14 outubro 2014

Quaresma cruza toda a história

Neste processo de recuperação da Selecção, em que Fernando Santos tinha tudo a perder mas muito a ganhar à frente de um barco à deriva que precisava mais de uma chicotada metodológica, de personalidade, do que psicológica face à imoralidade reinante e desumanidade arrepiante, mais do que os regressos dos filhos pródigos que muito a reforçam, está provado que a regeneração rejuvenescedora da equipa pode começar por alguém com os 36 anos de Ricardo Carvalho, o melhor português em Copenhaga. Mas, ironicamente, desafiando mais do que o estigma etário aparvalhado que também domina o apartheid em que os mais velhos são colocados na sociedade em geral e no mercado de trabalho em particular, é a forma de fazer outros engolirem os próprios preconceitos e rebaixarem as suas doutas opiniões como o reaparecimento de Quaresma voltou a provar na miraculosa vitória na Dinamarca que fará os parolos basbaques do costume atirar tudo o que está para trás para debaixo do tapete sempre convenientemente à porta das porcas misérias do futebol tuga.
 
Quaresma entrou bem e marcou o golo em Paris. O tipo que não podia ir ao Mundial do Brasil, diziam quem habitualmente não pensa pela própria cabeça e torna-se meramente altifalante de outros mais temerosos ainda de assumirem posições, pois faria mau balneário e tecnicamente pouco acrescentaria à coisa que animava uma parvalheira congénita de gente mal (in)formada, voltou a entrar e a ser decisivo. Um cruzamento maravilhoso, daqueles em que tem servido Jackson Martinez para provar a valia da sua utilidade no Dragão, deu uma vitória altamente improvável e nada merecida, em algo tão insólito como um golo aos 90+5' e mais autogolo (Kjaer) do que cabeçada do CR7.
 
Até porque só a 7' do fim, quando o seleccionador resolveu tirar Tiago em défice para abrir Quaresma como nunca a selecção jogou aberta na largura total do campo, Portugal nem queria, nem sabia nem podia ganhar. Meio-campo sem agressividade, limitando-se à espera pelo erro de perda de bola dos dinamarqueses, foi a tónica que deu à mais fraca equipa no plano técnico uma inusitada supremacia na posse de bola. E foi sempre assim, mesmo quando saiu Nani e entrou João Mário só para procurar mais um bocadinho recuperar a bola, sendo inócua a troca de Danny por Éder pois os da frente estiveram sempre bastante desapoiados. Portugal ganhou sem querer, sem poder mas a saber, finalmente, com Quaresma a forma de abrir aquilo, algo só visto numa perda de bola infantil que permitiu a Danny isolar CR7 para falhar.
 
Tudo está bem quando acaba bem até porque quem decerto defendeu a exclusão de Quaresma do Mundial agora, tranquilamente, sem peso na consciência dos que ganham nas palavras mas escondem os subterfúgios usados, cantará hossanas por Fernando Santos, além dos 3 da vida airada com que eram catalogados, recuperar também Quaresma que, afinal, nem se importa de jogar alguns minutos no finalzinho de um jogo que era para empatar na disposição táctica e defensiva da equipa.
 
Até porque há momentos de sorte que são mais oportunos do que outros momentos de pura sorte.
 
Depois de tantas asneiras entre Paris e Copenhaga, isto cai como mosca na sopa dos parolos do costume. Só hoje me apercebi que um parvalhão jornaleiro, e não devia ser do CM, perguntou a FS se por ele jogaria contra a França, ignorância que o seleccionador partilhou porque os morcões da comunicação da FPF não souberam informá-lo que esses jogos com a França decorriam do sorteio e do regulamento de qualificação, não eram sequer "negociáveis". E, ainda hoje, os do efe-erre-á e do la,la,la,la, Brasil, Brasil contavam como se tivesse sido há um ano (foi mas em Novembro) que CR7 marcou os golos à Suécia, aqueles que ficaram na história por aselhice deles e que os vizinhos da Dinamarca não cairiam na esparrela de lhe abrirem aquelas avenidas.
 
Prontos, mas nada disto se passou. Chuva de asneiras foi só em Lisboa. Até o Cédric se pôs a distribuir lenha sem levar cartões com a impunidade conhecida no Sporting e ainda ganhou um livre ridículo de cuja insistência resultou o golo inopinado mas só possível porque Quaresma deixou todos de boca aberta, mesmo aqueles que à boca cheia o ostracizaram da Selecção. Os mesmos que acham normal Quaresma e Ronaldo jogarem juntos, quando parecia apenas admissível que fosse o par Nani-Ronaldo o eleito da intelligentsia lisbonense que faz e desfaz com toda a desfaçatez.
 
É pena estes ganharem alguma coisa também nesta merda toda. Podiam ter ido na enxurrada e ficam para apanhar as canas das suas torpezas em foguetório insano.

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