18 novembro 2011

RTPI nada

Há dias fui surpreendido, eu que nem ligo muito a andebol, com a notícia na RTP de um jogo entre Benfica e Sporting na modalidade. Ontem, por curiosidade, fiquei à espera de ver imagens do ABC-Porto que até catapultou os campeões nacionais para a liderança, apesar das derrotas inciais contra os rivais lisboetas. Mas não vi nada à hora de almoço que uma certa gente costuma preencher com Desporto de toda a maneira e feito. Estranhei, porque na noite de 4ª feira, horas depois do jogo acabar em Braga, vi imagens no último telejornal do dia, por acaso sem som (nem soube do resultado mas percebi que o Porto dominara os acontecimentos e porventura ganhara). Por sinal, também o Benfica jogara, com a revelação Águas Santas que comandou a tabela bastantes jornadas e os encarnados subiram à 2ª posição. Tudo isto, para quem não acompanha a modalidade, deixando Porto e Benfica separados por um ponto a dias, amanhã sábado, de se reencontrarem no Dragãozinho. É obra, mas não vi nada, nadinha na RTP que por cada derbi lisbonense esfalfa-se para mostrar serviço.

Ora, para quem se lembra, isto era a RTP de antigamente, a informação de sempre com ventos favoráveis à divulgação dos clubes da capital e que, por décadas, mereceram ampla cobertura por forma a que todo o cidadão soubesse das suas façanhas.

Isto faz-me pensar no que é a capacidade de servir o público, a um milhão de euros diários de despesa que todos pagamos forçadamente pela taxa do audiovisual a quase 2,5 euros mensais na conta da electricidade nem que não tenhamos televisão, quando ele está a ser discutido em fórum próprio para ser pensado pelo novo Governo na forma de o reestruturar, definindo-o e racionalizando-o, para poupar metade das despesas e dos sarilhos até, para um arejado, renovado e correcto serviço público de televisão. A RTP é, por isso, a mesma merda de sempre, por muitas aplicações andróides e outras anormalidades que queira inventar para se pôr a par com o tempo.
Entretanto, fugindo a ideias feitas e sem ser minimizada pela deserção de três dos 10 membros da equipa constituída há dois meses e picos, algo foi feito para fazer pensar no assunto.

Ao contrário do que dizem, acho o relatório do Grupo de Trabalho constituído para aclarar a noção de serviço público de televisão muito meritório. E certeiro. Li-o e poderia subscrevê-lo. Está correcto, aborda a realidade, porém foi torpedeado. Por causa de 'soundbites' e com os inevitáveis clichés, a começar pelo serôdio Sindicato dos Jornalistas que nem em bicos de pés chega a um nível aceitável e a acabar na opinião publicada de avençados e encartados vários. 

Já não bastava a manipulação grosseira da Informação na RTP e a invasão dos estúdios, consentida e não à moda impune de Luís Filipe Vieira, pelo aparelho sócretino. Sócrates, como se sabe, montou o polvo cujos tentáculos chegaram a afastar Manuela Moura Guedes e era a TVI independente. Mas o corporativismo bacoco, deste Portugal da Idade Média no tempo das redes sociais e 'mídia' revolucionados, não se revê no intervencionismo do Poder instalado a cada momento. Há dias comentei aqui a posição de estupefacção do novo director de Informação da RTP que ninguém sabe como chegou a tanto. Pois Nuno Santos sacudia a ideia, generalizada e alvo de crítica ao Provedor do Telespectador, salvo erro, de que se dava demasiado futebol. Já quanto a certas reacções da esquerda (igualmente) de sempre, barricadas de imediato contra certos chavões que julgam remexer em túmulos, um espectro de "a bem da Nação" foi o rastilho para uma indignação parola mas muito presente nos aerópagos de hoje que ainda marcam de vermelho encardido a Comunicação Social.

ACT.- E, afinal, parece que há um Polvo 2, dada a tentativa de estrangular a Cofina, já que a Controlinveste estava controlada facilmente, como estão todos os que precisam de avales do Estado para sobreviver. Percebe-se, então, não só a vontade de o patrão Paulo Fernandes em vender e desistir do grupo de 'mídia', como a forma de o CM se encaniçar contra Sócrates. Entretanto, manso como um corno, o Rascord ficou no seu cantinho lisbonense onde antevê, no futuro próximo, o regresso ao passado do tempo do recôndito buraco onde existiu no Bairro Alto.
Quem conhece minimamente o que são serviços públicos de televisão em Espanha, França, Inglaterra (cuja BBC é sempre apontada como modelo), não falo da Alemanha porque não percebo o que dizem, não estranhará as conclusões do GT liderado por João Duque. E são só 32 páginas que se lêem bem, sem esforço de compreensão pois a linguagem é simples, não técnica, e incorpora o conhecimento que, pela via do escrutínio dos 'mídia' em geral e das páginas de tv nos jornais em particular, numa especialização recente mas bem difundida pelos maiores títulos da Imprensa escrita, se tem do fenómeno.

Enquanto vamos vendo (eu fico-me pelas caras e fujo logo!) na RTP programas onde assentam, a 600 euros a cabeça, gente capacitada como o ex-ministro Mendonça que queria trazer espanhóis de Madrid à Caparica em TGV e o sindicalista eterno Carvalho da Silva, percebendo-se o equilíbrio ideológico da coisa e com o desplante de elegerem esta gente sem se rirem da isenção demonstrada em tal conclave, a Informação da RTP, designadamente desportiva (o hóquei que fazia vibrar o povo ficou soterrado com o desinteresse pelo Decacampeonato portista), é a chaga social que o País ainda tem de enfrentar por muito tempo. É que já não acredito que se concretize o esplendor de Relvas de privatizar a RTP e aliviar um pesado fardo dos contribuintes. E é pena. Para mal da Nação. E nada, quanto a RTPI que, sim, deve cingir-se ao básico na informação mas que chegue de todo o País, para todo o País sem excepções.

O ruído parvo que se sente sobre o relatório do GT, infelizmente, nem toca no inconcebível de, com a mudança para a TDT, obrigar-se toda a gente a... pagar para ter a "nova televisão". Os quatro canais são grátis, mas para vê-los é preciso pagar o descodificador. Sobre isto ninguém, ligado nas cidades ao cabo (parece que há 1,5 milhões de assinantes da Zon e 1 milhão no Meo, mais uns quantos espalhados) e dispensados de sintonizador para TDT, se indigna nem pede equidade. A tia Maria em Monchique e o ti Manel na Guarda que se amanhem, mesmo com subsídio de 22 euros para ajudar na compra, forçada, do equipamento.

Entretanto, a RTP (pública) e a Lusa, agência parcialmente pública mas asfixiada pelo gabinete de propaganda de Sócrates, fazem greve na 5ª feira. Com o público. Mas não servem.

2 comentários:

  1. Dois pontos rápidos.
    1) Não me parece que um documento técnico sem um único número escrito para suportar uma conclusão que já existe à partida sirva para coisa alguma. Ou só são soundbytes aqueles que discordam da sua opinião?
    2)Igualmente não me parece, de todo, que passe a haver maior isenção noticial, nomeadamente no que diz respeito ao desporto, destruindo um canal de televisão sobre o qual se tem todo o poder: eu conheço a a Sic e a Tvi e a minha televisão não, porque nunca estão ligadas.
    E é para isto que dá este governo, para fazer aquilo que soa bem, cortar nos "privilégios", fornecer só o mínimo para sobreviver e não mexer uma palha nos BPNs deste país.
    Quer-me parecer que ao menos daqui a 4 anos estaremos livres do liberalismo em Portugal por umas décadas...

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  2. há aqui a confusão do costume.

    Os soundbites são de quem comenta apenas por uma expressão usada, como foi o caso de "a bem da Nação". Isso é como tocar a sineta para o reflexo pavloviano.

    Depois, não é a questão da isenção que é colocada no relatório nem é isso que está em causa. A questão da isenção sou eu que a coloco, pegando no exemplo mais próximo mas sabemos de milhares de exemplos. Não estou à espera de nada, nem obrigo a nada, da parte dos privados: fazem o que querem, pagam como e a quem querem e por aí fora. Agora, da RTP pago com os impostos de todos impõe-se outras coisas que não há, a não ser um sorvedouro de dinheiro público.

    O caso BPN, como outros, estão a cargo da Justiça. Como todos neste âmbito, espero que Justiça seja feita e não crio soundbites por isso.

    O nightwish faz a confusão costumeira nas cabecinhas que actuam por soundbites, como se comprova. O resto, como ver este ou aquele canal e tirar dele o melhor proveito, escolhendo o bom e rejeitando o mau, é próprio do mercado. Como em tudo, aliás. Se fosse só pela RTP não saberíamos metade da missa, nem saberíamos se havia missa. E quem não vê isso não sabe nada e está pouco habilitado a discutir o que seja. Há muitas coisas que não gosto na SIC e na TVI, mas o que não gosto não vejo. E podem pôr lá os Ruis Prantos que quiserem, porque não levam o meu dinheiro nem o de outro contribuinte. Mas isso, no fundo, mais uma vez, tem a ver com a capacidade reivindicativa e a exigência que cada um quer para si e crê ser o correcto.

    De igual forma, do liberalismo ainda não se viu nada. Do falso e pacóvio socialismo viu-se onde nos deixou e não creio que com toda a experiência passada, que este Governo também tem medo em tocar por causa das "sensibilidades sociais" e a estruturação improdutiva estabelecida no rame-rame que deixou Portugal encalhado em mar encapelado e sem terra ou salvação à vista, se saia muito do modus vivendi em que se pensa ter futuro neste País bloqueado por atavismos de sempre.

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