Foram 39 mortos esmagados no sector Z do estádio de Bruxelas que recebia Liverpool e Juventus na final da Taça dos Campeões, há 30 anos. Este é só um vídeo do YouTube que apanhei aleatoriamente.
Não posso dizer o que eu estava a fazer naquela altura em que, apesar das imagens em directo, não tinha em conta a mortandade que acabaria por verificar-se e nem ia largar as mãos do que estava, deliciado, a entreter-me noutra dimensão celestial. A final da vergonha acabou por se realizar com um sector do estádio belga devastado junto à curva onde se situava o grosso dos adeptos Reds que carregaram sobre os italianos encurralados. Uma vergonha ampliada pelo resultado falseado, com uma queda de Boniek fora da área, o árbitro suíço Daina a marcar penálti e Platini a converter, sem vergonha alguma... A Juve ganhou 1-0, os ingleses foram suspensos 5 anos pela UEFA regressando às competições de clube apenas em 1990-91 e Thatcher, notável PM em Inglaterra com mais uma preocupação que não a deteve, como antes a greve dos mineiros e a Guerra das Malvinas.
A década não acabaria sem a tragédia de Sheffield, bem pior, em 1989, também com os de Liverpool intervenientes mas agora contando 96 mortos entre os seus. Tudo porque adeptos retardatários para a semifinal da FA Cup a 15/4/89, Hillsborough, estádio do Shef. Wednesday, forçaram a passagem para uma bancada pela porta central esmagando quem já estava lá dentro contra o muro e a vedação metálica, quando havia entradas laterais e lugares nas margens da bancada para os acolher mas ninguém soube vedar a entrada central e distribuir os adeptos para os flancos. Uma vergonha que a Polícia de Sua Majestade até há pouco logrou encobrir para se livrar de culpas no mau trabalho feito.
Ainda houve o incêndio, casual mas igualmente mortífero, na bancada de madeira de Bradford e, no final da década terrível em que o futebol ganhava amplitude planetária, as condições dos estádios haveriam de melhorar: imposição de lugares todos sentados e numerados, eliminação das vedações metálicas, vigilância apertada dos adeptos violentos e, finalmente, com o tempo, a erradicação do hooliganismo. Grande reestruturação dos estádios ingleses, câmaras de vídeo, proibição de venda de álcool, um belo trabalho feito para reconstruir o futebol em Inglaterra.
Heysel foi faz hoje 30 anos, ainda veríamos o terror durante o Euro-88 na RFA, por exemplo, mas só nas ruas, menos já no Mundial-90 em Itália e quase nada no Euro-92 na Suécia. O Mundial-94 nos EUA, por sinal sem a Inglaterra apurada, contribuiu para acalmar tudo. Quando o Euro-96 se jogou, em Inglaterra, já os estádios eram seguros e, como o slogan, football coming home tornou-se a celebração do jogo na pátria do futebol que ameaçara destruir o "national game" desde a década de 70 com violência imparável.
Fica só a memória e a nota positiva de tudo ter começado a mudar desde então. Até a minha vida mudou 30 anos depois face ao que fazia na altura em que não estava sintonizado com a dimensão da tragédia.
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