27 novembro 2013

Como se falham tantos passes no Porto de Fonseca?

Esta era, ao que li em "gordas", porque nem para ouvir no imediato tenho paciência e desisti dos directos com perguntas idiotas e temerosas, a pergunta de Jackson. Mas, claro, Jackson não se lembra sequer de Viena, o começo da história do afundanço programático portista. Muitos portistas perguntam o mesmo e, enquanto não alinhavam uma sequer tentativa de resposta como o PS uma alternativa válida de poder, vão-se desfiando lamentos mas sem apontar o problema concreto, muito menos a solução.
 
A organização do meio-campo e a (in)definição do "modo de jogar" - já instei a lerem o livro "Mourinho, porquê tantas vitórias?" - são da responsabilidade do treinador, como é a escolha do onze, a ideia de substituições e, a longo prazo, a escolha do plantel (depois de lhe ter sido apresentado faz opções e fica com quem quer). Preocupações Fonseca acumulou erros a mais que não se coadunam com a responsabilidade de treinar o FC Porto, ou Paços de Ferreira Porto de Fonseca como se pode chamar-lhe. E só vamos em quatro meses de época com a Champions já a arder não sem perder a hipótese de um recorde negativo.
 
Dizer que o Porto joga pouco ou mal é tão vago quanto clamar pela necessidade de uma "austeridade inteligente" ou "reformar o Estado sem reduzir a despesa". Para os chico-espertos isso é solução de "governabilidade". Para a arraia miúda, vêm aí mais impostos, seja pelos defensores do "Estado Social", porque convém manter o povo atrelado ao miserabilismo da oferta de serviços que é preciso pagar e só o povo pode pagá-los; seja pelos "fassistas" dos "neoliberais" que tomam medidas de autêntico socialismo e, amiúde, puro "norte-coreanismo".
 
Com adversários plantados na defesa não se podem fazer variações de flanco ou passes a 30 metros, facilmente interceptados. Um treinador com um modelo de jogo não o permite. Sabe que está lá um adversário para ficar com a bola. Isto não se corrige na hora, leva-se ensinado para o campo. O lateral não pode meter a bola no meio quando alivia junto à linha de fundo. Isto tem de estar inculcado na mente dos jogadores. O "modo de jogar" começa assim: fazes isto, não fazes aquilo.
 
Nenhum dos erros que têm custado golos era inevitável. Não é "azar". A sua repetição indica que não são corrigidos. E a falta de organização, que venho clamando desde o início da época, é falta de treinador. O "não saber jogar" é da ausência de treinador. Há azar aqui e ali, mas há quem espreite a ver como e quem comete tantos "azares" seguidos, sempre por erros de princípio. E o princípio é o Verbo: NÃO FAZES, RESPEITA OS PRINCÍPIOS DO JOGO. Há tempos disse que desta maneira tão má só me lembra, a última porque antes houve outras, de 2004, do Fernandez que até tinha currículo e ganhou a Supertaça e a Taça Intercontinental. 

 
O P.F. actual é uma lástima pela incompreensão interna das falhas do processo. E, contudo, as gentes debitam generalidades, talvez porque a antena do clube, o Torto Canal, não instrui como deve nem aproveita como lhe cabe para enunciar o a,b,c do jogo com imagens próprias. Este é todo o paradigma da falta de comunicação, inerentemente do foro interno do clube para o exterior mas que chegou ao âmago do jogo, no campo.
 
Como qualquer pobrezinho ou reformado ou sindicalista ou professor ou juiz, nos extremos da escala social, muitos portistas esperam pela Providência e a intervenção do Nosso Senhor. Pois foi ele que
- não logrou manter Vítor Pereira depois de excomungar AVB;
- permite a exclusão do lendário Kelvin em favor do refractário Xismailov;
- tem em agenda, perante o fracasso de bilheteira de um filme do Produções Fictícias, mais uma para breve hemorragia do plantel com a venda de alguém para compensar;
- tendo o Fernando para sair livre a partir de Janeiro e o Jackson há meses a falar-se de renovação.
 
Isto sobra para o treinador,
- como sobrou vender Falcao após a 1ª jornada;
- renovar com Jesualdo por dois anos (meses após uma demissão "iminente") depois de uma dobradinha mas antes da dobradinha de vender Lucho e Lisandro no Verão;
- encaixar 70ME em vendas e ter um de 8ME e outro de 10ME no banco ou na B como em telenovela mexicana.
 
Mas o treinador, mesmo com 11 mancos em campo, tem de mostrar que os pôs a jogar decentemente, que formam um todo e actuam como um cardume com movimentos instintivos naturais de aprendizagem feita sentindo-se a equipa como peixe na água - mas ele destruiu tudo o que a Musa antiga cantava e agora é digna de Museu.
 
Nasceu primeiro o ovo ou a galinha, o erro individual ou o desastre colectivo? Se houver "modo de jogar" tudo flui em harmonia, ganha-se confiança e o erro individual é reduzido ao mínimo.
 
Exponenciado como tem sido o erro individual em tantos e tantos jogos sabe-se tanto o resultado, catastrófico e onde ninguém quer estar, como a causa. Falha-se atrás, precipita-se à frente, desacerta-se no meio, a confiança mina todos os sectores entre as perdas de bola e a falta de posicionamento correcto e racional ocupação de espaços. O jogo segue aos tropeções, cede à iniciativa individual, tolda-se pela miragem de estar na mais forte equipa portuguesa que cria a ilusão de tudo ser fácil de conseguir e a camisola ajudar. Também já escrevi que PF não faz ideia do que é o FC Porto, ouviu falar e ocasionalmente mirou à distância, sem mais, nunca pensando poder estar ali onde todos queriam estar mas não pode qualquer um.
 
São coisas de tal modo perceptíveis que o "ideário" competitivo do treinador já denunciava ser inadequado só de falar. A prática demonstra que tudo está a zero e só o esforço dos jogadores, mal comandados e orientados, foi compensando, até ter traído os próprios, caídos em desgraça de asneiras sem fim.
 
Rio-me quando falam do azar, como se fosse do bruxo de Fafe a culpa de tantos golos oferecidos. Azar, apesar da má memória do personagem, lembro-me da época de Octávio, quando cada adversário beneficiava de um livre directo e marcava, marcava, marcava sempre em remates indefensáveis e coincidências negativas acidentais que saíam bem aos contrários. Octávio tivera a originalidade dos Três Trincos: Costinha, Paredes (jogador banalíssimo que alguém imaginou grande e hoje nem se lembra) e até um Quintana.
 
Preocupações Fonseca acha que com Josué e Licá se atacam defesas fechadas na Europa e não só. E que Josué pode ser o regedor da freguesia, tendo Quintero no bamco e Lucho colado a Jackson. Fonseca é só um sucedâneo de Octávio, modelo Dois Trincos e sem saber qual melhor segundo a escolher: Defour, um dia destes, também se queixará da indefinição porque quer ir ao Mundial. E o Preocupações Fonseca continuará a falhar.

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