O Brasil-Croácia taça um paralelismo com o Brasil-Jugoslávia que há 40 anos, a fazer amanhã, marcou o arranque do Mundial-74, em Frankfurt, a 13 de Junho (deu 0-0). Paralelismo porque hoje são croatas e há 40 anos eram "jugoslavos". Tenho a minha primeira caderneta de cromos da bola desse Mundial, chamada "Munique-74" pelo palco da final e não pela RFA que albergou a competição onde Havelange se estreou como novo presidente da FIFA e marcaria a reviravolta do futebol mundial para o negócio planetário que é hoje e, inelutavelmente?, propenso a corrupção.
Dos meus cromos de então, onde Rivelino e Jairzinho, entre outros, sobreviviam dos campeões mundiais de 70, revi os jugoslavos e alguns que, entretanto, deram treinadores: Nenad Bjekovic, Dusan Bajevic mais conhecidos. Engraçado é que, lendo as legendas dos cromos, muitos jugoslavos apareciam em clubes como o Zabrze, que é cidade polaca, em vez de Zagreb, hoje croata mas então a segunda cidade da Jugoslávia de Tito.
Hoje iniciamos uma maratona de 64 jogos, salvo erro, quando há 40 anos eram 40 porque, depois da fase inicial de 4 grupos de 4 equipas, havia ainda uma fase de grupos (2x4) cujos vencedores acediam à final e os segundos ao jogo dos 3º/4º lugares, modelo que se manteve em 1978 e, com a variante de 4 grupos de 3 equipas, 1982, antes das eliminatórias na segunda fase a partir de 1986.
De há 40 anos, ainda tenho o calendário de jogos televisionados, só tínhamos 12 jogos na TV (idem em 1978), normalmente selecionados entre as principais equipas europeias e ainda o Brasil. Obviamente, nunca mais de um jogo por dia e hoje temos dias com 4 nalguns dias. Eram raros, como se vê, os jogos na tv pelo que era de aproveitar tudo. Foi o tempo da descoberta do futebol, eu que sou de 1962 e não um génio precoce como quem, depois de mim, creio que de 63, já escreveu ter-se deliciado com as diabruras de Pelé em 1970 - e hoje palra na tv e enche jornais como guru predestinado com a visão da coisa, refiro-me ao Lobo das tácticas de quem, acidentalmente, li um preâmbulo num livro do entendido das geometrias da bola.
Um encarte da "Tele-Semana", a revista de tv de então, continha um preâmbulo delicioso sobre a "alienação" do futebol tal como tinha sido explorada pelo regime que o 25/4 fez cair em Portugal. "Alienação" que, aparentemente, deixaria de existir no "homem novo" lusitano dali para a frente. Garantia-nos a pequena revista, formato de bolso, que passaríamos a desfrutar apenas do futebol como espectáculo e não como veículo de propaganda do regime.
A "infantil doença do comunismo" daquela época em Portugal dava para rir. Hoje só se lamenta que a "alienação" tenha outra vivacidade na informação futebolística tuga pelo clube do regime, o mesmo que era incensado antes do 25/4. Damos voltas e voltas para ir dar ao mesmo.
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