Do tiki-taka fala-se há meia dúzia de anos e parece que já lhe prognosticam o fim destinado às relíquias, por mais douradas, a cobrirem-se de pó. Não o creio, ainda que a magnitude da sua exuberância tenha tido o seu apogeu em 2009-2011 com a melhor equipa de futebol de sempre, o Barça de Guardiola, pelas conquistas e exuberância e constância alcançadas.
O que parece imorredoiro, e não merece reparos de maior nem lamentos de tão nefasta durabilidade, é o catenaccio, o moderno autocarro e uma desfeita moral, ética e técnica que pode estourar na cara do mais pintado, que o diga Mourinho.
Entretanto, temos o Benfica ao estilo autocarro e Jesus sucessor de Mourinho. O Benfica tem tido uma sorte danada e vai ganhando à italiana. Daí rir-me com os lamentos da Juventus, como se o que condenam, com justeza e sem miasmas, no jogo do Benfica não fosse imagem de marca de equipas transalpinas, desde a Juventus de quase sempre ao Inter... de Mourinho.
Não se cometem injustiças com o tiki-taka, pode-se reinar com a falibilidade humana de um jogo feito por homens e não por máquinas, cerebral e racional e não mecânico e orquestrado até com artimanhas mil.
Perceba-se o que se dizia de Mourinho triunfante com o Inter em 2010, ante o Barcelona de Guardiola, e o que se diz agora com o Chelsea, onde Mourinho sacrificou todo o talento à iminência de um resultado que nem sempre se consegue da pior maneira possível.
Quem elogiou o Inter retranqueiro e feliz, manhoso e injusto campeão europeu, pode limpar as mãos à parede e assoar-se à ética apregoada e às loas tecidas ao de mais feio no futebol, o feio que era o catenaccio já nos anos 60 e que as equipas italianas porfiavam numa imagem de marca que não era propriamente positiva.
Com uma equipa imensamente rica, Mourinho destruiu o jogo do Chelsea. Hazard: "Não somos de jogar futebol".
Talvez um dia no Benfica percebam isso e se venham, como a Juventus, lamentar de velhos truques.
Certo é que raros conseguem emergir na história do jogo como brilhantes, abundam os mais certinhos que jogam no limite das leis e da compreensão e afecto e vão ganhando aqui e ali.
O autocarro nem sempre ganha, aliás ganha até poucas vezes. Pode durar, mas não faz longos trajectos, muito menos com registo na memória a não ser pelos piores defeitos.
O fracasso de Mourinho, já apreciado em Madrid, é o epítome de toda a discussão sobre o futebol moderno. Ou nem tão antigo. Outros se seguirão, sendo certo ser mais fácil defender do que atacar mas em qualquer dos casos é sempre preferível fazer bem uma coisa ou outra, melhor se se juntarem as duas.
A final da Champions em as melhores equipas da Europa, indubitavelmente, ainda que fastidiosamente por não permitir emergirem outros finalistas restritos a um círculo cada vez mais elitista e inalcançável. A final da Liga Europa leva as duas piores das semifinais. Que ao menos prevaleça a que é desta competição, porque a degradação dela está manchada com repescagens indignas.
O modelo das competições devia estar mais em causa do que o figurino táctico e a maestria do jogo.
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