Sunderland volta a Wembley, de novo um ano desencontrado com o último grande momento da sua história. Em 1992 perdeu a FA Cup para o Liverpool. Em 2014, regressa para enfrentar o Manchester City e é só a Taça da Liga inglesa, não a taça da federação, a Taça de Inglaterra com a qual comecei a ver o futebol lá de fora.
Note-se, para este comentador inglês natural de Sunderland, até naquela época a BBC dava um jogo por ano, o "masterpiece" de Wembley. A RTP era quase a mesma coisa, podia não dar a final do Jamor (raramente), mas a de Wembley era quase sagradinha, ainda que tenha falhado em 1975 e 84, por exemplo, que lembro bem essas ausências: em 1978 não pude ver o Ipswich de Bobby Robson ganhar ao Arsenal, tinha um Boavista-Porto imperdível (0-2, Gomes e Oliveira) nessa tarde de sábado algures em Maio, com o FC Porto lançado para o título pela primeira vez em 19 anos.
Também naquela época eu via o Leeds como uma equipa formidável, de resto por esses tempos apanhara alguns clubes portugueses e lembro uma eliminatória fantástica com o maravilhoso V. Setúbal de Pedroto que fazia a vida cara a qualquer um na Europa.
Adorava ver aqueles gajos de cabelo comprido mas asseado, numa luta frenética mas sempre compostos e o penteado nunca desalinhado. Parecia que nem suavam, por faltarem os grandes planos. O relvado nem levantava, era um tapete aos quadradinhos. Tudo parecia mágico, ainda que tão ininteligível como os cânticos das bancadas. Ninguém jogava fora de casa em Wembley. E sempre vi aquilo assim até assistir ao vivo e com todas as cores a uma coisa semelhante em 1995: Everton, 1 - M. United, 0, depois de Bobby Robson, convidado de honra e viajando no mesmo avião que eu, me sugerir que fosse umas duas horas antes do jogo para começar a apanhar o ambiente. É único até para quem já viu futebol em todo o mundo!.
Gostei da descrição deste "lad" do nordeste e tenho ideia do massacre ofensivo do Leeds em busca da igualdade. Mas, lá está, o campeão inglês perderia a final da taça com uma equipa da II Divisão. E em 1974 lá estava o Leeds United - era bonito só de dizer o nome, límpido como o equipamento todo branco e antes que o Real Madrid se tornasse moda do lado de cá da fronteira, muito menos o Tottenham - em Paris, para uma final da Taça dos Campeões com o Bayern de Munique, mais uma final perdida como foram inúmeros finais de época da melhor equipa inglesa que ganhava um título nacional e ficava cinco ou seis vezes em 2º lugar, coisas estranhas até pelo técnico Don Revie, campeão mundial em 1966, ser capaz de largar tudo e ir para... os Emirados Árabes Unidos, naquele tempo, imagine-se...
As coisas eram mesmo estranhas, em Maio de 1976 o Southampton, de vermelho e branco às riscas como o Sunderland, lá venceu o Man. United saindo da II Divisão. Separados por 1000 kms, da costa sul ao nordeste, eu confundia os clubes por a informação ser escassa e má como comecei a perceber depois. Era incrível e, como Seninho logo depois com os dois golos do Porto em Old Trafford (5-2 em Outubro de 1976), o marcador Bob Stokes foi jogar para os EUA...
Gosto da descrição de Steve Cram porque ele tinha 12 anos ao tempo e eu 11. As memórias dos miúdos que iam à bola ou viam de longe a preto e branco também me acompanham. E depois de ver o Sunderland eliminar o Manchester United com uma fantástica 2ª mão em Old Trafford, ganhando por penáltis após final dramático no prolongamento que nem chegou para dar-lhe a qualificação directa com o 1-1 aos 119' (o United fez 2-1 aos 120), sei que Wembley é traiçoeiro e em Maio passado o City perdeu a FA Cup no último minuto, num canto, para o Wigan.
Mas este City é de outra cepa com Pellegrini e não a equipa desarrumada e pouco convincente de Mancini.
Porém, se ainda há tradição no futebol é em Inglaterra. Sei-o há 41 anos, mesmo que o futebol não seja o que era e a imprevisibilidade ter desaparecido com o mercado "multitudinário" que levará o City à vitória esta tarde (14h). Desde que o "lowly" e "underdog" Sunderland ganhou ao "mighty" e "almost invencible" Leeds, como diria o outro, fiquei com o cheiro do relvado na retina...
O marcador desse golo de 1973, Ian Porterfield, um defesa-central, chegou a ser seleccionador da Arménia mas, por doença (o câncro iria vitimá-lo uns anos depois), falhou um jogo frente a Portugal numa das recentes qualificações. Ninguém sabia que esse homem (na foto à esquerda) enorme - em estatura só uma vez alguém me impressionou mais, ao sair de um balneário em Braga, e chamava-se John Toshack, treinava o Swansea, estendendo-me uma mão que dava duas da minha! - marcara um dos mais famosos golos de Wembley.
Assim, na BBC, retomei memórias que poucos partilharão. Como o hino da FA Cup - hoje é só a Taça da Liga -, "Abide with me" (permanecem comigo).
Boas,
ResponderEliminarAgradeço as suas memórias. Estava a investigar qual foi a primeira transmissão da FA Cup na RTP e esta foi a melhor informação que encontrei. Pelo menos fico a saber que em 1973 já era transmitida! Pelo texto fico a entender que terá sido a primeira que viu. Terá sido a primeira transmitida pela RTP? Obrigado. maildosbloggs@gmail.com
Tenho gosto em esclarecer e surpresa por não imaginar como chegou até aqui.
ResponderEliminarDe facto, vi e fixei essa final, pelo que valeu e o que representou naquele tempo uma final estrangeira televisionada. Só se viam as finais da UEFA, vá lá uma u outra semifinal, lembro-me de uma entre Ajax e Real Madrid, creio que em 73 e um golo de Krol no Bernabéu.
Da FA Cup, não tenho memória de finais anteriores na RTP. Como fiquei fã, assisti sempre e sei os anos em que não deu, raros.
Esses momentos, como os citados, é que determinaram em mim o gosto pelo futebol, não pelos jogos de cá, à parte os do Setúbal de Pedroto.
Se necessitar de outras memórias não hesite. Afinal, mesmo muitos dias depois, acedeu a este espaço e aprendeu alguma coisa.
Missão cumprida.
Obrigado pela atenção