Bibota Gomes era mesmo d’ouro
Muitos não assistiram e muitos não lembram que o FC Porto não ganhava nada, de novo, há uns anos, desde o bis de Pedroto em 78 e 79. O mestre morreria a meio desta caminhada triunfal, em Janeiro de 1985, mas o discípulo que elegera para novo ciclo de conquistas sabia da poda. Artur Jorge, que foi adjunto do Zé do Boné em Guimarães após deixar as Antas no Verão Quente de 1980, tomou em mãos uma nova equipa, ambiciosa, com muita juventude e produtos da cantera portista (João Pinto, J. Magalhães, Semedo, Gomes) e que teve de fazer acertos com as saídas, intempestivas, de António Sousa e Jaime Pacheco para Alvalade de onde Pinto da Costa foi resgatar um puto de nome Paulo Jorge dos Santos Futre que Toshack se aprestava para emprestar à Académica…
A maioria não sabe da sequência, tantos reclamam por ela, mas foi dos mais emblemáticos momentos do verdadeiro começo da superioridade que se tornaria hegemónica do FC Porto. Um quarto de século depois Jesualdo obteve 11 vitórias fora e já ninguém estranha. Mas 25 anos antes de Artur Jorge, em 1949-50, o FC Porto só em Elvas somara uma vitória em 13 saídas (mais um empate em Guimarães), registando 11 derrotas em viagem…
Pois é, 25 anos é o tempo de uma geração, várias passaram e a história mudou, ou pelo menos conta-se de outra forma para quem for sério e honesto. Em 1984-85, depois de anos a ver de novo Sporting (2) e Benfica (3) campeões, o FC Porto iniciou, paulatina mas firmemente, a sua ascensão ao que é hoje. O Benfica de Eriksson – a última grande equipa do Benfica e que bisou campeonatos (83 e 84) – finou-se e julgaria a sua hegemonia histórica inatingível.
Em 1984, o FC Porto conquistara a Taça de Portugal, sob o comando de Pedroto, e baqueara na Taça das Taças em Basileia, já com António Morais no banco pela doença do mestre. O futuro, porém, estava preparado, com muito produto local e um Gomes a bisar a Bota de Ouro. Depois dos 32 golos que em 82-83 lhe valeram o primeiro título de máximo goleador europeu, Fernando Gomes caprichou (36) e fez quase metade dos 78 golos da equipa nos 30 jogos do campeonato – mas só alinhou em 22 e apenas esteve três jornadas sem marcar quando a equipa “facturou”.
Ao apontar 27 golos em 14 jornadas consecutivas, Gomes lançou o mote para uma época em cheio em que a máquina montada por Artur Jorge fez 32 golos em 17 jogos sempre a marcar. Pelo meio, um firme 4-2 na Luz deu para arrecadar mais uma Supertaça.
Tal como agora com Jesualdo, Artur Jorge obteve 11 vitórias consecutivas e uma isolada das restantes, na última jornada em Portimão. Dois empates fora a zero golos, um em Alvalade que fez interromper as 11 vitórias fora de casa, apesar de Futre ter rematado ao poste na 1ª parte e várias oportunidades não foram concretizadas num festival de futebol que teve sequência na jornada seguinte para a consagração do título (5-1 ao Belenenses, 3 de Gomes dos quais 2 de penálti). Outro 0-0 foi com o Vizela, em Guimarães, curiosamente o adversário (orientado por José Romão) que se estreara na I Divisão e apanhara 9-1 dos dragões na Póvoa de Varzim, com 5 golos de Gomes.
A única derrota aconteceu logo à 2ª jornada, no Bessa (1-0), mas meses depois foi decretada a suspensão das Antas por dois jogos, com efeito depois da recepção ao Sporting (0-0). Esta derrota marcou a época, e não só pela diferença de tratamento disciplinar para com o FC Porto, onde as pedradas e desacatos nunca tinham atenuantes e mezinhas como quando sucediam com o Benfica mesmo quando os seus jogos eram interrompidos por agressões a árbitros e tal sucedeu, curiosamente, numa visita ao Varzim e em que a derrota em campo (1-0 aos 32’) não teve confirmação na secretaria, antes o jogo foi repetido na íntegra e 1-0 no final para o Benfica…
É só para saberem como era a disciplina, no seio federativo, há 25 anos, história que será contada noutra altura. O FC Porto, pelos desacatos no final do jogo do Bessa, bem perdido e sem nada reclamar-se de Veiga Trigo, apanhou dois jogos de castigo que cumpriu no estádio do Varzim: goleou o Vizela por 9-1 e depois despachou o Portimonense por 4-1. Os algarvios, 4ºs na tabela, eram orientados por Manuel José que começara a carreira de técnico. Apareceram 50 mil adeptos no pequeno estádio poveiro, motivando o adiamento da partida para 16/1/85 e com um fiscal-de-linha de volta ao campo onde um mês antes tinha recebido uma garrafa de litro de Super-Bock na testa, sangrando abundantemente da ferida aberta.
Estes pormenores, muito comuns à época, acicataram o FC Porto: fez 8 vitórias seguidas depois do Bessa, empatou com o Sporting de ferrolho que Toshack trouxe às Antas, engatou 14 vitórias consecutivas até novo empate em Alvalade meia volta depois.
Uma das vítimas de Artur Jorge foi… Jesualdo Ferreira. Estreou-se na I Divisão com 3-0 pela Académica em P. Ferreira mas não voltou a ganhar. Aguentou 7 jogos, Jesualdo então com bigode (e mais cabelo), o penúltimo dos quais com o FC Porto que, nas Antas, levou tudo a eito, à excepção do ferrolho leonino, a começar com 3-0 ao Rio Ave e acabar com 2-1 ao Braga, com Gomes a marcar também nestes jogos.
Nas fantásticas 11 vitórias fora, incluindo na Luz onde Gomes sentenciou tal como bisara nas Antas face ao Benfica, o “bibota” foi implacável com 11 golos – metade do pecúlio total –, seguido de Jaime Magalhães (4), Vermelhinho (3), Eurico, André e Futre (1 cada) além de autogolo de Adérito. Foram 22-3 golos nesta série que, tal como agora, teve apenas uma derrota e dois empates cedidos. Por isso, se paralelismo houve foi entre Jesualdo e Artur Jorge com 11 vitórias seguidas+1, mais golos na actualidade, um Gomes 50% da equipa há 25 anos.
Eis uma boa base para começar a folhear o álbum da hegemonia portista: foram só 8 pontos de avanço (e metade dos golos sofridos: 13-26) sobre o Sporting (55-47), seriam 14 com três pontos por vitória de hoje (80-66). O Benfica ficou a 12 (seriam 19 pela pontuação actual)… Há quem queira começar por aqui o álbum da alegada perfídia e resultados falseados…
UMA SÉRIE FORA DE SÉRIE EM 1984-1985
Muitos não assistiram e muitos não lembram que o FC Porto não ganhava nada, de novo, há uns anos, desde o bis de Pedroto em 78 e 79. O mestre morreria a meio desta caminhada triunfal, em Janeiro de 1985, mas o discípulo que elegera para novo ciclo de conquistas sabia da poda. Artur Jorge, que foi adjunto do Zé do Boné em Guimarães após deixar as Antas no Verão Quente de 1980, tomou em mãos uma nova equipa, ambiciosa, com muita juventude e produtos da cantera portista (João Pinto, J. Magalhães, Semedo, Gomes) e que teve de fazer acertos com as saídas, intempestivas, de António Sousa e Jaime Pacheco para Alvalade de onde Pinto da Costa foi resgatar um puto de nome Paulo Jorge dos Santos Futre que Toshack se aprestava para emprestar à Académica…
A maioria não sabe da sequência, tantos reclamam por ela, mas foi dos mais emblemáticos momentos do verdadeiro começo da superioridade que se tornaria hegemónica do FC Porto. Um quarto de século depois Jesualdo obteve 11 vitórias fora e já ninguém estranha. Mas 25 anos antes de Artur Jorge, em 1949-50, o FC Porto só em Elvas somara uma vitória em 13 saídas (mais um empate em Guimarães), registando 11 derrotas em viagem…
Pois é, 25 anos é o tempo de uma geração, várias passaram e a história mudou, ou pelo menos conta-se de outra forma para quem for sério e honesto. Em 1984-85, depois de anos a ver de novo Sporting (2) e Benfica (3) campeões, o FC Porto iniciou, paulatina mas firmemente, a sua ascensão ao que é hoje. O Benfica de Eriksson – a última grande equipa do Benfica e que bisou campeonatos (83 e 84) – finou-se e julgaria a sua hegemonia histórica inatingível.
Em 1984, o FC Porto conquistara a Taça de Portugal, sob o comando de Pedroto, e baqueara na Taça das Taças em Basileia, já com António Morais no banco pela doença do mestre. O futuro, porém, estava preparado, com muito produto local e um Gomes a bisar a Bota de Ouro. Depois dos 32 golos que em 82-83 lhe valeram o primeiro título de máximo goleador europeu, Fernando Gomes caprichou (36) e fez quase metade dos 78 golos da equipa nos 30 jogos do campeonato – mas só alinhou em 22 e apenas esteve três jornadas sem marcar quando a equipa “facturou”.
Ao apontar 27 golos em 14 jornadas consecutivas, Gomes lançou o mote para uma época em cheio em que a máquina montada por Artur Jorge fez 32 golos em 17 jogos sempre a marcar. Pelo meio, um firme 4-2 na Luz deu para arrecadar mais uma Supertaça.
Tal como agora com Jesualdo, Artur Jorge obteve 11 vitórias consecutivas e uma isolada das restantes, na última jornada em Portimão. Dois empates fora a zero golos, um em Alvalade que fez interromper as 11 vitórias fora de casa, apesar de Futre ter rematado ao poste na 1ª parte e várias oportunidades não foram concretizadas num festival de futebol que teve sequência na jornada seguinte para a consagração do título (5-1 ao Belenenses, 3 de Gomes dos quais 2 de penálti). Outro 0-0 foi com o Vizela, em Guimarães, curiosamente o adversário (orientado por José Romão) que se estreara na I Divisão e apanhara 9-1 dos dragões na Póvoa de Varzim, com 5 golos de Gomes.
A única derrota aconteceu logo à 2ª jornada, no Bessa (1-0), mas meses depois foi decretada a suspensão das Antas por dois jogos, com efeito depois da recepção ao Sporting (0-0). Esta derrota marcou a época, e não só pela diferença de tratamento disciplinar para com o FC Porto, onde as pedradas e desacatos nunca tinham atenuantes e mezinhas como quando sucediam com o Benfica mesmo quando os seus jogos eram interrompidos por agressões a árbitros e tal sucedeu, curiosamente, numa visita ao Varzim e em que a derrota em campo (1-0 aos 32’) não teve confirmação na secretaria, antes o jogo foi repetido na íntegra e 1-0 no final para o Benfica…
É só para saberem como era a disciplina, no seio federativo, há 25 anos, história que será contada noutra altura. O FC Porto, pelos desacatos no final do jogo do Bessa, bem perdido e sem nada reclamar-se de Veiga Trigo, apanhou dois jogos de castigo que cumpriu no estádio do Varzim: goleou o Vizela por 9-1 e depois despachou o Portimonense por 4-1. Os algarvios, 4ºs na tabela, eram orientados por Manuel José que começara a carreira de técnico. Apareceram 50 mil adeptos no pequeno estádio poveiro, motivando o adiamento da partida para 16/1/85 e com um fiscal-de-linha de volta ao campo onde um mês antes tinha recebido uma garrafa de litro de Super-Bock na testa, sangrando abundantemente da ferida aberta.
Estes pormenores, muito comuns à época, acicataram o FC Porto: fez 8 vitórias seguidas depois do Bessa, empatou com o Sporting de ferrolho que Toshack trouxe às Antas, engatou 14 vitórias consecutivas até novo empate em Alvalade meia volta depois.
Uma das vítimas de Artur Jorge foi… Jesualdo Ferreira. Estreou-se na I Divisão com 3-0 pela Académica em P. Ferreira mas não voltou a ganhar. Aguentou 7 jogos, Jesualdo então com bigode (e mais cabelo), o penúltimo dos quais com o FC Porto que, nas Antas, levou tudo a eito, à excepção do ferrolho leonino, a começar com 3-0 ao Rio Ave e acabar com 2-1 ao Braga, com Gomes a marcar também nestes jogos.
Nas fantásticas 11 vitórias fora, incluindo na Luz onde Gomes sentenciou tal como bisara nas Antas face ao Benfica, o “bibota” foi implacável com 11 golos – metade do pecúlio total –, seguido de Jaime Magalhães (4), Vermelhinho (3), Eurico, André e Futre (1 cada) além de autogolo de Adérito. Foram 22-3 golos nesta série que, tal como agora, teve apenas uma derrota e dois empates cedidos. Por isso, se paralelismo houve foi entre Jesualdo e Artur Jorge com 11 vitórias seguidas+1, mais golos na actualidade, um Gomes 50% da equipa há 25 anos.
Eis uma boa base para começar a folhear o álbum da hegemonia portista: foram só 8 pontos de avanço (e metade dos golos sofridos: 13-26) sobre o Sporting (55-47), seriam 14 com três pontos por vitória de hoje (80-66). O Benfica ficou a 12 (seriam 19 pela pontuação actual)… Há quem queira começar por aqui o álbum da alegada perfídia e resultados falseados…
UMA SÉRIE FORA DE SÉRIE EM 1984-1985
*Derrota à 2ª jornada no Bessa (1-0).Outros jogos
4ª j., Setúbal-Porto (0-3) - Jaime Magalhães 18, 71, Vermelhinho 69 6ª j., Académica-Porto (0-3) - Jaime Magalhães 25, Vermelhinho 26, Gomes 63
8ª j., Salgueiros-Porto (0-1) - Vermelhinho 20 (no Estádio do Mar)
10ª j., Penafiel-Porto (0-1) - Eurico 59
12ª j., Belenenses-Porto (0-1) - Gomes 57
14ª j., Braga-Porto (2-3) - Gomes 19, 67 e 84
16ª j., Rio Ave-Porto (0-3) - Antero 26pb, Gomes 42gp e 67
18ª j., Benfica-Porto (0-1) - Gomes 70
20ª j., Guimarães-Porto (0-2) - Gomes 8, Jaime Magalhães 84
22ª j., Farense-Porto (1-2) - Gomes 26, André 62 24ª j., Varzim-Porto (1-2) - Gomes 34, Futre 52
empates 0-0 à 26ª (Alvalade) e 28ª (Vizela, em Guimarães)PS: Ainda hoje será colocada a votação para o melhor "11 DE LUXO"
vitória em Portimão (1-3) – Semedo 47, Vermelhinho 63, Gomes 66
O prestigio de uns...
ResponderEliminarhttp://www.ojogo.pt/25-91/artigo799603.asp
Nem mais Zé Luís, a partir dali o futebol Português levou uma volta completa, apareceu competência, qualidade e jamais os dirigentes do FCP voltaram a fazer vénias como outrora aos srs de Lisboa, incluindo claro os da FPF que tudo faziam para contentar os 2 filhos pródigos da 2ª circular. Lembro-me perfeitamente desta e de outras campanhas da década de 80. A pulso o FCP iniciou nos anos 80 a caminhada que ainda hoje não está terminada, que é sim retocada e cada vez mais competente como atesta mais este tetra. Obrigado por permitir desta forma recuar um pouco no tempo, nos meus 20 anos (que tinha por esta altura) e das tardes de glória do nosso FCP, na altura via rádio e com encantamento dos Domingos de futebol à tarde.
ResponderEliminaramigos,
ResponderEliminardescobri no Arioplano, que nem sequer é portista, esta pérola:
"FCP tetra campeão, SCP tetra vice-campeão, SLB tetra plégico"
Foi uma grande equipa, mesmo expurgada de dois elementos importantes como Pacheco e Sousa, mas bem suprida pelos Quim e André...Quim, que fez imensas vezes o flanco esquerdo, jogando numa posição que se confundia com a de lateral, mas que imprimia muito mais profundidade ao jogto Portista...E Frasco, como uma carraça -tal era a forma como tentava secar e passar pelos adversários...E André um moiro de trabalho e heroísmo, jogando com o número 11...
ResponderEliminarA defesa era comandada pelo senhor Eurico, que sustentava Lima imperial no jogo aéreo e permitindo a João Pinto fazer boa parte do flanco num constante vai e vem de atordoar...Zé Beto valente e intimidatório para qualquer avançado com o juízo todo e na frente, Magalhães, Futre -imprevisível- e Gomes a selar a maioria dos golos!
Esta cronica fez-me ir ao fundo do meu bau de recordações e logo daquelas que dão nõ na garganta,no jogo de Braga(2-3)lembro-me como se fosse ontem,fui com o meu falecido pai e um seu amigo,tivemos que deixar o carro ai a uns 2 kl,1ºmaio lotado e salvo erro 3 golos de Gomes dois foram autenticas obras de arte.
ResponderEliminarDois cruzamentos para a area um Gomes antecipa-se ao defesa em mergulho e com a cabeça como não mandam as regras bola no anglo,no outro bola no peito e sem deixar cair remate á meia-volta sem espinhas.O amigo do meu pai tinha um problema de bexiga e cometeu a proeza de não ver nenhum golo,no fim chuveram pedras para quem saiu pelo lado do pelado,lá me safei com a proteção do meu pai já outros ao meu lado não tiveram tanta sorte enfim.
Aí que saudades de ver jogar o Gomes e principalmente de ir ver a bola com o meu PAI.obrigado
A "unica" coisa que recordo dessa época foi o meu primeiro jogo ao vivo do Porto. Foi o famoso jogo com o wrexham. Tinha 8 anos e na altura não percebi como era possível ficar triste com uma vitória.
ResponderEliminarTive a sorte de presenciar tudo isto...
ResponderEliminarGrandes tempos...
E após perdermos para os lagartos o Sousa e o Pacheco e de nessa altura irmos buscar o Futre,mais o André e o Quim, mais tarde recuperamos esses dois novamente ao sbordem e com todos fomos .. Campeões europeus.
É obra...
Na época do Oliveira, tínhamos uma defesa com menos qualidade, embora o Lula fosse um magnífico central, creio que se lesionou cedo, mesmo o Guarda Redes inspirava pouca confiança, talvez por ser um pouco desengonçado...Dois laterais de excelente qualidade -Sérgio Conceição e Fernando Mendes-, um meio campo enriquecido com Rui Barros e Zahovic e um extraordinário ataque com Artur, Edmilson, Drulovic e Jardel!...
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