07 abril 2014

Para não esquecer

Arrepia-me ler e ver coisas deste genocídio de que se completam 20 anos do seu tresloucado início, como amigos e vizinhos se transformaram em animais e uns, mais fortes e armados, instigados pelas elites locais e aparentemente gente de bem, massacraram outros. Vinte anos depois, não é significativo saber que os hutus dizimaram os tutsis, às vezes esquecendo até laços familiares. Há 20 anos a internet mal era usada em Portugal e eu, particularmente, aindava muito ocupado e muito por fora, mal lembro das notícias de então e muito menos da dimensão que a tragédia assumia. Mas, hoje, a internet ajuda a espalhar a notícia da brutalidade raramente vista e profusamente ilustrada e documentada, inclusive o perdão das vítimas perante os algozes que faziam aquilo como quem descascava uma banana, matando mulheres e crianças à paulada com o maior "desportivismo" que seja possível imaginar.
 
Mesmo sem ter acompanhado a coisa, lembro que em 1995 o Ruanda participou no Mundial sub-20 do Qatar (onde Portugal logrou o 3º lugar à custa, na "pequena final", da Espanha de Raúl e de la Peña, virando um 0-2 para 3-2 onde pontuavam Quim na baliza e Dani e Nuno Gomes no ataque). Era uma equipa, aparentemente, de unidade, diziam, com hútus e tutsis, apesar da ferida ao tempo aberta. Assim a jeitos da Coreia unida que participou no Portugal'91, da mesma categoria etária, sem relevância para o processo histórico ou sequer de aproximação. O que se tentou saber do Ruanda junto daquela equipa, em Março de 1995, foi quase nada, como da China que, após o massacre de Tiananmen, em Julho de 1989, se isolou quanto a comentários durante o Mundial sub-16 na Escócia (curiosamente com um 3º lugar de Portugal, então com Figo e Peixe como expoentes).
 
Não podia deixar de assinalar uma das mais tristes efemérides: o genocídio do Ruanda, a vergonha que a ONU ainda sente por não ter socorrido aquela gente - e pareciam todos iguais - e a vergonha que toda a gente deve sentir, e chorar, amargamente.
 

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