Não estará de todo esquecido o turbulento adeus de Portugal ao Mundial-2010, não pelo que passou em campo, numa garbosa eliminação ante a campeão europeia e futura campeã mundial Espanha, mas pela inusitada polémica criada dentro da equipa e amplificada pelo chamado "entorno", no qual se integra o mafioso interesse obscuro de gente importante gravitando à volta da Selecção.
Aquele desafio final, na zona mista, de Cristiano Ronaldo a remeterem perguntas sobre a derrota - como se fosse alguma anormalidade perder com a melhor selecção de então e muito menos após um embate de alto nível de que todos deveriam orgulhar-se - para Carlos Queiroz, além do estapafúrdio "Assim não ganhamos, Carlos" tirado das imagens de uma tv espanhola (só pelos de fora vamos sabendo mais do que os domesticados escribas e pés-de-microfone apuram além dos efe-erre-ás) a ler os vocábulos pelo movimento dos lábios do madeirense naquele último jogo na Cidade do Cabo.
Mas como parece que, desta vez, os jogadores acharam todos que jogaram muito bem frente a uma titubeante Alemanha convidada a atacar até furar o muro português, talvez não seja a ocasião de se evocar a desdita sul-africana e pedir responsabilidades ao génio da equipa mesmo que não seja o salvador da Pátria (mau era...).
Contudo, como toda a gente percebeu na Europa da bola, o jogo defensivo, calculista e retranqueiro de Portugal obrigará a perguntar-se se assim ganharemos à Dinamarca. Esta, já uma besta negra nas duas últimas qualificações em que nos ficaram à frente, só poderá partir da sua base defensiva em que defrontou a Holanda. Bem, também quando tiveram de atacar, para serem primeiros do grupo evirando o play-off, a Dinamarca deu mesmo um banho de bola em Copenhaga onde nos bastava um empate. Resta saber se Portugal desaprendeu de atacar, pois desde então só ganhou uma vez em sete partidas (à Bósnia, onde ninguém se queixou da eficácia no 6-2) e se a equipa libertará Cristiano para mais jogadas de ataque. E não há como fugir a isso, porque toda a Europa está mesmo atenta e evita os floreados, não as discussões sérias de bola.
A verdade é que, em contra-ataque estrategicamente assumido para tentar surpreender os alemães, nem Cristiano se libertou nem os adversários andam a dormir e só levam para o campo o plano A. No conservadorismo de sempre de Paulo Bento, apojado pelos basbaques que o acumularam de honrarias na qualificação, ele sim, qual salvador da Pátria, já não se sabe se a filosofia de libertação virá de Cristiano, muito apagado nesse domínio de transcender-se e galvanizar a equipa por arrasto, ou do treinador que não teve perfil na carreira para liderar uma equipa com o potencial ofensiva oferecido por Cristiano e Nani, este ausente no Mundial para fatal debilidade atacante portuguesa.
Toda a Europa tem os olhos em Cristiano mas sem a condescendência basbaque da tugalândia que pensa que o futebol se ganha só porque sim. Com Mourinho a seguir os nossos jogos in loco e os dos seus outros espanhóis do Real Madrid, era bom que alguém entendesse a forma de os médios madridistas libertarem Cristiano, para além de um ponta-de-lança forte servir esse efeito e não o pastelão Postiga a quem a Senhora do Caravaggio e o senhor que a pariu fazia bem por verdadeiro milagre.
Cristiano tem de assumir, como Portugal também. Falta-nos o criativo 10, como era expectável já anos mas muitos quiseram até atrasar quando aí por 2003 recusavam Deco como substituto de Rui Costa no futuro imediato. Deco falhou em 2010 porque já pensava na retirada e acabou a contaminar o ambiente, através de Cristiano. Temos de reformular as ideias e os movimentos no meio-campo para mais gente chegar à área e Cristiano poder ser letal. Tal como Nani. Se os extremos se libertarem, qualquer avançado-centro fará golos. Ou, no limite, Paulo Bento meterá Cristiano no meio para Quaresma ocupar uma das alas, partilhando os flancos com Nani?
Os vikings, que nunca facilitam, estarão à espera. E os portugueses também. Pelo menos que se cumpra a promessa de se jogar para ganhar e apostar na vitória desde o início. Depois de amanhã será por obrigação, como após o 0-1 da Alemanha. Portugal não pode jogar espicaçado por uma desvantagem, mas não tem com Paulo Bento a coragem de assumir o jogo.
O blá, blá idiota, tão ridículo e mais desfasado da realidade do que na despedida do Mundial, fica para os tontinhos da comentadeirice tuga e a parcimónia dos pés-de-microfone com carta de alforria para não "destabilizarem" a Selecção. Continuo, por mim, a laborar em factos e não a dar opiniões com as oportunidades de golo assim e assado, primeiro para nós ou depois do golo deles. Muitos, patetas do costume, entretiveram-se com isso. O jogo, agora, é outro e dos fracos não reza a história, mesmo que a roupagem oficial da comunicação pastoral festivaleira e louvaminheira diga que o ambiente é do melhor e a equipa está mais forte e convencida que nunca.
Boutades - A parolice nacional-tuga manifestou-se alarvemente e na ignorância costumeira face a duas tiradas que ganharam raízes no futebol espanhol. Um pasmaceiro qualquer indignou-se por Xavi ter dito que Mourinho não ficará na história do futebol, ao contrário de Guardiola. Acontece que Xavi já o tinha dito há meses mas o jornaleiro lisbonense andou distraído. Do mesmo modo, um bacoco pivot televisivo pegou na deixa de Paulo Bento sobre o "jogamos como nunca, perdemos como sempre" como se ouvisse aquilo a primeira vez. Essa é uma tirada que tem anos em Espanha e há muito a assumi, tal como Paulo Bento a conheceu até dos seus tempos, vai para 20 anos, no Oviedo. Os tugas da pasquinagem lusitana só mostram a impreparação e o gueto informativo em que vegetam servil e pacatamente.
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