02 outubro 2013

Mourinho diz Mata, Fonseca diz Quintero

Desmontando algumas falhas estruturais graves e, como sempre, a dar os nomes às coisas.
 
Nenhum sistema se impõe aos jogadores. Não é um mito de feira, é um axioma do futebol. E para certos sistemas só com certos jogadores. Muitos treinadores tiveram de corrigir o tiro de partida. Outros soçobraram por incapacidade. Nas equipas pequenas, enfim, qualquer coisa serve e se ajeita, atamancando aqui e ali sem dar nas vistas nem merecer atenção. Mas isto, como venho dizendo, não é o Paços de Ferreira.
 
Paulo Fonseca pode acreditar no que quiser, mas com falsos e fracos extremos - Kelvin ficou fora da Europa, mas o treinador não tem de saber de tudo, nem de portismo nem de outros significados e títulos conquistados, era suposto haver sempre alguém capaz de ensinar o que é isto a sério - não há 4x2x3x1 que resista. Os gajos das alas têm mesmo de ser bons. Ponto. Olhem para o Madrid de Mourinho, o Chelsea de Mourinho ou o Atlético de Simeone (ontem em 4x4x2, 2ª parte em 4x2x3x1 que arrebatou o jogo ao Porto confuso de sempre). E não os temos. Substituir o Moutinho ainda é o menos, se o resto funcionar. Falhando as duas coisas, o resto à frente existe com boa vontade mas nunca dura muito. E a base fica fragilizada nos médios centrais. É o palco ideal para quem quiser dar liberdade e gozo à sua sapiência, pois criticaram todos os anos e saiu-lhes furada a análise e agora podem bater à fartazana que terão audiência e consenso.

Mas também quem acha injusta a derrota, enfim, diz tudo da capacidade de entendimento da coisa.

Vamos por partes.
 
O Porto ter entrado forte com o Atlético foi visível mas não foi inesperado. Nem para o Atlético, que começou na expectativa e vinha de um jogo tremendo no Bernabéu e menos 24 horas de descanso que o Porto, não queria o jogo muito agitado e o Porto caiu-lhe em cima. Mal as coisas tiveram de se compor, quando o Atlético quis e teve necessidade, subiu e acertou. Retirando Villa para reforçar o meio com Rodriguez, ao intervalo, foi assentar o jogo onde gosta, que é a meio do campo e não na retranca ou à italiana. O Porto desapareceu. Nenhum recebia a bola livre de marcação, os mastins espanhóis apertaram a marcação. Ah, o Atlético é mais forte! Porra, o Porto é assim tão fraco? Não há meio de responder, desequilibrar. Por falta de meios ou incapaz de geri-los?
 
Ou seja, quando teve de ser, o Porto não teve argumentos. Simeone fez o que precisava e logo resultou: domínio do jogo e mais bola. Os médios portistas, como nos jogos criticáveis das últimas semanas, perderam-se e não mais souberam da bola. Não se viu isto antes e contra equipas "piores" do que o Atl. Madrid? Surpresa? Ver os mesmos passes sem olhar o parceiro com a bola a para nos pés dos adversários já vem desde o Estoril, precisamente. Não descobrimos a pólvora, para surpresa do atónito PF, nem acendemos o rastilho. Isto é já uma bomba-relógio mecanicamente ajustada. Ainda assim, causa-me mais impressão que os laterais não façam melhor, quase nem marquem presença na frente! Inexplicável!
 
O mesmo tema recorrente com o mesmo destinatário: substituições que nada dão à equipa, a não ser sinal de turbulência pela frente, perda de consistência e meio (passes e posições), confusão atrás (faltas, adversários soltos) e harakiri: pânico generalizado.
 
Que substituições faz um treinador depois da nulidade de Varela absolutamente incapaz de acompanhar sequer, pese a sua experiência, o puto quase estreante Josué na 1ª parte?
 
É preciso tirar um curso para ver a produção de Varela? E dura 90 minutos? Incompetência no campo e no banco. São detalhes ou elefantes? Pormenores ou abismos?
 
Não, PF tirou Josué (amarelo pesava e se já leva 3 na Liga devia ser ensinado a moderar certos ímpetos, aqui a impunidade não deve passar como no Benfica!) e meteu Licá. Até posso perceber a opção inicial de não ter, como no romantismo do início (porque Varela estava lesionado) da dupla que cedo impressionou: Licá-.Josué. Mas mantendo Defour para a batalha do meio-campo, claro que Quintero ficou de fora. Repito: podia dizer que não tem jeito, mas estava disposto a condescender, tudo depende do desempenho em campo e não nas intenções no papel.
 
Ora, se Mourinho ostracizou Mata, um jogador genial e preponderante no Chelsea dos últimos dois anos, para agora a ele recorrer salvando um ponto no Tottenham e metendo-o a titular ontem em Bucareste, Paulo Fonseca não arrisca meter Quintero com Lucho. Bem, meteu, com o V. Guimarães, mas mal tirou Quintero a equipa afundou-se. Certo? Quintero jogou com o Gil, mas Lucho não.

São incompatíveis ou o treinador tem medo da sua qualidade e, pior, não quer estragar o seu sistema?
 
Que mal têm os treinadores com jogadores rebeldes e criativos? O mal é darem razão a quem suspira por isso. Bem, Mourinho não tem problemas, tal a abundância de craques de um superplantel que já era e ele só podia estragar e vinha a estragar com futebol de retranca até cedo soar o alarme.

O dilema de Mourinho seria entre Óscar e Mata ou Mata e Hazard? Os três é que não, porquê? Mourinho queria que lhe falassem de Mata: esperava elogios? Irritou-se por de Bruyne... Ridículo. A PF impõe-se Lucho-Quintero. E o resto tem e acomodar da melhor maneira sob pena de a equipa nunca mais entrar nos eixos e ainda nem saiu da garagem.
 
Mas PF, ex-Aves e P. Ferreira, acha muito "desequilíbrio" Quintero e Lucho juntos. O efeito viu-se com o Guimarães, quando desfez a dupla. E ontem à noite.
 
Depois da troca directa Licá-Josué, denunciadora do treinador castrador (veio dos "castores" mas não há aqui jogo de palavras) mais do mesmo: sai Lucho e entra Quintero. É preciso tirar um curso para fazer isto?
 
Voltemos ao início: até posso admitir como válida a opção inicial de:
- não pôr dois putos de início Licá e Josué; Varela era o joker da experiência (não resultou, mas isso é outra contabilidade)
- ter mão forte no miolo com Defour (Fernando hoje esteve ao seu nível, até tudo destrambelhar à sua volta e ele ir na enxurrada)
- apenas um playmaker com Lucho (normalmente tínhamos Moutinho-James, antes havia ainda Hulk...)
- aproveitar a expectativa e o desgaste do Atlético.
 
Mas quando se vê Varela a produzir pouco não é de tirá-lo e meter Quintero em seu lugar? Tem de arranjar tudo e até descompor o sistema de preferência? Não quer ou não sabe? Teimoso? Irredutível? No final irá o sistema e o treinador à vidinha...
 
Quando é que o Porto deixou de ter bola? Quando, às unidades improdutivas como Varela e os laterais que continuam a não criar desequilíbrios pese a distribuição maciça de jogadores a meio-campo (outra coisa que não se entende e desfaz a ideia de o sistema corresponder aos jogadores!), não tem gente de jeito no meio. Troca directa ridícula e fatal. Não compôs mais a manta. Perdeu pau e bola.
 
Tem sido isto nos últimos jogos e em nenhum deles se viu o dedo do treinador a não ser que não teve dedo, intuição, feeling, em suma não temos treinador. Para mais com uma concepção de jogo banal e previdente mas não activa e ganhadora com consistência.
 
Juntou-se a falha de Helton, que a cada ano nos Helterra na Champions e tudo foi por ali abaixo. Moralmente, animicamente/emocionalmente e tacticamente. Depois é só desacertar passes e posições e da posse de início passar à perda repetida da bola. Medonho, como com o Guimarães e o Estoril!
 
À falsa ideia de o Porto ter sido superior porque sim, impôs-se, mas esquecendo que o Atlético assim o quis ou permitiu até se chatear e rapidamente mudar as coisas, resiste a idoneidade do sistema que parece funcionar. Parece. Mas não funciona, desaparece a meio do jogo e é um martírio a 2ª parte com correspondentes assobios no final. Vá lá que os decepcionados não evitam que só acorram 34 mil a um cartaz destes entre os líderes ibéricos (nem os colchoneros, que estão mais ainda em crise por aquelas bandas "en paro", deram importância e vencer o grupo é já uma formalidade).
 
Se Mourinho tem o luxo de aproveitar Mata que punha no banco depois da reclusão na bancada, como desde o início se percebeu e aqui antevi, a uma equipa com défice de qualidade e falta de bola redonda e bonita não pode desperdiçar-se Quintero.
 
Doravante, a partir do momento que se criam estas dúvidas e a pressão cresce quando as críticas deixarem de ser tímidas e disfarçadas, as dúvidas vão rebentar com qualquer arremedo de certeza e a equipa vagueará ao Deus dará.
 
Pois eis que, da minha parte, eu que nunca critico treinadores do Porto fui rapidamente o primeiro a saltar contra esta impreparação de Paulo Fonseca. Sou forçado, agora, a acolher a crítica que muitos fazem, genericamente, aos treinadores com horror aos criativos que lhes estraguem os equilíbrios, como acusavam por exemplo Vítor Pereira e é uma lança facilmente usada por críticos extemporâneos. Não precisei dos erros de arbitragem do Estoril para ver a inacção de PF e a sua inépcia na leitura do jogo e uso dos jogadores. Lá vamos cair no que já se ouviu: não ter unhas para um Ferrari, mas alguém lho meteu nas mãos.
 
Esta verdade assumida pelos factos que o futebol nos revela e mostra quase diariamente, entretanto, vai entroncando noutras perplexidades e, destas, eu já as expus no início de Julho quando PF falou do seu credo que não pressenti ser replicável no plantel portista.
 
Então, na 6ª feira, pensava eu que Quintero saiu após o 1-0 para ser poupado para este jogo e ele começa no banco? E Lucho saiu, para ele entrar, para se poupar para Arouca?
 
Já para não falar da forma e tempo de usar Ghilas, que conta tanto como o gordo Walter contava e, ainda menos, o pobre Kléber, tão tosco, valia nas opções de Vítor Pereira.
 
Quem também nunca percebeu o equilíbrio e a estrutura sólida montada por VP, criticando por imbecilidade e ignorância, também dificilmente entenderá as debilidades que PF expõe no aproveitamento de mais opções ao seu dispor.

A forma amena e amadora de comentar os últimos jogos concluiu-se agora com certas desculpas, em que Helton ajudou a sobressair os "erros individuais", enquadradas neste jogo. E as falhas de cada um potenciam-se no descalabro generalizado que é o que se tem visto. E se há coincidências é por conferirem com a realidade, não mero acaso. A não ser para os distraídos comentadeiros de pacotilha que já se sabem ser assim e não têm hábito de ver algo tão mau no FC Porto. Então os indefectíveis nem devem dormir de "tanto azar". Pobres de espírito e nulos de entendimento.
 
Boa noite e boa sorte. Falamos entre os dias 18 e 22: ouvia na rádio uns pacóvios da TSF somarem pontos assim e assado com o Zenit como se o FC Porto inspirasse confiança e tivesse o destino nas mãos onde só tem pouco coração e nenhuma segurança.
 
O resto de Outubro, sim, é talvez para vaticinar se PF passa o Natal no Dragão...

PF não se desvia um milímetro? A realidade encarregar-se-á de desviá-lo a ele...

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