Já se sabia que os centrais são lentos e Fabiano treme enormemente. Até ao 4-0, dos 14 aos 36 minutos, três dos golos do demolidor Bayern podem ser assacados às ineficiências reconhecidas nesses pontos nevrálgicos. Thiago Alcântara não pode marcar de cabeça naquele local e Fabiano reagiu tarde e mal aos 2-0 e 4-0, com o 3-0 surgido de uma jogada de toque que é um hino ao futebol.
E como vejo o Bayern há mais de 40 anos, revendo até o equipamento original desses tempos de lançamento europeu, não esperava outra coisa que não um vendaval de futebol como foi sujeito o FC Porto mal plantado e sem estratégia clara para conter os danos. Bastou aquilo tudo mal lançado desde o início. Em parciais, o FC Porto ganhou duas partes (2-1 e 1-0), empatou uma (1-1) em Munique, e perdeu 5-0 noutra. O suficiente para destroçar qualquer um. A eliminatória não teve 180 minutos, nem 135 até ao intervalo de hoje. Teve 45 minutos apenas. Maus.
Só Rúben Neves entrou bem no jogo, ao intervalo. A colocação de Reyes a lateral-direito, sempre em dificuldades pela falta de ritmo e de adaptação para mais frente a um tecnicista de bola no pé como o marcador do golo mundial de 2014, Mario Goetze, foi um sinal de que as coisas iriam correr mal. Tuitei e pensei que RQ7 iria ajudar a defender e ainda ajudou, mas a equipa não saía de trás. Guardiola aproveitou-se desta vez das debilidades portistas na defesa. E Lopetegui voltou a perder a aposta no futuro: se Danilo vai para o Real Madrid e Ricardo Pereira é a opção natural, não apostar nele num jogo destes é mostrar não confiar no jovem também ele adaptado a defesa mas mais natural do que Reyes. E trocar Reyes por Ricardo aos 20 e tal minutos é o reconhecimento do fracasso, já com 3-0 no papo. O Bayern jogava entre linhas, trocava e subia, mudava e insistia, apertava a área com uma tenaz. Deu festival. É normal. Bayern, feiern (festejar em alemão). Mais uma rodada para a mesa bávara.
O 3-1 do Dragão enfureceu os bávaros, como era de esperar, depois da tempestade interna causada pela fricção e demissão do departamento médico. Em tão pouco tempo os alemães recuperaram uma condição física invejável e jogaram sempre de frente para a baliza, o que seria impensável mas revelou a fragilidade e falta de entendimento do meio-campo permeável e desunido. Com Brahimi mais uma vez fora do jogo (desde o regresso da CAN), o apoio a Jackson foi inexistente e sem um remate à vista o FC Porto chegou ao intervalo a ameaçar sofrer a maior goleada da sua história na Europa. Os médios nunca se entenderam e sempre mal posicionados e batidos em velocidade e tabelinhas tornou-se imparável a onda germânica e a defesa é que sofreu.
Os alemães também sempre me habituei a vê-los reagirem assi,. Especialmente o Bayern. Enfurecem-se até em público, põem os pontos nos ii, não evitam sequer declarações bombásticas, amiúde são as estrelas do passado, como Rummenigge e Beckenbauer, a zurzirem sem piedade nos jogadores e a não admitirem fracassos como o que se adivinhava. É assim o Bayern, sem meias medidas nem paninhos quentes. Um vulcão permanente. Mas que na hora da verdade, normalmente, responde assim. Dá a cara em público. O seu público reconhece-o. O FC Porto sofreu uma lição para a vida. Acabou 6-1, mas mais vale ser com o Bayern do que com o AEK Atenas (lembro-me em 1978 de a ligação via rádio não funcionar e quando ligaram da Grécia já estava 3-0 aos 20 e poucos minutos também...).
A dura realidade competitiva é esta. Lopetegui falhou na estratégia e nas opções. Brahimi não rende. Os centrais não melhoram. Fabiano, claramente, não tem a categoria de Helton. Dediquei umas linhas ao assunto aqui há tempos. Faltaram os laterais, mas iria ser sempre difícil. O pior é que Ricardo já está amaldiçoado para o futuro, tal como Reyes. E Lopetegui falhou aí também. É certo que a próxima época será outra época, mas a actual pode começar a ser mesmo perdida no domingo. Um resultado destes não tranquiliza para a Luz.
Jackson ainda reduziu, ameaçou um segundo que merecia, a solo e com a sua categoria só, o FC Porto ainda fez correr e suar os de Munique que festejavam merecidamente ao intervalo. O 5-0 ameaçava mesmo romper os 7-1 do Sporting na última visita portuguesa à arena pneumática (forma do revestimento e cobertura do estádio parece um pneu). Xabi Alonso acercou a humilhação e foi a desforra total dos passos e passes errados da semana passada no Dragão. Andava cansado e por arames o Bayern? A meio da 2ª parte ainda não tinham sido feitas substituições e o 5-0 dava todas as garantias. Certo que contou a eficácia, os erros defensivos, mas muito calibre alemão para tão pouca espessura europeia do dragão.
Não me admira nem estou chocado com o sucedido. A equipa é a mesma, jovem, que pode borrar-se em fases do jogo, sem poder mudar as fraldas. É o processo natural do crescimento. Não era difícil admitir um 2-0, como disse antes, a dado ponto do jogo. Mas já com 4-0 os bávaros corriam sempre por mais. Sempre os vi assim, o Bayern foi sempre grande mesmo com pontuais derrotas fulminantes, como em Viena e no Dragão. O FC Porto é o único em Portugal que sabe vencer o colosso que é o motor também do futebol alemão campeão mundial. Muita gente esqueceu-se disso. Quem não sabe e não aprende tem estes dissabores. Nada a apontar. Cada um dá o que tem e Lopetegui, com menos meios do que Guardiola, tem muito ainda a aprender. Fica o resultado contundente mas sem beliscar a bela campanha europeia.
Mas subsiste o temor de a equipa não aguentar adversários mais fortes e no domingo tem a final da época da qual só pode sair vivo sob pena de morrer cedo depois de tanto querer revitalizar o futebol amorfo implantado já um ano. O bombardeamento mediático vai começar e será torturante...
Espero ver o Bayern reabilitado, com Robben e Ribéry, para voltar a ser temível e poder ganhar a Champions. Aquilo não é eficácia, mas futebol do mais alto nível. Gosto destes gajos, admiro-os desde muito jovem, sempre foram uma lição que até os soberbos ingleses aprenderam a contemplar e respeitar seriamente (onze para cada lado e ganham os alemães, Lineker sintetizou). São fortes, determinados, ricos mas esforçados e trabalhadores como poucos. Creio que Barça e Madrid ainda devem ser superiores, mas o 0-4 e 0-1 da época passada não deve repetir-se com os merengues se se reencontrarem e falta estes passarem o Atlético sempre duro de roer.
O FC Porto tem de fazer o trabalho de casa, continuar o seu caminho e evitar um desastre no domingo. Não será pouco. O desnorte durou de princípio a fim, com Marcano desastrado nas entradas e expulso e Lopetegui, sabe-se lá porquê, igualmente corrido mais cedo do campo, o que fica mal quando nada justificava.