14 janeiro 2014

Discussão que se encerra (no Panteão?) e a que fica aberta - uma vitória de Marca

Podem não ter percebido que os jornalistas - vêem os jogos, fazem as notícias, anotam até de memória as proezas - europeus mantiveram a primazia de Ribéry estabelecida no Verão, mas o nacional-porreirismo tuga e os press-releases a que se habituaram, além das notícias de "partido", de "clube" e de "facção", terá tanta dificuldade em ler isso como saber que, enfim, é mesmo verdade ter sido Rei morto, Rei posto - e não por CR7 ganhar a Messi (como em 2008, vitimado por lesões).

Na verdade, o que ganhou foi isto: transformar um clube perdedor (até o treinador, Mourinho, saiu...), sem qualquer título em 2013, através de campanha mediática sem igual. O Real Madrid estava desesperado e Florentino, tal como com Figo em 2001 e Ronaldo em 2002, dourou o seu Galáctico pleno, pois os outros dois ganharam o relevo nos clubes de onde procediam...

 
A morte de Eusébio passou e a nova Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo enterrou o mito do melhor jogador português de sempre. A discussão do Panteão, para o Portugalório serôdio, há-de vir um dia, a quem interessar. Depois das lágrimas e dos panegíricos ao Pantera Negra, era só esperar para a realidade revelar quem é, de facto, o melhor futebolista tuga, mesmo com mais lágrimas a jorrar a bem do sentimentalismo nacional.
 
A discussão que fica aberta é - já enterrada também a descredibilização em que se enredou a FIFA, para a qual nenhuma acção de marketing devolverá o lustro que já teve mesmo quando a corrupção campeava, dizia-se, em volta de João Havelange, que nem por isso deixava de ser digno de todas as honrarias de A Bola onde "les bons esprits se reencontre" - se CR7 é o melhor jogador do mundo. Acertadamente, alguém simplificou que é o "melhor do momento", para o que ajudou o Marketing de imagem e de empresa e o Facebook com os likes que se compram no Bangladesh, como se sabe.
 
Em absoluto, continuo a achar Messi o melhor jogador, uma questão de gosto mas também de títulos adicionados: ganhe o Mundial e para mim superará Maradona, até lá não é mais do que foi Diego Armando, el Diez. Em 2013, pour moi, foi Ribéry, o desiludido da noite, ao que li. E se também não dou grande relevância ao troféu, que nas mãos da FIFA se tornou baço e empalideceu o France Football que dourara a sua criação desde 1956, muito menos sigo na tv as cerimónias e nem ligo às "trocas de galhardetes", simpáticas, dos finalistas que dizem sempre dos méritos dos rivais mas nunca votam neles: nem CR7 em Messi, nem Messi em CR7. Passei o dia fora e se não fosse assim teria livros para ler como melhor opção. Na rádio do carro, já não em directo, ouvi gritos no anúncio do vencedor, como a ganhar um concurso de misses, de preços certos, de bananas ou de sabonetes. Soube depois que CR7 chorou e, ao ler as edições online dos desportivos espanhóis, parece-me acertada a tirada de El Loco Abreu: "Chorou tanto que lho deram". Ultrapassadas as tropelias com Blatter, o corrupto-mor decrépito sem vergonha nem descanso, feitas as pazes com a Pepsi por um arrufo igualmente menor e apenas mal-educado, o ano em que nada ganhou foi o ano de Cristiano Ronaldo. Nem um título, nem sequer de melhor marcador, poderia justificar um prémio destes. E nem a votação de meados de 2013 na Europa ajudava, mas nem era a pantomina de Blatter ou o mau gosto de um publicitário sueco que interfeririam na votação mais democrática que pode haver e, por isso, difícil de controlar - daí não comungar com a choraminguice de Mourinho ou as simpatias dos tugas parolos que amolecem com umas lágrimas mais ou menos encenadas quiçá fruto do ritmo de telenovelas superior ao dos próprios jogos da bola de que tantas mulheres (como a minha) se queixam.
 
Gosto de ver, isso sim, a tabela dos votos, apanho uma boa imagem geral vendo as tendências de certos países, as opiniões de capitães e treinadores de selecções mesmo que não fixe em quem votaram os de Nauru, Granadinas, Suriname, Nova Caledónia, Burundi, Turcos e Caicos ou as Ilhas Virgens. Contudo, são estes que fazem a diferença, mas a universalidade, fora os fusos horários trocados, já deu cabo da Eurovisão com a frente Leste destacada nos votos regionais.
 
Vejo alguns casos particulares: Moçambique e Angola rejeitaram Ronaldo como 1º voto (5 pontos), dos seus capitães e dos selecionadores. Mas os jornalistas dos dois países, sim, deram primazia a CR7. Vejo em que votam os portugueses e, à boa maneira tuga mas não a minha, porventura não faltam sarcasmos a Queiroz por ter preferido Messi (1º) a CR7 (2º), enquanto Paulo Bento, o nosso serôdio seleccionador, elegeu CR7, naturalmente, fazendo por desconsiderar os rivais Messi e Ribéry. Diz tudo da estirpe saloia e parola de Paulo Bento, mas não surpreende.

ADENDA: quase adivinhava mas, em tempo, vai um esclarecimento, aberta a caça às bruxas...
Dá-me azia, sim, como já disse noutros anos, que se escarneça de jogadores da estirpe de Messi e CR7, simplesmente nem os votando, por exemplo. Acho inconcebível e tenho dito todos os anos. Há muita gente que o faz. E não é despiciendo para o resultado final que, recorde-se, foi bastante renhido, presumo que o mais renhido de sempre: 28% (votos) para CR7, 24% para Messi e 22% para Ribéry.
 
É claro que, descontando patetas como Paulo Bento, ou outros que claramente votam por "facção", percebem-se tendências e nota-se onde se perdeu e ganhou. Jogadores e treinadores têm, por princípio, votos de experiência e conhecimento de campo. Mas olhar para Myanmar, Guiné Equatorial, Nepal, Comores ou Guiana, entre mais de 200 federações da FIFA, torna a coisa tão patusca quanto imprevisível. E não se tem ideia de quem seja o capitão do Afeganistão ou o seleccionador do Iraque, sendo que em muitos casos - vi alguns mesmo na Europa, que sigo de perto - os selecionadores votaram tendo apenas dirigido um (Chipre) ou dois jogos (Hungria) calhando no tempo de votar depois de substituírem quem passou anos no cargo... Da mesma forma, o capitão da Indonésia deve seguir tanto o futebol europeu, onde estão os "papabili", como o capitão da Suazilândia...
 
Como não ando nisto há dois dias, nem dois anos, tendo, essencialmente, ver a onda dos jornalistas. Ora, lembro que após o fecho da época 2012-2013, com o Bayern supercampeão, Ribéry foi naturalmente eleito melhor da Europa a larga distância de Messi. Ronaldo, como então escrevi mas não os diários da estupidificação massiva e da ignorância colectiva tugas, teve apenas três votos (3 votos) para 1º lugar: como não podia deixar de ser, um foi da Bola, outro da Marca e o terceiro de um "shvili da Geórgia". O melhor retrato da coisa e, entretanto, leio na Marca o votante que hoje se ufana de não ter estado errado no Verão... E leio que, como sempre disse, o Real Madrid já teve vários Bola de Ouro, mas além dos primeiros di Stéfano e Kopa, nos anos 50, só CR7 é legítimo do Real Madrid por mais de um ano. Daí o interesse dos merengues na coisa, algo que não condizia com Figo (2001), Ronaldo (2002) e Cannavaro (2006), procedentes de outros clubes e o brasileiro e o italiano porque foram campeões mundiais pelos seus países...
 
Pode-se achar, em geral, mal dos jornalistas mas, por princípio também, considero-os mais fiáveis porque seguem, por obrigação profissional, senão mesmo por devoção, o futebol dia a dia, coisa que nem os capitães nem os treinadores fazem, nem por obrigação e muito menos por devoção.

Gosto de pôr as coisas muito claras e objectivas e não confundo os pacóvios tugas com os profissionais da estranja, muitos deles meus conhecidos.
 
Não é, por isso, com surpresa que verifico, lendo rapidamente mas com alguma atenta minúcia os resultados - coisa que os pasquins cá da parvónia nunca fazem -, que o voto dos jornalistas europeus se manteve: à excepção de 6 países, que se dividiram a escolher o melhor (em geral, para esses, foi Ibrahimovic), a votação dos jornalistas europeus para melhor de 2013 foi esta:
Ribéry, 32 vezes votado em 1º lugar;
CR7, 10
Messi, 3
 
Percebe-se, entre outras coias, onde Messi perdeu a Bola de Ouro; a memória dos jornalistas, com a especificidade do seu trabalho quotidiano debruçado sobre o futebol europeu, manteve-se inalterável. CR7 melhorou graças à primeira metade da época 2013-2014, coincidindo com as lesões de Messi.

O Bayern-Barça marcou a época e foi massacrante para os catalães. Mas, por exemplo, vi uma votação que dava primazia a Iniesta e Xavi, sendo que o Bayern de Ribéry despachou o Barcelona com 4-0 e 3-0 na Champions; ou que a valorização do Bayern, supercampeão, melhor equipa e com Heynckes naturalmente o treinador do ano, tenha passado mais por Lahm do que por Robben e muito menos Ribéry, o grande impulsionador dos bávaros, segundo alguma votação intensiva no capitão do Bayern.
 
Tudo o resto pode ser feito mediante press-releases que alimentam os jornais hoje em dia. E, num deles, presente transversalmente nos jornais espanhóis, não esperava outra coisa da FIFA senão dizer que a votação de final de Novembro, após o play-off do Mundial e com o alargamento da votação que causou o escândalo que se sabe, não alterara a que se verificava quando a votação, oficialmente, encerrara no início de Novembro. Nenhum press-release referiria, muito menos na FIFA, que a coisa alterou-se - era o que faltava na mixórdia interesseira em que a coisa descambou ferindo de morte - muito mais do que Mourinho pode argumentar em sua defesa - o prestígio do troféu e enrolando sempre a FIFA em mais uma manobra de bastidores para seu total e irremediável descrédito.
 
São estes resultados que valorizo mais e não a figurinha triste que outros profissionais fazem e dão de si enquanto depositantes de um voto nem sempre consonante se calhar com a sua opinião, mas apenas de facção, muito menos com a realidade vigente.
 
Para mim não há discussão mas é esta que fica em aberto. A do Rei, em Portugal, só fica para a disputa interna de qual Panteão eleger, mas essa só entreterá os parolos em que se incluem os par(a)lamentares...

Sem comentários:

Enviar um comentário