E aquela equipa tinha empatado na Luz sendo superior e ganhara em Alvalade com Lisandro a quebrar o jejum e Bruno Alves a marcar de livre directo. Mesmo assim, o chorrilho de asneiras dos adeptos era bem superior à confusão de Jesualdo patente nas fichas de jogo. Obviamente com culpas no cartório e jogadores sem classe (Tomás Costa e Pelé, por exemplo), enquanto Hulk e Tarik andavam pelo banco, numa equipa que perdera Quaresma, Bosingwa e P. Assunção. O chinfrim que foi, mas dali para a frente, depois de Bruno Alves acalmar as claques na F. Foz e Jesualdo acertar as coisas, não só o FC Porto foi ganhar a Kiev e, depois, ao Fenerbahce, além de bater o Arsenal com clareza, como acabou a ganhar o campeonato sem mais derrotas, juntando a Taça para a dobradinha e chegando aos 1/4 da Champions a discutir a qualificação com o M. United que seria campeão europeu. Bem, evocar como se criticava o futebol de transições, então, como agora se faz com o futebol de posse e vincadamente virado para a frente, é mesmo chover no molhado.
(Hoje há quem peça Pedro Emanuel, alguns ainda insistem doentiamente em Jorge Costa com a mesma fixação nos adjuntos como dantes se palpitava Carlos Azenha em vez de Jesualdo, a fixação que se critica na escolha de Pinto da Costa por Vítor Pereira... )Da mesma forma, é evidente que os críticos depois calaram-se e não tiveram mais lata para azucrinar alguém, esperando pela época seguinte ao Tetra e de quebra porque, apesar da confiança renovada com mais dois anos de contrato com Jesualdo, a SAD vendeu Lucho e Lisandro e fatalmente a equipa teria de cair, apesar de Hulk estar melhor e Falcao emergir como grande ponta-de-lança que faz falta agora enquanto os jogadores náo se encontram em campo para remarem todos para o mesmo lado e darem todos o bocadinho mais que cada um tem retirado à equipa e diminuído injustamente o treinador que neles confia cega mas talvez inocentemente.
Como não alinho na maralha, seja no deslumbramento ou no achincalhamento, fugindo do bota-abaixismo de uma equipa que tem valor e vai mostrá-lo ao longo da época, deixo sempre algumas considerações para reflexão; não para chamar os "críticos" à razão, sim para denunciar a sua falta de coerência e, acima de tudo, capacidade de análise e de percepção da realidade. Já sei que um ou outro blogue copia estas ideias e exemplos (os "hiatos" notáveis da gloriosa época passada) que vou deixando, enquanto outros persistem nas parvoíces que até a Imprensa especializada - li em A Bola que consulam a bluegosfera mas só aproveitam o lixo e opiniões inflamadas, da mesma forma que falam em "fúria" no aeroporto quando apenas houve apupos aos jogadores, indesejáveis mas normais, ao passo que são minimizados os assobios na Luz em nome de um quase apuramento em grupo facílimo - capitaliza, mormente no tocante a mandar o treinador embora: onde é que já vimos isto?
Pois após vastas trocas de opiniões, incluindo um bate-boca meu com Rui Moreira, apesar de haver jogadores de quem eu não gostava, deixei isto escrito:
"Eu só ainda não percebi, antes de "desfazer" a equipa, os reforços, o treinador e por aí fora, como é que no estádio de evolução que se seguia e culminou na vitória saborosa e convincente de Alvalade a equipa regrediu para a pré-história como se nunca tivesse jogado junta.E custando-me a acreditar como foi possível esses passos em frente para voltar ao ponto de partida, como se estivéssemos na pré-época, retenho-me pelo figurino táctico que de um momento para o outro se banalizou, tal como se banalizou, e isso é o pecado maior, a questão de se saber quem joga em cada posição.Porque foi ao condescender nesse aspecto, introduzindo de forma arbitrária mudanças em posições-chave da equipa, que o trabalho conjunto feito até então ruiu como um castelo de areia.Eu, por mim, fazia um exercício tão grato aos teóricos sobre o modo como deve, definitivamente, jogar a equipa.Eu, que prefiro as coisas práticas e cujas evidências entram pelos olhos dentro, sinto-me obrigado a fazer o papel de treinador e configurar a melhor equipa possível no sistema mais adequado às circunstâncias.Não gosto de divagações fáceis, de atirar acusações avulso, sou alheio a questões económicas e gosto de avaliar o futebol, recusando os teóricos que, mesmo estando tudo relativamente bem, desde que seja num rumo de vitórias, apontam mil e um problemas e classificam milhares de dificuldades enquadrando-as em ciclos históricos e níveis de exigência.Preferia dizer o que, finalmente, acho que a equipa deve ser, adicando de estereótipos e nunca olhando a nomes, muito menos ao "politicamente correcto".Mas na hora em que o FC Porto vai jogar o futuro na Champions - em que sempre antevi grandes dificuldades pelo grupo delicado e perigoso que nos coube - e já na Taça de Portugal, é melhor ver como Jesualdo reage e corrige a rota, porque só ele o pode fazer pois ele, inexplicavelmente, perdeu o sentido das coisas.Quase me dá a ideia de o treinador ter facilitado e sabemos que nestas coisas a distracção é a morte do artista. Foi a sensação que tive no jogo com o Leixões. O suficiente para se pôr praticamente tudo em causa, agravado com a não-resposta na Naval.O que deveria discutir-se aqui era:- deve o principal responsável manter-se na equipa, agora, nestes dias, com o risco de perder já duas competições?- deveria encontrar-se, já, uma alternativa no comando técnico?Creio que a resposta só poderá ir, obrigatoriamente, pela primeira questão. Ninguém faria milagres do último até ao próximo domingo, por muito que reclamem a cabeça de Jesualdo, pois o artifício não traria, decerto, os resultados desejados.Já a confirmar-se, esta semana, a senda de derrotas, é impossível sustentar a sua continuidade que ele mesmo deixou abalar ao perder as suas convicções.Esse momento de loucura, esse perder o sentido das coisas e dos papéis e afundar a equipa é algo que nem Jesualdo compreendeu, a avaliar pelas repetidas declarações de incredulidade que tem feito, quando antes recusava-se falar nesta ou naquela competição, confiando que as classificações parciais favoráveis iriam permanecer.Ele não se deu conta do turbilhão que criou, não preveniu a derrocada e corre o risco de ficar sob os escombros, perdendo toda a glória dos titulos ganhos, além da simpatia que deixou de merecer da maioria dos adeptos.Era esta reflexão que me apetecia partilhar com a bancada e só deixo em esboço.A ideia táctica para a equipa fica para uma próxima oportunidade. Esperando que Jesualdo faça as correcções necessárias, porque tem de deixar preconceitos (e preferências pessoais) de lado.Como dizia eu antes do jogo na Naval, tem de escolher os melhores e arrumá-los de forma coerente. Tarik, Helton e Pelé estavam nos convocados de sábado e já me deixavam aliviado, mas foram para o banco e o resultado, mais uma vez, viu-se.Esperei que algum companheiro de bancada comentasse a desorganização e suas causas do jogo colectivo e os pesos-mortos da equipa. Nem a aberrante troca de um extremo por outro (Rodriguez por Tarik) aguçou o apetite. Nem quando retirou Tomás Costa do meio-campo para a lateral, acabando por meter outro médio de características mais ou menos similares às de Fernando, que continuou em campo, e do próprio Tomás Costa, pela capacidade de Pelé em ir à frente a jogar.Não há coincidência de pontos de vista sobre o sistema táctico, ninguém confere ideias sobre se se joga em 4x4x2 ou 4x3x3, tal como dantes eu via a equipa na Luz, no Arsenal e em Alvalade em 4x1x4x1 - que me parece mais acertado e resultou singificativamente bem, não obstante o afundanço de Londres em condições muito particulares - e alguns viram um simplório 4x4x2 que não revelava o dinamismo táctico da equipa.Neste contexto, enquanto não percebermos em que esquema a,b ou c os jogadores x, y e z jogam melhor, para o benefício colectivo e a primordial necessidade de obtenção de resultados, andaremos a divagar sobre as qualidades de cada um e, claro, a dizer mal de todos.Este é, ainda, o problema em que se labora. Mal, a meu ver.Penso voltar ao tema para desenvolvê-lo como me achar capaz. Kiev dará a primeira resposta, mas sendo já em desespero de causa o resultado pode atraiçoar a bondade do que se possa pensar em termos de melhoria.Ainda assim, a Taça UEFA é um mal menor e um objectivo alcançável. Já a resposta na Taça de Portugal e a reabilitação na Liga nacional vão muito a tempo, ainda que dependentes do que possa, de bom ou mau, acontecer em Kiev.As condições são precárias, mas o FC Porto ainda depende só de si próprio. Depois da derrota em casa, admitia que a equipa podia ripostar em Kiev. O que sucedeu no campeonato deixou-me desconfiado, confesso, e crente de que o ambiente gerado, derrotista, mais agravou a suspeita de que a equipa se afunda e ninguém lhe deita a mão - nem os adeptos, que não podem mudar jogadores e cujas sugestões amiúde roçam o ridículo, queiram ou não admiti-lo.Vou mais pela "fé" na recuperação do espírito de equipa do que por sincera convicção acompanhar pela tv o jogo de Kiev que irá moldar de forma indelével este período: crash irreversível, pois em Janeiro não irá recuperar-se absolutamente nada por ser tarde demais; ou bonança depois da tempestade?Muitos adeptos, infelizmente, já só desejam novas derrotas como se isso regenere coisa alguma. Creio que nem para esta, nem para épocas seguintes. Uma atitude (quase) colectiva suicidária, que não acompanho, sobrou ao arrepio da serenidade necessária, hoje, para reverter a situação. Basta ganhar por 1-0, não se requer goleadas em cada jogo.Não queria entrar por aí, porque o FC Porto distingue-se facilmente dos outros rivais, mas o Benfica e o Sporting jogam menos bem do que a equipa de Jesualdo, jogam com tracção atrás e, com muita ou pouca sorte, ganham. São feios, maus e até porcos (veja-se Derlei em Vila do Conde), criticados aqui por não marcarem e elogiados ali sem jogarem muito melhor mas graças a uma vitória pífia. O futebol actual não vale pela estética, é o paraíso dos resultadistas.Basta o FC Porto nestes dois jogos jogar para o resultado. Como jogou antes na Luz e em Alvalade. Assim ganhará. Espero que também em Kiev.
Seg Nov 03, 11:01:00 PM 2008
Seg Nov 03, 11:01:00 PM 2008
na sequência deste post:
http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=31355489&postID=2679161971971888376
Acho a situação actual muito similar e não, não é por o treinador ser diferente que as coisas se complicam. Como em tudo, é preciso calma e concentrar no essencial que são o que os jogadores têm de fazer em campo.
De resto, é uma confrangedora pobreza analítica, misturada com diferenciadas avaliações de outras equipas, jogos e arbitragens, ver como se trata o assunto. Vi, em resxumo, Aimar e Maxi Pereira com amarelos que deviam ter dado expulsões se antes tivessem sido admoestados como deviam face ao poderoso Basileia, mas andam para aí a falar de arbitragem por um suposto penálti de uma bola num braço de um jogador que se encolheu todo para não o sofrer. Bem, mesmo a doentia obsessão de A Bola pelo Benfica não o reconheceu, ao invés O Jogo acentuou a falta desse penálti que não existiu. Entretanto, o imbecil da RTP que relatou o jogo de Nicósia parou em Atenas para um apontamento enquanto fez talvez o transbordo e saiu à rua para "ler os jornais" (ouvi no Jornal da Tarde da chamada RTP Informação, ontem) como se soubesse mais grego do que do jogo e mais também da tragédia político-social do berço da Democracia envolto na mais estapafúrdia confusão conceptual.
É o que há, ruído e ignorância, além de má-fé, como há sindicalistas a falar em empobrecimento num país que vive de empréstimos e gente a reclamar (ouvi esta manhã na TSF) contra mais meia hora de trabalho que pode "atrapalhar" ir buscar os filhos ao infantário enquanto os desempregados aumentam e nehuma medida aparece que os salve talvez porque falte um sindicato de desempregados...
Se calhar isto é que dava jeito: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=2098334
Como Jesualdo, passada a tormenta, Vítor Pereira ainda pode crescer em autoridade e em resultados com mais um ou dois títulos, mas dado o investimento feito na equipa [todo ele a pensar na continuidade gorada de AVB], temo que o preço a pagar por esse crescimento seja alto de mais.
ResponderEliminarO nosso FC Porto tem um dilema: o tempo. O que fazer enquanto ele passa e as competições se aproximam de uma definição, até ver, periclitante? Despedir ou confiar no mister?
Contrariamente à tese defendida neste post, a história não se repete conforme gostaríamos.
Não tenho essa pretensão de tese, apenas lembro uma situação similar e idênticas reacções.
ResponderEliminarNão é pretensioso o texto a não ser o de ver as coisas com serenidade. Em 2008 o contexto era muito pior. Ou talvez náo?
Havia 3 derrotas merecidas e difíceis de digerir. Havia um treinador que já não conquistara muitas simpatias e cujo estilo, comunicacional e de conceito de jogo, era tão criticado como agora com VP.
VP é novo e tem de lhe ser dado tempo, o tempo que nunca há num grande que joga para ganhar títulos e náo é a sua juventude (idade) e por ser quase neófito (é-o na I Liga e na Europa) que não tem a mesma "obrigação" que pendeu sobre outros.
Como em tudo, as pessoas perderam a noçáo das realidades, a razoabilidade da paciência e o sentido da decência, julgando mais pelo ruído do que julgam ser da própria cabeça tão atrofiada com todos os problemas sociais e económicos.
Nada de novo. Nem o FC Porto é a cóboiada grega. Não há é gente a dizer ou pensar diferente da maralha que acha a pasmaceira um modo de vida.
É por isso que confio mais no FC Porto.
É a primeira vez que estou a intervir no seu blog apesar de ser um leitor assíduo e faço-o porque acho que tem toda a razão naquilo que escreveu.Eu também penso que é preciso ter calma,mas lá que está muito complicado está,vai ser preciso os jogadores comerem a relva para passar à fase seguinte da liga dos campeões,caso contrário até podemos nem chegar à liga europa.Eu penso que está na altura da direcção dar um murro na mesa!
ResponderEliminarCumprimentos
manuel moutinho