03 março 2013

Impressões

Alvalade tornou-se cada vez mais um confronto problemático para o FC Porto, mais do que a Luz já o tinha escrito, por potenciar o confronto do ex-2º grande há 15 anos ultrapassado pelo Dragão e que mostra ressentimento em cada recepção aos portistas. Ao invés, a ida à Luz é uma questão de honra para o FC Porto, de vincar a supremacia no campo do rival. Quando o FC Porto teve de se impor em Alvalade ganhou e na jornada seguinte sagrou-se matematicamente campeão. Foi com Adriaanse, creio, a última vitória lá. Já lá se viu um festival de futebol e ocasiões para golear e... derrota por 2-0, ia já o FC Porto, com Jesualdo, 8 ou 9 pontos à frente dos pupilos de Paulo Bento. Quando o FC Porto precisou de vencer na Luz ou empatar para manter-se na dianteira fê-lo com mais abundância. E quando lá perdeu ou nem valeu para as contas finais (2 derrotas com Adriaanse num título ganho a 2 jornadas do fim, em Penafiel). Ou foi derrotado pelos árbitro: o golo fraudulento com Lucílio Vigarista em 2009-10 ou o golo com bloqueios na taça da treta cortesia de Artur Soares Dias.
 
O empate de sábado em Alvalade acaba por cair na tónica dos jogos lá, com os acossados locais a espevitarem-se ao ponto de ver-se Jesualdo pateticamente a pedir uma expulsão a Otamendi quando Rinaudo fez 3 ou 4 vezes mais faltas.... Ou, pior, noticiar-se que "Godinho agarrou Reinaldo Teles pelo pescoço" (agrediu-o, à primeira, segunda e terceira leituras; ou apaziguou ânimos de gente ressabiada, fica a leitura do crime em pasquins do regime como este, com o ainda presidente a pagar a factura do descontentamento editorial por vendas a pique), que eu não quis apurar o significado concreto e a extensão da questiúncula que o jogo, relativamente calmo e sem casos de arbitragem, não motivaria. A não ser que a excitação se apossasse dos lagartinhos que, passado este hiato, vão voltar a penar para ganhar, pois voltarão a ter de expor-se aos seus erros de jogar no campo adversário e, ante defesas tão cerradas quanto a sua no sábado, bater contra o muro que tem sido a causa de muita ineficiência ofensiva, de resto para rapazinhos tão imberbes como o fraquito holandês que mal pode correr até à área contrária.
 
Enquanto a retranca caseira, à moda Mourinho, dá para chapar com títulos de coragem e por aí ao lado, Jesualdo aspira à Europa sem perceber os alçapões que a chamada ao ataque para ganhar jogos tem à sua frente. Por exemplo, já com a muito defensiva Académica, a seguir. Isto numa altura em que, mesmo perdendo o Rio Ave no 5º lugar, o Marítimo, vencedor em Alvalade, se chegou à frente e o Estoril, há pouco vencedor do Sporting, está a um passo e já tem vantagem directa sobre os leões, que terão de visitar os Barreiros, é de alguém que percebe tanto o seu estado classificativo, num plano idealista, como preconizava que o jogo com o Porto iria fazer crescer a equipa leonina.
 
Uma equipa que "obrigatoriamente" é esperada jogar para ganhar e raros jogos ganhou e, num dado jogo, se posiciona para não perder em casa, usando uma estratégia já gasta mas que vai dando aqui e ali um pontito ou outro, não vejo que lição para o futuro aprendeu. Mas serviu para acalentar os corações despedaçados nalgumas Redacções, fazer Jesualdo sair da casca tão velho e não ficar atrás do leão de gema Oceano nas expulsões para também ficar bem perante o calendário eleitoral em curso, excitar a Tribuna VIP sem motivos alguns para extravasar alegrias, pôr um desconhecido dirigente a clamar, comme d'habitude, contra o árbitro por assuntos de relatório (a expulsão do paupérrimo Rojo, de quem já escrevi há tempos o que vale, é intocável) e, the last but not the least, acicatar o assalto à liderança do Benfica com segunda vitória por penálti milagreiro em três jornadas, fazendo lembrar a ponta final das bolas paradas e a pedido de 2004-2005.
 
É curioso como a jornada termina e foi o Sporting a merecer os destaques, e nem pela razão justa de quase ter ganho sem saber ler nem escrever, conseguindo o mesmo ponto que o Olhanense tendo feito ambas três remates à baliza e Helton.
 
O FC Porto só se pôs a jeito de todas as formas, desconcentrado e lento e previsível ao contrário do pico de génio em Guimarães há exactamente um mês atrás. Nada que não se endireite a tempo.
 
Se as dificuldades costumeiras e históricas, amiúde histéricas dos calimeros em bicos de pés ou apenas com o nariz fora de água para não irem parar ao Tejo ou amnistiados pelo Fisco como teme LVF, voltaram a ser desprezadas pelo FC Porto, o 2 de Março deveria trazer à lembrança a forma destemida e finalmente triunfante da Luz há um ano atrás.
 
Entretanto, o futebol à Barcelona que está a falhar no processo original exactamente pelos mesmos motivos de se enredar na teia alheia e ninguém saber saltar o obstáculo directo para se chegar à área, tem pequena réplica no Dragão em similitude com o colosso catalão que "perdió los papeles" e já cede fácil e até inocentemente com o Real Madrid sobre quem tinha ascendente psicológico.
 
O futebol continua a dar-nos lições, para o bem e o mal, sem apresentar grandes surpresas. Apenas factos que os analistas devem saber interpretar e não ir com a emoção mesmo depois do jogo passado.