25 janeiro 2013

Taça da treta e amadorismo

A confirmar-se o que tem sido noticiado ao início da tarde, o FC Porto perde na secretaria o acesso às semifinais da taça da treta. Mesmo que apenas superficialmente, verificados os factos, os regulamentos determinam pena de derrota. Excessivo ou não é algo que muitos quererão discutir a seguir, mas torna-se ridículo que tal determine uma derrota. Porém, os clubes ratificam os regulamentos e o FC Porto, que gosta de aparecer de vez em quando na sede da Liga, mesmo podendo verificá-los no Dragão, faz parte dos ridículos que se expõem a sanções anedóticas.

Cabe esclarecer, pelo que se lê e ouve, que três jogadores portistas terminaram um jogo com a Naval pela equipa B, na II Liga, pelas 17.45h e menos de 72 horas, como impõe a proibição no regulamento, estavam presentes na taça da treta frente ao V. Setúbal num jogo iniciado às 17.30. Temos 15 minutos que fazem toda a diferença, embora pudesse não ter feito se este jogo tivesse, como outros, começado mais tarde, pelas 18 ou 21 horas, mas os direitos televisivos têm destas imposições também e há que saber conjugar tudo isto, para isso existem directores supostos conhecedores dos regulamentos. Logo, o FC Porto perde o jogo com os sadinos que, assim, pode avançar para a semifinal com o Rio Ave. Bom proveito e boa sorte.

Isto vale o que vale e o que vale é o que demonstro a seguir. Porque já se desrespeitaram 72 horas entre jogos como intervalo para "poupar" jogadores, no campeonato principal e outras provas como na UEFA; já se desrespeitaram regulamentos no tocante a deslocações de equipas ao estrangeiro e protecção de jogarem mais tarde no regresso a casa, eventualmente e normalmente por causa de jogos televisionados e os horários convenientes. Mas este processo não é novo, nem é inédito em Portugal. O Real Madrid, com Valdano a treinador, uma vez utilizou 4 jogadores em simultâneo no campeonato espanhol quando o limite, ao mesmo tempo, era de 3 em campo.
 
Pois seja. O que vem confirmar como esta taça da treta não tem emenda, é afundada em regulamentos sempre pouco claros e em norma modificados todos os anos. Uma competição sem apelativo algum a não ser "puxar" pelos jogadores jovens e de preferência portugueses garantidos em cada onze. Muito bem, até acumulando com o ressurgimento das equipas B.
 
Pois é entre a utilização de jogadores nas equipas B ora retomadas e os compromissos da taça da treta, que até podem ser "manipulados" pelos horários ditados pelas transmissões televisivas, que fica o ridículo da questão. Não que não se deva cumprir regulamentos, mas que se inviabilize, mesmo que por minutos, como parece ser o caso, a participação de jogadores entre dois jogos nestas competições e se anule a presença de uma equipa qualificada em campo, sem martirizar ou escravizar os seus jogadores, é prova da indecência moral, repito MORAL. Mas ratificada pelos clubes em plenário. Essa é que é essa.
 
Não há limites para o ridículo da taça da treta que, somado ao novo advento das equipas B, curiosamente acaba a castrar a participação desportiva dos jogadores que a II Liga e a taça da treta eram supostas proteger.
 
Mas este amadorismo atroz, de resto verificado em muitos regulamentos aprovados, depois revogados e pelo meio com tantas questiúnculas e poucos esclarecimentos e transparência, irregularidades que prejudicam marcas e afastam patrocínios (como já sucedeu), não pode ser desculpado pelo amontoar de profissionais nos clubes, neste caso o FC Porto que não cuidou de verifricar estar a cumprir os regulamentos.
 
Cada qual tire as suas ilacções, o clube até pode desistir de vez da taça que enjeita e mesmo retirar a equipa B como fez com o basquetebol. Mas de amadorismo também não escapa, tal como o amadorismo da Liga e o permanente refazer de regulamentos como em nenhuma parte do futebol civilizado e desenvolvido sucede.
 
Como ninguém olha para isto na perspectiva estruturante, chegamos ao tal ridículo que cobre todos de vergonha. Ou devia cobrir. Mas para o ano há mais. A taça da treta, tal como a alcunhei, continua a derramar o seu prestígio sem valor. Os profissionais do futebol, fora das quatro linhas, também dão conta do valor que têm. Uma e outra coisa, contudo, não são de agora.

nota: escrevi isto rapidamente, em cima da hora e verificados os pressupostos facilmente identificáveis da notícia. Já se descobriu que o Benfica teve o mesmo problema em utilização de jogadores. Ah, mas jogaram sempre na equipa principal entre o campeonato e a taça da treta. Ok, o Benfrica não está abrangido e não pretendo mais do que vincar o meu ponto, só meu mas que podem COPIAR À VONTADE: é sumamente ridículo, tão cristalinamente como a aplicação correcta dos regulamentos, que a penalização envolva jogadores da equipa B. NÃO HÁ VERGONHA do que isto significa, como enunciei acima?