19 março 2008

A última falácia

A discussão sobre o alegado fora-de-jogo de Tarik no Mar volta a arrastar o debate para a qualidade das transmissões televisivas e os meios tecnológicos de apoio para julgamento de lances controversos.

O IFAB (International Board, guardião das Leis do Jogo) há dias reunido na Escócia vetou, mais uma vez e talvez em definitivo, o recurso a meios tecnológicos, optando por reforçar a vertente humana de auxílio “no campo” com a experiência de dois juízes de baliza que possam verificar se a bola entra ou não.

A FIFA exerce o seu magistério de influência, ciosa do seu poder inabalável por muitas carpideiras invejosas que barafustem à sua volta. Apesar de ter firmas de renome e coisas testadas (bola com chip, por exemplo) para seu gáudio e gratuito, faz bem em não deixar a tecnologia intrometer-se no mundo do futebol. O princípio basilar de não garantir-se que em todo o mundo, de forma igual, o futebol seja jogado e julgado da mesma maneira é suficiente para sustentar a sua posição incontestável: não tem de zelar por uma específica NBA ou NFL como na América, porque só o futebol é universal (205 federações inscritas, menos que os filiados na ONU).

Muitos não concordam, mas quem advoga o recurso a tais meios não faz muito por eles ao seu serviço. Exemplo concreto o das televisões que transmitem os jogos mas pouca tecnologia oferecem, além da inserção de dados estatísticos, com o paradoxo de pouco rigor conferirem porque, com critérios duscutíveis, são coisas… humanas.

O golo de Tarik no 2-1 portista frente ao Leixões foi algo discutido por uma suposta imagem da transmissão da TVI que nada prova e até se afigura como a última falácia de quem pretensamente quer trazer “verdade” ao jogo.

Erros de trazer por casa (tv’s)
Sem a imagem em causa ser minimamente esclarecedora, antes é passível de outra interpretação, não faltou o veredicto inabalável do “golo irregular” que muito ofendeu adeptos desta Bancada.

Para uma boa transmissão televisiva têm de ocorrer dois factores:

- câmaras bem posicionadas para as situações de conflito/polémica como a linha de fora-de-jogo, bem como uso das mesmas para situações posicionais ou disciplinares, neste caso chega ao pormenor (grande plano) no outro ponto deixa a desejar.

- honestidade, profissionalismo, verdade a propor as repetições de jogadas, a cargo do realizador que dirige a selecção de imagens captadas de diversas câmaras.

Mas falhas comprometedoras ocorrem por culpa própria:

- as câmaras falham em certos espaços do campo

- as repetições propostas são seleccionadas e não é dado ao público todos os lances, mas só alguns.

Neste segundo aspecto, é já moda da casa, só em Portugal pelo que julgo conhecer de vários países, que muitos lances sejam omitidos: pela parcialidade, pela incompetência, pela desonestidade e falta de profissionalismo de quem verifica lances de vários ângulos, de várias câmaras

No primeiro caso, é incrível a falta de capacidade de uma estação televisiva não garantir que nos dois extremos do campo estão posicionadas câmaras que cubram o mesmo espaço próprio. Para não falar em câmaras do lado oposto do campo, em falta por todo o País.

Foi o que sucedeu no Estádio do Mar.

Uma câmara verificou, sem necessidade de recurso gráfico mais ou menos berrante (zona vermelha), a enormidade de lances de fora-de-jogo mal assinalados ao FC Porto na 1ª parte.

Na 2ª parte e para o golo de Tarik, a câmara nº 1 só segue a bola e registou o passe de Lucho para a frente de Tarik mas em dois momentos (passe e recepção), mas não havia na outra metade do campo uma câmara posicionada de forma “geometricamente” precisa para avaliar a licitude da jogada.

Logo, quem tem responsabilidades de transmissão televisiva falha claramente e prejudica o produto que quer vender. Mas isso é do foro do seu negócio mal aproveitado, a sua imagem, não pode servir de intoxicação da opinião pública embora cada um seja livre de avaliar e emitir a sua opinião.

Por outro lado, a inexistência eventual de condições de trabalho, a dificultar o melhor posicionamento da câmara, confere a posição insofismável da FIFA: nem todos os estádios têm condições idênticas e ideais para se julgar por meios tecnológicos jogos de futebol nos quatro cantos do mundo. Mas ninguém parece importar-se com isso. Acham que não e nada a fazer.

Depois do preâmbulo e enquadramento das situações técnicas, vamos à sentença.

Veredicto e imprudência
Já não bastam exemplos de futebol falado sem recurso a imagens e, até, de comentadeiros que debitam palavreado mesmo sem terem visto os jogos!

A dificuldade de julgamento dos lances vem sendo adulterada por ex-árbitros, irrefutáveis nas suas apreciações ao verem e reverem diversas repetições que tornam fácil e cómodo julgar, ao arrepio do bom senso de defenderem colegas do apito que têm de decidir nas fracções de segundo que os putativos comentadores nunca superaram nos julgamentos que no campo lhes coube fazer.

Pior, ainda, são amiúde veredictos inabaláveis em condições manifestamente insuficientes para um juízo de valor, de resto sem ter-se em conta a falácia de certas imagens e grafismos que lhes sobrepõem.

A linha e a zona vermelhas não aferiram o fora-de-jogo de Tarik, porque Bruno China (nº 14 do Leixões) está na linha de Tarik. No mínimo, essa dúvida devia prevalecer.

Mas falta saber como é traçada a linha, sem referências quanto à intersecção que ela deve ter nas laterais do campo, que de facto não se vêem, tal como nem se sabe se a linha imaginária é sequer paralela à linha de meio-campo, também invisível.

Ou seja, a linha pode ser oblíqua porque não há referência espacial que determine que ela seja realmente uma longitudinal do campo, obrigatoriamente perpendicular às laterais. Um jornal desportivo, há uns anos, não se coibiu de adulterar uma imagem, metendo uma linha, da sua lavra, oblíqua para que o jogador em situação irregular coubesse na zona “legal” da acção da qual deu o golo (Acosta, Sporting-Belenenses, in Record, 2000).

A falácia ficou na TVI, no momento em três tempos do catastrófico relatador: primeiro não diz nada da (i)legalidade do lance, regista o golo; depois com o sombreado vermelho diz ter “muitas dúvidas” na posição de Tarik; por fim, revendo a imagem nada esclarecedora, ousa dizer “para mim é fora-de-jogo”.

“Escola” conhecida, de resto, mas não de seriedade e isenção jornalística. Escala, também, reproduzida nos jornais, propondo essa imagem difusa (ver o Tribunal d’O Jogo) e sentenciando haver fora-de-jogo.

A linha imaginária não foi sequer precisa, apesar de utilizada, nos lances da 1ª parte com vários fora-de-jogo mal assinalados: a câmara assegurava a boa cobertura do campo e verifica-se facilmente, sem recurso a grafismo simplório até porque também nunca essa linha foi vista intersectar as duas laterais do campo, que o árbitro-auxiliar ‘asneirou mal e porcamente’.

À falha de posicionamento da câmara na outra metade do campo deitou logo tudo a perder. A falta de raciocínio (ou os ex-árbitros já julgam por dedução que abominavam no activo) levou a uma precipitação e leviandade que alguns escarrapacharam em título de jornal: golo irregular.

Imagens virtuais sensatas mas criticadas
A inexistência de referências espaciais precisas, que permitam grafismo com rigor geométrico, foi a justificação para não haver certos lances nas antigas imagens virtuais, um exclusivo da RTP nos anos 90 mas caídas em desuso sabe-se lá porquê e com críticas de vários quadrantes que agora mudam agulhas em cenários menos fiáveis ou de fiabilidade mais discutível.

As imagens virtuais registaram muitos lances sem margem para dúvidas, como o golo de Clayton de canto directo na Luz. Escribas de então ou se desculparam tardiamente ou minimizaram o efeito da confirmação que hoje tanto reclamam. Bastava a linha de baliza e a concomitância da trave sobre a mesma, para se perceber se a bola entrou. (ver imagem alusiva)

Tivemos, em contraponto, a certeza de alguns do alegado golo de Petit a Baía na Luz, sem prova alguma fotográfica ou televisiva a confirmar as duas incompetências naturais que aqui se provam: falha no posicionamento das câmaras e juízos de valor precipitados e irrazoáveis quando comentários prudentes deixariam mais limpa a avaliação. Ao invés, para a história ficou o parolo de serviço (Miguel Prates na SportTV) apontar: “Pareceu-me claramente que a bola entrou” (sublinhado meu).

A imagem da TVI, sem provar coisa alguma, cai no anedotário do futebolês e releva, de novo, a precisão que daí se retira mas não merece enfoque: em vez de esclarecer, só confunde; e a inabilidade de quem relata continua impune porque, como o realizador responsável pelas repetições, um editor não percebe nem de texto nem de imagens e ninguém, no dia seguinte, na Redacção, percebe o que correu mal para evitar a recorrência de erros que fazem a televisão deteriorar o produto que lhe serve de âncora até de existência.

p.s. – tão ou mais falado que o golo de Tarik foi a entrada de Bruno Alves com o tom catastrofista genuíno de certas causas: anúncios de sumaríssimos, marcação de campo de luta alegadamente pela verdade, mas a intoxicação voltou a ser fatal para os venenosos. Quando em matéria disciplinar tanto continua por dizer e fazer.

12 comentários:

  1. Completamente de acordo.
    Quando é a favor dos clubes da capital do império, deve seguir-se as recomendações da FIFA;benefíciar a equipa que ataca.
    Quando se trata do F.C.Porto deve fazer-se ao contrário.
    Ontem tive pena que o Dr. Rui Moreira(que esteve bem) não tivesse reagido quando o A.P.Vasconcelos disse:"aquilo foi uma patada" embora o significado seja o mesmo, podia ter dito pontapé.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. vi o comentário num blog e fui verificar.
    No lance do golo, reproduzido no site futebol.videos.sapo, se pararmos a imagem no segundo '6 é possível verificar que há um jogador do Leixões (nº 14 ?) que coloca o Tarik em jogo.
    está encostado ao lado direito da defesa leixonense

    ResponderEliminar
  3. offshore, este tipo de fora de jogo em que é preciso um paquimetro sao ridiculos, que vantagem tira um jogdor se estiver 10, 20 ou 30 cms em infraçao.
    Gritantes foram os 1ºs 3 foras de jogo, assim como gritante é o artigo do Joao Querido Manha hoje no Record, omg, como é possivel haver alguem que tem direito de antena e uma pagina de jornal para debitar tanta porcaria.

    ResponderEliminar
  4. Não me parece, off-shore, que essa imagem (a mesma imagem da TVI) seja esclarecedora, nenhuma o é.
    Há um factor crucial ao parar a imagem, em dois tempos:
    1) Nunca se percebe a saída da bola dos pés de Lucho e a aceleração simultânea do Tarik, a contar com o passe (intuição, concentração dos jogadores);
    2) Quando, parando a imagem, a bola sai dos pés de Lucho (já no ar), a fracção de segundo de tocar a bola e levantá-la já fez Tarik mover-se, logo adiantando-se de forma preciosa, o que se chama escapar à linha do fora de jogo.
    Isto é do foro comum, da percepção das jogadas, o que impõe, sempre, uma atitude de reserva e que deixa prevalecer a recomendação da FIFA de em caso de dúvida favorecer quem ataca.
    Como nenhuma imagem é esclarecedora, o máximo a fazer seria evitar dar o golo como irregular, o mínimo deveria ser aceitar a rapidez da jogada imperceptível ao olho humano para uma decisão técnica inabalável.
    Mas é a própria máquina, a câmara, que não está onde devia estar.
    A linha imaginária, o sombreado vermelho, nada esclarece, só reforça a dúvida de mais 10, 15 centímetros adiantado, será isso?
    Mas os golos do FC Porto são sempre duvidosos.
    No CM de ontem um típico agitador de massas falava em 50% de golos de Lisandro em fora-de-jogo...

    ResponderEliminar
  5. Espero que a SAD do FCP tome uma posição contra a campanha jornalistica e de vários opinadores contra o "bárbaro" B.Alves!

    Gostava também que o Dr.Rui Moreira desse uma olhadela ao blog "SOU PORTISTA COM MUITO ORGULHO". Estão lá videos muito interessantes sobre o Leixões-FCP. E não pq tenha estado mal no programa de ontem. Sinceramente gostei, apesar do termo patada, normalmente usado pelo AV para adjectivar as entradas dos adversários. Só foi pena ter deixado passar a frase " se o Bynia leou 6 jogos, o B.Alves devia ter levado 6 ou 7" (como se houvesse comparação possivel).

    P.S.- sem que haja justificação, e por isso, foi o jogador a quem dei a pior nota (4), ninguém viu que o B.Alves em todo o lance está a olhar para a bola, nunca para o jogador do Leixões. Cuidado, B.Alves, és um alvo a abater!

    ResponderEliminar
  6. zé luis, não concordo.
    parando a imagem no segundo '6 vemos a bola já no ar e o defesa leixonense a colocar o tarik em jogo.
    Penso que é uma imagem esclarecedora.

    ResponderEliminar
  7. off-shore, eu nunca tive dúvidas que o Tarik estava em jogo, aliás no estádio apercebi-me disso e porque estava na bancada oposta à das câmaras de tv vi o lance de frente, isto é a saída de bola do Lucho (na direcção em que me encontrava) e a corrida do Tarik com o defesa do Leixões estático na direita. Estava sensivelmente na posição do árbitro-auxiliar.
    Mas, é como digo, há sempre possibilidade de outra interpretação, mas acho muito difícil o julgamento pela imagem, a comprovar como é complicado decidir no momento uma situação daquelas em que, na dúvida, precisamente, favorece-se quem ataca.
    O que parece errado, indiscutivelmente, é o veredicto inabalável de golo irregular, que de todo não devia ser dado. Mas sabemos o que certas casas gastam e gostam de denegrir os golos e as exibições do FC Porto.
    Ainda assim, venha alguém provar a "legalidade" daquela linha imaginária, que serve para muito boa gente fazer juízos definitivos à 4ª repetição.
    Para alguns, a história do resultado vai resultar de um golo (alegadamente) irregular. É tão simplório como querer atribuir má intenção (julgamento, opinião) á entrada do Bruno Alves.
    Mas a história do resultado vai esquecer que o FC Porto podia ter marcado 4 ou 5 golos com jogadores isolados mas aos quais foram apontados fora-de-jogo inexistentes.
    Esta amarra mental é a que ata os maus espíritos que por aí pululam para atacar o FC Porto.
    Tomando ainda como exemplo os fora-de-jogo mal ajuizados em prejuízo do FC Porto, que dariam uns 5 golos, por aí se demonstraria a falácia de que fala o João Manha no escrito que aqui alguém lembrou hoje, mais uma vez com grande indignação.
    João Manha aponta no Record que o FC Porto marcou 5 golos em fora-de-jogo ou irregulares (com a mão). Mas como jornalista ele nunca foi exemplo de isenção e seriedade intelectual, nem em jornal nem agora por conta própria. E tem maus exemplos de lances comprovados na televisão e contrários à sua apreciação no campo.
    De qualquer modo, se 5 golos foram irregulares, representam 12% dos 41golos portistas. Já é bem menos que os 50% de golos em fora-de-jogo só de Lisandro (seriam 9 ou 10) que Rui Cartaxana apontava ontem no Correio da Manha.
    Mas com o rigor que lhe é habitual, o João Manha vai brindar os portistas com 5 golos mal anulados ao FC Porto e os 6 penáltis por marcar só esta época, para não falar de golos em fora-de-jogo contra o FC Porto. E muito menos falar de como golos irregulares do Benfica e do Sporting não aparecem na Liga da Falsidade do Record.
    Estas coisas puxam sempre a ideia da conversa de café que no campo profissional os jornalistas deviam abster-se se julgassem casos e situações com seriedade e até conhecimento.
    Da conversa de café passa-se ao vinho da ira...

    ResponderEliminar
  8. Estou ao lado da introdução de meios que possam auxiliar no julgamento de jogadas complicadas, casos evidentes na avaliação dos fora de jogo e nos lances de dúvida nas áreas ou nos que rondam a linha de baliza...Sabemos a desproporção de meios entre Clubes mais bem preparados e os outros e entre o Futebol levado a efeito no Mundo desenvolvido e o que se pratica nos Países mais pobres...Todos estes argumentos são colocáveis mas isso não implica o abandono da possibilidade de elevar os meios de Juízo nos Países em que isto fôr possível...Devemos tentar nivelar sempre por cima e com isso tentar trazer até nós os que estão mais desprotegidos...Portanto não creio ter sido uma boa medida esta da FIFA, embora ela tenha atenuantes não creio que os argumentos aduzidos sejam sérios...Podiam por exemplo aplicar estas medidas -ainda que experimentalmente- nas fases finais dos Campeonatos Europeus ou Mundiais e por exemplo nas Ligas Europeias de Clubes como a Champions League ou a Taça UEFA...Os que aqui em Portugal são os seus mais acérrimos defensores carecem de uma coisa importante: honestidade e isenção intelectual! Ontem mais uma vez vimos isso, figurinhas de pretensa integridade fazerem comparações incomparáveis de acordo com as suas inclinações afectivas...Aquele narigudo do APV é um caso típico de ódio visceral ao FCP...Não admira que aquele frustrado seja do Barcelona quando o seu Benfica anda pelas ruas da amargura e volte ao ponto de partida sempre que a esperança se lhe renova...Oportunista! Eu posso afirmar para que conste, fui sempre do FCPorto nos bons ou nos maus momentos...Volto a perguntar, não foi um Vasconcelos de seu nome que foi lançado à rua no Rossio por estar escondido num guarda-fatos, durante a revolução de 1640?...Doutor Rui Moreira, pode tentar saber isso?...E já agora faça um dossier tipo Pôncio Monteiro para lhes espetar nas trombas, sempre que eles comecem com estas conversas de xaxa...Quanto ao fora de jogo -sim ou não?- do Tarik, mandam as regras internacionais que em caso de dúvida se dê o benefício em favor da equipa que ataca...Para quê discutir mais?...

    ResponderEliminar
  9. Já que para os nossos adversários, o veredicto dado por estas linhas é definitivo:

    http://youtube.com/watch?v=LtSiUP41ipM

    Menos uma polémica no futebol português.

    ResponderEliminar
  10. e se o Deco voltasse po POrto como insinuou Rui Moreira no Trio??

    ResponderEliminar
  11. "CMVM multa José Veiga em 30 mil euros"...
    -Saiu do Benfica, já está a levar porrada!...Que coincidência...

    ResponderEliminar