13 fevereiro 2013

Outra vez sem palavras

Desta vez pela negativa, o FC Porto-Olhanense deixou-me boquiaberto. Voltei a não ter tempo nem oportunidade para abordar o jogo e as pechas do futebol portista surgidas numa altura impensável, depois da perfeição atingida metaforicamente em Guimarães. Percebi ao longe, pela tv, a razão do problema mas ele persistiu e a meio da 2ª parte eu já estava a perder a paciência pela reincidência no erro de base. Como estive fora e mal vi televisão estou certo que o Torto Canal já terá elucidado a bluegosfera da sua capacidade de ilustrar o que é o futebol portista como seguramente fez em relação ao aproveitamento dos cantos que, ironicamente, voltou a render um golo e desta vez um pontito.
 
Desde a jogada de Alex Sandro, sozinho e sem noção do espaço e do companheiro mais próximo, junto à área adversária, em que perde a bola porque anda emaranhado com ela e toda a equipa está posicionada à frente da bola sendo apanhada em contra-ataque que não era suposto o Olhanense executar de área a área, o 0-1 sintetizou o jogo confuso e o egoismo portistas. De resto, uma outra jogada na 2ª parte em que Mangala sai da sua zona defensiva e ineste por entre adversários até perder a bola na linha do meio-campo, seria complementada com uma perda de bola de Fernando, à entrada da área de Helton, porque também se decidiu sair a jogar sozinho, depois envolto em abnegados e conscientes algarvios que cercaram sempre o homem da bola e lutaram positivamente para cortar cerce a iniciativa de jogo do FC Porto, sendo que nesta jogada quase se dava o 1-2. Mais: do meio-campo para a frente, com Lucho abaixo do nível e médios bem tapados em geral pela teia algarvia que Cajuda bem montou, foi insistir na jogada individual quando Guimarães tinha demonstrado que a bola deve circular harmoniosamente entre todos e, em bloco, criando o rolo compressor não dá hipótese ao adversário.
 
Juntando as ocasiões de golo desperdiçadas, após uma má 1ª parte em que só por uma vez o empate esteve iminente, temos o desnorte global que se vislumbrou na forma de declarações e no semblante de incredulidade que vi e ouvi em Vítor Pereira e João Moutinho no flash interview. Parece difícil de entender como o FC Porto não ganhou e não se isolou no comando, mas mais do que as ocasiões falhadas, entre elas um penálti de facto e outro "penálti" de jeito por Jackson a rematar alto da mesma maneira, a mim fica sempre a impressão de mau ou bom jogo mediante a qualidade do passe e a progressão sustentada e afirmativa no campo. O FC Porto não explorou os flancos devidamente, afunilando o jogo e com um trejeito trapalhão agravado pelas más substituições que não resultaram porque os problemas de base não foram corrigidos.
 
É claro que, mais do que as palavras, as imagens, a selecção de lances sintomáticos da pecha generalizada do futebol portista, ajudariam o adepto comum a perceber como se regrediu de uma semana para a outra quando era suposto aproveitar o empate do Benfica que eu pelo menos antevia. Mas parece que Vítor Pereira prefere andar ombro-a-ombro com o Benfica, sem depois saber explicar como não se ganha ao Olhanense para além das ocasiões falhadas que aos portistas podem justificar o empate e a Manuel Cajuda especular com o golo (sem falta) após Mangala passar por Bracalli e até duvidar que um defesa tenha o braço esticado para a bola na área de forma a fazer penálti de livro.
 
Apesar da óptima organização e sentido de dever e de responsabilidade do Olhanense, porque Cajuda é um técnico sabedor que monta bem as suas equipas, não atribuo a isso o 1-1 desolador que permaneceu intacto no final como se fosse contra raios e coriscos, no caso até uma saraivada das fortes. Foi por algum bambúrrio que o Olhanense não perdeu, com a "desgraça" de Jacksona falhar dois penáltis e uma bola por três vezes desperdiçadas ante Bracalli, mas o jogo portista esteve muito longe de ser agradável à vista e condizente com melhor resultado.
 
As ocasiões de golo podem ser, e são, falhadas, mas a perda de tom e de cor do jogo fluído e harmonioso não podem perder-se de uma jornada para a outra. E aí o FC Porto perdeu e perdeu-se, enjeitando a oportunidade de se isolar, como eu previa acontecesse até final do mês, no que é o primeiro match-point gorado. Para mais contra uma equipa aflita e antes da visita a Aveiro contra outra equipa aflita.
 
Mas tal como me palpitou após o jogo brilhante de Guimarães,. espero que o mau relvado do Dragão não seja mesmo o obstáculo ao melhor futebol e com condições pastosas que favorecem quem defende. Aveiro foi ponto de partida da época e da conquista da Supertaça, agora antecede uma partida da Champions que espero não perturbe também o futebol fluído que a equipa já praticou, a não ser que Guimarães tenha sido um pico e agora é sempre em decrescendo e quiçá descrente de si mesma.