15 setembro 2014

O que Lopetegui tem de aprender

Escrevi isto, como tudo o resto já publicado e o que está para amanhã, com a revolta de mais uma sujeira no campeonato a fervilhar. Tenho estômago sensível. Podia ter publicado ontem, mas retiraria o foco do essencial, a denúncia de um roubo inqualificável em Guimarães. Não é como o da Luz, em Janeiro, onde os erros de arbitragem podiam ter evitado a derrota (2-0) mas o FC Porto esteve mal, jogou pior e nem merecia. Este empate doeu mais porque foi falseado pela arbitragem quando o vencedor era óbvio e o FC Porto seria meritoriamente líder isolado do campeonato. Mas não podia deixar de pegar nos temas que o jogo do berço da Nação roubada suscitou: os erros próprios que não são só do treinador mas mais do mesmo com o silêncio sepulcral do FC Porto.
Ao mister JL:
Não conhece o campeonato, os locais perigosos, os adversários mais vagamente susceptíveis, as ratoeiras, os árbitros e muito menos os antecedentes. Estupidamente, mais uma vez, comprova-se que ninguém o informa, como outros andaram aí a apanhar bonés e alguns até portugueses aos quais nenhum distinto senhor da célebre "Comunicação" portista passava uma informação sobre penálti por marcar ou outra influência dos árbitros. Se for preciso, os informativos bufam apenas para os amigos algo de desconforto com críticas de portistas e são capazes de dar nomes e contactos para espicaçar a maralha.
 
Mas Lopetegui tem de aprender.
 
Podia começar... por Mourinho, o que passou metaforicamente por Espanha. Durou três anos, não foi meteoricamente, mas abastardou aquilo tudo ao ponto de unir os castelhanos de Madrid e Barcelona contra o invasor português que punha em causa a qualidade das arbitragens daquele lado de Badajoz para os Pirenéus. Mourinho sabia ao que ia, não anda a dormir e até acorda para a necessidade de fazer passar os outros por lorpas para esconder as suas insuficiências. Mourinho pôs, como nunca, a arbitragem espanhola na fogueira da sua inquisição pessoal como entendido dos meandros e das manhas das arbitragens ibéricas. Em Inglaterra, por exemplo, percebeu que tinha de falar ao nível do temido Alex Ferguson e este percebeu cedo que tinha um rival à altura. Em Espanha, retomando o caminho, Mourinho meteu todos no espeto da sua biblioteca de fanatismos vários e ganhou o campeonato à segunda com árbitros a levá-lo ao colo da Liga dos "100 puntos". Depois nada ganhou, apesar de fazer esperas a árbitros, ter papéis na mão para denúncias clínicas de casos mil, até de jornaleiros e afins na cacofonia vigente em Castela e na Catalunha, até sair derrotado e acabado tanto que a retoma do Chelsea foi outro ano sabático.
 
Falar grosso sobre árbitros não é desrespeito, é pôr as coisas em perspectiva, a do treinador prejudicado. O árbitro nunca é prejudicado. Nunca. Se porventura foi despromovido, o pior que pode ocorrer, será porque alguém tem de descer. Mas isso não é um prejuízo do árbitro, apenas prova da sua incompetência. Se algo está mal nessa classificação, pois é viciada como pode ser a do campeonato que os árbitros desvirtuam com os seus erros.
 
No seu próprio terreno, de treinador com uma equipa forte nas mãos, tem de saber que não se pode ir a Guimarães com Quintero em sapatos de ballet, incapaz de, numa ala, fintar e passar um adversário. Fica-se sem saber se Quintero, já incapaz de produzir junto à linha, é médio ou devia ser extremo. Para ter um híbrido que nem a caroços de azeitonas arranca, tenho saudades do Varela e nem sei, ninguém soube, o que Iturbe faria, mas essa epifania sobra para os crentes e visionários - não sou nada - e repica o sino do despautério administrativo de quem nunca o aproveitou e não deu qualquer oportunidade. Esperemos que Quintero não seja um Iturbe ao contrário: ficando sem o merecer, enquanto vai empalidecendo até morrer.
 
Com uma equipa física, como é o Guimarães e agora com rapaziada boa de bola e rápida como gazelas, ou joga Quaresma que sabe o que é duro e gosta disso ou joga mesmo com outro médio e que se lixe o 4x3x3 mesmo. Modelo Lille. Segurança a meio-campo, sacrificado Quaresma com amuo, não está Oliver que prova fazer mesmo falta, mas tem de optar entre ser e não ser. Tem de ser. Mas JL está a aprender. É admissível cautelas em determinados jogos, mas nunca com jogadores que não assumem nem dão dimensão à equipa. Ela mancou e a arbitragem provocou o tropeção fatal.
 
Também deve deixar de pensar nos milagres dos 89 minutos com substituições que serão sempre tardias, resultem ou não. Abubakar estreou-se e não é de amuar, presume-se, mas há coisas que se tem de decidir mais cedo. Quintero nunca devia ter regressado do balneário e Herrera, com o problema do costume que já se conhece há um ano e já se viu repetido nestes dois meses, também. Ou seja, o meio-campo portista não estava preparado para as exigências de Guimarães e tardou-se a reconhecê-lo até virar quase tudo do avesso (antes entrou, bem, Evandro por R. Neves).
 
Outra coisa que Lopetegui, em sua defesa - não pessoal, mas como treinador e 1º representante da equipa e defensor do seu trabalho como técnico -, tem de saber é que deve falar devagar. O castelhano entende-se bem, mas trepidante e em voz rouca é só em Madrid e arredores. Ficou pouco claro o que disse da arbitragem, o pé de microfone da SportTV não puxou por ele como se o resultado não fosse falseado e se já não tivesse a lata de deixar escapar o miserável penálti mesmo tendo falado com os protagonistas Jackson e André.
 
Mas para Lopetegui se fazer entender - como Vítor Pereira fazia - tem de falar claro, devagar e assumidamente frontal. Para compensar o silêncio ensurdecedor que, mais uma vez, a SAD deixa fazer e o decrépito Pinto da Costa passar cada vez mais ao lado da história.

Vão ver e uma próxima manchete do Rascord será culpar os adeptos portistas dos desacatos feitos pelos de Guimarães. Os casuals serão do Porto e nem assim Pinto da Costa falaria: está a soro.

A ideia é esperar que os jornaleiros e os comentadeiros denunciem as malfeitorias contra o FC Porto.

Ontem à noite, já lá estava na SICN o Mário Nogueira, onde é senador vitalício, e na RTPI a Ana Drago, cujo apelido diz logo do que se dispunha a falar. Todos sabem que se indignavam pelo ocorrido em Guimarães. Fiquei absorto e nem me lembrei de ver o que passava de relevante no Torto Canal.

Este País tem quase 900 anos de história mas para alguns tem talvez menos de 40 que podem parecer séculos mas é tudo uma ilusão. Não precisa de ser inventado, por isso, mas não existe, é faz de conta. De manhã, hoje, a TVI24 dizia no resumo que Jackson fizera penalti sobre não sei quem e na RTP calhou dizerem que houve um penálti contra o FC Porto. Curiosamente, foi omitido o golo de Brahimi que não valeu.

Afinal, dizem que até no famoso Museu do FC Porto tem lá imagens refeitas à conveniência do colecionador, com omissões de personagens só porque não agradam.

E não sei se Lopetegui conseguirá vir a saber de todas as patifarias que se fazem.

Essas que não viu nos pasquins da treta que não perceberam quanto a falta de seriedade lhes custa a sobrevivência que trocam por subserviência. Ou as omissões das televisões, as que fazem e desfazem governos e qualificam ou desqualificam campeonatos.

Que Lopetegui não seja surpreendido, como em Janeiro decerto o Preocupações Fonseca foi até com a sua "renovação antecipada", com uma reacção surpresa, por tardia e macabra, com uma auto-entrevista de Pinto da Costa ao Torto Canal a dizer que se calou após o jogo no Benfica por esperar que os jornalistas suscitassem os erros de arbitragem após o jogo e nos pasquins do dia seguinte.

Bem, aí pode estar descansado, não se perturba o cão que dorme, é um ditado antigo tuga que pode também levar consigo um dia como lição do que é ser Português.

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