É complicado e até algo tortuoso tentar explicar como se elege o melhor do ano no mundo e, contudo, aí segue a campanha de marketing e publicidade a despeito de, invariavelmente e inexplicavelmente, sempre aparecerem Cristiano Ronaldo e Leonel Messi entre os três melhores.
Os argumentos já foram expostos, mas os de uma facção só não são aplicáveis ao Universo dos votantes representando 209 federações inscritas na FIFA e cujos selecionadores e capitães de equipa votam sob as mais variáveis tentações e circunstâncias, como divertidamente se constata ano a ano desde as remotas ilhas do Pacífico aos igualmente suspeitos enclaves pouco falados algures em cada continente, de San Marino e Ilhas Faroe a Burundi em África e Ilha Dominica nas Caraíbas ou Trinidad e Tobago ao largo da costa sul-americana mas inserida na confederação da América do Norte e Central (CONCACAF).
Do lado português, é legítimo que presidente federativo e seleccionador, este ou o anterior há pouco afastado, puxem e votem em CR7.
Mas ao elencar o argumento, Fernando Gomes volta a mostrar pouca inteligência e capacidade de expressão, pois alegar que o melhor do Mundial não tem de ser o melhor do Mundo num ano porque no Mundial já recebeu o seu prémio individual é o mesmo para quem foi Bota de Ouro e recebeu o troféu de melhor marcador europeu, por sinal ex-aequo com Luís Suarez...
Prefiro sempre não ir por aí. Embora admita como certa a opinião de Buffon: "Messi é o melhor do Mundo, mas CR7 foi o melhor de 2014". É límpido, convicto, pessoal mas objectivo e directo. Não tem subterfúgios como os do idiota presidente da FPF que de licenciado parece sempre mostrar muito pouco em fluidez verbal, Português escorreito e sólida argumentação lógica e correspondente à realidade.
O que fez Messi para estar nos 3 melhores do ano? Pouco, tendo em conta que nada ganhou e o título de melhor do Mundial cuja final perdeu foi tão surpreendente para ele como para todos. Estou à vontade porque prefiro Messi desde sempre e acho-o melhor jogador da actualidade desde há vários anos.
A minha eleição foi feita antes e depois do Mundial:
- no final da época europeia 2013-14, concluídos os campeonatos, o melhor foi para mim Gareth Bale:
i) protagonizou a mais cara transferência de sempre, o que pode ser apenas um rótulo mas que demonstrou em campo e comprovou o elevadíssimo valor pago pelo Real Madrid;
ii) além de golos a solo absolutamente incríveis ao longo da época, o galês fez o golo vitorioso da final da Taça do Rei com o Barcelona, correndo mais de meio campo; e marcou o decisivo 2-1 na final da Champions em Lisboa, praticamente decidindo a 10ª do Real Madrid
- mas no total da época passada, já com o Mundial em cima, e o que vai desta, o melhor do ano para mim foi Angel di Maria:
i) nunca jogou tanto e de forma tão intensa e contínua ao longo da época como desta vez, decerto contribuindo a sagacidade táctica de Carlo Ancelotti numa harmoniosa arrumação do Real Madrid;
ii) marcou um golo (1-0) na final da Taça do Rei com o Barcelona e para Bale marcar o 2-1 no prolongamento da Champions com o Atlético foi di Maria quem entortou toda a defesa conchonera em Lisboa, tanto que a descrição do golo de Bale só vale pela jogada que o propiciou;
iii) além de golos e jogo toda a época, di Maria fez um Mundial sensacional, ao nível de Messi e não fosse a sua lesão que o afastou da meia-final e da final talvez, acredito, a Argentina vencesse a Alemanha;
iv) para 2014-15, confirmando toda a época anterior, di Maria custou cerca de 80ME ao M. United.
Bolas, se isto não são números de melhor de um ano não imagino quais possam ser.
Fala-se dos golos de CR7, sempre aos montes e com um novo recorde na Champions. Mas teve de partilhar a Bota de Ouro com Suarez, ganhou o mesmo que di Maria no tocante a troféus mas o Mundial de Portugal desfaz o resto, pois Ronaldo nem passou a 1ª fase. A penosa final de Lisboa, com um casual penálti aos 120' para mostrar o peito num jogo em que correu sempre por fora, foi o mote para o Mundial por arames. Decidiu a Supertaça Europeia e tem marcado com consistência na Liga esta época e também na Champions mas com muitos penáltis a favor.
Põe-se no meio disto tudo a questão alemã: o Bayern foi cilindrado pelo Real Madrid na Champions, mas voltou a ganhar a Bundesliga e a Taça da Alemanha e foi o esqueleto da selecção alemã campeã mundial. Sem um jogador arrebatador, mas uma equipa dominadora em clube e na selecção, o futebol alemão pode mostrar um g.r. de nível superior ao mundo, como Neuer, mas para quem tem Goetze a decidir o Mundial ou Th. Mueller de novo um dos melhores marcadores do Mundial como em 2010, a coisa não convence muito quanto a "nomes".
Ora, mesmo não ganhando o Mundial, mas com um brilhante 3º lugar, a Holanda pode exibir Robben, campeão alemão com o Bayern. Mas Robben não aparece, da mesma forma que Sneijder não apareceu nos 3 primeiros em 2010, mesmo tendo ganho tudo com o Inter de Milão (campeonato e taça de Itália, Champions em Madrid com Mourinho), depois finalista vencido e infeliz do Mundial da Áf. Sul.
Como foi possível não escolher, melhor, definir Sneijder o melhor de 2010? Como, para cúmulo, não foi universalmente apreciado para figurar nos 3 primeiros? Como, com este exemplo, poderia agora Robben aparecer? E como o futebol holandês com executantes de primeira água passa despercebido no contexto mundial?
Ontem mesmo, via Twitter, ripostei a um tuíte de um jornal inglês que evocava a saída de Kevin Keegan, em 1977, do Liverpool para o Hamburgo para justificar a Bola de Ouro, então só para jogadores europeus, mas uma justificação que 10 anos depois não serviu a Paulo Futre, campeão europeu e uma final de sonho em Viena, antes de sair do FC Porto para o Atlético de Madrid. Quem ganhou em 1987 foi Gullit, apenas campeão holandês pelo PSV e que se transferiu para o Milan mas ainda era um relativo desconhecido e só em Itália, num ano, explodiu para a ribalta.
Em todo este enquadramento histórico e esquadrinhamento dos momentos de 2014, para determinar quem merecerá ser eleito o melhor jogador de 2014, a descobrir em Janeiro próximo, talvez se recorrermos à eleição do melhor treinador do ano se possa ter uma ideia do resultado, favorecendo o Mundial - como eu o fiz em relação a di Maria.
Apesar do extraordinário trabalho de Simeone com o Atlético campeão espanhol e de novo infeliz vencido da Champions 40 anos depois da desfeita com o Bayern, sendo que o futebol colchonero não primava pelo brilhantismo nem sequer pelo "cavalheirismo", presumo que será Loew o premiado pelo título mundial indiscutível no Brasil.
Como assim? Se em Espanha, apesar de tudo, mesmo com Simeone eleito o melhor treinador no seu campeonato, nenhum jogador do Atlético figurou na equipa do ano da Liga, como poderia incluir-se algum colchonero numa disputa mundial, incluindo o seu treinador de resto com um perfil truculento e complicativo pouco do agrado do público em geral?
Pois mesmo sem di Maria, por causa do Mundial em que apesar de tudo Messi foi um dos protagonistas principais até ao fim - e numa jogada só sua quase resolvia a final do Maracanã -, o argentino deve ter mais hipóteses do que na época passada onde uma jogada de bastidores da FIFA favoreceu CR7 na contenda com o estender da votação a abarcar os feliz 3 golos na Suécia.
O que torna tudo isto pouco apelativo, depois do episódio grotesco de 2013, e os argumentos usados em geral são pouco razoáveis mas sobre um de peso que o Mundo pode validar: o Mundial foi mesmo o acontecimento do ano. E só esse em 2014. E Messi, já recordista de sempre em Espanha e também na Champions, deve contar mais desta vez.
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