Mas o presidente da Câmara do Porto, se já tem pouco dito de substancial e feito algo mais substantivo na cidade em relação ao seu incapaz antecessor tão enaltecido por deixar Finanças equilibradas como se fosse o Salazar da companhia moderna para outros virem desbaratar o pecúlio amealhado, em vez de ambiguidades que podem sair caras tem afirmações temendo que "o turista descaracterize a cidade", aí já cai o D. Pedro do cavalo e o Vimara Peres passará a virar-se a Norte e apontar a sua lança, em riste, à Edilidade na Baixa.
Evito, em geral, emitir apenas opinião, como é da praxe, insistindo em juntar factos concretos ao tema em aberto. Ora, eram 21.35h de ontem, 2ª feira, e numa das minhas raras incursões nocturnas na Baixa portuense dei um pulo à Batalha para ver o ambiente. Não gostei da caracterização que vi, não obstante a distinta praça estar agora rodeada praticamente de hotéis, além do restaurado Teatro Nacional S. João.
Pois ainda há um mês e picos se inaugurou a gema do NH Hotel, da gama alta Collection da cadeia hoteleira espanhola que contrabalança o Palácio das Cardosas que a cadeia Intercontinental explora na Praça abaixo, frente à Câmara do Porto. E vi muitos turistas, pacatos, em geral casais de meia idade, alguns portugueses, alguns jovens também, especados a presenciarem uma cena que eu julgava afastada da caracterização da cidade - e não era pelos turistas, num momento em que se noticiou que o preço por quarto em média cresceu num ano de 67 para 114 euros/noite com a subida do nível da Hotelaria na Baixa.
O que vi foi, como zombies, embora animados a contrariarem a ideia de macambúzios noctívagos desgraçados sem vontade de cantarolar ou sequer rir, uma fila, umas 30 pessoas, encostada à parede do antigo cinema Batalha e uma carrinha pequena, atrás da qual se alinhavam esperando a chegada, da CASA (como a da imagem ao lado): Centro de Apoio aos Sem Abrigo. Aproximei-me e vi melhor, não fotografei do telemóvel por ser a parte escura pelo edifício degradado do famoso antigo cinema, em contraponto à praça em geral resplandecente de luz. A distribuir comida. Numa área cheia de cafés e restaurantes ainda se pode fazer acção social na Alexandre Herculano/Rua do Sol (Fontainhas) ou mesmo em Cimo de Vila/Rua Chã. Enfim...
Ora, nada contra as iniciativas sociais que ajudam os mais desfavorecidos, sendo que eu ainda nos últimos meses ofereci dezenas de quilos de kiwis que produzo à instituição Coração da Cidade, porventura produtos frutícolas já alvo de tentativa de arresto de bens noticiada há tempos por causa de umas multas não pagas, tal o ridículo do confisco fiscal em que caímos.
Não sei se Rui Moreira vai cair no ridículo de algum confisco particular e especialmente destinado aos turistas, mas destes vi, sim, muitos abanarem a cabeça em reprovação pela fila de alegados esfomeados ali a menos de 10 metros da entrada do novo NH Colection Porto Batalha, cuja noite pode custar cerca de 100 euros sem pequeno-almoço (pelo qual se fazem pagar bem...). E se ridículo existe é ainda persistirem em manchar zonas nobres, que se querem reabilitadas para atrair turistas e não esmifrá-los, com acções humanitárias relevantes mas que julguei decorrerem noutras áreas. Nunca é de mais enaltecer a acção social e o conforto que tantos voluntários emprestam a esta causa tão nobre e valorosa, um pouco por todo o País, mas há locais que deviam ser vedados a tal "carrossel" em nome da salvaguarda do prestígio da cidade e sem prejudicar os mais necessitados. Não será do mais elementar bom-senso?
Os adeptos do Bayern poderão começar já hoje a desembarcar no Porto e alguns alojando-se na Praça da Batalha, onde há uma mão-cheia de hotéis. Um cartaz de visita da cidade, definitivamente já não restrito à Avenida dos Aliados, deve ter outro cuidado, como o FC Porto terá de ter com o Bayern mesmo desfalcado mas sem deixar de desaproveitar-se esta oportunidade de ganhar aos bávaros e elevar mais o nome do clube e da cidade. Talvez voltem a Munique, capital do Estado da Baviera com a sua bandeira azul-branca que é marca da BMW também, o mais rico como motor da Economia alemã e berço do rigor orçamental que impõe ao resto do País com a sua marca liberal mas visceralmente conservadora de Direita, com os fígados deteriorados por uma jogatana de Quaresma e Cª que se agigantem para a qualificação. Mas se forem com os olhos tortos de ver esfaimados alegremente pontuais à espera da carrinha de comida da CASA não creio que o Porto possa ganhar o futuro.
E se Rui Moreira, assim, terá mais visitantes a quem extorquir uns euros... duvido.
Eu que sou nado e criado na Baixa do Porto e toda a zona histórica, bem longe da Foz tanto dos snobs ricaços como dos pobres ex-FP em zona privilegiada da Pasteleira ao Aleixo, fiquei abismado e percebi que muitos turistas também. Se é esta a identidade, que conheci desde miúdo para o cartaz a calcorrear as ruas descalço, que se pretende para o Porto, a obra de Rui Rio de empequenecer a cidade pode prosseguir, estará em boas mãos.
Uma sugestão a Rui Moreira a terminar: suscite que na zona ribeirinha se distribuam alimentos à porta do Palácio da Bolsa, a menina dos seus olhos de alegado liberal e de cujos balcões de pedra já limpa por anos estendeu a sua visão magnânime sobre a cidade, mesmo debaixo para cima, que ainda parece olhar de soslaio, desconfiado da sua iniciativa, como é o caso de sucesso hoteleiro, e com um pacóvio snobismo abatendo-se sobre a "turistada".
Não gostei do que vi e não tenho gostado da actuação do presidente da Câmara do Porto, no balanço que já é possível fazer com algum distanciamento e tempo decorridos.
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