que a bola vem fazendo não é mais do que dar continuidade à distorção completa do código deontológico e provocar as hostes portistas, a Liga continua a gozar connosco e nem as suas próprias regras cumpre. Mas o que é isto?!?!

    Amanhã o slb joga com 13 ou 14 (vestidos de vermelho) e ninguém diz nada nem se importa? Depois das m** dos castigos selectivos temos mesmo de continuar a levar com esta pastilha? E se em vez de dois jogadores suspensos fosse a equipa toda? Já havia alguma tomada de atitude? Mas nós somos sacos de pancada, por acaso? Caramba!

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  3. O que vem escrito no O Jogo de hoje é esclarecedor, demasiado até.

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  4. Obrigada Zé Luís!
    Também me lembro do Júlio Sérgio jogar nos juniores ao lado do Semedo.
    Saudações Portistas
    duck
    p.s.jogamos na Povoa contra o Portimonense e contra o Vizela!

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