Em Espanha chamam-lhe assim ao público. Pelo menos chamavam, foi das primeiras palavras mais específicas, sintomáticas e simbólicas que ainda muito novo aprendi de ouvir dizer, começávamos a ver os primeiros jogos da Liga espanhola, no final dos anos 70, com muita "chuva e areia" na tv a preto e branco, graças a umas simulações manhosas de manhosas parabólicas... constava-se que uma no Marquês cobria grande parte dos tvnautas daqueles tempos.
Em Itália, onde também aprendi a língua ouvindo falar de futebol em parabólicas já mais legais e sintonizadas, também respeitavam o público pagante. Tanto que, em cada ficha de jogo dos diários desportivos, lá vinha o montante garantido pelos "abbonamenti" em milhões de liras e a soma dos bilhetes para o público também em milhões de liras. Habituei-me, muito cedo e rapidamente, a "destrocar" esses milhões. Aliás, em Espanha também se falava de milhões, em Itália facilmente se chegava aos "milliardi". Contante.
Em Portugal as coisas é que nunca são o que parecem. Se 1500 tipos fazem uma manchete num treino, 14 mil deviam dar que fazer na capa e contracapa, mas a ilusão dos milhões ofusca os papalvos dos pasquins. Os clubes ainda vão respeitando os adeptos, já com limitações demasiado SADicas para o gosto de alguns. Os que procuram leitores continuam a arruinar o seu negócio, mas sonham com milhões à mesma que isto de sonhar, em Portugal, foi sempre a subir até cairmos no abismo onde muitos fazem de conta que não estão... nem para pensar em quem nos arrastou, alegre e fantasiosamente, para o passo em frente.
Já tivemos, de resto, jogos grandes cujo preço mais caro para público não tinha sequer paralelo na Europa. Isto de pensarmos em grande é, de resto, tanto de grandioso tradicionalismo como de espalhafatoso harakiri. Os sonhos de grandeza, aliás, costumam acompanhar a grandeza dos défices, mas as palavras eloquentes continuam a sair bem compostas e secundadas pelos basbaques dos palradores desportivos.
O sonho de ser o mais grande dos maiores mais tudo está, como nos povos, na massa do sangue, ou vice-versa, de certas franjas. No Real Madrid, enfim, basta apanhar um grande da Europa para entrar em órbita. Para o jogo em casa com o MU cobra de mínimo 70 euros, o máximo dos ingleses quando jogarem em casa a 2ª mão.
Parece pouco respeitável. Ou, como qualquer clube pequeno, já espera só fazer a receita da época contando ser eliminado.
A vantagem em Portugal é que, apesar de 20% de pobres e 80% de iletrados, pelo menos cada vez pagam menos por pasquins que confundem a estrada da beira com a beira da estrada, desrespeitando os leitores. O pior é que num caso ou noutro o bueiro está presente e o esgoto tende para o seu precipício.