27 janeiro 2013

Esqueceram o Farias... e a Europa

Melhor do que há um ano, porque chegam mais cedo e podem ambientar-se de forma mais serena num calendário de momento menos intenso, os reforços "de Inverno" do FC Porto merecem uma leitura cuidado e extensiva. Izmaylov, agora com y, até já começou a marcar. Liedson não tardará em fazê-lo. Mas não quer dizer que não subsistam dúvidas sobre ambos, além de verificar-se que, tal como há um ano, o FC Porto está menos ambicioso na Europa e mais ciente do necessário para conservar o título. O objectivo é o Tri; a sedução pelo progresso na Champions, que parece ao alcance, já é mais abandonado. Liedson tem um motivo mais. O Málaga é que tem-se confirmado como grande equipa.
 
Para quem há uns anos tinha avançados em abundância, não há dúvida de que o FC Porto está em carência. Falta de visão percebeu-se quando alguém viu em Kléber alguma coisa de útil e produtivo, rapidamente desmentido na realidade. Até ficarmos sem Falcao, sobrando Hulk para a despesa essencial, foi um ápice. Lembram-se de Janko há um ano? Não dava, era limitadíssimo e, além de vetado na Europa onde jogara antes pelo AZ, significou isso mesmo, desistir da Europa. Ajudou, pontualmente, a ganhar o campeonato: o objectivo. Lucho acabou por confirmar a sua classe, apesar das dúvidas sobre a sua condição física que não faziam, como não fazem, perigar a consistência do seu jogo cerebral.

Por falar em abundância e quando o FC Porto atacava cirurgicamente o mercado nacional, se não o viram por cá puderam ver menos lá fora a consistência deste escurinho que nos dava água pela barba. Aliás, como disse na altura, tenho pena que o FC Porto não olhasse para este moço que vai voltar a dar-nos água pela barba na 2ª feira.
 
De igual forma que Lucho, Izmaylov e Liedson são dos que não desaprendem de jogar, trazem o ADN de bons jogadores consigo, mesmo que a resposta física não seja a dos seus tempos áureos, compreensivelmente. A vantagem de ambos é que, não obstante as dúvidas que fatalmente se produziram quanto à sua capacidade física, conhecem o nosso campeonato, estão ambientados e isso é importante tal como importante é garantir o objectivo da época: o Tri. Lembre-se que Janko nem fazia ideia o que isto era (aquela confissão de desgaste até às últimas na Luz...), mas também Kléber não faz ideia o que é o FC Porto, como os responsáveis portistas avaliaram muito mal as qualidades do brasileiro.
 
Liedson faz lembrar Janko: sendo melhor jogador, a mim cada vez mais me parece que manca e ao austríaco pus-lhe cedo o apelido de Manco. Liedson já perdeu a mobilidade que o fazia circular fora da área, virtude que Janko não tinha. Mas Liedson vem apenas como alternativa a Jackson, nunca para jogarem juntos a não ser quando os Moreirense, Académica, Beira-Mar, Nacional e Setúbal se apresentam fechados no Dragão mesmo quando a perder... E vem aí mais do mesmo na 2ª feira com o Gil Vicente.
 
De resto, Liedson não gosta de 4x3x3, disse-o, e via-se, quando alguém em Alvalade pensou mudar o regular 4x4x2 em que ele reinava. Logo, o sistema do FC Porto não se vai alterar, Liedson entrará em urgência, podendo ser decisivo dentro da área. Faz-me lembrar Farias, mas esse tempo de abundância de avançados no FC Porto parece que foi há mil anos, com o argentino estóico no banco e perspicaz a finalizar ajudando a desbloquear muitas defesas cerradas mas também quando tínhamos gente nos flancos do calibre de Quaresma e Hulk, mais o Tarik e até o Lisandro. Um maná.  Quanto ao Farías, Vítor Pereira vir dizer que precisavamos de alguém como Liedson leva-me de volta, precisamente, a Farias.
 
A aposta concreta em jogadores que conhecem o campeonato só reforça a convicção de o FC Porto apostar no Tri. A Europa pode dar um bónus se passarmos o Málaga, mas não parece que estes reforços sustentem essa ambição. É mais a pensar nessa possibilidade, é verdade, que os reforços surgem e apenas por coincidência do Sporting, dois dos seus melhores jogadores dos últimos anos que o FC Porto resgata do imenso buraco onde se meteram e de onde Liedson saiu a tempo para esparsamente brilhar de volta ao Corinthians mas arrastando-se, ao que dizem, nos últimos tempos pelo Flamengo. Só que o Málaga parece ter argumentos que o seu nome menos sonante não indiciaria.
 
É nestas medidas, de ambição quanto a objectivos da época reduzidos ao Tri, de prudência para salvaguardar as vicissitudes de calendário mais exigente em Fevereiro/Março, também de contenção financeira pelo acesso a dois ex-bons jogadores que nunca atingirão o nível alto que já tiveram mas sairam baratos, que devemos compreender a chegada de Izmaylov e Liedson. O russo pode ainda dar o que a equipa, sem flanqueadores, vem perdendo em soluções ofensivas. O brasileiro pode ser Levezinho mas engrossará o peso na área em circunstâncias de ataque mais afunilado. Um extremo e um homem de área que faziam falta mas que cumprem apenas funções de substituição e não de efectivo ingresso de caras como titulares, embora o russo tenha mais hipóteses face à falta de alternativas e a lesão de James cuja ausência se tem notado.
 
Nos prós e contras, o FC Porto saiu mais reforçado, porque as limitações eram evidentes mesmo sem descolar do Benfica. Não chegam em cima do fecho do mercado como estupidamente permitiram há um ano e, até, já conhecem Portugal. A veterania, nestas circunstâncias, é um posto, Izmaylov e Liedson não desaprenderam. Mas a Europa continua longe: não temos jogadores velozes, à excepção de Atsu, para dar corda a um jogo essencialmente mais de transições rápidas na frente. Hulk fazia a diferença e agora esta é zero. O tal Hugo Vieira, de volta ao Gil Vicente, era uma boa alternativa e português.
 
Mas com a abundância do passado que nos dava o luxo de ter Farias no banco, mesmo que fosse um jogador insuficiente para a Europa como Liedson me parece de momento ser, este contraste com a penúria do presente é sintomático do estado debilitado, de finanças e ambições, que o FC Porto enfrenta. Soluções de recurso, vistas pelo lado do que confere a sua experiência mais pelo rendimento em activo a valorizar no futuro, devem chegar para o Tri. Quiçá até a taça da treta, mas alguém irresponsável apesar de bem pago deitou fora uma qualificação perante o silêncio da guarda pretoriana.
O FC Porto, agora, olhou a tempo, e de forma cirúrgica mesmo que menos virada para a valorização de activos como era prática, para a premência interna. Porque quanto a isto tenho muitas dúvidas. E num jogador que, além de defesas, comeu também muitas palavras a falar entaramelado, dizer que sonhava jogar no Porto é bom para quem se despediu de Alvalade garantindo que em Portugal só jogaria no Sporting. Noutras circunstâncias, estaria mesmo a ver um pasquim da capital gozar com o jogador publicando as declarações dele noutros tempos.
 
O facto de virem do Sporting é menos significativo. Sê-lo-á mais se ambos vingarem mesmo já a passarem o prazo de validade. Significaria que até em condições extremas é melhor ser duque no Dragão do que rei em Alvalade. Moutinho percebeu-o mais cedo, recuperando nobilidade na sua mobilidade e o seu caso é diferente por ter sido aposta de elevado investimento, também movido pela força do jogador em procurar ganhar algo e ser mesmo alguém no futebol em vez da indiferença e obscurantismo para que cairia em Alvalade, como caiu Izmaylov. A Imprensa lisbonense apontar o factor-leão ao investimento do Dragão é meramente simbólico. Em tempos, com jogadores ainda na sua plenitude, o FC Porto tirava gente de Alvalade do calibre de Inácio, Eurico, Futre, mesmo Sousa e Pacheco que se haviam mudado para lá até perceberem como regrediam na carreira. Nestes casos todos, como nos actuais, a influência da inteligentsia lisbonense não chega para amedrontar gente menos sensível à mudança de ares por uma suposta perda de raízes, como sucedeu a Dito e Rui Águas também nos anos 80.
 
Apostando também na redenção que ambos queiram para as suas carreiras, o FC Porto parece apostar no ADN competitivo que não deve ter, tal como o saber jogar, desertado dos dois. E aí, mesmo que reforçando a frente das competições domésticas, o FC Porto também esteve melhor, antecipando tempos de entrada em jogo, do que há um ano. Pena é subestimar a Europa, talvez para não perigar o campeonato.

Fora de hipótese, por outro lado, está Liedson voltar à Selecção. Não só Paulo Bento deixou de contar com ele no início como o facto de terem azedado as relações com o FC Porto e o seleccionador inviabilizam que uma chamada eventual pudesse conotar-se com... favorecimento e/ou compadrio e influência pintista na selecção do Bentoinha.

Para acabar com a vistoria de Janeiro ao plantel, tem-se falado pouco, e ele treinador à parte, de Fucile, de volta de empréstimo ao Santos. O melhor Fucile poderia voltar a ser defesa-direito para que Danilo não se esforçasse tanto a querer ser médio-direito como bem escreveu o Jorge. Danilo chega ao ataque cansado, é a única explicação que tenho para fazer cruzamentos tão maus, porque maus passes já ele faz a subir da defesa para o meio-campo. Nunca gostei de jogadores que jogam com o pé sempre de lado para a bola, chamo-lhe estilo padeiro, com tendência para, precisamente, só mandar a bola para o lado e nunca para a frente. Continua a não me agradar. A médio será de aproveitar, se Fucile entrar.