01 março 2014

Sinal negativo da Imprensa (na Cofina tomada pelo álcool)


ACTUALIZADO (sábado, 10.15h): Em tempo, tirado daqui:
No DN colaborou em tempos Fernando Pessoa, um bêbedo. Um tipo que era apanhado, não poucas vezes, em flagrante de litro. Para desculpa do DN, naqueles tempos ainda não havia o arsenal de leis purificadoras que permite, hoje, o Correio da Manhã (salve, ó bíblia dos costumes morigeradores!) tirar os seus jornalistas da perdição. Um jornalista tipo CM vai para uma reportagem e salta-lhe ao caminho o advogado da empresa: "Fulano, vamos lá ao nosso exame de deontologia!" O advogado aponta a linha reta feita a giz que o jornalista, de braços abertos, tem de percorrer sem bambolear. Exame conseguido, o jornalista já pode ir fazer, por exemplo, a manchete de ontem do CM: "Pai de Sicrano em fuga por tráfico de droga". Não importa que o Sicrano, de 19 anos, não tenha culpa dos tráficos do pai. Leva com o seu nome, o traje de trabalho (Sicrano é jogador de futebol) e a foto na primeira página. Algumas almas piedosas podem não achar isto bonito, mas o importante, não é?, é que aquela manchete não foi feita por um bêbedo. Um jornal com manchetes alcoólicas, fontes anónimas e jornalistas sóbrios. E, suspeito, talvez outros jornais lhe sigam o exemplo. Infelizmente, eu, que sempre bebi pouco, tenho de declarar que nunca soprarei o balão numa redação. Cruzei-me com alguns camaradas talentosíssimos e bêbedos, e, esgotadas todas as tentativas de lhes chegar às canelas, quero guardar a última esperança de o conseguir com uns copos.

Li esta semana uma notícia no JN em papel, depois sem apanhar o link na edição online que continua a ser tratada com os pés, tal como as edições digitais em geral da Imprensa tuga, os rodapés das tv's nos serviços noticiosos com erros de Português e o teletexto com notícias que demoram horas a ser actualizadas ainda das tv's da paródia nacional onde o tuga comum julga ficar informado com os patetas alegres das pantalhas e os editores broncos da superficialidade comicieira ou ao estilo cinéfilo.
 
A notícia indicava que a Cofina, proprietária de Correio da Manhã, Record e Jornal de Negócios, entre outros títulos da Imprensa nacional (Sábado, por exemplo), iria fazer testes de alcoolismo aos seus funcionários e nem seriam à sorte, mas perfeitamente dirigidos e sabiamente "conscientes" dos alvos a atingir. É natural que, no limite, um prevaricador seja sujeito a despedimento.
Vejam-se dois exemplos, recentes, aleatórios do estado das coisas:
 um caso de droga de alguém desconhecido tornado público envolvendo alguém conhecido mas alheio, aparentemente, ao caso de droga
 E o JERKPOT dos tansos que antecipam vendas, dos clubes que lhes importam e dos papéis que mal servem para embrulhar peixe
O Sindicato dos Jornalistas (SJ), citado na notícia do JN, já teria sido informado da opção da empresa e criticado a mesma, ainda no Verão passado. O Rascord, entretanto, meteu na 1ª página uma notícia de solidariedade do Sporting com o Mané visado, sem indicar o contexto da indignação causada e o motivo da solidariedade manifestada. Timidamente, vinha num canto da capa, como o de cima...
 
São tudo factos e, entretanto, no mesmo dia, o CM publicava na 5ª feira as vendas diárias controladas pela APCT (Asasociação Portuguesa para o Controlo da Tiragem). Todos os títulos tiveram quebras e o sinal negativo é evidente no quadro abaixo.
 
As pessoas podem interrogar-se como um CM vende 112 mil jornais diariamente durante um ano. Já olhando para o Record (47 620), ninguém é capaz de imaginar que em 1997 vendia também 112 mil jornais diariamente num ano. Isto antes de ser comprado pela Cofina e, na estrutura, ter ficado relegado para 2º lugar, abaixo do CM.
 
Veja-se como estão os chamados diários de referência (Público e Diário de Notícias). O JN, nas ruas da amargura, somado com o DN e O Jogo, todos da Controlinveste, representam um total de 88 mil, o que ainda fica abaixo quase 25% do CM sozinho.
 
O Record, entretanto, mudou do cabotino Alexandre Pais para o fanático João Querido Manha em meados de 2013. Amorteceu a queda, anual, que era invariavelmente na ordem dos 10 ou mesmo 11%, amiúde 12%.
 
O Jogo está nos 18 mil, o que é um nível mediano face à sua existência que ainda esta semana comemorou, penso eu de que, os 29 anos. Nunca saiu bem da cepa torta, nem com o Oliveirinha como patrão ou sem o Oliveirinha patrão, isto é com António Oliveira no FC Porto e na Selecção Nacional ou sem António Oliveira no FC Porto e na Selecção Nacional.
 
Esta gente julga-se o centro do mundo e tende a desaparecer mais depressa do que o mundo. Há quem vaticine que até 2028 Portugal deixará de ter jornais impressos. A mudança para o online é periclitante.
 
O problema é que a qualidade definhou de forma alarmante. Não há credibilidade. E inovação não é inventar, é melhorar qualidade na credibilidade. O resultado é isto, ano após ano. E há estúpidos que não se apercebem.
 
Olhando para os números e a vida prática, ao contrário de há uns anitos, consigo ver um ou outro com o CM na mão, no Porto, mas há meses que não vejo alguém com um Record, no Porto. O JN só existe em cafés, é o jornal colectivo que já nem pelos anúncios se salva, a não ser os coloridos relax que são entre 3 e 4 páginas, contra duas colunas de anúncios de emprego.
 
A vida é dura e esta gente só está a comer os próprios ossos. De resto, praticamente é tudo igual, não há muitas diferenças e as perspectivas de notícias são as mesmas, ideias de colunistas (em abundância insuportável) idem e notícias exclusivas uma raridade - porque os jornais fecharam as fontes e limitam-se a press releases de interessados na política, na economia e no desporto. 

2012
2013
   Variação
Correio da Manhã
117918
112606
-4,5%
Expresso
82386
77544
-5,9%
Jornal de Notícias
63101
56031
-11,2%
Record
52242
47620
-8,8%
Sábado
39861
36829
-7,6%
Visão
38347
34082
-11,1%
O Jogo
21549
18397
-14,6%
Público
21160
17824
-15,8%
Diário de Notícias
14920
13311
-10,8%
Sol
16665
12741
-23,5%

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