03 fevereiro 2014

Psicologia da liderança

Basta um acidental percurso por um asilo de malucos para se perceber que a fé não é tudo" - Nietzsche
 
Muito menos do que os tabus e dogmas da Idade Média, os gurus actuais não podem ter meios de "enfeitiçar" audiências - porque nem sempre "moral é persuasão" como para Stevenson -, apenas de deixá-las reflectir, não impondo vontades ou virtudes mas expondo meios e circunstâncias para uma livre opção, consciente e formada, em deixar voar o pensamento sem tirar, desejavelmente, os pés da terra.
 
Ao começar a ler "História do Pecado", cujo nome me atraiu de imediato e, além de obtê-lo por metade do PVP, o conteúdo revela tudo o que eu queria que o livro contivesse, numa vasta visão holística de Oliver Thomson sobre moral e ética para explicar normas de conduta sociais, vulgo pecado, e perceber como é ou foi sendo aceitável ou expurgado consoante o tempo, as gentes, os meios e as circunstâncias, ocorre-me fazer citações como as que vou lendo. Mas fica só a sugestão para Pinto da Costa decidir pela substituição do Preocupações Fonseca, cuja incapacidade para a função está comprovada e o desastre é iminente a curto prazo para sacrificar toda uma época desastrada que começou na opção da SAD e prossegue na inacção de não remover o mal (falarei disso noutro post).
 
Os problemas do futebol já os expus há meses: em Setembro, ao primeiro jogo não ganho, apesar da bárbara arbitragem de Rui Silva no Estoril, vaticinei que não temos treinador. Não voltarei ao assunto.
 
Contudo, os temas palpitantes do livro em apreço, que muito poderiam ajudar Pinto da Costa, vão, entre incursões ao Corão e ao Rig Veda, da prostituição ao incesto, da posse de terras à progenitura, dos direitos e dos deveres, das tradições dos Esquimós aos ritos do Hunos, das carecas mulheres do Egipto Clássico aos cabelos compridos dos "yppies" mais ou menos recentes, da monogamia às formas de tortura sem citar o tuga Sócrates, da escravatura ao ascetismo. Mas abordam sempre a gestão da moral e da ética, desde Aristóteles a autores de quem nem ouvira falar. Quanto a um olhar para a moralidade moderna, está aqui bem pertinho e claro como água que o silêncio dos bons tem permitido aos maus surgirem em cena...
 
Mesmo assim, não é de uma citação (a da abertura, de resto algo fascizóide de um não-crente como Nietzsche) do livro, que vou recorrer para enfatizar um ponto e introduzir o tema da substituição do treinador e da acção necessária, e piedosa, que se espera do presidente.
 
Ora remetendo para a constatação de Nietzsche acima, não sei se é fé que o treinador tenha sucesso que faz Pinto da Costa morrer de medo de o substituir. Ou se é fé dos adeptos que dizem tê-la na presunção de que, se nunca deu resultado trocar um treinador a meio da época para chegar a campeão, agora também não vai dar.  Ou, por fim, se Pinto da Costa, como péssimo gestor, teme emendar o erro crasso, à vista de todos, com eventual erro se não der resultado, mas que só reforçará a sua teimosia com a qual também terá de viver o resto da vida - com a agravante de esta teimosia poder encerrar uma tripla vitória do Benfica em todas as provas domésticas triunfando no Dragão, com a cereja no cimo do bolo na última jornada do campeonato. Esta perspectiva, que há tempos denunciei, é o que mais mal me fará, porque do modo como está isto há muito perdi a esperança no campeonato e três derrotas ainda são poucas para o descalabro que antevejo.
 
Este Porto nunca será campeão, já disse que não acredito e enfatizo. Com Vitor Pereira e as fracas equipas em presença, acredito que seria um campeonato só com vitórias. Mas também como vamos sabê-lo?
 
O contrário nunca será testado se não for tentado. Despedir o treinador é inadiável, a liderança não passou a seis pontos, apesar de muita Paixão e critério histórico aplicado a favor do andor do regime, mas os 4 pontos de agora estão fora do alcance de uma equipa, esta, que recentemente já recuperou 5 e 4 pontos porque tinha futebol e convencimento para isso. O Sporting também encalhou, mas são sempre dois rivais à frente e custa o dobro recuperar, ainda que se enfrentem a seguir.

O ANÚNCIO QUE FALTOU NO TORTO CANAL:TREINADOR DESPEDIDO 
E isto leva-me de volta à patética entrevista, como a classifiquei, de Pinto da Costa ao Torto Canal. E, mais uma vez olhando com distanciamento crítico, pergunto se Pinto da Costa voltará, ou voltaria, ao Torto Canal: para dizer o quê?
 
Vou responder: ao contrário de toda a gente, que apanhou o óbvio e não arriscou outra coisa, incapazes de saírem do casulo, no convencimento de "conhecer como pensa e age o presidente", pois da outra vez eu esperava, sim, que Pinto da Costa apresentasse a cabeça do treinador, depois de falar com ele e decidir tudo durante o dia. Era isso que eu queria, era o que ansiava de um gestor que percebesse como vai a produção e como funciona o capataz, tudo em sub-rendimento.
 
Confiava que Pinto da Costa tivesse uma conversa calma, franca, civilizada, de boa-fé com o treinador, acertasse a rescisão e, no canal privilegiado para ele e para falar da situação do futebol portista, expusesse calmamente as coisas - até poderia ser, por deferência e se ele quisesse, com o treinador ao lado. Seria uma pedrada no charco. Ficou apenas o charco. Perdida a oportunidade antes do Natal e após a derrota da Luz, sobra apenas a próxima semana.
 
Não vejo em Pinto da Costa o mito de que percebe de futebol se deixa esta amargura arrastar-se até à insanidade. Percebe e percebeu mais do que os presidentes dos outros clubes, mas não deixou nem deixa de cometer erros. Errar é humano. Reconhecê-lo é nobre.
 
Se Pinto da Costa, bem aconselhado ou simplesmente letrado em psicologia de liderança que dizem ter e eu não faço ideia se tem ou não porque não compro conceitos avulso na praça, podendo reaparecer no Torto Canal um dia destes, que assuma sem rodeios que se enganou e não torture mais os adeptos: muitos já são tão idiotas, até a revelarem-se na escrita, que até o beatificarão certamente e o Panteão abrir-se-á se a rápida troca de treinador, quando o tempo escasseia, der resultado, finalmente, e pudermos festejar mais um título à frente do Benfica. Mais do que a situação de Portugal que se diz ser "insustentável" pelos fanáticos da Oposição até em contraciclo com a retoma que os sinais evidenciam, os sinais do FC Porto visualizam um cataclismo se a situação não for invertida, aproveitando a "perda de pontos" do Benfica e do Sporting, mesmo que tenham aumentado a diferença para o FC Porto. Sim, é possível, mas não com o Produções Fictícias e o mercado já não traz mais Sebastião Quaresma que este só deixa saudades dos tempos antes de emigrar.
 
O Museu franquearia as portas a uma visão única  num meio algo irracional mas que requer gestão e decisão. Parafraseando, extraído do livro para dar-lhe lustro nos seus ensinamentos, alguém só um pouco mais velho do que Pinto da Costa e é bem mais guru moderno do que eu imaginaria, para mais maltês...

"As pessoas detestam ter de pensar e tomar decisões, porque isso é mentalmente cansativo. Existe uma preferência fundamental por processos decisórias automáticos, baseados em padrões - Edward de Bono
 
Não foi a pensar como a manada que o FC Porto, com Pinto da Costa, cresceu e se emancipou. Nem pode ficar refém do humor do presidente. Saiba ser líder ou esgotará o seu tempo, provavelmente sem aparecer na Rolling Stone, tempo que abunda tanto quanto a sua energia claramente em queda, apesar dos mais fiéis exemplos de cega crendice mundana de gente desmiolada à espera que as coisas mudem aplicando a mesma solução.

 

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