12 janeiro 2014

Da SICN ao Torto Canal

Consta que o futebol pequenino estrebucha e resmunga contra o banquete de deuses que só os grandes no areópago se permitem. Não sei, mas esta coisa da transmissão da tarde tem tanto que se lhe diga que, ironicamente, o Portugalório parvo e sereno não se compadece com uma lamúria. Tudo na santa paz dos senhores, fizeram o papel de totós os presidentes da FPF e da Liga, qual deles o mais inepto e, em bom português, bronco em todos os discursos, fazendo jus aos antecessores em que se inclui o inefável Fernando Gomes que por 9 meses, mais do que o tempo de um aborto completo, presidiu à Liga em trânsito para o que foi a Praça da Alegria do futebol tuga que passa uma semana a falar de Eusébio.
Parece que nem um ai e, contudo, estamos a uma hora e meia, o tempo de um jogo de futebol, não para verificar se a tv dos bimbos dá as imagens como deve ser, esconjurando os pecados atribuídos aos bimbos da SportTV do "amigo Oliveira, mas para saber e verificar se os golos do benfas são mais gritados, seja pelo abjecto Conduto ou o "irrevogável" balde mar que um dia o biógrafo de Eusébio então chefe dos parlapatões do benfas, dito João voz de escape rachado Malheiro, denunciou ao caudilho Vieira e mandou despedir da RR - sejam golos do benfas ou da equipa que o Preocupações Fonseca julgar comandar para o deserto da não existência.
 
E enquanto dura o 7º dia das exéquias do ele-sébio, em que Vieira se locupletou alarvemente quiçá em honra do descontos de 50% à venda do Matic - há 19 convocados no benfas, mas a malta da RTP não desconfia de nada e diz que Matic está entre eles, só cabem 18 na folha de jogo mas pensam que vai jogar -, a pantominice em volta de Eusébio não tem fim a não ser com o minuto de silêncio que será uma ode ao triunfo se, pela primeira vez nestas coisas, for respeitado integral, respeitosa e ufanamente, como deve ser. Quanto à "transladação" fica para outras porventura 'noipcias'...
 
Para o efeito rantanplan e panteonélico afim, começar por ler a crónica, sempre notável, de um tipo que julgo ser do Porto embora estacionado num pasquim lisbonense,  e que remete, sub-repticiamente, para o ardil comunicativo e informativo dos dois canais de clubes vigentes, cada qual o pior e menos relevante (sublinhados meus):
 
1. Quando as estações televisivas prometeram transmitir o funeral de Eusébio, não estavam a brincar. Horas ininterruptas de emissão mostraram a câmara ardente, a volta ao Estádio da Luz, o desfile por Lisboa, a missa integral e, claro, o cemitério, onde só faltou um plano obtido a partir do fundo da cova. Com regularidade e descaramento, filmavam-se os rostos da viúva e das filhas do futebolista, na presunção acertada de que lágrimas sinceras rendem audiências. Para cúmulo, e em cima de tudo isto, a parlapatice de quem é obrigado a atafulhar dois dias de emissão sem um pingo de pudor. Um repórter foi ao ponto de interrogar os jogadores do Benfica à saída da igreja acerca do jogo com o FC Porto do próximo domingo. Outro, ou se calhar o mesmo, informou os telespectadores que o povo nas ruas dava "gritos de incentivo" (juro) ao falecido. Um terceiro perguntava às figuras que conhecia: "Comovido?"
2. Encerradas as exéquias, veio o "rescaldo". Diversos canais presentearam-nos com os habituais programas de debate desportivo, mas em versão alargada e, compreensivelmente, evocativa e consensual. O consenso esvaiu-se na SIC Notícias, onde um sujeito algo lúgubre que passou pelo governo de Santana Lopes com a missão de censurar comentadores decidiu que a mensagem de pesar de Pinto da Costa, aliás exemplar, era insultuosa porque não referia o nome do Benfica. Em compensação, o Porto Canal abria os noticiários com longa notícia sobre a carreira de Eusébio sem referir, aí sim, o clube pelo qual jogou quase toda a carreira. Nos melhores momentos, o futebol é o divertimento que o "Pantera Negra" protagonizou como poucos; nos piores, é um refúgio de idiotas.
3. Ainda o corpo de Eusébio não descera à terra, já se exigia a transladação do mesmo para o Panteão Nacional. De Manuel de Arriaga a Aquilino Ribeiro, no Panteão encontram-se os túmulos da pior tralha da Primeira República, além de pelo menos uma abencerragem da Segunda, o que confere àquilo uma aura obviamente desprestigiante para pessoas que levaram dignamente a vida. O processo de Amália, um enxovalho que a grande senhora não merecia, foi humilhação suficiente. Eusébio, que viveu simples e decentemente, devia ser poupado à repetição do vexame e deixado em paz. Por unanimidade, os deputados discordam. Por uma questão de euros, a presidente da AR hesita. Por contágio, o povo adere ao peditório.

Para excitar o pré-clássico, sem ouvir os paineleiros, duas pérolas online:

 

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