24 fevereiro 2012

O treinador e a táctica

Esta época não alguns não deixam de andar à volta do mesmo: Vítor Pereira. Mas as soluções preconizadas ficam sempre longe de serem aplicadas. E o treinador demonstra isso mesmo em cada jogo. Ao mesmo tempo, como na semana passada referi, queriam um Porto à imagem do Barça e viram-no em grande escala na Supertaça europeia, perdendo no confronto directo por detalhes como precipitação (mau atraso de Guarín que isolou Messi), menor categoria individual, mais imprecisão no passe, menos contundência atacante. Mas o espírito de "jogar em posse" e "pressionar alto" continua. Era isto o que os adeptos queriam, mas não é isto que "vêem". Porque os resultados não traduzem o volume de jogo. E algumas peças não encaixam da forma como todos gostariam.

À chegada de Lucho alertei de imediato que o sacrificado seria James, o menino-bonito de muitos adeptos. Não ligaram, se é que pensaram nisso... O raciocínio de um treinador vê-se ao longo da época, não à 5ª jornada, na ida ao Feirense, como alguns quiseram enfatizar. Meia volta depois, com um problema de fundo por resolver e que arrasou a campanha europeia (o tal ponta-de-lança a que muitos não quiseram dar crédito...), estamos num ponto de pequena evolução. Saiu James, entrou Lucho, não notei grande diferença em termos substantivos. Refiro-me às competições domésticas, única medida possível de comparação. Quando jogaram ambos na Europa, à falta do tal ponta-de-lança que não fez sacrificar o colombiano, houve muito toque e pouco remate, ou mais bola e pouco perigo. Não penetrámos, não metemos a coisa na baliza, que é o mais importante. E nem estivemos muito perto disso. Ao invés, assistimos a mais uma lição de posicionamento e menos bola, além de golos e menos floreados. Levámos 6-1, justo ou injusto não importa, há que aprender com os erros. Algumas falsas ilusões da época passaa - a miragem ou colagem ao Barça estava no topo... depois alimentada com a troca de galhardetes entre Guardiola e AVB que se inspirava nele - tiraram muita gente deste planeta.

Jogar lá fora implica certos cuidados, que o FC Porto não teve. Treinador mais ofensivo do que VP seria difícil arranjar, mas pelo visto não é isso que vale, se os resutlados não acompanham a ambição (desmedida?). Vemos equipas cada vez mais acauteladas na defesa, sem darem baldas ao adversário, o City foi apenas a última, mas temos o Madrid de Mourinho que foi a Moscovo jogar para o 0-0 ou... 0-1. Quase dava, arriscando pouco ou nada, mas tendo gente letal na frente (CR7 à cabeça) e basta aproveitar uma de duas ou três ocasiões. O City fez o mesmo e não tenho visto o M. United fazer diferente. Ou o Inter. Igual a si mesmo, o Chelsea tem sido um desastre, apesar da filosofia de AVB. Igual, se quiserem, só mesmo o... Barcelona. Guardiola mantém os princípios de jogo, o sistema, mesmo sem Iniesta e David Villa, recorrendo a Cuenca ou Thiago Alcantara. É uma aposta de risco acrescido quando falta a matéria-prima. Desprezando jogar na especulação do resultado, mesmo quando os resultados não correspondem. O dilema de Vítor Pereira tem sido este. E outro: o da incompreensão dos adeptos, seguramente a preferirem vitórias nem que sejam tão cantadas como faz Sá Pinto mesmo sem jogar um caracol em dois 1-0 com um autogolo, no domingo, e um cruzamento-remate que deu um chouriço ainda ontem. Na iminência de perder os dois jogos, vejam lá se Sá Pinto não veio colorir tão pálidas vitórias... VP não tem essa benesse e nunca teve de o dizer com tão magro pecúlio e tão fraco futebol!
Com duas provas domésticas para disputar, mas só interessando o campeonato e apenas o campeonato, não há muito para mudar. Haveria, talvez, mas o preconceito enraizado sobre Vítor Pereira não resolverá, porque os que o criticam são os que criticaram Jesualdo pelo oposto. Como há uma semana apontei, eram contra o jogo de transições - visão muito redutora do futebol portista com Jesualdo, mas a que ficou, embora não para mim - e agora não percebem que temos outro treinador casmurro no sentido de manter o 4x3x3 que, ao fim e ao cabo, era o sistema já com Jesualdo.

Não é fácil sair desta dicotomia de avaliações, nem quando se insere a discussão sobre a entrada de James que nos jogos importantes não aparece. Felizmente, parece ser agora o único motivo de debate e, contudo, só mudando o sistema, o que o treinador claramente não fez até agora fiel ao seu princípio de jogo já implantado também no clube e com inspiração superior na hierarquia e transmitida até aos escalões jovens. Mudar para o que quiserem, metendo James em vez de Varela e deixando a esquerda coxa porque o puto não gosta da linha e esta não pode ficar entregue apenas a Álvaro Pereira, por causa das compensações defensivas.

Álvaro jogar a médio-ofensivo, agora que Danilo está fora e Maicon vai voltar à direita? Bom, isto é transitório, porque com a lesão de Otamendi e também de Mangala, Maicon terá de ser central e Sapunaru aproveitará para jogar no guião que não o incluía, claramente, tal como excluiu Fucile. Sapunaru, por outro lado, nem ataca muito, pessoalmente não gosto de vê-lo a subir, depois atrasa-se e comete muitas faltas. Ao contrário de uma boa parte das opiniões, nunca o apreciei muito por nem ser o que se julga na frente e não cumprir atrás, ou seja não fazer bem as duas coisas nem muito bem uma delas...

Estava a imaginar um tal Adriaanse a revolucionar a coisa num 3x5x2 ou 3x4x3, como fez na segunda metade da época 2005-06, depois de uma má campanha europeia e uma 1ª volta de campeonato pouco animadora (apesar da liderança). Adriaanse, como Jesualdo, porém, não caiu no goto de muitos, ao contrário de mim, felizmente. Mas talvez tivesse o arrojo de fazer a última remodelação na equipa para tirar o máximo partido dos jogadores ao dispor sem praticamente sacrificar algum dos indiscutíveis.

Seria isso a solução? Com Álvaro a médio-ofensivo, três defesas e, assim, James sem tanta necessidade de cair para a esquerda e o lateral sem cuidados defensivos na retaguarda. Mas era preciso ter Mangala, que está lesionado, para podermos ter Rolando, Mangala, Maicon atrás, Álvaro, Fernando, Moutinho e Lucho no meio, Hulk, James e Janko na frente. Adiantar uma peça, Álvaro, por norma propenso para a ofensiva. E, assim, não precisar do clássico 4x3x3 ou 3x4x3, dando mais liberdade a James sem perder a força de Álvaro na esquerda. Obrigando a cuidados defensivos dos médios centrais para com as laterais desguarnecidas. Temos Hulk como tínhamos, ao tempo de Adriaanse, Quaresma. E temos James que é muito melhor do que era aquele puto escurinho de quem nunca esperei nada de mais e que desapareceu mesmo da circulação - lembram-se do nome? Lisandro, nesse tempo, ainda descaía para uma faixa mas completava amiúde o tridente ofensivo. Janko faz de Adriano, que não era melhor com os pés mas movia-se bem na área.

Só estou a ver esta solução, mas como Mangala, que é rápido como era Pepe, mas ainda usando mal a envergadura física que possui, está lesionado (e Otamendi também), não há muito para mudar. Má forma de jogadores e alguma lesões inoportunas (são sempre, mas umas vezes colmatam-se, outras não) conduziram a um beco sem saída. Não estou seguro que um meco na área (Janko) melhore substancialmente, embora sempre mostre mais em duas semanas do que Kléber em seis meses.

Ah, mas os adeptos não gostavam de Adriaanse. E, depois, a "estrutura" também não gostou.

Ou seja, não há volta a dar. É com estes, e tem de ser assim, ou não há nada a fazer. A não ser para aqueles que metem qualquer um no onze mas não têm responsabilidade de ganhar jogos e isto não é a... Playstation ou o Championship Manager. Ou, como diz VP, não é... a chiclete.

7 comentários:

  1. Desde ha algum tempo para ca que cheguei a uma conclusao simples: Vitor Pereira e' um "pe-frio"...
    Nao tem pontinha de sorte...

    Em certa medida, faz-me lembrar o Vitor Baia: raramente falhava, mas esse falhanco dava em golo... (que melhor exemplo que o golo do meio campo marcado de primeira pelo Rui Oscar)...

    O Vitor Pereira sofre do mesmo mal:
    - Adversarios ultra-eficazes (GV: 4 rem.-3g; Man. City 5 rem.-4 golos)
    - Auto-golos;
    - Falham-se penaltys;
    - Falham-se passes em zonas proibidas que dao em golo sofrido;
    - Lesoes graves;
    - etc...

    Confesso que o discurso dele e a propria dinamica da equipa nao me entusiasmam por ai alem mas, sentia-se perfeitamente que a equipa estava orfa de um meco na area. Basta ver as movimentacoes dos jogadores para se perceber que eles estao formatados para meter la a bolinha... A chegada do Janko (bom ou mau) deu-nos essa referencia.

    E' minha opiniao que o VP nao sera treinador do Porto na proxima epoca. (Acho mesmo que uma derrota na Luz precipitara a saida)

    ...mas nao sei quem se seguira...

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  2. O grande, grande equívoco foi mesmo esse, chamado barcelona. Para os adeptos e para o treinador. Felizmente só o barça pode jogar à barça. E quando tem a malta toda disponível.
    De resto penso que a equipe está a fazer-se com gente promissora, deixou quem se sentia vedeta de lado, e acho que a haver mudança de tática só mesmo para a pré-época.
    por mim, preferiria ter perdido em Manchester com uma equipe suicida em 3x4x3, com um resultado de 6-5, mas sei que não faço o típico dos adeptos do porto...
    aliás, sempre achei que o adrianse foi embora sem ter tido tempo de montar uma grande equipe...destempero tinha ele para isso. mas ninguém jogava assim na europa e nós queremos é jogar como os outros...
    enfim.

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  3. Sim, Ivanildo.

    Intrusus, pé frio também era o Jesualdo, a meio de 2008-09 queriam mandá-lo embora e ganhou a dobradinha chegando aos 1/4 da Champions para ser batido pelo melhor golo da carreira de CR7!

    Mas essa estória toda já a recuperei e antevi... no início desta época. Fiz um paralelismo do que poderia ser e não anda longe da realidade actual.

    reine margot, pois, o barça.

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  4. Tambem eu não faço o típico dos adeptos do Porto, ou de clube algum.

    De Adriaanse, creio ter sido o único que o defendi na bluegosfera. E, sim, acho que seria capaz de montar uma equipa brilhante. Só não sei se, como VP, seria flexível o suficiente para adaptar uma nova realidade face à Champions... em que ele fracassou como estratego num grupo acessível. Apesar da desculpa de uma equipa nova, com gente pouco experiente e que ele moldou e tornou atrevida.

    Mas os grunhos sabem lá o que isso foi ou sequer o que é agora?

    Os grunhos, grunham. No Porto ou outro clube qualquer. Não sou desse campeonato.

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  5. Ó pá por favor. O Adrianse por muito aventureiro e audaz que fosse, e apesar do mérito de ter ganho (à rasquinha) uma liga, e ter construido bons jogadores (Pepe era uma nódoa com outro central ao lado, sozinho no meio era um senhor), fazia a equipa jogar de uma forma atacante, sim, mas completamente atabalhoada nesses ataques. Lembro-me de ver como havia sempre seis ou mais jogadores acumulados à entrada da área, aos encontrões porque nao havía espaço para todos... Perdiam a bola sozinhos. Era entusiasmante apenas no sentido em que sofriamos sempre golos e nunca se sabia o resultado final. Depois na Europa era o que se sabe. A ganhar em milao por um chouriço de belo efeito do Hugo Almeida, tira um avançado e mete um defesa para depois de já estar a perder voltar a meter um avançado... Enfim.

    Em relação ao Barça, que por viver em Barcelona, sigo de perto e quase como adepto (primeiro e sempre o FCP) acredito piamente que se AVB tivesse continuado, este ano teriamos um FCP clone desse Barça que já começa a esvair-se. Na altura da Supertaça, o Porto ainda jogava comm o chip AVB, os jogadores ainda se viam motivados e sabiam que na época anterior tinham o jogado o melhor futebol da história do clube. Agora é o que se vê. Não acho que seja uma cisma, fui ver o Villa Real - Porto e acho, pese o resultado, que aquele Porto era de emoldurar, era um Porto que estaría a lutar pelo título em Espanha.

    Um abraço Zé Luis. Já são uns anos a ler os teus textos peculiares e cáusticos. Quase nunca estou de acordo contigo (embora saúdo a clivagem recente na opinião quanto a Vitor Peixeira) mas há algo que me faz continuar a ler este Blog. Porquê? :)

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  6. Pedro, o atraso na inserção do comentário não é culpa minha, juro!

    Quanto ao Aadriaanse, não é verdade que ganhou à rasquinha. Era campeão a 25 de Abril, ganhando 1-0 no estádio 25 de Abril, em Penafiel (penálti de Aadriano). Faltava ainda uma jornada para o final. E ainda ganhou a Taça.

    O fracasso europeu derivou de duas coias: fraca capacidade táctica do treinador, como já foi com Robson - entusiasmava muito, mas era fraco no banco - e muita juventude da equipa.

    Essa juventude da equipa, que tinha Pepe, Br. Alves, R. Meiureles, Quaresma e outros muito, muito jovens, perturbava a equipa emocionalmente. Não aguentava os grandes ambientes, os grandes jogos. Mais: apesar do processo ofensivo vincado, a juventude era responsável pela falta de eficácia. O total de golos no campeonato foi baixo. Face ao futebol produzido: chama-se eficácia. Quanto mais valia, experiência, categoria, craques feitos, em suma, há numa equipa, melhor se aproveita o jogo e as ocasiões.

    Voltando à Supertaça com o Barça, já falei da ilusão de muitos. A começar pelos jogadores, estes ansiavam pelo embate. Mas, entretanto, mudara a época, passara dois meses e nada podia ser igual. Muito menos numa equipa que nascera e crescera na época anterior. O Barça, ao invés, é um somatório do produto de anos anteriores, de cimento ou sedimentação colectiva que lhe fazia ter vantagem à partida para a Supertaça. Daí a... eficácia revelada no Mónaco. Aliás, esse establishment culé serviu para compensar no atraso na preparação e ganhar a Supertaça de Espanha ao Madrid que estava mais adiantado na preparação.

    As coisas não têm valor absoluto no futebol. E o valor relativo depende de factores não mensuráveis.

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